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Deep Down, Beyond Good and Evil 2, Agent… Visitando o “limbo” dos games

Será que Pragmata pode ser o próximo “desaparecido” da Capcom?

por João Gabriel Nogueira
Deep Down, Beyond Good and Evil 2, Agent… Visitando o “limbo” dos games

É sempre muito triste quando um jogo que estamos no hype é cancelado. Mas pode ser mais triste ainda quando um game lhe deixa empolgado e simplesmente some, sem dar nenhuma satisfação  – os chamados “jogos no limbo”.

Não são poucos os exemplos da indústria de jogos que são anunciados para nunca mais se ter notícia, nem um cancelamento oficial. Em alguns casos esses títulos ressurgem das cinzas e chegam às prateleiras, mas na maioria continuam vivendo apenas na esperança dos mais otimistas (ou iludidos).

No artigo da vez pretendo relembrar alguns dos casos mais icônicos do mundo dos games, tentar especular sobre o que pode ter acontecido e quem sabe adivinhar qual será a próxima vítima de desaparecimento.

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Jogos que sumiram e voltaram

É interessante começar o artigo com alguns games que atualmente estão disponíveis no mercado, mas que já participaram de muitas listas de “desaparecidos” no passado. E possivelmente um dos exemplos mais emblemáticos do PlayStation é The Last Guardian.

Depois de Shadow of the Colossus (2005) se tornar um verdadeiro clássico, o pessoal da Team Ico tinha a atenção do mundo para o anúncio de sua próxima obra. Fãs tiveram que aguardar quatro longos anos pela revelação de The Last Guardian, que finalmente aconteceu durante uma E3 em 2009, com planos de sair no PS3 em 2011. Mal sabiam esses fãs que sua espera havia apenas começado.

Foram seis anos de silêncio e especulações, com muita gente – coerentemente – acreditando que o game seria cancelado. Novamente numa E3, em 2015, o jogo ressurgiu das cinzas, com trailer de gameplay e tudo. Agora planejado para o PS4, The Last Guardian saiu no ano seguinte, em dezembro de 2016.

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Aproveitando o embalo, aliás, a E3 2015 foi um tanto lendária para os jogadores de PlayStation, porque no evento também apareceu, pela primeira vez, a confirmação oficial de que Final Fantasy VII Remake se tornaria uma realidade.

Provavelmente foi o hype imenso gerado por um anúncio dessa magnitude que fez FF VII Remake ir parar na lista de jogos sumidos para muitos jogadores também. A produtora nunca chegou a fazer silêncio completo sobre o jogo, divulgando artes conceituais aqui e ali, mas foi somente quatro anos depois do anúncio, em 2019, que tivemos um trailer com gameplay propriamente dito. No ano seguinte, o jogo foi lançado.

Muitos outros jogos podem entrar na lista para este trecho, talvez alguns que os leitores nem lembram que chegaram a ficar no limbo. The Division, New World e até o game dos Vingadores, pra citar alguns. Mas talvez o exemplo moderno mais emblemático de jogo que desapareceu e voltou foi Cyberpunk 2077. O lançamento do RPG futurista da CD Projekt Red foi tão caótico que é possível que muitos jogadores esqueceram o tempo que esse jogo passou no limbo antes de ressurgir com algum gameplay.

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Cyberpunk 2077 foi anunciado pela primeira vez em maio de 2012, com um teaser altamente conceitual – antes mesmo do lançamento completo de The Witcher 3!

Foram seis anos sem nenhuma novidade oficial, até o game receber um novo trailer que mostrava melhor como realmente seria a ambientação do game. Novamente, tivemos a revelação numa E3, na edição de 2018 dessa vez. Depois de vários adiamentos e atrasos, Cyberpunk 2077 enfim teve seu lançamento oficial, no dia 10 de dezembro de 2020.

Leitores atentos talvez tenham percebido algo que a maioria desses títulos tem em comum, mas vou deixar pra comentar isso em detalhe em outro trecho do artigo.

