Resident Evil 4: vale a pena?
Resident Evil 4 marca sua história nos games - novamente - como um dos melhores jogos já feitos, unindo o clássico com o moderno em um remake de altíssima qualidade
“Um triunfo de proporções épicas que certamente entrará para a história como uma das maiores sequências já feitas“. Esse é apenas um dos elogios entre as 26 notas máximas do Resident Evil 4 original no Metacritic. O GOTY de 2005 mudou muita coisa na indústria. Agora, quase 20 anos depois, a Capcom fez seu nome de novo.
E que jornada o queridinho da franquia teve! Foram mais de 10 versões do mesmo jogo — entre remasters e ports para tudo quanto é plataforma, incluindo a realidade virtual. Como brincam por aí, “só faltou chegar às calculadoras“. E não tinha como adiar o inevitável: estava na hora de um remake para a nova geração.
Pode não parecer, mas a reimaginação de Resident Evil 4 percorreu um longo caminho. Tudo começou em 2015, quando o produtor Yoshiaki Hirabayashi propôs uma nova versão de Resident Evil 2 aos executivos da Capcom. Lançado em 2019, ele foi um ótimo jogo.
Depois, veio RE3, com alguns escorregões — principalmente no corte substancial de conteúdo. Foi tudo um processo de lapidação. Graças a essas adaptações, a Capcom notou, com base no feedback, o interesse dos fãs em algo atual, cheio de novidades e, necessariamente, com os dois pés nas raízes. Felizmente, é esta a experiência proporcionada por Resident Evil 4. Do início aos créditos.
Familiaridade original
Reinventar a franquia e consolidar a perspectiva por cima do ombro foram dois dos maiores méritos de Resident Evil 4. Há um peso enorme em moldar uma nova realidade para uma saga tão popular nos videogames. O God of War de 2018 também é outro bom exemplo — talvez por isso ele tenha levado o GOTY daquele ano em cima de Red Dead Redemption 2.
O remake deu outro tom para uma aventura, originalmente, já exemplar. A atmosfera agora é mais condizente com a realidade da jornada de Leon e Ashley. E não é só pela repaginada nos gráficos ou na melhor performance: o que a Capcom fez na ambientação dos ecossistemas do jogo, assim como em todos os embates contra chefões e inimigos, é digno de elogios. Um nível de qualidade difícil de se ver por aí.
Cada trecho do novo Resident Evil 4 é singular. Há um cuidado cirúrgico em reproduzir todos os detalhes do clássico de um jeito muito único, oferecendo aquele ar de novidade e melhoria ainda mais profunda na experiência. Os fãs da velha guarda possivelmente saberão aonde ir e o que fazer, e mesmo assim vão se surpreender no trajeto, pois há muita coisa nova pela caminhada.
A Divisão 1, responsável pelas grandes produções da franquia na Capcom, não fez cerimônias para intensificar o tom de terror e de violência da reimaginação. Você constantemente será testado por grupos gigantescos de inimigos. As novas cenas de morte são simplesmente brutais.
A história do Resident Evil 4 original é bem redondinha, e no remake é ainda melhor e mais incisiva. O background de cada um dos personagens foi expandido para fazer mais sentido com a nova adaptação da lore.
Agora, por exemplo, desde o prólogo do game sabemos que Leon é um especialista em facas por conta do seu treinamento com Krauser. No original, o jogador só vai saber quem é o major na segunda metade do jogo.
Apesar de o tempo de gameplay ser similar ao clássico, a impressão é que todas as partes “chatas” do título de 2005 foram cortadas. Isso deixou o novo Resident Evil 4 mais instigante, imersivo e, principalmente, divertido.
Outro ponto bastante positivo é: mesmo com cenas mais intensas e dramáticas, ele não perdeu o tom cômico e escrachado dos diálogos. Quando você menos esperar, haverá uma interação motivadora de boas gargalhadas. E, claro, a dublagem em PT-BR com a voz de Felipe Grinnan deixa tudo com um toque especial.
O jogo mais refinado da franquia Resident Evil
Ao longo de seus quase 30 anos, a franquia Resident Evil teve muitas facetas dos ataques bioterroristas, e a estrutura do game design dificilmente foi a mesma. Seja na perspectiva da câmera ou nas mecânicas. Já dizia o saudoso Maluco Beleza (Raul Seixas): uma “metamorfose ambulante”.
