Rise of the Ronin: vale a pena?
Review

Rise of the Ronin: vale a pena?

O game mais acessível do estúdio ambientado em um Japão realista e cheio de reviravoltas

por Raphael Batista

A Team Ninja é um dos estúdios queridinhos do público. Por mais que seu sucesso tenha começado em 2004 com a estreia de Ninja Gaiden, foi a partir de NiOh, de 2017, que o seu nome ficou ainda mais popular. Apropriando-se do gênero soulslike, mas com uma identidade muito particular, a companhia criou bons projetos, como NiOh 2 e Wo Long: Fallen Dynasty, e agora apresenta uma nova IP: Rise of the Ronin.

Os últimos três projetos da Team Ninja tinham muito em comum: estrutura por fases/missões, história sobrenatural e mística, combate soulslike punitivo e outras características. Para Rise of the Ronin, havia uma preocupação sobre essa fórmula ser repetida, apenas “com uma skin diferente”. Felizmente, o título aposta em novas ideias, bem diferentes das vistas em seus “irmãos mais velhos”, proporcionando uma experiência mais variada.

É claro que há alguns elementos parecidos, mas de modo geral, a Team Ninja saiu do gênero soulslike para entregar um game de ação/aventura, recheado de possibilidades de customização de combate. Nesse caso, as batalhas épicas contra chefões bizarros deixaram de existir para dar espaço para duelos em menor escala, mas igualmente desafiadoros.

Rise of the Ronin parece uma espécie de casamento entre NiOh e Ghost of Tsushima. De um lado, vêm os desafios, o sistema de estamina, as possibilidades de builds. De outro, vem a exploração de um Japão em mundo aberto, com uma história mais realista e menos fantasiosa, e construção de personagens.

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É um game que exigirá das habilidades dos jogadores, mas dentro do catálogo do estúdio, é, de longe, o mais acessível.

O Japão feudal

Sem reinos demoníacos, poderes místicos ou monstros bizarros, Rise of the Ronin aposta numa narrativa que é quase uma abordagem histórica. Vamos para 1860, na época da reestruturação política do Japão. O país, deixando seu modelo de xogunato, abre suas fronteiras para estrangeiros, como os americanos e britânicos, que trazem armas, estilos e influências manipuladoras.

Nesse contexto, o jogador assume o controle de uma Lâmina Gêmea, um samurai que possui seu correspondente treinado nas artes do Bushido para derrubar o governo. Após uma invasão do xogum na base da organização, sua outra metade é perdida e cabe ao protagonista buscar vingança pela sua alma gêmea contra os responsáveis.

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Traições, conspirações e politicagem marcam Rise of the Ronin. Fonte: captura de tela.

Logo na primeira hora de jogo, é mostrado que a narrativa de Rise of the Ronin será recheada de termos específicos, organizações secretas, nomes de personagens secundários e a introdução de vários arcos. O jogador pode escolher jogar com a Lâmina Gêmea masculina ou feminina, além de customizar o personagem visualmente da forma que preferir. E, como típico dos outros títulos, as opções de criação são bem abrangentes e divertidas.

Infelizmente, o senso de “inutilidade” do protagonista é acentuado pela abordagem do desenrolar da história. O game até conta com um sistema de escolhas em que é possível se aproximar do xogunato ou se aliar à oposição. Embora as consequências narrativas sejam diferentes conforme o jogador escolhe seu lado, parece que as decisões não são, de fato, tomadas pelo protagonista, mas apenas fundamentam como a história acontecerá com base nas ações dos NPCs.

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Suas escolhas possuem consequências, mas não tão pesadas. Fonte: captura de tela.

Um exemplo disso: em determinado momento, o jogador é obrigado a escolher um lado e, numa batalha específica, enfrentar os seus adversários. Após a missão, novas atividades envolvendo os derrotados abrem e o herói poderia conversar com eles como se nada tivesse acontecido. Nas escolhas, fica a impressão de que o protagonista é bem mais um espectador dos eventos do que uma pessoa que realmente decide o rumo da história.

Tais situações criam uma contradição entre aquilo que o jogador optou e aquilo que ele vê em tela, dando a impressão de que suas escolhas realmente não importam. Por outro lado, se aliar a um lado em detrimento do outro gera momentos de gameplay únicos e combates contra outros NPCs, o que pode aumentar drasticamente a dificuldade ou facilitar o desafio.

