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Shadow of Mordor: GOTY Edition: Vale a pena?

por Raphael Batista
Shadow of Mordor: GOTY Edition: Vale a pena?

Quando foi anunciado a produção de um novo jogo baseado no universo de J.R.R. Tolkien, a mídia internacional e, basicamente, todos os jogadores ficaram com um pé atrás e contiveram quaisquer ânimos. Até então, todos os títulos com ligações ao Senhor dos Anéis foram um fiasco e o novo game poderia seguir a infeliz tradição.

Lançado em setembro de 2014, Middle-Earth: Shadow of Mordor (Terra Média: Sombras de Mordor) chegou aos consoles da nova e antiga geração, também para os PCs, e o resultado não poderia ser mais surpreendente: o título recebeu elogios extraordinários e conquistou o cinturão de campeão na categoria “Melhor Jogo de Aventura/Ação” pela The Game Awards, além de ser um dos indicados para o “Melhor Jogo do Ano”.

Como forma de celebrar o tamanho sucesso inesperado, a Warner Bros e a Monolith Productions lançaram o mesmo jogo em uma versão especial, chamada: Game of The Year Edition (Edição Jogo do Ano) que contém melhorias gráficas e todos os conteúdos adicionais do título.

A partir de agora, você confere nessa análise se vale (ou não) a aquisição de Shadow of Mordor: GOTY Edition.

Prefácio

A edição especial do game traz vários melhoramentos que ficaram pendentes na versão original. É perceptível um polimento visual mais preciso, corrigindo alguns serrilhamentos presentes em partes do cenário e um acabamento mais belo.

Porém, o “precioso” dessa edição é a inclusão dos dois DLCs, “Lord of the Hunt” (Senhor da Caça) e “Bright Lord” (Senhor Brilhante). Será abordado com maior aprofundamento acerca desses conteúdos mais adiante, tratando sobre o enredo e propósitos de cada um.

Para consolidar e celebrar a sua posição de Melhor Jogo do Ano, a edição GOTY de Sombras de Mordor chega para dar oportunidade àqueles que não tiveram o privilégio de jogá-lo e torná-lo um título memorável, como um belo prelúdio para as possíveis produções vindouras do universo de Senhor dos Anéis.

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Enredo

Apesar do jogo ser fundamentado no universo criado por Tolkien, a narrativa não está presente na obra original, podendo ser considerado um spin-off da trama dos livros. Colocado em uma ordem cronológica, Shadow of Mordor acontece após os eventos de “O Hobbit” e antes de Frodo começar sua aventura para destruir o anel.

No controle do Guardião do Portão Negro, chamado de Talion, o jogador busca por vingança contra os Capitães Negros de Sauron, responsáveis pelo assassinato da família do guardião. Seu aliado é o espírito do senhor dos elfos, Celebrimbor, criador dos anéis do poder. Celebrimbor apodera-se do corpo do Guardião e, juntos, devem impedir os planos de Sauron.

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Para alcançar os homicidas, os protagonistas precisam primeiro eliminar os Uruks-hai, seres criados pela maldade de Sauron para serem seus servos. Dentro dessa categoria de Orcs, há uma hierarquia crescente: soldados-capitães-chefes, sendo esta última ocupada pelos Uruks mais fortes e poderosos, os quais precisam ser eliminados para que os Capitães Negros (Marreta, Torre e Mão Negra) sejam confrontados.

Durante a progressão da busca de Talion, juntamente com o Senhor dos Elfos, novas personagens são introduzidas para ajudar  o jogador a conquistar seus objetivos. Torvin, o caçador, Ratbag, o Uruk medroso e Hirgon, o rebelde, são personagens carismáticos com personalidades únicas, cada um com um papel bem específico e importante na jornada do Guardião.

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Infelizmente, um jogador experiente consegue finalizar a campanha em até 10 horas, pulando todas as missões secundárias e as Lutas pelo Poder, um tempo curto levando em consideração a riqueza presente de todo o universo em questão. A história não é superficial, mas poderia ter uma maior duração.

