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Perception: É Indie Mas…

Feche os olhos e vá na fé!

por Hugo Bastos
Perception: É Indie Mas...

Uma garota se aventura em uma mansão, que tem permeado seus sonhos há algum tempo. Lá, ela irá tentar desvendar os segredos do lugar, enquanto é perseguida por uma entidade sobrenatural. Com um detalhe que torna tudo ainda mais intrigante: ela é cega, e somente pode se localizar, e “enxergar”, por meio de sons. Eis Perception.

Qualquer pessoa que o tenha acompanhado, desde seu anúncio, percebe que a sua temática é, de fato, instigante. Um jogo que priva o jogador do principal sentido, e o coloca vulnerável a uma presença fantasmagórica. Poderia-se até mesmo compará-lo a Outlast, onde mesmo com tudo às cegas, o jogador ainda possui sua câmera com visão noturna.

Cassie possui apenas sua ecolocalização.

No entanto, a jogabilidade é falha. Extremamente repetitiva, o jogador precisará revisitar determinadas áreas diversas vezes. O clima de terror não prospera por todo jogo. Alguns sustos repentinos não são suficientes para sustentar uma atmosfera que, de repente, está tomada pelo tédio. Um jogo que prometia muito, mas acabou mostrando-se insosso.

  • Jogo: Perception
  • Desenvolvido por: The Deep End Games
  • Distribuido por: Feardemic
  • Onde encontrar: Aqui (R$ 70,50 – Sem opção de Cross-Buy)

“Veja o que eu vejo, sinta o que eu sinto”

Uma das chamarizes mais intrigantes e instigantes do título é exatamente sua proposta. Jogar com uma personagem totalmente cega, cuja única maneira de se localizar no mundo é utilizando sons do ambiente. Cassie é cega. E por isso precisou dominar a ecolocalização, para poder viver mais independentemente neste mundo.

Ela está determinada a resolver os mistérios que envolvem uma mansão em Massachusetts. No entanto, as energias sombrias que emanam do lugar não são o único obstáculo que a protagonista terá que enfrentar. “A Presença”, uma entidade malevolente, que está determinada a subjuga-la permanentemente.

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“Sinta-se em casa”. Fonte: Captura de Tela.

Além de sua própria história, a protagonista também poderá experienciar histórias de outras pessoas que já viveram na mansão. Enquanto explora os quatro capítulos da história, Cassie irá se deparar com itens e locais que a remeterão a situações do passado.

Infelizmente, a narrativa de Perception sofre de dois problemas graves. O primeiro é: para descobrir tudo o que o jogo tem a oferecer, em termos de enredo, será necessário visitar inúmeras vezes os mesmos locais, em busca de novos colecionáveis. O segundo, está na questão de sua duração. O jogo pode ser terminado em quatro horas ou menos.

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A deficiência de Cassie fez com que outros sentidos fossem aguçados. Fonte: Captura de Tela.

Apesar de bons momentos, e alguns acertos, a curta duração e a pouca capacidade de prender o jogador à situação atual acabam por minar a sensação de mistério outrora lançada em nossas mentes. O fato o enredo ser tão focado em colecionáveis, ser necessário encontra-los no ambiente, e Cassie ser cega, geram uma combinação nada agradável.

Uma faca no escuro

Perception possui uma jogabilidade única, por assim dizer. O jogador é privado de seu principal recurso – a visão. E, por isso, precisará utilizar sons para se localizar. Cada vez que algo faz barulho, ou Cassie usa sua bengala, uma onda sonora irradia o ambiente, e revela o que há no cômodo da mansão. Assim, o jogador saberá onde está, baseado onde esteve.

Com o som, o jogador também pode localizar outros objetos no ambiente, como colecionáveis. Estes são necessários para conhecer um pouco mais dos mistérios da casa, abrir novas salas, ou progredir durante o jogo. Só tem um porém: quanto mais barulho Cassie fizer, mais rápido será encontrada pela Presença.

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A ecolocalização marca itens e objetivos que você deve encontrar. Fonte: Captura de Tela.

Ao notar Cassie, ela passará a persegui-la, e será necessário se esconder dela, ou a protagonista morrerá, e deverá voltar ao último checkpoint. Esse jogo de gato e rato dá um clima de tensão genuíno à situação… por um tempo. As mortes acabam sendo mais um empecilho para a progressão do jogador. E a entidade sequer se mostra tão ameaçadora.

O jogador descobrirá que não existe essa ameaça real ao jogo. A imersividade proporcionada pela tela preta quase sempre onipresente dá lugar a um senso de solidão, ao invés de medo. E este senso é quebrado apenas vez ou outra por algumas vozes dos fantasmas que habitam a casa.

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Os fantasmas que habitam a casa não o deixarão sentir-se sozinho. Fonte: Captura de Tela.

A ecolocalização também não é muito bem utilizada. Sendo alguém tão versada nesta técnica, Cassie deveria “perceber” o ambiente por mais tempo. Os cenários se “apagam” deveras rápido. Isso gera a necessidade de “bater” com a bengala por mais vezes. O que, por sua vez, a torna mais vulnerável à entidade.

“Não veja mau algum, não ouça mau algum, não diga mau algum”

Apesar destas lacunas no título, o trabalho audiovisual deve ser elogiado. As dublagens estão muito bem dirigidas. Os sons ambientes transmitem certo ar de opressividade (quando não quebrado pela jogabilidade falha). A trilha sonora ajuda a criar um sentimento urgência e tensão.

Mas os efeitos sonoros deixam um pouco a desejar. Especialmente em se tratando de um game onde a orientação por este sentido é basicamente todo alicerce do jogo. Isso não tira, contudo, toda primazia da execução da trilha sonora. E, apesar de não haver dublagem, o jogo conta com localização de menus e legendas.

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Quando marcadas, as pistas do cenário ficarão disponíveis permanentemente. Fonte: Captura de Tela.

Os gráficos também são muito bem elaborados. Eles tentam passar a sensação do que seria estar realmente “cego”, e o fazem bem. Sendo um sentido falho no jogo, não se pode esperar que o título apresente algo ao estilo “Uncharted” e afins. Ele se fixa à proposta minimalista de mostrar apenas o que o som pode mostrar. E nisso, o jogo se sagra.

Em terra de cego…

Perception é uma ousada tacada da The Deep End, formada por antigos funcionários da Irrational Games (Bioshock / Bioshock Infinite). Não se pode negar que há um toque destes jogos neste título. Até mesmo um troféu de platina ele possui.

É certo que o título tenta acertar em sua proposta. Falha em determinados pontos. Como por exemplo, em tentar carregar demais o jogador pelas mãos (o jogo basicamente te “arrasta” para onde precisa ir). Para aqueles que gostam de algo mais intrincado, este título não agradará tanto.

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O jogo tende a ajudar até demais os jogadores, indicando por pistas visuais onde eles devem ir sempre. Fonte: Captura de Tela.

Certamente, aparando algumas arestas aqui e ali, a desenvolvedora poderá trazer algo que vá surpreender. Mas, infelizmente, não foi dessa vez.

VEREDITO: É Indie Mas…não é tão legal

O que é bom:

  • Mecânica de jogo diferenciada;
  • Gráficos e ambientação condizentes com a proposta.

O que não é bom:

  • Jogo muito curto;
  • Sustos escassos e previsíveis;
  • História desconexa;
  • Falso senso de terror e tensão.

Para quem jogou e gostou de:

  • Alien: Isolation;
  • Franquia Outlast;
  • Dead Space (pelo senso de estar sendo caçada a todo momento).
Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.