Review

Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão (PC): vale a pena?

A Nixxes entrega um port de qualidade e responde a pergunta sobre o quão revolucionário é o SSD do PlayStation 5

por Felipe Gugelmin
Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão (PC): vale a pena?

Quando chegou em junho de 2021, Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão se tornou rapidamente um dos principais motivos para fazer um upgrade para o PlayStation 5. Ele não somente trazia gráficos que não eram possíveis na geração anterior, como usava os recursos de hardware do console — principalmente seu SSD super-rápido — para fazer transições de cenário que nenhuma outra plataforma era capaz.

Pouco mais de dois anos depois, ele ganhou uma versão para PC feito pela Nixxes (a mesma que cuidou dos ports de Marvel’s Spider-Man), que trouxe consigo algumas tarefas difíceis. Não somente ele tem que recolocar o selo PlayStation PC nos eixos após a adaptação problemática que The Last of Us ganhou há alguns meses, como também precisa provar que consegue rodar em hardwares além daquele feito especialmente pela Sony.

A boa notícia é que, ao menos na maior parte do tempo, ele consegue cumprir os dois objetivos muito bem. Além de rodar bem em máquinas com configurações variadas, ele também consegue transpor com competência seu gameplay rápido e baseado na navegação por várias dimensões. No entanto, isso não veio sem algumas concessões que podem irritar os mais preciosistas.

Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão retoma os bons ports do PlayStation

Qualquer jogador que tenha experimentado o trabalho que a Nixess fez com Marvel’s Spider-Man Remastered ou Marvel’s Spider-Man Miles Morales no PC já sabe muito bem o que esperar do novo trabalho do estúdio. Compartilhando a mesma engine e desenvolvedora original das aventuras do Cabeça-de-Teia, Em Uma Outra Dimensão traz um perfil de desempenho bastante semelhante a elas.

Isso significa que o game chega repleto de opções de configuração que mexem em áreas como Texturas, Luz, Sombras, Resolução, Ray Tracing, Geometria de ambientes, Efeitos de Câmera e Upscale, entre diversas outras. Embora não traga indicadores de consumo de recursos, o jogo mostra em tempo quase real os efeitos das mudanças que são feitas pelo jogador — o resultado pode demorar alguns segundos para aparecer.

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Como em Marvel’s Spider-Man, o que parece pesar mesmo em Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão são questões como sombras, a intensidade do campo de visão e os níveis de detalhes escolhidos. Outro elemento que também contribui para uma maior taxa de quadros por segundo é a “Densidade do Trânsito”, que vai determinar a quantidade de personagens em segundo plano que são renderizados.

No entanto, o “principal vilão” é o Ray Tracing, que aqui surge na forma de reflexos, sombras e oclusão de ambiente, quesitos que podem ser configurados de forma individual. A aplicação da tecnologia surge com mais qualidade do que no PlayStation 5 — a resolução e a qualidade dos reflexos são claramente superiores —, mas vem ao custo de frames por segundo, especialmente quando recursos de upscale não são usados.

O game traz quatro opções de tecnologia para aumentar seu framerate ao mexer com sua resolução de renderização original. São elas o DLSS, da NVIDIA, o AMD FSR 2.1, o Intel XeSS e o IGTI, tecnologia proprietária da Sony que emula o checkerboarding usado em seu console. No caso de Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão, a solução da NVIDIA é que a se mostra mais eficiente, tanto do ponto de vista do desempenho, quanto da qualidade visual.

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Em contrapartida, ela traz a desvantagem de ser uma solução mais restrita, que limita seu uso aos hardwares específicos da fabricante. Ao mesmo tempo, as demais soluções não são exatamente ruins, e tanto o XeSS quanto o IGTI conseguem manter um bom equilíbrio entre qualidade visual e performance — já o FSR 2.1 acaba ficando um pouco atrás, por gerar imagens mais “borradas” na comparação com as outras opções.

Nem tudo são flores

Independentemente da qualidade visual que seu PC conseguir atingir, o jogo permanece tendo uma base bonita, que vai ganhando em complexidade conforme mais detalhes são adicionados. O port feito pela Nixxes é bastante flexível (a não ser quanto o Ray Tracing entra em ação) e merece elogios como um todo. Mesmo jogando no mínimo, o game não parece uma “batata” rodando e justifica seu caráter como lançamento da “nova geração”.