O enredo é profundo e o jogo ambienta muito bem toda aquela temática desenvolvida pelo Tolkien. O roteiro da narrativa foi escrito por Christian Cantamessa, roteirista de Read Dead Redemption, e supervisionada pelo Peter Jackson, diretor dos filmes de Senhor dos Anéis e O Hobbit. Com uma equipe dessas, era inevitável um trabalho impecável com uma história interessante, digna até de receber uma adaptação para o cinema.

Visual

Não somente a narrativa consegue captar a mesma essência da obra original, como também os ambientes e cenários conseguem representar com excelência a mesma região de Mordor  apresentada aos cinemas. O clima, as paisagens, as construções são fidedignas à direção de Peter Jackson.

A beleza gráfica é de se surpreender. Até mesmo os Uruks receberam muitos cuidados visuais, sendo que os capitães e os chefes possuem características únicas, com elementos que os tornam inconfundíveis, como o chefe “Dûsh, o Pintado” que possui tatuagens em todo seu corpo condizendo com seu nome.

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Apesar de se tratar de um jogo com monstros horrendos, cenários devastados pela dor e caos, sangue negro correndo a todo instante, o polimento visual torna-se agradável aos olhos todos os gráficos. Esse contraste do belo e feio contribui para uma experiência ainda mais incrível por meio do excelente trabalho da Monolith.

Sonoplastia

O trabalho da Warner é conhecido, principalmente, pela primazia da produção da série Batman. Um dos pontos fortes da empresa, demonstrado no jogo  do Cavaleiro das Trevas e também em Shadow of Mordor, é a dublagem perfeita para os vários idiomas.

As vozes de todos os personagens, protagonistas ou coadjuvantes, possuem tons condizentes e que combinam perfeitamente com a personalidade de cada um. Mais uma vez, a Warner dando uma aula de como regionalizar todo o roteiro de maneira orgânica e natural.

Há um destaque para os diálogos dos Uruks-hai. Os seres inimigos não ficam mudos enquanto estão fazendo suas patrulhas em Mordor, mas conversam entre si acerca dos acontecimentos recentes e os bate-papos são hilários! Claro que não há uma voz para cada Orc, mas a modulação eletrônica para diferenciar dá conta do serviço; então, parar para ouvir e rir as falas dos “sem-cérebros” é interessante.

Quanto aos sons da natureza, dos animais, dos barulhos das construções, tudo chega a ser tratado com um bom volume e sincronização perfeita com os movimentos e com as posições dos objetos em questão. Na sonoplastia, a Warner acertou em cheio mais uma vez.

Jogabilidade

A jogabilidade é um dos pontos centrais do game. É possível categorizá-la como uma mistura do sistema de Assassin’s Creed com trilogia do Batman, em que há uma liberdade imensa para exploração e os movimentos de combate são fluidos e muito bem dinâmicos.

Ao entrar em fortalezas de Uruks, por exemplo, a melhor estratégia é a furtividade, eliminando arqueiros e defensores com o uso da adaga e do arco e flecha. Agora, em um campo aberto, com muitos inimigos cercando o jogador, a solução é partir para a pancadaria com a espada Urfael, atacando e contra-atacando nos momentos certos. Todo esse sistema funciona muito bem, assim como acontece em AC e Batman.

As estratégias são complementadas com o desbloqueio de habilidades que Talion e Celebrimbor possuem. É altamente recomendável que o jogador tenha disponível quase todos os recursos especiais, pois todos são, basicamente, úteis em muitos momentos do jogo.

As habilidades são conquistadas por meio do ganho do XP quando o Guardião entra em combate, sendo potencializado quando é realizado combos altíssimos sem sofrer qualquer dano, multiplicando a experiência ganhada. As melhorias das armas acontecem por meio da aquisição de Mirians, moedas da Terra Média, as quais permitem “comprar” maior quantidade de vida, mais flechas, maior concentração e novos espaços para runas.

