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Dead Space: vale a pena?

A Motive Studios entrega aos fãs de Dead Space uma excelente recriação de um ícone dos jogos de terror

por Valdecir Emboava
Dead Space: vale a pena?

Remake é um assunto complicado: reimaginar a melhor versão de um jogo de sucesso é uma responsabilidade e tanto. Com Dead Space, a Motive Studios parece entender como funciona esse processo delicado — e pode até ter estabelecido um novo padrão para o nicho.

Levar o feedback da comunidade em consideração talvez foi a tacada mais certeira, afinal, quem melhor para palpitar senão a própria fanbase, não é mesmo? Outra sábia decisão foi beber na fonte de Resident Evil 2 (2019) e acertar onde o game da Capcom escorregou (no desenvolvimento da história).

Medo, claustrofobia e sensação constante de perseguição. Sim, você acaba de entrar a bordo da USG Ishimura, um navio de carga espacial à deriva na órbita do planeta Aegis VII.

Era só mais um dia de trabalho para o engenheiro Isaac Clarke, mas ele logo se vê enfrentando monstros aterrorizantes, sua própria sanidade mental e fanáticos religiosos. Uma história de terror pior que a própria segunda-feira.

O remake de Dead Space respeita o clássico de 2008 enquanto adiciona contemporaneidade na fórmula. Embates em corredores estreitos, berros de desespero quando tudo está quieto até demais e sustos com jump scares são apenas algumas das coisas refinadas na reimaginação. A experiência é ainda mais agoniante.

O terror tem nome: USG Ishimura

A primeira impressão é a que conta. E não tem como discutir: a nova Ishimura entrega o prometido. Recriada do zero na engine Frostbite, sua nova ambientação é de cair o queixo.

Lugares extras para explorar em comparação à original, corredores estreitos e escuros ao ponto de não enxergar nada e a atmosfera ainda mais opressiva ilustram bem esse aspecto. “É uma nave icônica porque foi tratada como um personagem principal“, como dito por Roy Tuazon, diretor de arte.

Dead Space
(FONTE: reprodução)

O hardware de nova geração proporcionou maravilhas ao remake de Dead Space. Com a rápida leitura do SSD é possível ir de um lado ao outro abrindo portas à vontade e sem interrupções de loading ou telas pretas. Uma imersão que o PS4 não possui poder para oferecer.

Muitos pontos de interesse da Ishimura foram revisados, principalmente as áreas de puzzle. Claro, você resolverá quebra-cabeças à beça durante toda sua jornada de pelo menos 13 horas desbravando esse cargueiro espacial.

Tudo tratado até aqui é de muita qualidade. Porém, há um aspecto que se sobressai: a exploração nas áreas externas da nave. A mecânica de gravidade zero foi magistralmente revisada para o remake de Dead Space e proporciona os momentos mais legais e imersivos da reimaginação.

Já era possível explorar a parte de fora no game de 2008, mas esses trechos com o novo recurso do remake ficaram surreais. Ouvir os batimentos cardíacos e a respiração ofegante de Isaac no áudio 3D te faz mergulhar de cabeça no silêncio do vácuo espacial.

Sim, ele fala

O Dead Space original foi uma experiência e tanto no PS3, embora tivesse um defeito grave: o protagonista não dá um pio. Aquele Isaac Clarke seria um ótimo coadjuvante em “Um Lugar Silencioso” (filme de John Krasinski), pois não teve uma linha de diálogo sequer no clássico. Agora, a Motive Studios o presenteou com o dom da fala.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

O título não só ficou mais interessante com a voz de Gunner Wright (dublador do protagonista no segundo e no terceiro jogo), como a história recebeu novas camadas de profundidade por conta disso.

Isaac interage com os outros personagens, se expressa e mostra que tem emoções — ficou até mais fácil criar uma conexão com ele. Experimente também pisotear Necromorfos incansavelmente para ouvir os palavrões que saem daquela boca.

Um dos grandes nomes do survival horror na atual geração

Sim, o remake de Dead Space entrega tudo. E há muitas coisas aqui dignas de elogios, desde a preservação dos elementos de survival horror até a revisão na física do personagem — que é bem “pesadão”, por sinal.

A árvore de talentos foi incrementada e oferece mais variedade para as armas e o traje de Isaac. É o feijão com arroz baseado em pontos, só que agora com mais opções, como chance aumentada de derrubar inimigos na porrada e por aí vai. Nada de revolucionário, mas adições bem-vindas.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

Apesar de poucas alterações no arsenal, as novidades refinaram a experiência. Além dos tiros comuns, cada arma possui uma opção de disparo alternativo que consome mais munição do inventário.

Uma estratégia que dinamizou os embates, principalmente quando há uma horda de monstros vindo para cima. Esse é um recurso traiçoeiro, pois passa a falsa sensação de “Rambo” que te faz torrar munição sem perceber — foi necessário correr muito para compensar esse erro.

