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Need for Speed: Vale a pena?

por Daniel dos Reis
Need for Speed: Vale a pena?

Carregando a responsabilidade de trazer à tona a cultura majestosamente inserida pela série Underground, Need for Speed chegou ao PlayStation 4 cercado de expectativas elevadíssimas. Afinal, trata-se do desejado retorno da série ao submundo dos rachas noturnos.

Finalmente, o aguardado momento havia se feito presente, mas será que o novo capítulo conseguiu atender aos anseios da comunidade?

Confira agora!

Prefácio

Desenvolvido pela Ghost Games, a obra marca o recomeço da série após dois anos de “descanso”. A premissa inicial era que o estúdio estava empenhado em recuperar todo o prestígio perdido ao longo de últimos episódios não tão bem recebidos.

Com esse escopo, os desenvolvedores resolveram atender aos fervorosos pedidos dos jogadores pelo retorno da série ao universo das personalizações, rachas noturnos, drifts insanos e sprints de tirar o fôlego.

Need for Speed 2015 é uma resposta à comunidade, sem dúvidas, mas não exatamente a resposta esperada, estando mais para aquele tipo de resposta que o aluno oferece ao mestre somente como forma protocolar, sem o compromisso de atingir os melhores resultados, apenas com o objetivo de não ficar em maus lençóis.

É justamente isso que ocorre neste caso. Os criadores claramente tomaram como referência alguns episódios anteriores (Underground, Underground 2 e Carbon), adicionando novidades que, infelizmente, não caíram bem nesta nova proposta.

Enredo…ou quase isso

Logo em seu anúncio, a EA garantiu que o reboot iria resgatar tudo aquilo que os fãs desejavam, inclusive um enredo envolvente com personagens legais em intensas disputas, entretanto a realidade se mostra diferente do prometido.

NFS coloca em evidência uma história no melhor estilo água com açúcar, onde os protagonistas são interpretados por atores reais em cenas de live-action. Sobre o personagem controlado pelo jogador, pouco se sabe. Apenas que se trata de mais um corredor de rua em busca de respeito perante a comunidade de corredores clandestinos. A falta de profundidade é evidente. Questões como “quais os motivos levaram o personagem a ir para Ventura Bay?” ou “por que ele corre?” tem respostas muito vagas.

Need for Speed 2015 atores
A trama é narrada através de live-action.

Mesmo que a interpretação dos atores seja muito boa, e até certo ponto divertida, falta algo ao contexto. Um tempero que pudesse tornar a novela um pouco mais interessante.

O objetivo principal não é muito claro. A princípio, somos induzidos a ajudar nossos amigos em diferentes desafios, sejam eles drifts, corridas contra o tempo, sprints ou circuitos. Cada evento concluído faz com que o jogador fique mais conhecido na cidade noturna e isso impacta em nossa amizade, afinal estamos automaticamente fazendo com que os outros também o fiquem.

Neste ponto, o enredo faz um link com a proposta ventilada pela publisher. Cada amigo é especialista em uma área (estilo, velocidade, fora da lei, equipe, personalização) e, cumprindo os eventos que cada um deles recomenda, você contribuiu para que eles também ganhem notoriedade e alcancem seus próprios objetivos, como conhecer um grande corredor por exemplo.

Novamente trazendo à tona a questão da motivação, o enredo é desinteressante pois não cria vínculos com o jogador. Não existe, por exemplo, um grande rival a ser batido. Todos os personagens são muito amigos e, mesmo que ocorram breves momentos de ciúmes, não há uma “treta” que poderia deixar tudo mais acalorado.

Visual

Ventura Bay é o cenário desse reboot. A cidade, inspirada em Los Angeles, é sempre noturna e resgata um pouco das sensações vividas na série Underground. Montanhas, pontes, a chuva constante, poças d’água e construções são muito bonitas e fieis ao exemplar real. Largas avenidas, locais estreitos e áreas industriais brilham na noite californiana.

Ventura Bay
É sempre noite em Ventura Bay.