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No final das contas, a história parece seguir seu rumo independente do herói. Fonte: captura de tela.

Por mais que o sistema de escolhas e consequências seja um pouco contraditório, isso chega até a dialogar com a própria narrativa de Rise of the Ronin. No game, o jogador transita entre os lados frequentemente. Como um Ronin, sua lealdade é apenas a si e a sua missão de buscar pela sua metade. Então, é possível usar o xogunato e os rebeldes para que seu objetivo seja cumprido.

Em razão dessas constantes mudanças, novos arcos são frequentemente introduzidos. A história leva em torno de 40 horas para ser concluída e, do início ao fim, há novos personagens chegando, grupos sendo formados, organizações criadas para derrubar os lados adversários. É uma guerra política intensa tanto quanto Game of Thrones ou o estreante Shogun da Star+.

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Certos personagens conquistam seu coração, como Ryoma. Fonte: captura de tela.

Acompanhar todas as reviravoltas (são muitas!) e os novos nomes apresentados pode até ser uma missão mais difícil do que derrotar os adversários. O capítulo final, inclusive, parece se estender além do necessário, mas a conclusão é satisfatória e há momentos narrativos muito bons para quem se propõe a prestar atenção nas relações políticas e traições ocorridas ao longo da jornada.

Não é soulslike!

Rise of the Ronin foge das duas principais características vistas nos títulos anteriores da Team Ninja: o gênero soulslike e a estrutura de fases. No primeiro caso, ele tem sua dificuldade, mas ela é bem mais acessível. O estúdio abandonou os Ninjutsus e itens de buff vistos em NiOh. Sem “poderzinho”, o jogador depende apenas das suas habilidades e timing para defender ou contra-atacar.

O parry, chamado de Contra-fulgor, responde bem aos comandos e assume características diferentes ao escolher a postura da arma do herói. Se você adota uma postura de katana mais agressiva, então o Contra-fulgor leva mais tempo para realizar seu movimento. Por outro lado, se você escolhe algo mais defensivo, a resposta é quase imediata. Escolher qual modelo é essencial durante a batalha e ela é indicada visivelmente na barra de saúde do adversário.

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Um jogo de ação e combates intensos. Fonte: captura de tela.

Aproveitando que estamos falando sobre equipamentos, há uma grande variedade: katanas, katanas duplas, lanças, grandes espadas e mais uma grande variedade. O jogador escolhe por qual começar, mas pode alternar quando quiser e é incentivado a dominar cada uma delas com os atalhos rápidos que permitem mudar no meio do combate.

Além disso, há quatro grandes árvores de habilidades que, basicamente, afetam atributos e status do personagem. Todas elas são muito importantes e desenvolvidas através dos companheiros de guerra. Existe uma grande variedade e uma boa possibilidade de construção de estatísticas especiais, as quais falaremos logo a seguir.

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Os combates exigem o gerenciamento de estamina e habilidades. Fonte: captura de tela.

Sobre a estrutura de fases, Rise of the Ronin é um mundo aberto. Ao contrário dos títulos antecessores da Team Ninja, em que a missão concluída levava para um lobby do universo, a nova IP aposta na exploração do Japão que conta com uma grande variedade de atividades.

Enquanto o jogador não cumpre as missões da campanha, é possível realizar atividades secundárias para fortalecer o elo entre seus companheiros, derrubar postos avançados dominados por inimigos, caçar bandidos lendários, encontrar gatinhos perdidos para ganhar recompensas ou até mesmo participar de jogos da sorte. Tem bastante conteúdo explorável.

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Um mundo grande e cheio de atividades. Fonte: captura de tela.

Amigo, estou aqui!

Uma das grandes novidades foi o aperfeiçoamento dos companheiros. O recurso já estava em Wo Long, mas de modo muito rudimentar. Aqui, desenvolver relacionamentos é sinônimo de vitória porque cada personagem garantirá habilidades exclusivas, facilitará os combates e reduzirá o sofrimento do jogador.

De imediato, a IA dos companheiros foi ajustada para contribuir efetivamente. Eles sabem defender, atacar e se posicionar. O melhor é que com um comando (L1 + Cima/Baixo), o jogador tem o controle do companheiro. Esse sistema facilita as batalhas: alternando entre os heróis, o inimigo vai para cima do jogador, e assim, fica mais fácil de acertar o adversário.

