FIFA 23: vale a pena?

Caro FIFA 23,

Eu vivi todas as emoções dos seus irmãos mais novos, desde o FIFA International Soccer, quando eu tinha 4-5 anos de idade. Do Janco Tianno ao Cristiano Ronaldo. Do Mega Drive até o PlayStation 5. Quantas memórias! Do futsal do FIFA 97, da Copa do Mundo do FIFA 98, da música de abertura do FIFA 99… Até o El Tornado do FIFA 18, o La Croqueta do FIFA 19, o Timed Shot do FIFA 20.

Em 2023, exatas três décadas depois, você não vai ter mais esse nome. Por isso, esse ano é especial. A partir desta sexta-feira (30), quando sua versão standard chegar aos milhões de apaixonados pelo futebol virtual espalhados pelo mundo, se inicia uma espécie de contagem regressiva. Sabe aquela história de aproveitar bem cada momento? Você, FIFA 23 é sobre isso.

É talvez o jogo de futebol mais realista que a EA Sports (e, por favor, não mude isso na primeira grande atualização). Você ainda tem seus defeitos erros, claro. Nunca existiu um FIFA perfeito – e nem existirá um EA Sports FC imaculado. Mas dentro de suas particularidades, você é um apito final de um título conquistado após um longo campeonato de pontos corridos.

E a sensação é uma só: valeu a pena. Como (quase) sempre.

As variações do HyperMotion 2

Por exemplo, quando os seus desenvolvedores anunciaram a HyperMotion, no FIFA 22, todo mundo ficou animado. E foi bem interessante mesmo ver a captura de movimentos reais sendo traduzida em campo. Aí, agora, chegou a evolução da tecnologia. Nítida logo nos primeiros minutos de gameplay. São algumas mudanças relevantes de jogabilidade e novas animações muito bacanas.

Quando um zagueiro coloca os braços pra trás num chute dentro da área, um ponta passa pedindo a bola ou o time faz o balanço para o lado onde acontece a jogada, eu dou até um sorrisinho. Quem gosta de futebol e, por muito tempo, reclamou que os seus irmãos estavam muito focados em dribles e coisas irreais, provavelmente vai se sentir bem satisfeito.

Mas, de novo, você dá uns vacilos. Eu entendo que o ciclo de desenvolvimento de um FIFA não é dos maiores e que deve ser bem complexo melhorar tudo em um aninho. Por isso, vamos valorizar o que evoluiu. Trocar passes e finalizar, por exemplo – apesar daquele chute super forte que é roubado pra caramba.

Sua cadência está excelente. Quem quer usar jogadores mais velozes consegue, quem quer mais tiki-taka consegue… Fica só uma pontinha de decepção pela bola aérea nunca mais ter sido a mesma desde os tempos de FIFA 14 a FIFA 17, por exemplo. Porém, quando pesamos tudo, há muitas opções a serem exploradas.

Só que, como em todo ano, tem um meta. As bolas enfiadas voltaram a ser bem perigosas e o novo sistema de defesa, que é menos automático (a não ser que você tenha zagueiros muito bons), faz com que a atenção tenha que ser redobrada. Muitas vezes a bola passa no meio da zaga fácil, e como os goleiros são ruinzinhos…

É bastante comum ter jogos de 4×3, 5×4 e por aí vai. E, não, isso não é realista no futebol. Esta é a principal crítica a você, novo FIFA. O gol é o grande momento do esporte, mas calma lá! E muito disso acontece porque existe aquele problema crônico dos volantes. Há anos eles não cumprem suas funções táticas como deveriam.

Quem entende de futebol sabe o quanto a posição é fundamental para o jogo moderno. Seja na marcação, seja na construção de jogadas. É o último na proteção da zaga e o primeiro na criação do ataque. Traduzir isso seria essencial para o realismo, mas FIFA 23 peca bastante aqui – principalmente na questão defensiva.

