to a T: vale a pena?
Engraçado e leve, to a T troca profundidade por algo excessivamente positivo e bobo
Quase 12 anos depois do lançamento de Alphabet, o lendário designer de jogos Keita Takahashi está de volta. Mas você não conhece Alphabet? Tudo bem… vamos voltar então a 2004, mais especificamente a Katamari Damacy. Ah, parece que as coisas mudaram, não?
Sim, o criador da icônica franquia de plataformas e humor retorna ao lugar de onde nunca deveria ter saído, agora investindo mais uma vez em seu conceito cômico, absurdo e visualmente colorido com o surpreendente to a T.
Trazendo uma crítica social f***, Takahashi assume de vez as discussões atuais sobre aceitação e diferenças, sob comando de seu novo estúdio de jogos: uvula. Mas será que ele tem potencial para destronar a série de quebra-cabeças que fez história nos videogames?
Em busca da perfeição
Uma criança parece ter nascido toda errada: em vez de ter a composição física alinhada, ela possui uma envergadura em T e não consegue, de forma alguma, reverter essa condição. E com isso, diversos desafios começam a aparecer.
Na adolescência, apesar de ter aceitado sua forma, especialmente pela ajuda do amigo de quatro patas, diversas questões começam a flutuar por sua mente: por que os colegas de escola implicam tanto? Eles seriam mais especiais por terem o corpo “normal”?
Certo dia, um objeto estranho cai na Terra e faz as pessoas de uma pequena cidade sentirem que algo está mudando. Com isso, uma nova dinâmica estabelece, fazendo que o protagonista e seus amigos reflitam sobre a essência humana: o que significa “ser perfeito”?
to a T é um jogo de aventura, conduzido por narrativa, que combina elementos de plataformas e quebra-cabeças. Muito simples, o título tem uma campanha de aproximadamente 5h, mas seus 100% podem esticar esse tempo para mais de 15h.
Os jogadores têm a liberdade para customizar totalmente a personagem principal, selecionando desde sexo até itens de vestuário. Além disso, o cachorro também pode ser customizado e tem um guarda-roupas exclusivo com dezenas de itens cosméticos.
Vale reforçar que eles são gratuitos. Não há microtransações e o título é 100% single-player. Dessa forma, caso você queira comprar itens em to a T e participar de atividades paralelas, basta andar pelo mapa e sair coletando moedinhas de várias cores.
Alívio cômico e muitas bobagens
Voltando no tempo, é possível recordar que Katamari não tinha um grande foco na história. A aventura era guiada por uma trama bastante excêntrica e relativamente desconexa, dando a impressão de que fosse apenas “qualquer coisa”.
Infelizmente, to a T sofre com esse mal. E pior: o jogo possui muitas animações, diálogos e reviravoltas narrativas. Os elementos que permitiam aproveitar um conceito promissor estavam lá, mas a uvula não soube aproveitar e preferiu manter o gameplay absurdo.
Indo ao contrário, vemos um ônus com um bônus. A ideia de apostar em algo excessivamente cômico e bobo tornou a experiência agradável, leve e muito acessível. É muito legal interagir com todos os NPCs e ver seus respectivos comportamentos no mundo.
O protagonista explora florestas, residências, escola e áreas fechadas, tudo com o objetivo de desenvolver a crítica imposta pela história. Esses trechos de jogabilidade são reforçados por comandos simples de correr, pular e realizar ações.
Além disso, to a T tem um sistema de controle de corpo pelos analógicos. Os braços esquerdo e direito podem ser acionados para cumprir desafios específicos, atuando separadamente em relação ao resto do corpo. E isso funciona muito bem.
O fato é que o game tem um gameplay extremamente agradável. Atividades secundárias, missões principais e exploração conversam bem com a ótima trilha sonora e com o tempo de campanha, que se propõe como o suficiente para não tornar o jogo cansativo.
Isso também se mistura a alguns easter eggs, a diálogos “sem pé nem cabeça”, a um idioma próprio no melhor estilo The Sims e a um rico sistema de personalização com mais de 500 itens únicos.
Mundo interessante e único
O mapa de to a T merece atenção. Ele conta com uma ampla verticalidade, bem como com diversos quarteirões cheios de segredos e de recompensas. Além disso, em toda esquina há moedinhas para coletar, caso você queira investir em roupas e outras peças.
Os visuais animados do game são caprichados e se destacam pela riqueza de cores. Eles evidenciam a atmosfera positiva do jogo e são o que mais engrandece a experiência no geral, já que as críticas sociais são apresentadas com baixa profundidade.
Os personagens, com designs simples (semelhantes aos Amiibo), também possuem belas expressões faciais. Já em relação à colisão e à física, todos respondem ao contato com o protagonista, seja perguntando como ele está ou reclamando de um empurrão.
to a T aposta no nonsense, incorporando bem os dramas japoneses voltados para o público infantil/adolescente. Dessa forma, é certo que os jogadores darão boas risadas tanto ao lerem o termo “bunda” quanto por não entenderem absolutamente nada que acontece.
to a T: vale a pena?
to a T é um jogo extremamente casual e simples, contendo uma história bastante objetiva, apesar da excessiva quantidade de alívio cômico e de absurdos. Excêntrico, o game é o que se espera de uma obra de Keita Takahashi, mas com particularidades positivas.
Com gameplay direto, um mundo super interessante, atividades recompensadores e diálogos cheios de frases soltas, o título se assemelha a um esquete de comédia, mas contendo virtudes que o colocam como algo que vale a pena ser experimentado.
Isso não significa que você deva adquirir to a T às cegas. Esses elementos podem agradar públicos específicos, mas certamente incomodarão “new-geners” e os mais exigentes. Dessa forma, compre apenas se quiser investir em um jogo 100% descompromissado.
Veredito
Vantagens
- Gameplay divertido e acessível
- Ótimo conceito original
- Visuais animados muito bonitos
- Sistema de áudio bem realizado
Desvantagens
- Experiência com pouca profundidade no geral
- Foco narrativo impacta tempo real de jogo