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Há uma grande variedade de companheiros para desenvolver relacionamentos. Fonte: captura de tela.

Mas o recurso especial não afeta somente o combate, como a própria história. Criar laços com os personagens abre missões especiais e diálogos. De acordo com o nível de envolvimento, eventos importantes da campanha são mais intensos conforme há uma proximidade intencional do jogador com alguém em específico.

Escolher os seus companheiros nas quests principais e secundárias ainda contribui para desbloquear novas skills. Cada herói tem uma afinidade específica para cada árvore de habilidade e, com isso, novos poderes são liberados conforme mais missões são cumpridas em conjunto, incentivando a alternância entre as opções.

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Selecionar o companheiro correto é fundamental para a vitória. Fonte: captura de tela.

Problemas antigos e bem chatos

Sim, sabemos que o foco da Team Ninja é no gameplay, mas é difícil aceitar a feiura de Rise of the Ronin, um jogo criado para o PS5. Expressões faciais, ambientes abertos e fechados, texturas, tudo do jogo parece gritar que foi feito para um hardware de antiga geração. Os gráficos ficam muito abaixo do que se espera de um título AAA para um console moderno.

A situação é ainda um pouco frustrante pela falta de inspiração artística. Nos títulos passados, os gráficos não incomodaram porque a direção de arte apresentava designs impressionantes envolvendo um mundo real e o místico dos Yokai. No entanto, agora, como se trata de uma “realidade” mais simples, o visual é genérico, sem muita beleza e insosso.

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Esse é o mar do jogo… Fonte: captura de tela.

Indo além, há situações de instabilidade de desempenho. Infelizmente, assim como foi em Wo Long: Fallen Dynasty, existem quedas constantes de frames, às vezes variando entre 45 FPS e 50 FPS. Os incidentes foram frequentes na exploração e também houve quedas nos momentos de combate, atrapalhando a conquista da vitória.

Por fim, os problemas de câmera são um incômodo à parte. Em missões mais abertas, não há tanta dificuldade. Agora, quando as atividades acontecem dentro de um castelo ou numa sala, é comum passar uma raiva pelo posicionamento errado da câmera diante da rápida movimentação do combate.

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Há momentos que a posição da câmera impede de visualizar corretamente o inimigo. Fonte: captura de tela.

Por outro lado, felizmente, em nenhum momento houve bugs graves ou crashes.

Rise of the Ronin: vale a pena?

O novo game da Team Ninja é, de longe, o mais acessível de seu catálogo e o mais fácil de se apegar. Sua história mais realista, o combate de ação mais pé no chão, as habilidades de combate e um desenvolvimento de personagens bem feito contribuem para uma experiência super satisfatória, além de um conteúdo denso com várias atividades de mundo aberto.

Embora seus problemas técnicos sejam chatos e irritantes algumas vezes, eles não impedem a diversão do jogador. Rise of the Ronin é competente e aposta numa nova estrutura que cai bem para os jogadores que gostam da identidade da Team Ninja. Ele abraça a acessibilidade sem perder mão do desafio e, com certeza, tem um forte potencial para conquistar novos públicos.

Por fim, vale a menção da dublagem completa em PT-BR. O título recebeu o tratamento de um exclusivo, mesmo não sendo de um first-party. Embora inicialmente seja estranho ver os japoneses falando em português brasileiro, a estranheza passa rápido diante da qualidade dos dubladores de todos os personagens.

Veredito

Rise of the Ronin
Rise of the Ronin

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Team Ninja

Jogadores: 1

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88 Ranking geral de 100
Vantagens
  • História política com traições, reviravoltas e 'realismo'
  • Companheiros de combate inteligentes
  • Ação com comandos responsivos
  • Variedade de equipamentos, habilidades e posturas
  • Dublagem completa em PT-BR
  • Conteúdo explorável abrangente
Desvantagens
  • Gráficos muito abaixo do esperado para um AAA de PS5
  • Escolhas da história parecem ter pouco peso
  • Instabilidade de desempenho e visualização da câmera
Raphael Batista
Raphael Batista
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Jogando agora: GTA V | Prince of Persia: The Lost Crown
Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.