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Dragon Quest Heroes II: Vale a pena?

Análise da sequência do spin-off da clássica franquia de RPG da Square Enix

por Andrei Longen
Dragon Quest Heroes II: Vale a pena?

Antes de mais nada, preciso ressaltar que não joguei o primeiro Dragon Quest Heroes. Tudo o que sabia a respeito do game é que ele deriva de Dragon Quest, clássica franquia de RPG da Square Enix.

Numa parceria inusitada, a gigante absorveu a experiência da produtora Omega Force em produzir jogos de batalhas entre exércitos, como Dynasty Warriors, para criar uma aventura inspirada nesse contexto, porém mantendo alguns dos principais elementos que consagraram a série principal.

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A impressão geral, antes da partida começar, era essa: lutar incansavelmente, apertar freneticamente os botões e vencer horas infinitas de inimigos seriam as únicas propostas do game. De fato, Dragon Quest Heroes II tem tudo isso, abusando de batalhas sem fim e infinitas ondas de monstros para vencer.

Mas, em partes, eu também não poderia estar mais enganado. O título tem profundidade o suficiente para se igualar a alguns dos mais renomados RPGs orientais, sendo capaz de incentivar o jogador na jornada ao mesmo tempo em que soma novidades e mantém a diversão lá em cima.

Mundos conectados e o retorno do mal

A história de Dragon Quest Heroes II segue a jornada de Teresa e Lazarel, dois jovens guerreiros que partem na busca de aventuras para provar o poder das suas habilidades. Ambos vivem numa terra que, em conjunto com várias nações, forma os Sete Reinos, mundo em que há muito tempo foi palco de uma guerra colossal entre criaturas do bem e do mal.

Num clichê típico de games descompromissados, as coisas desandam rapidamente e, no lugar da paz onipresente de vários séculos, os tempos turbulentos retornam e colocam os dois heróis no meio de várias batalhas que acontecem não apenas no seu próprio mundo, mas também numa dimensão paralela muito mais hostil.

Personagens carismáticos

O enredo de Dragon Quest Heroes II é bastante agradável de acompanhar. Em nenhum momento o jogo faz questão de elaborar teorias mirabolantes ou desenvolver inúmeros acontecimentos complexos para detalhar a origem dos problemas. As explicações são direitas e sem enrolação, do jeito que o protocolo de uma aventura mais leve pede.

Mas não pense que tudo é gratuito demais. O desenvolvimento dos eventos tem ritmo certeiro, instigando o jogador a querer descobrir mais sobre o mal que está por trás de tudo aquilo. E existem pelo menos duas reviravoltas que podem causar uma boa surpresa nos jogadores que se deixarem se levar pelo tom suave da trama, ainda que não sejam totalmente imprevisíveis.

Além disso, cada personagem, todos vindos de jogos diferentes da franquia Dragon Quest, tem trejeitos de fala, comportamentos e personalidades únicas, condições ideais para gerar identificação com o tempo e permitir se fazer acreditar nas suas convicções como guerreiros em ascensão.

Assim, fica fácil querer ajudá-los, ainda mais quando eles também não perdem tempo em manter o bom humor, citando, de vez em quando, referências sutis sobre a saga canônica e piadinhas culturais bem pouco forçadas. Tudo é muito carismático sem parece infantil ou bobo demais.

Combinação de hack ‘n slash com RPG que dá certo

Na jogabilidade, Dragon Quest Heroes II combina sólidos elementos dos gêneros Hack ‘n Slash e RPG. Num primeiro momento, a combinação parece um pouco desajeitada, como se fosse improvável de que vai dar realmente certo. Mas basta dar os primeiros passos para perceber uma mecânica equilibrada e consistente com a proposta.

O jogador tem plena liberdade de movimentação pelos combates, sem turnos ou telas de carregamento que atrasem ou interrompam a ação. Os inimigos estão espalhados pelos cenários e basta se aproximar deles para iniciar qualquer batalha. Tudo acontece em tempo real e livre de burocracias de menus complicados e cheios de opções que confundem.

Os tipos de ataque se dividem entre fracos (quadrado) e fortes (triângulo), além de defesa (L1) e do desvio lateral (R2). Não é preciso esmagar esses botões desesperadamente nas batalhas, já que cada golpe se desdobra em sequências naturais que abrem oportunidades para formar cadeias poderosas de combos.

Mecânica ágil permite interações múltiplas

Segurando o R1, um pequeno menu extra se abre no centro da tela e, sem comprometer a fluência da partida, permite interligar magias, ataques especiais e ações combinadas com os outros personagens da sua equipe, que comporta até 4 heróis de uma só vez. É possível jogar e trocar entre todos eles não apenas durante a livre exploração, mas também quando a poeira rola solta.

