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The Tomorrow Children: Vale a pena?

por Thiago Lima
The Tomorrow Children: Vale a pena?

Chegou a hora de jogar pelo seu povo, pela sua nação. Essa é a proposta de The Tomorrow Children, o novo jogo, com versão para PlayStation 4, que promete um passeio pela História e mostrar como cada um faz parte de um sistema importante para o funcionamento de um país.

Trabalhar para reconstruir um mundo “perfeito”, onde as pessoas trabalham pelo bem estar dos demais, a fim de ganhar respeito e a oportunidade de se aposentarem, com direito à moradia básica e apoio dos governantes.

Mas, como na vida real, nem tudo é tão perfeito assim, até chegarmos ao merecido “descanso”, o trabalho será árduo e, sem dúvida, bastante repetitivo.

Aula de História

Você, camarada jogador, deve se perguntar que já viu um enredo parecido com esse: trabalho para o governo, onde todos dividem suas benesses em prol de um sustento básico, sem luxo ou ostentação, sem a “corrida pelo dinheiro”.

É isso mesmo, é o comunismo que se reapresenta com uma nova roupagem, caricaturada de uma realidade que parece distante para os jogadores mais novos, mas bem próximas daqueles que conviveram com essa atmosfera, no fim da década de 1980 e início da de 1990.

The Tomorrow Children - comunismo

A caricatura fica por conta dos exageros nos conceitos do game, que mostra um trabalho infantil, como se os personagens pertencessem a um líder, um criador que deseja montar um mundo perfeito, mas que precisa de recursos para tanto.

E os recursos são conquistados pelo “suor” dos jogadores, que trabalham dia e noite, inclusive para produzir energia elétrica e defender a cidade dos ataques dos gigantes inimigos, que vagam pelo Void, o cenário vazio em expansão e construção.

A orientação é seguir o líder

Observar como o líder comanda e fazer parecido é um lema que ultrapassa as fronteiras do roteiro do jogo, chegando ao seu desenvolvimento, já que o título sofre influência nítida de Minecraft, o líder no mercado de games de exploração e montagem de cenários.

Apesar de não ser um jogo com tanta liberdade quanto sua inspiração, The Tomorrow Children oferece a possibilidade de escolher como conseguir os recursos e explorar o Void, o que pode ser mais difícil do que se imagina.

Após o tutorial, ao ser lançado em uma das cidades comunitárias, o jogador tende a ficar perdido com tanta liberdade, já que precisa decidir por aprender ou começar, fazendo com que busque alguma forma de trabalho ou perca bastante tempo em leituras e análise de cenário, para entender enfim o que fazer, aliada à pressão dos itens, que vão se esgotando com o tempo.

The Tomorrow Children - cidade

Assim, a medida que trabalha, o jogador recebe uma remuneração em vouchers do governo, que podem ser trocados por equipamentos que facilitarão o trabalho, ou seja, o prêmio é poder trabalhar ainda mais para seus comandantes.

Para quem tem a paciência de um gameplay pouco inovador, baseado no construir por construir, pode encontrar uma boa experiência, mas é difícil encontrar um estímulo em uma proposta tão repetitiva, com puzzles que quebram ainda mais o ritmo do jogo.

E para aqueles que tem menos paciência, o Capitalismo tende a acelerar um pouco a experiência, ao oferecer as possibilidades das microtransações, que facilitam o desenvolvimento do personagem.

Camaradas ou adversários?

Durante a experiência de construção e busca de recursos esbarramos naturalmente com outros jogadores no modo online, cuja a interação é bem simples, mas bem intrigante.

É preciso ter a sorte de cair em uma cidade na qual os jogadores entendam rápido seus propósito no game (o que é raro) para que a cidade possa evoluir rapidamente, a partir de um comportamento de convivência em comunidade.

Mas, até que esse pensamento seja claro para todos, os outros jogadores percebem que conseguem pegar os melhores recursos se forem mais rápidos, deixando os jogadores mais lentos sem nenhuma oportunidade de apanhar as peças disponíveis, assim, os materiais de maior valor são sempre mais complicados de pegar.

The Tomorrow Children - recursos

O trabalho que parecia ser em equipe, comunitário, perde para a sagacidade e vontade de evoluir e se tornar uma pessoa mais importante no Void. Esse é justamente um dos sentimentos humanos que possivelmente explicam a derrocada do Comunismo e que causa problemas na sociedade estabelecida no jogo, tornando-o confuso à primeira vista.

Talhado em madeira pouco nobre

Apesar desse mergulho no extremo e interessante do conceito do Comunismo e até em sua história, o visual do jogo, baseado em bonecos de madeira, um dos recursos mais comuns encontrados pelos jogadores no game, prometia ser mais bonito do que realmente é.

The Tomorrow Children - lider

Um filtro que escurece o gameplay deixa a imagem com aspecto “retrô”, mas destrói os detalhes e dificulta a identificação de pontos importantes do cenário, fazendo com que o jogo perca em um dos pontos que mais o deixava atraente, no visual dos personagens.

A única opção são as legendas

Para completar esse visual sombrio, que enfraquece a experiência, pois não há uma ligação com um clima mais dark, os personagens, principalmente o líder criador, se comunicam com uma língua semelhante ao russo, ou seja, praticamente indecifrável no dialeto tupiniquim.

A solução são as legendas, que ao menos podem ser adiantadas a medida que são lidas, já que o ritmo de pronuncia da língua do game é lento e bastante entediante.

Conclusão

Não foram poucas as tentativas de tentar entrar no espírito Comunista, proposto pelo game, para entender o que levaria um gamer a adquirir o jogo e curtir a experiência. Mesmo assim, o retorno foi pequeno ou quase inexistente.

Os defensores do título podem alegar que a proposta é justamente a imersão em mundo de busca por recursos, construção e defesa (pouca) dentro de uma cidade ou país em formação. Mas, a repetição e a lentidão do gameplay atrapalham essa experiência, oferecendo pouca inovação em novidades que simplesmente travam os jogadores em alguns momentos.

O tema do jogo é bem interessante, já que as gerações mais novas de jogadores pouco tiveram contato com essa fase rica da história do mundo, importante para formação e, quem sabe, “deformação” dos valores capitalistas com os quais vivemos hoje, mas o potencial foi pouco explorado, servindo apenas para caricaturar os personagens e seus objetivos.

Se for para realizar o investimento em busca de entretenimento e novidades, The Tomorrow Children não é o jogo certo, abrindo espaço para outros games mais interessantes. Sendo assim, o selo “descartável” se encaixa bem, levando em conta as poucas possibilidade de diversão e inovação que o jogo tem a oferecer.

4 - Selo de Bronze

*O jogo foi cedido pela PlayStation para avaliação

Thiago Lima
Thiago Lima
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Jogando agora: Nada no momento.
Assessor administrativo por formação e redator gamer por paixão. Entusiasta da PlayStation e fã de The Last of Us, Uncharted e PES.