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Aproveite enquanto dura: os consoles como conhecemos vão acabar?

Com o crescimento dos serviços digitais e dos games oferecidos por nuvem, além da participação cada vez mais tímida de jogos físicos no mercado, como ficará o espaço dos consoles?

por Bruno Micali
Aproveite enquanto dura: os consoles como conhecemos vão acabar?

A discussão sobre o fim dos jogos físicos remonta há pelo menos uma década. Ouço essa prosa desde 2009, 2010 e meados. Com a consolidação dos serviços digitais, que englobam uma gama de ofertas, o debate se acentuou, colocando querosene numa fogueira que só deve aumentar.

Ocorre que, de alguns anos para cá, a pauta não se limitou aos games de caixinha e foi ampliada a um “fim” maior: o de consoles. Para o simples ato de jogar, ganhou ímpeto a ideia de ligar um dispositivo com hardware minimamente aceitável e uma tela, em qualquer lugar, desde que exista conexão à rede. Num mundo em que internet é quase tão importante quanto a própria energia elétrica, satisfazem-se aqueles que tenham bom sinal ao alcance – velocidade e estabilidade.

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Em outras palavras, o futuro que se esboça à nossa frente mostra um mundo em que basta ligar uma TV conectada, parear um controle sem fio, navegar por um catálogo de títulos e sair jogando, seja por streaming ou via download, a exemplo do que serviços como PS Now, Game Pass e NVIDIA Shield fazem hoje.

Nessa equação, qual seria o novo papel crucial dos exclusivos? Como eles se conectam à ideia de serviços da maneira mais eficiente possível – e vice-versa? Ou, indo além, sequer vão existir exclusivos? Ou tudo será uma única plataforma global super- conectada e acessível de uma TV, um celular, um computador?

Consoles e tradicionalismo

Como símbolo vanguardista de gerações, a imagem do console tem acepções que se ramificam em sentidos saudosistas, representativos de uma época, demarcando pontos numa linha do tempo. Portanto, em cunho histórico, os videogames funcionam como “marcadores”.

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No saldo desse raciocínio temos o tradicionalismo: aquele pensamento que nos retém a uma ideia, e isso não necessariamente significa que estamos fechados ao novo, mas sim enlaçados sentimentalmente ao passado. Comentei um pouco sobre isso numa coluna a respeito de memória afetiva, publicada aqui no MeuPS.

Consoles, tal qual conhecemos, passaram por diversas iterações, isto é, processos de repetição de uma mesma equação, sucessos e insucessos, fracassos e glórias, tentativas e erros, distribuídos entre acessórios, investidas mirabolantes que não vingaram – ou atos minimalistas que se mostraram grandiosos ao consumidor, como os tamagotchis –, jogos hypados que morreram na praia, indies que nasceram do pó e alcançaram o estrelato, controles diferentes (inclusive aqueles que imitam instrumentos musicais), sensores de movimento, realidade virtual e por aí vai.

Tudo que é muito diferente, observem, costuma ter aquilo que chamo de “efeito bumerangue”: uma nova forma de jogar chega, se instaura, conquista os usuários pelo ar de novidade, mas, no fim das contas, corre o risco do encanto temporário. A “velha forma” de se jogar, por assim dizer, sempre prevalecerá: joystick tradicional nas mãos, tela e console – hoje com headset, que praticamente supriu a questão do home- theater (este, em última instância, se tornou um objeto mais voltado a entusiastas).

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Nuvem, streaming…

Como alguém de palpites moderados, eu sempre preferi apostar na tecnologia ao lado das coisas, não acima ou abaixo delas. Apresentar uma nova opção para acessar jogos não significa, automaticamente, que os cenários existentes serão descontinuados. Eles apenas terão um novo colega na arena.