É absolutamente prazeroso combinar as forças de cada um deles e fazer um estrago descomunal numa área lotada de inimigos pedindo para levar chumbo. A satisfação é tanta que haverá vezes em que você vai querer testar, simplesmente por pura curiosidade, as particularidades de cada um para ver o quão eficiente consegue ser com as habilidades disponíveis.

O acesso a todos esses recursos depende de experiência e do desbloqueio de atributos para cada personagem. A cada novo nível alcançado, uma certa quantidade de pontos pode ser distribuída dentre uma série de características, como HP, MP, força, defesa, agilidade, inteligência, além de ajudas adicionais, como encher a barra de especial mais rapidamente. Algo bem típico de RPGs e que vai deixar fãs do gênero satisfeitos.

Para todos os tipos de guerreiros

Dragon Quest Heroes II oferece 5 Vocações (classes) únicas para jogar: Warrior, Martial Artist, Mage, Priest e Thief. A princípio, a quantidade pode parecer pouca, mas cada uma delas conta com características únicas que ressaltam os seus comportamentos e conferem poderes exclusivos durante os combates.

Cada uma delas também permite usar de 2 a 4 armas diferentes, também com atributos, particularidades e sujeições bem diferenciadas, dinâmica que facilita com que qualquer perfil de jogador se encaixe perfeitamente na aventura, excluindo qualquer possibilidade de frustração pela falta de opção.

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Dragon Quest Heroes II – Teresa em combate. Fonte: Divulgação

Os heróis já vem com classes e armas pré-definidas, todas com sistemas de níveis independentes entre si. Mas todos os personagens podem assumir a identidade de guerreiro que o jogador quiser. Ou seja, qualquer classe – e as armas atreladas a elas – pode ser atribuída a qualquer um deles, conferindo plena liberdade de estilos na preparação para os combates.

Masterizando armas

As armas, inclusive, contam com um sistema de proficiência bastante interessante para quem gosta de explorar a profundidade dos seus equipamentos. Todas atingem, no máximo, a proficiência de nível 20. Tem de tudo: espadas de mão dupla, machado, espada pesada, lança, luva, cartas, leque, bumerangue, garras, cajado, chicote e arco e flecha.

Quando cansar ou quiser testas novas dinâmicas, é possível trocar de classe e, com isso, ganhar acesso a um novo conjunto de armas e começar, do nível mais baixo, a busca pela proficiência máxima desta nova arma. E o mais legal: nada do que foi conquistado com a arma anterior, incluindo o nível da classe correspondente, é perdido, podendo retornar para o antigo padrão sempre que quiser.

A importância das medalhas do poder

Uma outra atração interessante da mecânica de Dragon Ques Heroes II são as Monster Minions, um sistema de medalhas que concedem poderes especiais durante as batalhas. Existe uma certa probabilidade de que cada monstro derrotado possa derrubar uma medalha específica de combate, conferindo ajudas ou incentivos adicionais.

O primeiro tipo é a invocação das criaturas para colaborar nas lutas, como se fossem novos membros da equipe. Essa parceria, controlada por inteligência artificial, só termina quando as suas energias acabam e, nos momentos mais críticos, sobretudo nas lutas contra os chefes ou nas dungeons finais, acabam se tornando de grande utilidade devido ‘a grande quantidade de inimigos poderosos para derrotar.

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Dragon Quest Heroes II- Lazarel aplica seu especial com duas espadas. Fonte: Divulgação.

O segundo é assumir a forma do próprio monstro derrotado, podendo usufruir de todas as suas forças e habilidades por tempo delimitado – cerca de 20 a 30 segundos. E, caso o jogador esteja encrencado em alguma parte, ter acesso a essa espécie de medalha pode ser a diferença entre a vitória e o Game Over. Portanto, é importante saber usar na hora certa.

O terceiro tipo de medalha é o mais simples e menos controlável, mas igualmente importante no sucesso das batalhas. Os monstros invocados por essas medalhas apenas aparecem por alguns instantes, liberando algum ataque especial que atinge grande parte da tela ou conferindo melhorias passivas para a sua equipe, como ataque ou defesa reforçados por certo tempo ou, ainda, invencibilidade.

Conteúdo para centenas de horas

Dragon Quest Heroes II leva cerca de 50 horas para ser terminado. Mas a quantidade de conteúdo extra é capaz de segurar o jogador por 100 horas facilmente. Além da campanha tradicional, existe uma grande listagem de tarefas secundárias para cumprir, que expandem a experiência e trazem uma ótima sensação de satisfação quando são completadas.

