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Mundo aberto: da diversão ao cansaço em centenas de horas

Febre nas últimas gerações, open world está cansando muitos jogadores, que não completam mais os games; por que?

por Thiago Barros
Mundo aberto: da diversão ao cansaço em centenas de horas

Os jogos de mundo aberto se tornaram uma febre no final da geração PlayStation 3 e migraram para o PlayStation 4 com tudo. Alguns dos principais títulos dos últimos anos, como The Witcher 3, Red Dead Redemption 2 e, claro, GTA V, têm essa característica. Contudo, houve uma saturação clara do formato justamente devido a esse enorme sucesso.

Por isso, para muita gente, a diversão deu lugar ao cansaço nessas centenas e centenas de horas necessárias para conseguir cumprir os objetivos de um open world. Quando um grind divertido e recompensador dá lugar a missões repetitivas e sem imaginação, que dão a impressão de estarem ali apenas para “cumprir tabela”, temos um problema.

Uma pesquisa com mais de 1,6 mil votos no ResetEra, em maio de 2020, mostrou que 57% dos jogadores estão cansados de títulos desse tipo. Foram 27% votando que estão “muito cansados” e 29% que estão “um pouco cansados, mas ainda jogam eles”. Enquanto isso, apenas 38% disseram ainda serem fãs de mundo aberto.

Você sabe quantas pessoas costumam completar os jogos desse gênero no PlayStation? Um levantamento recente mostrou que a taxa fica, em média, na casa dos 30%. Ghost of Tsushima e Marvel’s Spider-Man são exceções, acima dos 50%, mas, conforme mostra a lista abaixo, o percentual costuma ser bem menor – e olha que esses são os “top” do ranking:

Obviamente, os títulos de mundo aberto estão aqui para ficar e não vão a lugar algum na Geração PS5. Mas isso não quer dizer que o grande foco deva estar neles. Especialmente se lembrarmos que dos três últimos vencedores do GOTY no The Game Awards, dois foram lineares, God of War e The Last of Us Part II, e até Sekiro não é lá um open world clássico.

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The Witcher 3 é um dos jogos de mundo aberto mais populares, mas ainda assim não possui grande taxa de término

Por que estamos cansando de mundo aberto?

Missões repetitivas, falta de balanceamento, sidequests que se tornaram obrigatórias, colecionáveis sem sentido, glitches, ritmo da narrativa, tempos de deslocamento, mecânicas excessivas… Esses são apenas alguns dos pontos que incomodam em muitos jogos de mundo aberto.

A performance, por exemplo. Sabemos que a grande maioria desses títulos acaba sendo um pouco apressada – como o caso mais recente e clássico, Cyberpunk 2077. E isso costuma gerar glitches bizarros e bugs que comprometem a experiência dos jogadores. Seja em renderização de personagens e cenários, seja em problemas de gameplay.

Os “roubos” em GTA, os personagens desaparecendo em Assassin’s Creed, as bugadas em raids de Destiny e The Division… Os exemplos são inúmeros. Claro, a diversão em títulos como esses, principalmente os que têm componentes online, podem compensar. Mas, ainda assim, muita gente cansa e simplesmente larga de mão.

Arno de Assassin's Creed Unity com a face bugada
Quem não se lembra das “faces derretidas” em Assassin’s Creed Unity?

E sabemos que não para por aí. O grind, especialmente em títulos com componentes RPG, vem se transformando de uma diversão em uma obrigação. Há games em que você não consegue progredir sem fazer sidequests – que, por definição, são missões extras e não deveriam ser cruciais para upar seu personagem.

Se elas pelo menos fossem divertidas, tudo bem. Mas não. Em sua maioria, têm mecânicas repetitivas. Vá e colete algo, vá até aquele lugar para buscar pistas, vá numa sala cheia de inimigos e mate todo mundo para pegar um item. O design dos títulos parece o mesmo a todo momento. Muda a roupagem, um pouco do enredo, e é isso.

Tempo é dinheiro

Além do principal fator, é claro: tempo. Parece haver uma pequena desconexão entre o gamer hardcore que consome esse tipo de jogo e o público geral. A parcela que está interessada em gastar mais de 100 horas num jogo (e consegue fazer isso) não é a maior fatia do bolo.

Aparentemente, os jogos mais light, para distrair um pouco, com multiplayer frenético e divertido, e as histórias que você pode concluir em até 30 horas atendem mais ao padrão de uma sociedade cada vez mais atarefada e com múltiplas opções de entretenimento ao seu dispor.

Um game de 30 horas pode ser concluindo em duas semanas a um mês tranquilamente para uma pessoa que trabalha ou estuda e não tem tanto tempo. Já um de 60… Demora tanto que no meio do caminho você perde o tesão. Especialmente, claro, se não consegue manter um ritmo de jogar todo dia ou, pelo menos, de dois em dois ou três em três.

Tempo é dinheiro. Ou seja, valioso. E quando se tem outras responsabilidades, não dá para se dedicar tanto a um game. Entretenimento não pode virar obrigação. Diversão não pode virar cansaço. Os jogos existem para você se distrair e não sentir-se exausto em busca de um objetivo.

Por isso, quem sabe os jogos de mundo aberto voltem a ser inovadores, criativos e divertidos? Como Ghost of Tsushima provou ser possível. Até mesmo Marvel’s Spider-Man Miles Morales, principalmente. Um game de mundo aberto, com gráficos incríveis, história bacana, jogabilidade fluida e que não precisa de mais de 10-20 horas para ser aproveitado.

Ghost of Tsushima
Ghost of Tsushima não deixa os jogadores “se cansarem”

E que, caso os jogos que podem ter até 50, 60 ou 100 horas de duração, tenham isso de forma mais opcional. Que missões extras sejam realmente extras. Que o coop seja para enfrentar novos desafios e estar com os amigos por vontade, não pelo simples fato de ter que grindar.

Afinal, os títulos de mundo aberto vieram para ficar. Só precisam ser um pouco mais cabeça aberta.

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