É comum ver os volantes trotando apenas até a intermediária e, depois disso, deixando os meias e atacantes adversários passarem como querem. Aí é preciso se virar com os zagueiros ou tentar puxar manualmente os cabeças de área para onde deveriam ficar. Sem falar nos desarmes pouco eficientes, que já não são mais novidade.

Atmosfera de final de campeonato

Se dentro de campo você não é perfeito, fora dele… FIFA 23, dos modos de jogo até a ambientação, a experiência é impressionante. Os campos mais reais, a física da bola e dos jogadores melhor, as redes balançando, a torcida cantando, as novas cutscenes pré-jogo, a imersão da Carreira, o “vício” do UT, a diversão do Pro Clubs…

Resumindo, você está bonito na nova geração. Gráficos bem polidos, faces super realistas e uma atmosfera de final de campeonato em todo jogo. Marcar um gol no finalzinho e ver aquelas belíssimas comemorações especiais para isso é sempre empolgante! E, é claro, proporcionalmente triste quando é contra o meu time. A EA prometeu a ambientação mais realista da série e entregou.

Em termos de adaptação para o público brasileiro, você é uma faca de dois gumes. A localização é ótima. Menus, narração, comentários, nomes dos troféus. Só que os licenciamentos… Os times brasileiros até estão no jogo, incluindo alguns na Conmebol Libertadores, mas todos com jogadores genéricos.

Até nossa Seleção hexacampeã mundial (quem não tá confiante é maluco!) também. Pelo menos, com o modo da Copa do Mundo mais para a frente (quem não tá ansioso é doido!) esse aspecto vai melhorar. Só que no geral, mesmo já esperado, ainda é uma duchinha de água fria.

Nos modos, vale destacar a Carreira com novo sistema de atributos, técnicos autênticos, menu repaginado e a inclusão do AFC Richmond e de Ted Lasso, da série de mesmo nome que faz sucesso na Apple TV+. E o FUT, com o novo sistema de química que permite mais mesclas de jogadores na sua equipe e os Momentos, que têm objetivos curtos e dão boas recompensas. Apesar, claro, de continuar extremamente pay-to-win.

A conectividade também tem que ser abordada. Pela primeira vez com crossplay, não decepciona. É fácil encontrar partidas e, em cerca de uma semana de muitas horas de jogo, não houve problemas de quedas ou travamentos. Só seria melhor ainda se tivesse no Pro Clubs, um modo em que é fundamental ter o maior número de pessoas online possível. Falando nele, a integração com o VOLTA foi um baita acerto!

Além disso, FIFA 23, você traz o futebol feminino para os holofotes como nunca antes na história. Desde a capa do jogo, com Sam Kerr, do Chelsea, até a Superliga Inglesa totalmente licenciada. Com captura de movimentos específica de atletas mulheres e ainda a promessa de ter um modo da Copa do Mundo Feminina de 2023 também. Bem interessante!

FIFA 23: vale a pena?

Então, Fifinha… Iniciamos aqui nossa Last Dance. Com boas primeiras impressões, um futebol realista na medida do possível e a expectativa por um ano épico, com duas Copas do Mundo e muito conteúdo no Ultimate Team.

A galera do “é o mesmo jogo todo ano” vai reclamar de você. Quem gosta só de correr e driblar também. Mas quem te conhece de outros carnavais – 30, pra ser mais exato – vai ter aquela sensação de estar vivendo um último ano, com acertos e erros, daqueles para levar pra sempre, sabe?

E também com a expectativa de que, depois da pedra fundamental colocada em FIFA 22 e da evolução com FIFA 23, o EA Sports FC nasça ainda mais realista, com mais licenças, ambientação incrível e o gameplay melhorado, especialmente no meio de campo.

No fim das contas, obrigado por toda essa história e que possamos, você e nós, milhões e milhões de jogadores, construir muitas memórias ao longo dos próximos meses. E que a Última Dança seja com Samba – como nessa simulação que fizemos.

Com carinho,

Fifeiros.