O Resident Evil 4 original trouxe novos ares em 2005,com seu auge nesta recriação. Não é porque agora é possível andar e atirar ao mesmo tempo, não. Mas sim, a intensidade do gameplay e o que o jogo te oferece para “aguentar o tranco”.
O policial novato em seu primeiro dia de trabalho em Raccoon City é totalmente diferente do agente federal, seis anos mais velho. Isso ficou muito mais evidente agora.
O jogador tem total controle sobre o personagem, mais leve e uma verdadeira “máquina de matar”. Em muitas ocasiões, ele é testado por grandes grupos de inimigos, e dispõe de opções inteligentes para lutar e faz tudo parecer “mamão com açúcar”. Claro, isso vai depender muito da sua adaptação com o game, no entanto, a curva de aprendizado é tranquila e satisfatória.
Leon gira de um lado pro outro (obrigado pelo quick turn, Capcom), faz abordagens furtivas, consegue trocar rapidamente de arma, maneja a faca como ninguém e ainda dá “triplo mortal carpado” para fugir de várias situações. E é tudo bem pé no chão, diferente das galhofas do clássico.
As novas mecânicas com a faca trouxeram o “molho” para a receita da reimaginação de Resident Evil 4. Você pode usar tanto a principal, que é tipo uma arma fixa para o combate, quanto as tradicionais encontradas em gavetas. Elas possuem certa durabilidade, que vai acabando ao bloquear as investidas inimigas ou quando Leon é pego desprevenido por algum ataque.
Resumindo a ópera, a faca oferece mais autonomia para o personagem nas batalhas, potencializado por um arsenal potente, variado e customizável de armas de fogo.
Além disso, é necessário cumprir muitas tarefas extras do mercador (como destruir os medalhões azuis, por exemplo) para conseguir outros recursos como Pesetas, joias raras e pedras preciosas para ter as melhores opções na maleta — exatamente como o esperado e também te faz passar horas organizando todos os itens.
O dito popular é claro: “se a esmola é alta demais, o santo desconfia“. E é melhor manter os olhos bem abertos mesmo. Todos os inimigos são letais e possuem padrões diferentes de ataques.
Apesar de não haver muitas novidades no elenco, tudo foi totalmente “afiado”. Engana-se quem pensa que o jogo é focado apenas na ação. A Capcom foi além e soube dosar muito bem terror, survival horror e aventura.
A munição é escassa, há momentos de horror de arrepiar a espinha e a ação é calibrada na medida certa. O equilíbrio foi encontrado: o novo Resident Evil 4 pode unir todas as tribos de fãs, ao mesmo tempo que também é muito atraente para os novatos.
Resident Evil 4: vale a pena?
O remake de Resident Evil 4 é o jogo definitivo da saga. É, tranquilamente, um dos fortes candidatos ao GOTY de 2023.
A reprodução merece elogios: a resolução é bem otimizada, a taxa de quadros é consistente nos 60 FPS do início ao fim e o SSD proporciona maravilhas nas telas de loading — e quem jogou no PS2 sabe bem como isso ajuda.
A imersão com o DualSense é única. Cada uma das armas tensionam os gatilhos do controle de maneiras diferentes, assim como o feedback tátil faz o jogador sentir nas mãos tudo o que acontece com Leon. Até o alto-falante impressiona toda vez que a Hunnigan entra em contato com você.
Uma das poucas ressalvas é o efeito da chuva no capítulo pós-luta contra o Del Lago. Não chega a incomodar e, felizmente, a Capcom já prometeu corrigir isso em um update de day one, então não há muito com o que se preocupar.
Além disso, o modo Mercenários não está disponível no momento, chegando só em uma atualização futura. Porém, há tanto para se fazer no jogo, que a ausência do DLC, assim como os extras da Ada, não são um empecilho tão grande no momento. Saiba que a platina também é daquelas bem desafiadoras.
O novo Resident Evil 4 será lançado no dia 24 de março para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC — e conta com opção de upgrade gratuito. Ansioso? Bom, pode ficar!
Veredito
Vantagens
- Apesar da história já ser conhecida, a abordagem é diferente e pode surpreender
- Inimigos, armas e cenários melhores em vários aspectos
- As novas mecânicas apimentam o gameplay e deixam o jogo mais imersivo e divertido
- Equilíbrio perfeito entre ação, survival horror e terror
- Um remake com potencial de sobra para agradar todos os fãs
Desvantagens
- Efeito da chuva no capítulo pós-luta contra o Del Lago incomoda um pouco
- Ausência do modo Mercenários e extras no lançamento