Jogar Dead Space no PS5 faz diferença. A imersão proporcionada pelo DualSense te faz sentir nas mãos o estrago que cada arma pode causar. No Rifle de Pulso, por exemplo, os gatilhos tensionam com muita precisão a cada bala disparada. Atirar com artilharia pesada também é bastante satisfatório.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

O horror é um dos melhores aspectos e a ambientação da Ishimura ajudou muito. Além disso, o sistema dinâmico de encontros consegue gerar até 1.200 eventos únicos e uma enorme variedade de combinações, então, você dificilmente fica entediado.

Berros desesperados dos sobreviventes que restaram, além de monstros fazendo barulho e surgindo de onde menos se espera são coisas que também ditam tom da experiência. Jogar de fone no escuro, de fato, dá muito medo.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

Por falar em Necromorfos, todos eles são ainda mais assustadores no remake de Dead Space. O player é facilmente encurralado e essa pressão toda te faz bolar estratégias desesperadas, como descarregar a sua melhor arma em inimigos relativamente fracos só para sair vivo da situação.

Os chefões são um espetáculo à parte. Os cenários repensados, a qualidade next-gen e os ajustes nas mecânicas já existentes, como a de gravidade zero, trouxeram vida nova aos embates que já eram épicos no original.

Reprodução é questionável e desmembramento é um show de horrores (no bom sentido)

A reimaginação de Dead Space tem problemas de resolução em ambos os modos gráficos — neste quesito, faltou um pouco de capricho. Não afeta tudo no jogo, mas quando acontece fica bem evidente que está abaixo da média esperada.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

É bem corriqueiro ver texturas serrilhadas e de baixa qualidade em várias partes no modo Desempenho — principalmente no traje de Isaac e quando há muita informação na tela. Apesar disso, os 60 FPS parecem estáveis.

O modo Qualidade talvez seja um pouco pior: além dos contratempos com a resolução, que não parece alcançar o 4K prometido em muitos momentos, a taxa de quadros também fica abaixo dos 30 FPS — embora o ray tracing consiga se manter em condições aceitáveis.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

Por outro lado, a mecânica de desmembramentos veio grotescamente mais impactante para o remake de Dead Space e oferece grandes momentos de gore. Os Necromorfos foram desenvolvidos com uma técnica que a Motive chama de “Peeling System“, onde são projetadas diferentes camadas que se desfazem conforme você atira.

Se usar um lança-chamas, por exemplo, só restará uma carcaça de ossos ambulante correndo atrás de você. Se optar em cortar membro por membro com o Plasma Cutter, eles vão rasgando lentamente em cenas perturbadoras.

Dead Space: vale a pena?

O remake de Dead Space consegue estabelecer um bom padrão a ser seguido nos remakes daqui para frente. É uma experiência familiar, original, imersiva e assustadora.

A nova história de Isaac tem muitos acontecimentos inéditos, além dos já conhecidos que foram apresentados em uma perspectiva totalmente diferente. O roteiro, que já era bem redondinho, ficou ainda mais interessante com a expansão da lore dos coadjuvantes através de registros e missões secundárias.

Isso sem mencionar que alguns elementos foram ajustados para manter a consistência nas histórias dos potenciais remakes do segundo e do terceiro jogo.

Dead Space
(FONTE: Valdecir Emboava)

Tem seus defeitos técnicos? Claro! Porém, são problemas fáceis de consertar e não estão relacionados a nada da estrutura narrativa ou de gameplay. Apesar dos pesares, é um nível de qualidade que não se vê com muita frequência por aí.

Sejamos honestos: o preço do jogo não é muito atrativo — ainda mais para um single-player com 13h de campanha, sem conteúdo de pós-lançamento e baixo fator replay. Na PS Store, a pré-venda da versão básica custa R$ 338,90, enquanto a Deluxe sai por R$ 398,90.

Se você é fã de uma boa experiência de terror, está hypado para Dead Space e tem uma graninha disponível aí, vá fundo. Se não, espere por uma promoção — mas não deixe de jogar, pois ele realmente vale o seu tempo.

Veredito

Dead Space
Dead Space

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: EA Motive Studios

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
92 Ranking geral de 100
Vantagens
  • A ambientação da nova Ishimura é impressionante
  • Alterações e adições na trama agregam bom valor ao material original
  • Mecânica de Gravidade Zero proporciona os momentos mais legais e imersivos do jogo
  • Survival horror em sua melhor forma
  • Gameplay no DualSense é muito satisfatório
  • Referência para futuros remakes
Desvantagens
  • Problemas de reprodução onde a resolução está visivelmente abaixo do esperado em alguns trechos
  • Preço do jogo não é muito atrativo
  • Pequenos bugs com objetos e texturas
  • São tantos cenários de tirar o fôlego que um modo foto fez falta
Valdecir Emboava
Valdecir Emboava
Jornalista
Publicações: 3.827
Jogando agora: Resident Evil 4 [remake]
Jornalista de games desde 2017. Amo uma boa experiência, independente do gênero.