Por que o PS Plus não tem jogos da Sony em day one?
Foco nos lucros, defesa da qualidade dos produtos e outros fatores entram na balança
O serviço de assinatura da Sony continua crescendo, mas a ausência dos grandes jogos da própria PlayStation Studios no lançamento ainda incomoda parte da comunidade. Diferente do que acontece com concorrentes, o PS Plus não é usado como vitrine para estreias de peso desenvolvidas internamente. Essa escolha, segundo executivos da empresa, é estratégica — mas deixa espaço para debates.
Ao longo dos anos, a pressão feita pela comunidade por uma remodelação no serviço surtiu efeito, só não foi o esperado. Atualmente, há níveis de assinatura com centenas de títulos disponíveis, mas funcionando como streamings no estilo Netflix e o próprio Game Pass: o produto digital não é seu e será removido para dar lugar a outros no futuro.
Ao longo dos anos, a PlayStation deu pistas de como trata o PS Plus e seus lançamentos internamente. Reunimos todas para você ficar por dentro — e queremos ouvir sua opinião no final.
Por que os grandes lançamentos da PlayStation não chegam ao PS Plus?
Hiroki Totoki, atual CEO da Sony e diretor financeiro da empresa na época da declaração, deixou clara essa posição já em 2022. Segundo ele, lançar títulos AAA diretamente no PS Plus colocaria em risco o padrão de qualidade pelo qual a PlayStation Studios é conhecida. “Distribuir no serviço de assinatura faria com que o investimento necessário para eles fosse diminuído”, disse. “Isso deterioraria a qualidade dos títulos, algo que nos preocupa.”
A fala mostra que, internamente, a Sony acredita que o valor de seus jogos está atrelado ao modelo tradicional de venda. A lógica é simples: vender primeiro, entregar no serviço depois. Isso garantiria o retorno financeiro necessário para manter o alto padrão de produção dos estúdios próprios.
Essa preocupação com a qualidade dos exclusivos abre discussão sobre uma possível precarização da qualidade dos títulos. Por outro lado, muito antes do Extra e Deluxe, o “revoltado” Jeff Ross, diretor de Days Gone, já tinha soltado a seguinte fala:
Para a Sony, é sobreviver a cada geração. Nunca tiveram muito dinheiro, precisam atuar de forma inteligente. Os fãs deveriam saber disso antes de partirem para os insultos. A Sony precisa gerir com responsabilidade. Não é errado tomar decisões baseadas na previsão de retorno do investimento pois precisam dessa receita para a produção do próximo jogo.
Essa fala é sobre toda aquela polêmica sobre o “cancelamento” de Days Gone 2, mas diz muito sobre como a PlayStation gere o seu negócio. Se os investimentos feitos nos exclusivos forem parar no catálogo como serviço, títulos de maior expressão passariam a ter um tratamento atípico do que estamos acostumados.
Como a Sony escolhe o que chega ao catálogo?
Essa estratégia, no entanto, não se aplica com a mesma rigidez a jogos de outras empresas. Shuhei Yoshida, ex-nome forte da marca e responsável pela área de jogos independentes por um bom tempo, comparou a abordagem ao mercado de cinema. “É como quando um filme estreia nos cinemas e depois vai para o streaming. Toda vez, isso gera uma nova receita”, explicou.
Para ele, grandes jogos devem chegar ao PS Plus só depois de um tempo nas prateleiras, quando as vendas esfriarem. Um exemplo recente disso? Hogwarts Legacy se destacou na indústria vendendo mais de 30 milhões de cópias.
Tem um futuro com mais vendas chegando? Isso é inegável devido à força da franquia Harry Potter. O jogo já aparece com descontos interessantíssimos na PS Store e… finalmente chegou ao PS Plus Extra e Deluxe. Alguns anos e meses depois, com “menos hype“, mas ainda com o necessário para atrair mais assinantes.