A Ghost Games fez o dever de casa e entregou um produto final visualmente caprichado, a começar pelos carros, que são belíssimos, com detalhes que enchem os olhos. O destaque certamente fica pela suave e formidável transição entre as cenas live-action e o sistema de personalização. É quase imperceptível que estamos diante de um modelo poligonal de automóvel.

Apesar da ambientação noturna ser agradável, a falta de variedade emerge como ponto negativo. Em Ventura Bay só existe uma alternância climática, a chuva, o que faz com que o jogo também apresente o descompasso exposto no item anterior. Novamente, as escolhas da produtora contribuem para que não exista um vínculo com a cidade.

Ao contrário de games anteriores, poucas são as variações como rampas, locais memoráveis, placas de propagandas destrutivas e visões cinematográficas dos saltos. Até o transito é bem e reduzido. Por vezes, a sensação é que Ventura Bay é uma cidade sem vida, sem um “coração”. Os momentos de colisão entre o veículo do jogador e um NPC são bem mais raros, uma vez que o tráfego é baixo.

Também é possível que, por vezes, exista uma delay de renderização, onde os cenários de fundo demoraram um pouco a carregar, ou quando um veículo simplesmente emerge do chão… Momentos estranhos, mas são mais raros e não comprometem a experiência.

Need for Speed_21
Visual do game é deslumbrante.

Jogabilidade e modos de jogo

Não há muitos mistérios ao jogar Need for Speed. Os controles são precisos, rápidos e respondem muito bem aos comandos. Aliado a isso, temos uma excelente dirigibilidade arcade que premia aqueles que tem boa destreza em pilotar a mais de 3oo KM/h sem dificuldades.

Neste ponto, NFS oferece altas doses de diversão, aliando um gameplay descompromissado com eventos agradáveis.

Mapa Need for Speed
Os eventos são marcados com pontos.

No jogo é possível correr por meio dos famosos sprints, passando por checkpoints ao longo dos percursos, competir em corridas cronometradas, fazer drifts insanos, etc. Mas, conforme os eventos vão sendo completados, fica visível uma nítida falta de variedade: são sempre os mesmos eventos.

Talvez o fator de maior influência direta no gameplay seja a inteligência artificial (ou deficiência artificial, se preferir) implementada no jogo. Seus amigos e demais competidores são limitadíssimos no aspecto intelectual.

Em vários momentos, principalmente em corridas onde é necessário fazer drifts próximo aos demais corredores, nota-se que o estúdio optou por limitar os competidores. Um exemplo claro são os eventos citados: os seus companheiros simplesmente não têm a capacidade de andar juntos, no mesmo compasso. Ou eles correm muito na frente ou se separam durante o percurso, fazendo com que seu objetivo fique intangível, uma vez que é necessário estar em grupo para que os pontos sejam contabilizados. E, mesmo que todos estejam por perto, os adversários não têm o mínimo senso de direção e todos colidem entre si e com seu carro, fazendo com que milhares de pontos sejam perdidos.

Outro aspecto importante também envolve o campo da inteligência artificial, mas dessa vez relacionada aos policiais. NFS conta com perseguições que, em teoria, deveriam ser alucinantes e carregadas de adrenalina, como sempre foi característico da série. Mas neste novo episódio os policiais são simplesmente descartáveis.

Para fugir da Lei basta acelerar. A perseguição é fraca, sem sentido e nos leva a questionar a necessidade de inseri-la no jogo, já que não agrega valor.

Em se tratando de Need for Speed, tomamos sempre por base as formidáveis perseguições da série Hot Pursuit, onde os policiais elaboravam estratégias mirabolantes, utilizavam barreiras, helicópteros, tapete de espinhos e outras artimanhas, além de possuírem um elevado nível de agressividade. Fugir dos policiais era difícil, mas recompensador.  Neste novo episódio, escapar não é nada demais.

Sonoridade

A EA sempre tratou com carinho e muito zelo a parte musical da série NFS. Neste episódio as coisas não mudaram. Tanto o som ambiente, quanto a playlist são de extrema qualidade e refletem muito bem o ambiente noturno.

