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SIFU: vale a pena?

A nova aposta da Sloclap não escapa da repetição excessiva, mas acerta a mão na temática, nas mecânicas e no game design

por Valdecir Emboava
SIFU: vale a pena?

Wushu, conhecido no Brasil como Kung-Fu, é uma das artes marciais mais antigas da humanidade e sua base é formada por disciplina e dedicação. Com poucas apostas desse nicho no mercado de jogos, a Sloclap aproveitou a brecha para investir em SIFU, um verdadeiro “simulador de Bruce Lee” para ninguém colocar defeito.

Quando foi anunciada há um ano, durante a apresentação do State of Play, a proposta chamou a atenção. O design artístico aquarelado e seu gameplay envolvente pareciam promissores — e, de fato, são. Após um adiamento e uma antecipação, o game será finalmente lançado em 8 de fevereiro.

O MeuPlayStation jogou o título para aperfeiçoar o equilíbrio entre corpo, mente e espírito, como manda a boa e velha filosofia do Kung-Fu. Quer saber se ele tem calibre para bater de frente com outras grandes estreias de fevereiro, como Horizon Forbidden West e Dying Light 2? Então confira as impressões a seguir!

Roteiro simples, mas cumpre seu propósito

A história de SIFU não tem firulas, ela é centrada em uma única trama e segue esse padrão até o fim. Mas a intensidade com que ela se desenrola é o grande ponto-chave aqui: apesar de simples, é interessante e envolvente — como um bom clássico do Jackie Chan.

Em suma, o antagonista Yang assassinou o seu próprio “Sifu” (significado de “mestre” em chinês) e roubou um artefato mágico dele. Em busca de vingança oito anos depois desse drama, o protagonista, filho (ou filha, você escolhe) do mestre, deve encarar o vilão e seus subordinados, que dominam diferentes cantos da cidade.

É, um roteiro sem muitas surpresas, mas com força suficiente para maquiar o verdadeiro propósito do game: a saudosa porradaria honesta — que tem, no máximo, armas brancas.

A jornada do herói passa por armazéns, clubes, museus e templos em busca da sua almejada vingança. Seus alvos são Fajar, Sean, Kuroki, Jinfeng e Yang. Cada um deles possui seu próprio grupo de guarda-costas, que variam de tamanhos e padrões.

Essa distinção entre eles foi importante para caracterizar os diferentes cantos do mapa, causando um impacto sutil no gameplay. No armazém, por exemplo, é corriqueiro usar pedaços de cano e de madeira como armas. Já em museus e centros empresariais, bastões de ferro e objetos cortantes são mais comuns. Isso também afeta na trilha sonora, que é única em cada um desses lugares.

Para registrar os melhores momentos das brigas, o Modo Foto não poderia faltar. O recurso traz opções muito legais, que variam entre giro de câmera, foco, filtros, poses do personagem e muito mais. As possibilidades são muitas.

Game design tem uma sacada inteligente

SIFU brilha no game design, que une o melhor de dois mundos: beat ‘em up e roguelike — é a combinação perfeita para quem gosta de desafios intensos. Sim, espere por muitas mortes durante sua jogatina e não se preocupe com isso, mas não exagere. Para ser um dominador nato da arte marcial, é preciso aprender com os próprios erros e atingir o equilíbrio.

Para esse propósito, o protagonista possui um amuleto mágico que garante o retorno à vida sempre quando morre, te dando uma nova chance. Você começa com 20 anos e tem um limite de idade até a casa dos 70 antes que a fase reinicie.

Cada ciclo tem uma troca equivalente: mais força por menos barra de vida e lentidão ao aplicar os golpes. Logo, quanto mais velho, mais experiência e força — mas menos disposição, afinal, você precisa ser punido de alguma forma.

Essa é a grande sacada. O game design une o útil ao agradável de forma inteligente — tudo foi muito bem pensado pela Sloclap. O objetivo com isso, como mostrado no curta-metragem de SIFU revelado na última semana, é aprender os padrões dos seus inimigos para contra-atacar e vencer as brigas: “o único erro é aquele onde não se aprende nada”.

O estúdio também não poupou esforços para trazer fidelidade da arte marcial ao título. A captura de movimentos foi coordenada por um especialista no assunto, Benjamin Colussi.

Ele utiliza um estilo muito específico de Kung-Fu, o Pak Mei, que é “feroz, rápido, poderoso e preciso”. A desenvolvedora encontrou alguém muito experiente para esse propósito, pois as coreografias são de brilhar os olhos.