Um dos itens que pode ajudar na aventura são as runas, power-ups passivos que garantem algumas vantagens para as armas a que são designadas. Apesar de não ser algo essencial para o seu desenvolvimento, existem algumas que terão o poder de lhe salvar, tornando-a bem útil.

Uma das inovações presentes no game foi o sistema de hierarquização entre os Uruks, chamando-o de “Exército de Sauron”. Como dito, os inimigos são categorizados em: soldados, capitães e chefes, e assim como em todo exército, é possível que alguns soldados conquistem patentes  maiores ou chefes sejam rebaixados.

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As mudanças no batalhão de Uruks acontecem de acordo com as atitudes do jogador. Por exemplo: ao matar um chefe e deixar os seus guarda-costas vivos, um deles assumirá o posto do antigo chefe e se tornará ainda mais forte. Pode ocorrer também de um soldado qualquer lhe matar e, assim, ele será promovido ao posto de capitão, ficando mais forte juntamente com outros capitães. Ou seja, morra o menos possível ou tudo ficará cada vez mais difícil.

Conforme a progressão da jornada de Talion, é natural que alguns capitães se enfrentem para disputar melhores posições; assim, deixá-los vivos pode tornar-se uma dor de cabeça, muito pior caso morrer para eles. Para neutralizar as ameaças, existem as Lutas pelo Poder, as quais são marcados capitães específicos e sua missão é matá-los para impedir a ascensão.

Além dos Uruks e dos Ghuls, Caragors e Graugs incrementam a lista de inimigos presentes no games, sendo os dois últimos podendo ser controlados e permitindo ao jogador causar uma destruição massiva. Os Caragors são como cachorros do mato enormes, rápidos e poderosos; os Graugs são seres bípedes, lentos, mas conseguem esmagar uma horda de Uruks em apenas um golpe. Eles contribuem para a construção de um mundo ainda mais real.

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Em contrapartida do pequeno número relacionado às missões da história, há um grande leque de missões secundárias, Lutas pelo Poder e desafios para o melhoramento das armas, além, claro, dos muitos colecionáveis espalhados pelos mapas.

Tratando do mapa, a região do jogo se passa em Udûn e, depos, em Mar de Núrmen, podendo alternar entre os dois a qualquer momento. A dimensão dos mapas não é grande, podendo ser cruzado de ponta a ponta rapidamente. É inteligente a decisão pela restrição do tamanho, já que se trata de um jogo baseado em um livro com uma região gigantesca, sendo praticamente impossível retratá-la em igual proporção.

Shadow of Mordor responsabiliza o jogador por todas as atitudes tomadas dentro do game, principalmente, quanto às mortes, recompensado-o com maiores dificuldades. Apesar do jogo começar com uma facilidade razoável, muitos podem perder muitos cabelos conforme o avanço do progresso, ainda mais quando se é morto por um soldado raso, isso, sim, é frustração.

DLCs

Lord of The Hunt (Senhor da Caça)

Infelizmente, essa “DLC” poderia ser muito bem considerada como um pacote de algumas missões a mais. O conteúdo desse conteúdo não chega a ser algo adicional à experiência do jogador, podendo ser muito bem dispensado.

A expansão trata-se de Talion juntando-se com caçador anão Torvin, mais uma vez, para exterminarem cinco chefes que têm causado uma perturbação na natureza devido ao controle de novas feras que apareceram na região. Com isso, a missão do jogador é, simplesmente, matá-los.

Para os jogadores que já se familiarizaram com os controles do jogo, a conclusão de todas as missões, incluindo as poucas secundárias, se dará, no máximo, em 5 horas (o redator que vos escreve finalizou em 3 horas). Tempo bem limitado para algo que deveria ser um plus para a experiência de jogatina.

Apesar de ser sempre bom conversar com o carismático Torvin, engraçado, desbocado e irônico, a “história” da DLC é demasiadamente superficial, não tendo a mínima conexão com o jogo original e desnecessário para quem for que seja. Apenas críticas para esse conteúdo? Confira o próximo parágrafo.