Batidas eletrônicas, rock, raps e outros estilos embalam as corridas e criam um clima agradável para a jogatina.

O destaque fica por conta da dupla brasileira Tropkillaz que desenvolveu uma faixa musical exclusiva para o game da EA.

Personalização

A personalização de carros era, certamente, um dos maiores desejos dos jogadores e ela realmente voltou com tudo.

Os mais criativos foram contemplados com uma vasta gama de possibilidades, desde a mais básica troca de pintura a uma robusta adesivagem. Trocar rodas, rebaixar, colocar saias laterais, inserir aerofólios vantajosos, modificar o capô, e mais uma extensa lista de personalizações fazem a alegria de todos.

Além da parte visual, dentro do capô as coisas também acontecem de maneira abrangente. Need for Speed flerta com os jogos mais ao estilo simulação, e insere alguns elementos que permitem fazer ajustes nos componentes, afim de obter o melhor desempenho.

Que tal levantar a suspensão traseira para tentar os melhores resultados nos drifts? Aqui é possível! A Ghost Games foi sábia ao permitir que os jogadores possam, além de criar o visual dos sonhos, realizar esses ajustes sutis.

Também é interessante observar como a palavra “apego” é uma explicação para este game. Que atire a primeira pedra quem nunca deixou um carro na garagem, mesmo que ele não fosse o mais potente, só por gostar do bólido e sentir algum tipo carinho pelo brinquedo virtual?

Detalhes que fazem a diferença

Dizem que os detalhes fazem a diferença no final das contas. Com Need for Speed 2015, isso faz todo sentido.

A Ghost Games tentou inovar em alguns pontos, o que é louvável em tempos onde as produtoras preferem navegar em mares calmos, mas algumas escolhas e implementações não foram bem sucedidas.

A começar pela exigência de se manter uma conexão com a internet em 100% do tempo. Não faz qualquer sentido obrigar os jogadores a se manterem sempre conectados, uma vez que a campanha não depende em nada de outros players.

Soma-se isso ao fato de que os modos multiplayer online, que talvez explorassem melhor esta exigência, quase inexistirem no game e passam despercebidos. É possível encontrar um amigo no seu mapa e convidá-lo para um duelo, mas isso pouco acrescenta a obra.

Mesmo que durante o nosso gameplay não houvesse quedas de conexão ou qualquer transtorno em relação aos servidores, a opção adotada limita aqueles que não tem acesso à internet.

Em virtude da conexão constante, o jogo não conta com uma opção de PAUSE. Dessa forma, se você precisa, por algum momento, pausar o game, isso não será possível. As telas de menu ficam sobrepostas ao jogo, que sempre fica “rolando” ao fundo.

Apesar dos pontos acima, nada supera a chatice dos seus companheiros. Os demais personagens que compõem a trama ficam ligando para você a todo instante. Isso é extremamente irritante e atrapalha a concentração, principalmente em corridas mais intensas. É simplesmente impossível passar um único minuto inteiro sem receber uma mensagem ou uma ligação. Para aqueles que não gostam de ser incomodados, isso será um fator preponderante.

O veredicto

Need for Speed chegou carregando uma enorme responsabilidade, tanto imposta pelo renome da série, pela perspectiva em resgatar os tempos áureos, quanto pela comunidade.

Talvez o peso de tantas exigências tenha sido demais para Ghost Games, que não soube atender a todos com efetividade. Não que o título seja péssimo, de forma alguma! NFS diverte, tem um bom visual, músicas de qualidade e eventos interessantes. Contudo as más escolhas da produtora fazem com que a obra não seja exatamente aquilo que todos esperávamos.

Se serve de consolo, a equipe responsável já declarou que está atenta ao feedback da comunidade e pretende oferecer melhorias e ajustes ao longo dos próximos meses. Talvez tenhamos boas surpresas vindo por aí.

3 - Selo de Prata

Daniel dos Reis
Daniel dos Reis
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Jogando agora: Horizon Forbidden West (PC)
Manager do MeuPS e um cara de muita sorte por trabalhar com aquilo que gosta.