Gameplay é tão competente quanto o esperado

Dominar o Wushu é difícil, e a Sloclap sabe disso. Em uma primeira impressão, SIFU só parece um jogo de esmagar botões, como se fosse um beat ‘em up clássico. Se pensar assim, será punido severamente logo no início.

O segredo está na defesa, e existem muitos recursos para isso, como parrys, dodges e desvios bem executados. É possível tomar decisões e optar por diferentes tipos de abordagens — pacíficas ou violentas. O primeiro jeito abre margem para fugir de algumas brigas desnecessárias.

O combate é liso, satisfatório e presta uma incrível homenagem aos filmes de artes marciais da velha guarda — é tão competente quanto o esperado. Você é frequentemente colocado contra grandes grupos de inimigos e precisa lidar com isso bloqueando, esquivando e encaixando combos dos mais diversos. Tudo em SIFU é muito dinâmico.

Diferentes habilidades estão disponíveis na árvore de talentos e poderão ser desbloqueadas a medida que pontos de experiência são conquistados ao derrotar os inimigos. Também existem áreas onde é possível fazer melhorias pontuais durante o percurso das fases, mas, mesmo assim, será comum morrer para dominar os padrões — então espere por um fator replay muito alto.

Isso pode ser um problema para os mais impacientes. SIFU herda o mal de todo o roguelike: a repetição excessiva. Isso, claro, vai depender do seu domínio com os controles. Apesar de a curva de aprendizado ter uma evolução bem natural, chega em momento onde a derrota constante irrita, principalmente contra chefões.

O jogo é justo o suficiente para manter os itens encontrados nas missões — chaves, cartões de acesso, etc. Isso significa que haverá como cortar caminho quando perder no final das fases. E acredite, você vai querer pegar um atalho na nova tentativa.

Arte minimalista e DualSense merecem destaques

A arte de SIFU é bem minimalista. Isso não é um ponto ruim. É formoso, aquarelado e a simplicidade merece elogios. Cada ambientação tem suas particularidades e todas elas chamam atenção do seu próprio jeito, seja no cenário urbano, nos templos ou até na paleta de cores vibrantes do clube.

O título explora muito bem o feedback tátil do DualSense. Cada golpe aplicado traz uma vibração diferente no controle, dependendo da intensidade. Unir esse recurso à execução dos golpes proporcionou mais imersão e uma dinâmica divertida ao gameplay. Outra tacada certeira.

SIFU: vale a pena?

Na contramão das grandes estreias de mundo aberto agendadas para fevereiro, SIFU é o game ideal caso você esteja procurando por novidades além do mainstream. Ele é muito competente em proporcionar desafios e tem gameplay com mecânicas promissoras. Mas saiba que o caminho para se tornar um Sifu é árduo e suas habilidades serão testadas constantemente.

A nova aposta da Sloclap foge de uma história mais elaborada, mas brilha na temática e nas coreografias orquestradas por Benjamin Colussi. Em muitos momentos, a porradaria até lembrou um pouco do jogo Jackie Chan Stuntmaster, um clássico da era PS1 que possui a mesma premissa — mas menos intenso.

Cena de gameplay de SIFU.
(FONTE: reprodução)

SIFU será lançado para PS4, PS5 e PC — lembrando que o upgrade gratuito também está disponível de uma geração para outra. E, como quase todo game, chega ao Brasil com um preço salgado. Na PS Store, a cópia digital da versão Standard sai por R$ 214,90, enquanto a Deluxe (com trilha sonora e artbook digitais) custa R$ 264,90.

Além disso, o gamer deve ficar atento: é uma aventura difícil e exige bastante dedicação. Isso também deve ser um ponto no momento de compra.

Veredito

SIFU
SIFU

Sistema: PlayStation 4 e PlayStation 5

Desenvolvedor: Sloclap

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
85 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Combate envolvente e tão legal quanto o esperado
  • Arte minimalista é de brilhar os olhos
  • Temática bem explorada e tacadas certeiras no game design
  • Coreografias de lutas
  • DualSense proporciona ainda mais satisfação em aplicar os golpes
  • Legendas em PT-BR
Desvantagens
  • Mal de todo roguelike: a repetição excessiva, mas necessária para a evolução do jogador
  • Pequenos bugs, mas que não atrapalham na experiência
  • Dificuldade pode afastar interessados
Valdecir Emboava
Valdecir Emboava
Jornalista
Publicações: 3.827
Jogando agora: Resident Evil 4 [remake]
Jornalista de games desde 2017. Amo uma boa experiência, independente do gênero.