Ao mesmo tempo, não dá para dizer que tudo é perfeito. Na comparação com o PlayStation 5, o jogo chegou com alguns problemas de sombras (algumas bandeiras tremulantes exibem sombras fixas, por exemplo) e de recomendações que parecem “forçar a barra”: os 4 GB da GeForce GTX 960 ou da AMD Radeon RX 470 sugeridos pela desenvolvedora resultam em texturas que demoram a carregar e momentos em que o jogo parece não estar se segurando muito bem.

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Em outras palavras, a impressão que fica é de que GPUs com 6 GB deveriam ser consideradas como ponto de entrada. Também incomodou que, até o patch lançado na última segunda-feira (31 de julho), o game estava apresentando comportamentos instáveis. Em poucas horas, presenciamos três crashes em momentos aleatórios que resultaram no fechamento do game.

O título também apresentou alguns stutters notáveis, especialmente quando sua taxa de quadros por segundo foi destravada. O problema foi solucionado usando o painel da NVIDIA para limitar seu desempenho máximo a 60 FPS, mas isso não é algo que deveria ser necessário em um game de tamanho orçamento.

As coisas melhoraram um pouco desde a última atualização, mas parece que ainda falta algum polimento a Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão. No momento atual ele é perfeitamente jogável, mas faltam alguns detalhezinhos — como transparências e neblinas que não foram adaptados perfeitamente do PlayStation 5 — que podem incomodar os jogadores mais exigentes.

Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão precisa (e não precisa) de um super SSD

A grande questão que muitos fizeram quando o game foi anunciado para PC: mais afinal, ele não precisava do SSD exclusivo do PlayStation 5 para funcionar? A resposta é ao mesmo tempo sim e não. E a resposta também parece envolver outras questões ligadas à arquitetura do console como um todo, indo além do tipo de armazenamento que ele usa.

Para este review, foi usada como base para a instalação do game um SSD NVMe PCIe 3.0 WD Black SN750, que segue as recomendações feitas pela Nixxess. No entanto, com leitura de 3470 MB/s, ele pouco se aproxima da grande velocidade do SSD NVMe PCIe 4.0 de 5500 MB/s que dá base para o PlayStation 5, então resultados de carregamento aquém ao console já eram esperados.

O game também foi testado um SSD SATA 860 EVO de 550 MB/s, com a intenção de comprovar se os requisitos básicos listados pela Nixxes realmente funcionam. Enquanto nenhuma das peças teve o desempenho exato daquela usada pelo console da Sony, não foi possível fazer uma distinção entre o PC e o console por 80% do gameplay.

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Isso porque, embora o SSD super-rápido do PlayStation 5 faça diferença, ele não é usado de forma plena durante a maior parte do jogo. Enquanto estamos explorando ambientes, batalhando e fazendo desafios de plataforma, o armazenamento escolhido não parece fazer muita diferença, seja ele um modelo NVMe ou SATA.

A diferença entre as tecnologias se torna clara durante os saltos de dimensões de Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão, que são representados pelos portais roxos que encontramos durante a aventura. Nesse caso, o PlayStation 5 é o claro vencedor, oferecendo transições imediatas entre diferentes cenários, criando o efeito surpreendente que muitos jogadores já puderam testemunhar.

No PC, em contrapartida, essas transições trazem alguns “engasgos” que podem representar um segundo de loading (ou vários, no caso do modelo SATA usado) que quebram um pouco a imersão. Enquanto nas cenas de corte isso não incomoda muito, nos momentos de gameplay essa diferença notável pode irritar um pouco — durante uma corrida com Rivet, por exemplo, os carregamentos quebraram totalmente a imersão do momento.

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Isso acontece mesmo usando um NVMe PCIe 3.0 recomendado compatível com o DirectStorage com elementos de descompressão por GPU que o game estreia em sua chegada ao PC. Vale notar que o tempo também pode variar dependendo das configurações usadas em do resto de seu hardware. Para este review, foram usados os seguintes componentes na resolução 1440p:

  • CPU: Intel Core i9-9900K
  • GPU: NVIDIA RTX 3080 EVGA FTW3
  • Memória RAM: 32 GB 3200 MHz
  • Placa-mãe: Gigabyte Z390 Aorus Ultra
  • Armazenamento: SSD NVMe WD Black SN750 1TB

A área do jogo na qual as diferenças entre o PC e o PlayStation 5 ficam mais evidentes é em Blizar, que usa ao máximo a ideia de transitar entre dimensões paralelas. No entanto, uma análise da Digital Foundry mostra que usar um SSD mais rápido não necessariamente acabaria com essa distinção na versão mais recente do jogo.