O mais legal é que, quanto mais você completa essas missões secundárias, mais ganhos gerais para a sua equipe vai conseguindo. Isso inclui não apenas a experiência para a evolução padrão dos seus personagens e das proficiências das armas, mas também melhorias permanentes de ataque, defesa, força, itens de cura e aumento no número de Monster Minions para usar nas batalhas.

Mas não é só isso: existe toda uma cota de tipos e espécies de monstros para caçar, liberando ainda mais itens especiais, dinheiro e melhorias definitivas para os heróis. Além disso, buscar as melhores armas e upgrades para acessórios de combate para cada um deles demanda muita vontade de seguir em frente, algo que apenas os jogadores mais dedicados se sentirão à vontade para fazer.

Guerra cooperativa entre 4 jogadores

Dragon Quest Heroes II é divertido de se jogar sozinho. Convidar alguns amigos para jogarem juntos eleva a diversão a outro nível. O game oferece modalidades cooperativas online para até 4 jogadores juntarem suas forças e cumprirem uma série de objetivos em sintonia.

É possível chamar ajuda não apenas nas missões de história, mas também em missões próprias da modalidade, selecionando mapas específicos e quantidade de jogadores participantes. É também possível direcionar a busca de jogo para algum nível mais alto, condição que exige mais estratégia e a utilização de poderes únicos de cada um dos guerreiros e suas habilidades específicas para vencer tudo.

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Dragon Quest Heroes II – Batalhas entre exércitos são épicas e frenéticas. Fonte: Divulgação.

Algumas destas missões específicas do modo cooperativo são excelentes para ganhar níveis rapidamente, juntar muita quantidade de dinheiro em pouco tempo e ter acesso a alguns dos recursos (armas, ingredientes de fabricação e acessórios) mais raros do game. É um ótimo incentivo para explorar essa função e conseguir deixar os personagens cada vez mais poderosos.

O maior problema é que, como Dragon Quest Heroes II não é exatamente um jogo popular, é raríssimo encontrar jogadores para fechar partidas. Dessa forma, é provável que os mais impacientes logo desistam de sequer testar essa função. Pelo menos os servidores são bastante estáveis e não houve quedas ou atrasos de respostas durante a jogatina.

Gráficos para fãs de Akira Toriyama

Graficamente, Dragon Quest Heores II aposta em cenários coloridos e paisagens moderadamente diversificadas. Existem florestas tropicais, montanhas congeladas, regiões vulcânicas, áreas desérticas e castelos sombrios inteiros para explorar.

No geral, o visual convence pela proposta, ainda que não consiga se destacar frente a outros títulos da geração atual. As texturas, por exemplo, são um tanto ultrapassadas, os ambientes não apresentam muitos detalhes e os efeitos de luz não vão conseguir impressionar ninguém.

Ainda assim, a estética de anime consegue suprir parte dessa deficiência de apuro técnico. O mérito aqui vai todo para Akira Toriyama, renomado designer japonês que emprestou seu estilizado único de desenhar personagens e monstros, amplamente adorados em Dragon Ball e Chrono Trigger, para criar uma identidade que combina absurdos com o tom da aventura.

Só que o problema é que não existe uma grande variedade de monstros criados. Entre uma área e outra, existem, no máximo, pequenas variações das próprias espécies, apenas com cores alternativas ou algum acessório acoplado nos seus corpos. Isso pode acabar enjoando um pouco pela repetição de sempre ver os mesmos tipos de inimigos em espalhados por praticamente todo o mapa do game.

Musicalidade agradável, ainda que repetitiva

Musicalmente falando, Dragon Quest Heroes II faz bonito na maior parte do tempo. A trilha sonora é bastante agradável de ouvir, apresentando um cuidado em que todas cenas da história recebem uma composição exclusiva que realça a importância de cada trecho.

É assim do começo ao fim: melodias alegres e felizes nas horas de exploração e em situações mais amigáveis, e outras mais intimidantes nas reviravoltas e nas lutas contra os chefes, em que tudo se torna muito perigoso e épico.

Entretanto, existem dois deslizes que atrapalham a receptividade da experiência. O primeiro deles é a tradicional música de batalha: ainda que tenha variações em diferentes partes do mapa, elas nunca são exatamente empolgantes ou envolventes. Às vezes, inclusive, não conseguem e fazer perceber no conjunto da obra.

Além disso, todas as músicas foram editadas de forma com que seus loopings ficaram todos muito curtos. Isso quer dizer que basta ficar perambulando por algum lugar que, em muito pouco tempo, você já terá escutado toda a sua extensão. E isso, num jogo de RPG, que preza pelo acúmulo constante de experiência, pode ser desastroso pelo risco de irritar os ouvidos rapidamente.

Andrei Longen
Andrei Longen
Jornalista | Redator
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