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O peso das escolhas: Beyond: Two Souls provoca instintos não usuais

Cada escolha uma renúncia?

por Raphael Batista
O peso das escolhas: Beyond: Two Souls provoca instintos não usuais

Este artigo não é uma análise técnica para julgar uma nota. Trata-se de uma visão crítica sobre Beyond: Two Souls e o que a temática evoca nos jogadores. Infelizmente, não é possível narrar uma experiência sem entregar algumas partes. Ou seja, spoilers (bem poucos)! Mas recomendo você jogar o game – que por sinal está ‘gratuito’ na PS Plus – para vir aqui depois 🙂

Uma breve visão geral sobre o jogo: Beyond: Two Souls coloca você na pele de Jodie, uma jovem que possui uma ligação com Aiden, uma entidade. Ele é como um protetor e oferece poderes. O desenrolar da história mostra Jodie em diferentes fases da vida juntamente com Aiden a existência de outras almas e entidades do Inframundo.

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Seus poderes não possibilitam a viagem no tempo. Cada decisão é consumada pelo tempo, assim como na vida real. No entanto, no controle de uma entidade poderosa, até onde os seus instintos tomam controle de suas ações? Se você pudesse ter uma habilidade dessas, até onde os seus desejos mais sombrios seriam controlados pelo bom senso?

A experiência é tão intensa que até mesmo eu, considerada uma pessoa calma (talvez devagar), consegui sentir a passividade das emoções transpassadas na cena onde pude me vingar de adolescentes maldosos que me humilharam. Apesar da consciência que “vingança é algo errado”, a música pesada, a emoção de indignação e o controle de um poder sobrenatural me levaram à decisão de machucar pessoas.

Talvez isso seja o tema de um próximo contexto, como o ambiente é criado e nos leva a tomar atitudes que, normalmente, não tomaríamos. Este não é o foco no momento. A questão principal é notar a mudança de mentalidade ao ter noção do poderio em minhas mãos. Em uma situação cotidiana semelhante, eu tenho CERTEZA que iria embora chorando. Sem retrucar ou sem gritar. Apenas iria embora. No entanto, possuir um “vingador” em minhas mãos provocou um instinto não usual.

É por tal motivo que a experiência em Beyond é uma proposta crua, sóbria e dura. Decisões, assim como a vida real, são permanentes e elas geram consequências. Contudo, qual é a sua decisão ao ter poder sob uma entidade? Você não pode mudar o que aconteceu voltando no tempo, mas seu futuro seria diferente ao ter essa habilidade?

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É então que senti o grito de outra temática, a temática do “E se“. Talvez essa seja a expressão mais temida de muitas pessoas que se estão lendo esse artigo. “E se eu tivesse dado o valor correto ao meu primeiro amor? E se eu tivesse batalhado mais pelos meus estudos? E se eu não tivesse perdido o controle?” São questionamentos rotineiros, e mais, imaginamos um futuro alternativo com outras decisões.

As decisões amedrontam diante daquilo que poderão se tornar. A vida não é um conjunto de escolhas isoladas. Estamos onde estamos pelo resultado de nossas ações. Com Jodie, não é diferente. O “E se” martela na mente constantemente, como se nossa consciência estivesse berrando pelas decisões que tomaríamos normalmente, e não pelas incomuns.

Com isso, a sensação de decidir nunca foi tão assustadora. Não quero machucar as pessoas, mas o instinto natural grita…esbraveja pelo meu próprio bem-estar. Ao mesmo tempo, questiono-me se não estaria fazendo um favor para o mundo ao eliminar as pessoas que estão contra mim. Afinal, eu sou a pessoa boazinha. Um misto medo e orgulho, incerteza e darwinismo, dor e adrenalina.

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Jogamos videogame para imergir em um mundo novo e nos divertir. Acredito que nenhum de nós queira jogar “Simulator Vida Real: trabalhando e pagando boletos”. Contudo, Beyond: Two Souls dialoga diretamente com nossa vida real e é isso o que provoca a reflexão. Nada mais real, nítido e diário do que o peso de nossas decisões e o quanto precisamos conter os instintos, liberados quando somos dominados pela sensação de poder.

Espero que Detroit: Become Human continue na mesma ideia. O que, na verdade, será ainda mais próximo da realidade. Sem superpoderes, nem entidades. A verdade nua e crua: o que você faria em uma situação de risco e colapso da humanidade?

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