Segundo o veículo, até mesmo um HD de 7200 RPM é capaz de fazer a transição de cenas imediata vista no PlayStation 5, contanto que os dados relacionados a elas já estejam em cache, algo que o game não foi programado para levar em conta. Em outras palavras, o armazenamento super-rápido do console faz diferença por elementos que vão além de sua grande velocidade de leitura.

Justamente por ela ser alta, Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão consegue carregar novos ambientes e assets de forma imediata, sem que essas informações precisem estar na memória do console. Ao mesmo tempo, como a arquitetura de PCs funciona de forma diferente da plataforma caseira da Sony, não basta “jogar hardware” no título para ter os tempos imediatos de carregamento que o console oferece. A questão parece envolver filosofias diferentes de programação que não são abarcadas pelo port da Nixxes, algo que provavelmente não vai mudar em updates futuros.

Se puder, jogue de DualSense

Um elemento menos mencionado, mas que faz tanta diferença no jogo da Insomniac quanto o SSD do PlayStation 5, é o controle DualSense. A desenvolvedora soube usar como poucos as características do acessório para adicionar à imersão do universo criado por ela, trazendo elementos como pequenas vibrações que respondem aos passos dos personagens, gatilhos com que dão personalidade única a cada arma e sons característicos a cada opção.

Com isso, mesmo que o game tenha recebido uma ótima adaptação para o mouse e teclado, o acessório da Sony continua sendo a melhor forma de aproveitar a aventura. Caso isso não seja possível, não se preocupe: com botões remapeáveis (mas muito bem distribuídos em suas configurações padrão), a combinação típica ao PC funciona bem e mantém o gameplay de tiro rápido que torna a aventura tão divertida.

No entanto, caso você queira a melhor imersão possível, o ideal é realmente usar o DualSense conectado à sua máquina. Outros modelos até “quebram” o galho e funcionam bem, mas o dispositivo que acompanha o PlayStation 5 acaba sendo a opção superior entre todas que estão disponíveis no mercado atualmente.

Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão no PC: vale a pena?

Enquanto a adaptação de Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão ainda tem espaço para melhorar, ela já está valendo bastante a pena. O jogo criado pela Insomniac é uma bela aventura de ação com leves elementos de plataforma que traz um gameplay variado, armas divertidas de usar e uma trama interessante envolvendo viagens interdimensionais.

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Mesmo que o jogo não tenha a mesma “mágica” de viagens que o PlayStation 5 proporciona nos computadores, ele ainda assim mantém sua essência e respeita o hardware usado por cada pessoa. Enquanto a Nixxes merece um puxão de orelha por recomendar GPUs com 4 GB de VRAM, o trabalho feito por ela se adapta bem aos requisitos sugeridos e, mesmo em suas configurações mais baixas, o game continua sendo muito bonito.

O maior obstáculo para aproveitar o jogo, assim como acontece com outros lançamentos recentes, é seu preço de entrada: R$ 249,00. Enquanto consideramos que a aventura vale esse preço, pode ser uma boa ideia esperar por alguma promoção antes de encarar o multiverso criado pela Insomniac.

Veredito

Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão
Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão

Sistema: PC

Desenvolvedor: Nixxes Software

Jogadores: 1

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90 Ranking geral de 100
Vantagens
  • A versão PC eleva ainda mais a qualidade visual do game
  • Gameplay funciona bem no mouse e teclado
  • A essência do jogo se mantém, mesmo com tempos de carregamento mais notáveis
Desvantagens
  • Faltam algumas transparências e efeitos visuais do console
  • Mesmo com um SSD potente, não há como ter os loadings imediatos do PS5
  • Crashes pontuais, que já estão sendo consertados
Felipe Gugelmin
Felipe Gugelmin
Jornalista
Publicações: 30
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Dedicado à PC Master Race desde 2012, ainda dedica um espaço quentinho no coração ao PlayStation e a qualquer console portátil.