Por isso, quando alguém diz que “a nuvem e o streaming vão acabar com os consoles”, eu pacificamente rebato: mas ambos não podem coexistir? Por que será que temos essa obsessão em cravar que uma coisa precisa botar fim a outra? Consoles, serviços, nuvem, streaming e multimídia são ideias que podem conviver em harmonia, no sentido de entregar uma multiexperiência ao usuário.

Com o fomento de novas tecnologias e a cada vez mais forte tendência de “desapego” das mídias físicas – acostume-se, só deve aumentar –, surgem novas possibilidades. Não precisamos nos render à falácia de que “o streaming vai acabar com os consoles”. O que se sugere, portanto? Que vamos ficar reféns de uma tela de TV conectada à internet e um joystick para jogar? Até o fim dos tempos? Que grandiosas produções como God of War, Halo, The Last of Us, Uncharted e tantas outras ficarão restritas a um sistema assim? Com informações gráficas oriundas da internet e um controle genérico pareado ao televisor?

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Bem, existe uma certeza nessa equação: a Nintendo seria a última da fila (rs). Outra assertividade: não, as marcas não vão jogar a toalha branca para os consoles em prol desse novo modus operandi.

Consoles representam uma cultura

Temos de entender que os consoles, mais do que meros aparelhos que rodam jogos, são emblemáticos em sua própria imagem, símbolos culturais que ecoam por todo o sempre, acentuando-se na geração à qual pertencem e criando, assim, memórias de um período de nossas vidas.

Essas recordações se transformam em pautas para futuras conversas, base para filosofia e, sobretudo, um alento ao nosso bem-estar. Já diz o ditado que “recordar é viver” e, por conseguinte, é estar ligado a uma cultura, é ser adepto dela, sentir-se parte de um grupo em constante evolução.

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Assim como há sonystas, nintendistas, caixistas, PCístas e seguistas, existem consolistas, isto é, pessoas partidárias à filosofia de consoles, um pensamento que consiste, basicamente, em ligar o videogame, a TV, empunhar o controle, sentar na poltrona e sair jogando. Sem passar por pedágios do Windows ou quaisquer outros obstáculos operacionais: é a simplicidade de ligar e jogar, pura e simplesmente, ciente da possível diferença gráfica para o PC, mas com a paz de espírito de não ter o tempo desperdiçado por erros DLL, placas de vídeo desatualizadas, incompatibilidade de placa-mãe ou o que quer que seja. Com o perdão da brincadeira, caros PCístas, mas vossa realidade é assim mesmo.

E aqui voltamos à cabalística mania que temos de ser binários, em que a alternativa A elimina a opção B, sendo que A e B podem caminhar juntas, coexistindo e se aceitando, reconhecendo suas vantagens e limitações. Já diz o sábio que o autoconhecimento é o caminho para se desfazer de vaidades.

Em outras palavras: consoles, nuvem/streaming, PC, portáteis, híbridos ou o que mais você puder elencar aqui podem viver concomitantemente; um não substitui o outro – e sempre haverá público para todos.

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Cada qual com sua cultura, e essas culturas em fusão, juntas e misturadas, criando a mesma magia: entretenimento. Imersão, emoções, sentimentos, solavancos, pensamentos. Você escolhe. Exclusivos e serviços são ingredientes que agregam mais valor a todo esse amálgama de conteúdo.

As gerações como conhecemos podem ter mudado, sim, especialmente com as versões turbinadas dos consoles, a exemplo do PS4 Pro ou do Xbox One X (a Nintendo historicamente lançou versões incrementadas de seus aparelhos). Esses aprimoramentos acabam bagunçando um pouquinho a linha do tempo, mas, ainda assim, seguem uma hierarquia pré-estabelecida: podemos ter PS5 Pro, PS5 Pro 2, PS5 Turbo, PS5 Ultra, mas nenhum deles é o PS6.

O salto geracional não será tão intacto quanto foi em outrora, mas seguirá como importante demarcador da história dos consoles – que seguem explodindo em vendas, diga-se. E em plena pandemia. Eles não vão deixar este mundo tão cedo.

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