The Last of Us T02E02: Entre o taco de golfe e as lágrimas, o episódio mais emocionante da série
Episódio desta semana emociona, completa, aprofunda e promete um futuro se não brilhante, promissor
Vamos começar da forma mais objetiva possível: o segundo episódio da segunda temporada de The Last of Us era o que queríamos ver. E não apenas desde a semana passada, mas também desde a estreia da série.
Desespero, menos piadas pontuais ou frases de efeito… é um capítulo que emociona. E mesmo com grandes mudanças em relação a alguns direcionamentos, as coisas chegam no verdadeiro clímax: e você sabe sobre o que estamos falando.
O começo da desgraça
Após uma estreia morna e relativamente sem propósito, The Last of Us dá sequência a algo que já havia se mostrado consistente: grandes mudanças no direcionamento da história.
A segunda patrulha de Ellie e do grupo de Jackson ocorre com uma reorganização que, por vários minutos, deixa os espectadores perdidos, especialmente os gamers, que já previam o que poderia acontecer por meio de cada ramificação.
De início, vale acabar com uma das expectativas: a conversa profunda entre Joel e Ellie, esperada para ocorrer após a briga no bar, não existe (até aqui). Nos primeiros momentos, Ellie é convocada por Jesse para conversar com Maria e se desculpar com Seth, em uma cena menos interessante que no jogo.
O episódio ganha ritmo quando Ellie descobre que Joel foi patrulhar com Dina, após rumores sobre um grande aterramento de corpos em um local próximo. Porém, como não há nada mais a ser feito, ela parte para sua missão ao lado de Jesse.
Enquanto isso, no chalé das montanhas, Abby discute com seus colegas de WLF como ocorrerá a invasão a Jackson. A ideia é capturar e matar apenas Joel, mas como serão as coisas caso algum inocente apareça pelo caminho? Tudo pode acontecer.
Nesse ponto, algumas coisas são questionáveis: o plano de Abby parece solto e displicente, em especial para alguém que há anos se planeja para isso e, quando chega na “hora do vamos ver”, parece estar um pouco despreparada e dependente da sorte.
Enquanto isso, as escolhas em Jackson são arbitrárias, principalmente quando não têm grandes respostas — e possivelmente nem teremos. Joel e Dina: como e por que essa dupla se formou? Ellie teria mesmo se resolvido com Joel? Se não, o que a fez querer sair com seu “pai” mesmo diante da crise estabelecida no bar? Essas questões podem ser um pouco óbvias.
Mas vale ressaltar que, de tudo, a HBO acertou em um ponto: transformar o episódio de The Last of Us em um verdadeiro caos gerou algo verdadeiramente tenso e imprevisível, sem os “alívios cômicos” de Bella Ramsey, que ainda segue com piadinhas à la Tom Holland.
E como um projeto melhor estruturado e focado, o segundo episódio da Temporada 2 de The Last of Us se mantém assim. Acerta as inconsistências do capítulo anterior e liga um modo automático nos espectadores. Um “não questione muito, apenas veja o que preparamos”.
E olha… a HBO realmente preparou algo bom.
Infectados, tiroteio, explosão, grade apertada e… taco de golfe
O que se segue, após a distribuição da patrulha, é um verdadeiro caos. Depois de confiar no plano de Owen, Abby decide fazer a vigilância do chalé, mas não contaria que, por ironia do destino, dois cavalos estariam diante de seus olhos. E com humanos neles!
A coincidência é aliviada com um impulso animal da militar, que decide se aproximar dos dois para conferir se sua imaginação estava certa. Porém, o que concluímos é apenas que o monte de cadáveres, que deixa Jackson em alerta.
Abby toca no vespeiro e acaba despertando dezenas de infectados. E desesperada, corre para onde seu nariz está direcionado, esquecendo totalmente que seu objetivo era apenas cuidar do chalé e focar nos visitantes misteriosos.
Aqui, vemos algo mais consistente com a história de The Last of Us Part II, com Abby sendo o gatilho para que os infectados ameacem as montanhas. Enquanto ela foge, escala construções abandonadas e é amassada pelas grades, todo o ritmo da situação nos leva para um lugar comum: Joel a salva no último instante.
Ela não poderia ter sido mais sortuda. O destino conspirou a seu favor e, por uma ironia quase inacreditável, seu alvo acabou surgindo diante de seus olhos. No entanto, ao lado dele está Dina — e não Tommy, como ocorre originalmente no jogo. É a partir daí que começam a surgir as primeiras grandes perguntas.
Em The Last of Us Part II, Joel e Tommy atuam como uma dupla bem entrosada, construindo barreiras improvisadas e se protegendo em conjunto, o que fortalece o vínculo entre eles e dá peso à cena. Com Dina ocupando o lugar do irmão de Joel, a dinâmica muda — e não necessariamente para melhor. A troca foi pensada para gerar empatia imediata? E como Tommy será reintegrado à trama com relevância emocional?