Jogos ainda presos no limbo

Mesmo com tantos jogos conseguindo escapar do purgatório do desenvolvimento para as prateleiras, vários outros continuam confinados ao limbo. Um exemplo que chama muito a atenção é Deep Down.

Deep Down foi anunciado pela Capcom no período de estreia do PS4, para ser um dos atrativos do console. O primeiro trailer do jogo já tem 10 anos (sentindo-se velho já?).

O game não parecia estar em seus primeiros estágios de desenvolvimento e já tinha até uma demo jogável, mas simplesmente desapareceu. A Capcom não cancelou o título oficialmente, mas não fala mais dela e, infelizmente, não temos notícias ou vazamentos a respeito. Em 2019 o icônico produtor da empresa Yoshinori Ono reiterou que Deep Down ainda não havia sido abandonado, mas já passaram quatro anos e não tivemos nenhuma notícia, e o próprio Ono saiu da Capcom em 2020.

Deep Down é um exemplo antigo, mas voltou à memória dos jogadores por causa de Pragmata.

Em 2020 tínhamos o anúncio de uma nova geração, e a Capcom novamente havia preparado um trailer para a festa de divulgação do PS5. Fãs do console foram surpreendidos pelo enigmático primeiro trailer de Pragmata.

E aí aconteceu de novo. O jogo sumiu, e a Capcom não falava mais dele. Vários outros títulos mostrados na chegada do PS5 estavam sendo lançados e nada do Pragmata. No ano passado a produtora finalmente se pronunciou, com um minúsculo vídeo da menininha do jogo anunciando que ele seria adiado para este ano, 2023.

Chegamos então ao ano prometido e novamente silêncio. Já estava nítido que o título não chegaria na janela prometida quando a Capcom mostrou um novo trailer, dessa vez com lampejos de gameplay – realmente confirmando um novo adiamento, dessa vez por tempo indeterminado. Agora os mais pessimistas já estão imaginando que o Pragmata vai acabar indo de Deep Down.

Mas vamos aproveitar que abri o túnel do tempo para falar de Deep Down e mergulhar mais fundo ainda no passado e lembrar de Agent, da Rockstar.

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Muitos dos leitores mais jovens não devem se lembrar, mas Agent foi oficialmente anunciado para o PS3 em junho de 2009 – ou seja, há 14 anos. Como o nome sugere, o game seria protagonizado por um espião, se passando no final dos anos 70, durante a Guerra Fria.

Sendo um título da Rockstar, Agent era um projeto extremamente ambicioso, e os executivos por trás do game não estavam pegando leve no hype (nunca pegam, afinal). Ben Feder, chefe da Take-Two na época, a dona da Rockstar, chegou a declarar que Agent “vai definir um novo gênero e vai ser todo um novo jeito de experienciar videogames que realmente nunca vimos antes”. Corta pra 2023 e o game nem existe.

Ao longo dos anos, os jogadores mais empolgados tiveram motivos para manter suas esperanças com Agent. Em 2013 a Take-Two chegou a renovar sua patente do nome e ao longo dos anos foram vazando artes conceituais aqui ou ali. Mas em novembro de 2018 o registro do nome foi abandonado e qualquer vestígio do game no site da Rockstar sumiu em 2021, dando a impressão que o game foi silenciosamente cancelado. Nem velório teve, apenas deram sumiço nele, estilo espião mesmo.

Mas é claro que não dá pra falar de jogos “desaparecidos” e não mencionar Beyond Good & Evil 2, então vamos voltar a anos mais recentes.

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A aguardadíssima continuação de Beyond Good & Evil ganhou seu primeiro trailer oficial durante uma conferência da Ubisoft em 2017. E isso já anos depois da primeira confirmação que o game existiria, que foi lá em 2008 com uma arte conceitual.

O game apareceu com um trailer cinematográfico de ponta que revelava um título bastante ambicioso. Declarações da produtora e novos trailers que vieram depois apenas confirmaram o tamanho que o jogo deve ter e o impacto que seus criadores esperam – se um dia ele for lançado.

A informação mais recente que temos do jogo é que ele escapou de uma leva de cancelamentos da produtora, que incluiu até alguns jogos que a gente nem conhece. Neste momento a Ubisoft aproveitou pra reiterar que segue dedicada no desenvolvimento de Beyond Good & Evil 2.