O que realmente tem de bom em Senhor da Caça é a inclusão de novos seres para serem controlados por Talion. Os Caragaths, primos dos Caragors, são ainda mais velozes e silenciosos, sendo possível usá-los no modo furtivo. Os Graugs Cuspidores são ainda mais fortes do que os Graugs e conseguem vomitar veneno nos inimigos. Também é possível controlar os Ghuls com seu poder de marcação.

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Senhor da Caça não é um conteúdo necessário para complementar a experiência do jogador, estando ali para preencher, talvez, um espaço que faltava para uma DLC. Mas jogue-o, você não perderá muito tempo mesmo.

Bright Lord (Senhor Brilhante)

Ao contrário da primeira DLC, essa, sim, merece o título de conteúdo adicional. Além de se tratar de outro momento da Terra Média, há um sistema de habilidades modificado, história elaborada e complementa, verdadeiramente, a experiência do jogador quanto ao jogo original.

O enredo se passa milhares de anos antes da história de Talion, focando, agora, no combate entre Sauron e Celebrimbor pelo domínio da Terrá Média após o Senhor dos Elfos forjar os Anéis do Poder, até mesmo, o Anel Um, o qual está à disposição do jogador para usá-lo.

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É interessante o aparente contraste existente entre o Senhor do Escuro e o Senhor dos Elfos, em que, mesmo tendo fins diferentes, ambos possuem o mesmo objetivo de controlar a região. Essa ilusão faz com que o jogador tenha em mente: “Sauron e Celebrimbor não são diferentes assim…” A Monolith e a Warner souberam muito bem retratar essa relação paradoxal.

O jogo manteve a mesma base do objetivo da primeira DLC: é necessário marcar os cinco chefes para confrontar Sauron pelo controle da Terra Média. Para alcançar isso, é preciso que o jogador construa as Torres de Forja, conquistando-as por meio da marcação de Uruks em determinada área.

Para ajudar o Celebrimbor, o Anel Um garante finalizações ilimitadas, flechas incontáveis e mais poderosas, tempo atrasado para alcançar os inimigos, praticamente a invencibilidade. Como todo poder, é preciso recarregá-lo cumprindo algumas exigências, mas é divertido sentir esse poder ao alcance. Devido a isso, talvez, que o Senhor dos Elfos se parecia cada vez mais com Sauron.

Infelizmente, o tempo também é curto. Realizando os Desafios do Anel para aumentar seu poder, o conteúdo adicional não dura mais que 5 horas de jogatina. Ainda sim, são muito bem aproveitadas para uma DLC bem produzida.

Controlar Celebrimbor, um elfo rápido, ágil, poderoso, em sua batalha épica contra o Senhor do Escuro, é um momento especial para os jogadores, fazendo esse conteúdo adicional muito bem recebido, valendo a pena jogá-lo e aproveitar cada minuto.

Considerações Finais

Shadow of Mordor ganhou, com méritos, o título de “Revelação do Ano”. Apesar de toda a desconfiança e do pouco hype antes de seu lançamento, a produção da Monolith surpreendeu a todos com um jogo que atende a quase todas as exigências dos fãs do gênero ação/aventura.

O ponto negativo fica por conta da brevidade das missões principais, tendo a campanha finalizada em poucas horas sobre um universo que poderia render muito mais tempo. Ainda assim, as missões paralelas conseguem preencher o espaço deixado, ocupando ao jogador por horas e horas desafiadoras e divertidas.

A nova versão do jogo, GOTY Edition, conquista com louvores os corações dos gamers, apresentando um título coerente, responsável e fidedigno ao universo de Tolkien. A edição celebrativa é merecida pelas conquistas inusitadas de Shadow of Mordor, dando aos novos jogadores a oportunidade de jogá-lo e aos experientes a chance de revivê-lo, todos sentindo o mesmo prazer diante essa belíssima obra.

“[…] Um anel para todos governar, uma anel para encontrá-los, um anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los na terra de Mordor onde as sombras se deitam.”

2 - Selo de Ouro

 

Raphael Batista
Raphael Batista
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Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.