Nem os jogos grandes que não são da PlayStation Studios terão esse “privilégio”
A visão é reforçada por outros líderes da indústria. Strauss Zelnick, CEO da Take-Two, também defende que títulos de alto perfil não devem ser oferecidos diretamente via assinatura. Falando sobre o esperado GTA 6, Zelnick disse que prefere participar “de um ramo com serviços de assinatura onde nossos jogos chegam na hora certa”, e que as subscrições ainda são “um negócio relativamente pequeno”.
Aqui inclusive cabe uma boa história que surgiu em meio aos processos da Sony e da Microsoft na época da compra da Activision Blizzard: o próprio Call of Duty, que gera lucros exorbitantes para a PlayStation, foi oferecido para sair via serviço.
Obviamente, visando o lucro com vendas cheias e microtransações, a Sony negou a investida. A visão da editora continua centrada na qualidade dos produtos com o selo da PlayStation Studios, afinal, esse montante movimentado, financia esses projetos dos estúdios da casa indiretamente.
Com isso, a Sony acaba mantendo o PS Plus como uma plataforma secundária para seus principais lançamentos. Títulos como God of War Ragnarök e Horizon Forbidden West não chegaram ao serviço no dia de estreia. Quando entraram, já passaram meses disponíveis para venda — e muitas vezes com descontos fora do serviço e ports para PC.
Tem lançamentos day one no PS Plus
Ainda assim, o PS Plus não está alheio à chegada de jogos novos. O que muda é o perfil deles. Blue Prince, o mais recente deles, estreou com reviews positivas no Metacritic – só que ele não tem o padrão PlayStation e nem deve agradar a um amplo público.
A estratégia parece favorecer jogos menores que sejam de alta qualidade, multiplayer ou que precisam de um impulso inicial para crescer. Exemplo disso são os recentes Death Note: Killer Within, Foamstars e Harry Potter: Quidditch Champions, que chegaram direto ao serviço. Eles não são desenvolvidos pela PlayStation Studios e se beneficiam da visibilidade que a assinatura oferece.
Outros títulos que estrearam no PS Plus no lançamento, como The Plucky Squire, Teardown e futuramente FBC: Firebreak, também seguem essa linha. São jogos com potencial, mas que não fazem parte do grupo de franquias milionárias da casa. Isso cria um padrão: o serviço funciona como uma porta de entrada para experiências diferentes, mas não para os grandes blockbusters da própria Sony.
A diferença de tratamento reforça uma hierarquia dentro do catálogo. Enquanto os jogos próprios são guardados para o modelo tradicional, o serviço de assinatura serve como campo de testes para outros formatos. O próprio Totoki já afirmou que é preciso “introduzir os jogos da maneira certa”, indicando que o modelo premium de lançamento ainda é prioridade para a Sony.
A questão que muitos jogadores levantam é: até quando? Com o crescimento de serviços como o Game Pass, que adotam o modelo de lançamentos day one para títulos importantes, há uma pressão por parte do público para que a Sony reveja sua estratégia. Porém, a resposta parece estar distante, já que a empresa continua apostando em ciclos de vendas longos e no prestígio da marca PlayStation Studios.
O desafio está em equilibrar o valor dos jogos com o que os assinantes esperam. Afinal, o PS Plus não é barato — e sem grandes lançamentos no primeiro dia, parte da comunidade pode sentir que “a grama do vizinho é mais verde” — afinal, Clair Obscur, Black Ops 6 e outros lançamentos que estavam no radar dos consumidores da Sony, saíram em day one por lá.
Você concorda com a visão da PlayStation em torno do PS Plus?
Mesmo com a ausência de lançamentos AAA próprios no lançamento, o PS Plus continua sendo um serviço relevante. Oferece jogos mensais, vantagens online e acesso a um catálogo sólido e faz muito sentido para uma parcela da comunidade — como vimos nos comentários de um dos nossos últimos especiais. Mas, para quem espera novidades de peso no primeiro dia, o serviço ainda fica devendo.
A postura da Sony revela que, por enquanto, o foco está em preservar o valor comercial dos seus maiores sucessos. Resta saber se, no futuro, essa escolha vai continuar sendo suficiente para manter o serviço competitivo — ou se a pressão do mercado vai forçar uma mudança de rota. Como você acha que o PS Plus se adaptará daqui pra frente?