Mas a realidade é que o jogo segue desaparecido. Durante o último Ubisoft Forward tivemos até um trechinho musical para nos lembrar que Skull & Bones (outro game da produtora no limbo) ainda existe, mas nada do novo Beyond Good & Evil.

Por que existem esses jogos no limbo? Por que não cancelam logo?

As grandes produtoras raramente são transparentes a respeito desses games desaparecidos. Como pudemos observar em alguns dos exemplos que citei, na maioria dos casos não temos nenhuma declaração oficial além de “ainda estamos trabalhando duro” até que simplesmente não se fala mais do jogo. Mas podemos especular sobre o que acontece.

Encontrar a semelhança entre os jogos que já visitaram o limbo ou ainda estão presos lá ajuda a entender o porquê desse purgatório existir para começo de conversa. Os games citados como exemplo neste artigo e tantos outros por aí mostraram problemas no desenvolvimento que impediram que eles tivessem um ciclo mais comum de divulgação e lançamento.

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Isso é provado pelos jogos que conseguem, eventualmente, chegar às prateleiras. The Last Guardian chegou com problemas de performance e Cyberpunk 2077 chegou a ser removido da PSN por causa do péssimo estado em que rodava no PS4. Goste ou não dos games, sua parte técnica não era nada invejável em suas estreias. E esses são apenas exemplos para se limitar ao que foi citado no artigo, temos vários outros em outras plataformas que complementam o argumento.

É uma prova prática do que a lógica nos faz imaginar. Se uma produtora anuncia um jogo e depois para de falar dele é evidente que algum problema está acontecendo em seu desenvolvimento, porque normalmente as empresas querem mais é perseguir o hype da melhor forma possível.

E os problemas não precisam ser apenas técnicos. É válido ressaltar que são também jogos muito ambiciosos, grandes apostas de suas produtoras. Às vezes a dificuldade de desenvolvimento não é técnica, mas sim de entregar o nível de qualidade e experiência que se espera da produção.

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Mas problemas no desenvolvimento é uma explicação um tanto óbvia que ainda não justifica uma outra pergunta: por que não cancelam logo? Tem games que são oficialmente cancelados, por que em alguns casos as produtoras apenas ficam em silêncio esperando os jogos sumirem das memórias alheias?

Mais uma vez, posso apenas especular. Uma visão otimista é que pode ser um caso da “esperança é a última que morre”. Mesmo a produtora dando cada vez menos atenção ao jogo, colocando menos mão-de-obra nele e deixando as pessoas esquecerem, pode ser que exista a esperança de um dia ressuscitá-lo e aproveitar todo o hype que isso gera.

Uma possibilidade mais pragmática pode ser uma preocupação com o valor das ações da produtora.

A bolsa de valores é extremamente sensível a grandes anúncios. É normal as ações de uma produtora saltarem em valor depois da revelação de um grande novo jogo que seja muito bem recebido. Da mesma maneira, um anúncio oficial e bem divulgado de um cancelamento, pode ter um impacto bem negativo.

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Se um jogo for apenas deixado de lado, esquecido pelo tempo, é provável que ele não tenha um impacto perceptível nas ações de uma produtora – ainda mais se ela estiver ativamente promovendo outros títulos enquanto isso. Até aparecem na mídia artigos perguntando “onde está tal jogo?” ou algum como este que você lê no momento, mas isso jamais terá um impacto como um anúncio oficial de cancelamento.

Todas essas questões me preocupam a respeito do futuro dos jogos no limbo. Grandes dificuldades de desenvolvimento resultam, na maior parte das vezes, em problemas no lançamento. Não quer dizer que o jogo será ruim, mas talvez Pragmata dê umas travadas consideráveis e Beyond Good & Evil 2 fique com mais artefatos na tela que Jedi Survivor.

Pode parecer uma perspectiva pessimista, mas ainda me parece melhor do que ter esses jogos perdidos no purgatório, apenas aguardando o completo esquecimento.

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