A sequência que leva ao caos tem início de forma aparentemente banal: um morador de Jackson rompe um cano, liberando gavinhas infectadas e ativando a mente coletiva. A partir daí, todos os infectados mudam de direção, abandonando Abby, Joel e Dina e rumando em massa para o condado — um efeito colateral inesperado e que altera drasticamente o curso dos eventos.
Enquanto isso, em um arco bem mais leve — e destoante — Ellie passa o tempo fazendo piadas sobre maconha e soltando sons de “yep” durante a patrulha com Jesse. Ao ser contatada via rádio e descobrir que Joel não retornou para Jackson, ela abandona o bom humor e parte desesperadamente em busca de seu “pai”.
Guerra e violência ditam o ritmo
O desencontro entre os personagens cria dois núcleos distintos: de um lado, Abby e Joel; do outro, Tommy e os moradores de Jackson. Diante da ameaça iminente, Tommy assume a linha de frente na defesa do condado, mas seus planos rapidamente se desfazem quando um Baiacus surge em meio ao caos.
Embora muitos Corredores sejam eliminados com armadilhas, explosivos e rajadas de fogo, a chegada do monstrão muda completamente o rumo da batalha. Ele avança em direção a um ponto vulnerável da muralha, abrindo caminho para a invasão. Em questão de minutos, a cidade é tomada, com muitos de seus habitantes sendo massacrados e alguns poucos resistindo em desespero.
No entanto, apesar da tensão visual e do espetáculo técnico, a cena carrega uma sensação de artificialidade. Tudo acontece de forma um tanto apressada, quase como se fosse uma distração narrativa — uma manobra para afastar o foco da linha principal envolvendo Joel. Essa subtrama parece existir, sobretudo, para adicionar densidade ao arco de Tommy, já que os roteiristas optaram por removê-lo da sequência com Abby.
Felizmente, em termos gerais, as coisas funcionam muito bem: efeitos especiais belíssimos, ambientação à la Game of Thrones, referências aos jogos (como o lança-chamas) e muita violência — é uma cena longa, tensa e bem construída.
Já no outro lado, Joel e Dina são levados para o chalé da WLF, pois Abby consegue convencê-los. A partir daí, não há mais escapatória: quem jogou The Last of Us Part II já sabe o destino da cena. Não demora para que as máscaras caiam e Abby mostre sua intenção.
Dina é colocada para dormir “pacificamente”, enquanto Joel é torturado em uma cena brutal, talvez mais até que no próprio jogo. Ao fim, Ellie encontra os rastros de Joel e presencia seus últimos momentos, exatamente como acontece em Part II.
Aqui, vale a pena elogiar a coragem da HBO. Apesar dos rumos distintos em relação à narrativa central, a morte de Joel foi retratada com incrível fidelidade. Impactante, emocionante e justificada, ela é o ponto de partida para os grandes eventos da história.
E como se não bastasse, o final “musical” mostra o corpo de Joel sendo arrastado, ensacado, de volta para Jackson, logo depois de Tommy (supostamente) chegar ao chalé e encontrar o cadáver de seu irmão.
The Last of Us sendo The Last of Us
As mudanças narrativas impostas pela HBO são questionáveis, mas de forma alguma comprometem a experiência no geral. Não precisa forçar muito para entender que foi necessário ajustar alguns pontos para criar algo impactante e que não fosse uma mera adaptação.
O ritmo do primeiro episódio decepcionou, mas o segundo acelerou bastante as coisas. Vemos personagens mais maduros, apesar de Ellie ainda ser excessivamente piadista, sarcástica ou fora do tom (principalmente se comparada aos outros personagens).
Enquanto isso, Kaitlyn Dever é absoluta e reflete a melhor versão de Abby. Seu olhar frio e enfurecido, suas ações justificadas e a forma que esses sentimentos são transmitidos geram uma identificação surpreendente. É algo brutal de se ver.
Em termos de ambientação, a intensa nevasca não apaga o excelente trabalho técnico da HBO. Os infectados convencem, a ação é bem conduzida e a montagem do episódio prende consideravelmente, sem apagar registros deixados pelas cenas anteriores.
Dina no lugar de Tommy deve motivá-la a entender o lado de Ellie e a participar, sem questionamentos, de seu ato de vingança. Enquanto isso, Tommy tem uma razão para se reconstruir, tendo que lidar com problemas familiares e com as pessoas às quais jurou proteger.
De fato, o segundo episódio da segunda temporada de The Last of Us tem a essência da franquia. E as dúvidas que permanecem na mente dos expectadores deixa mais promessas que furos: os próximos capítulos já estão com engrenagens rolando.
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