Review

Returnal (PC): vale a pena?

A Climax Studios entrega um port repleto de opções e com alguns pequenos tropeços

por Felipe Gugelmin
Returnal (PC): vale a pena?

Lançado no começo de 2021 para o PlayStation 5, Returnal foi um dos primeiros jogos que mostrou o que o hardware do console realmente tinha a oferecer. Embora não trouxesse um grande salto visual em relação à geração anterior, o game combinava ação em ritmo insano, ótimos desempenhos e tempos de carregamento que surpreendiam pela grande velocidade.

Ele também chamava a atenção por ser, até hoje, um dos games que melhor usa as capacidades hápticas do controle DualSense. Seja para indicar ao jogador quando um disparo alternativo está disponível ou para dar uma resposta melhor aos ataques feitos, o acessório provou que era uma parte muito importante da aventura.

Mas esta não é uma review sobre Returnal — ao menos não uma tradicional: se é isso que você procura, vale a pena dar uma lida na ótima análise feita pelo Thiago Barros na época em que o game estreou. Aqui o objetivo é falar sobre a versão PC do game, que faz sua estreia oficial no dia 15 de fevereiro no Steam e na Epic Games Store. Mas será que essa espera de quase dois anos valeu a pena?

Uma adaptação repleta de opções

Algo que chama atenção logo de cara na versão PC do game é a tela de configurações, que surge pouco depois de ele ser iniciado. Além das opções tradicionais de idiomas, contraste e HDR, o jogador tem à disposição uma série de alternativas que podem garantir uma quantidade maior de quadros por segundo e alguns ajustes finos muito importantes para sua experiência.

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Sem exagero, dá para gastar algumas horas mudando cada ponto de Returnal para garantir que ele vai ter o desempenho condizente com seu hardware e como você quer jogá-lo. Além de definir a resolução nativa do game, você pode ajustar a qualidade do modelo de personagens, dos efeitos de pós-processamento e dos ambientes, que possuem configurações individuais para cada uma de suas características.

No campo dos ambientes, por exemplo, você pode ajustar em separado a qualidade de modelos, de texturas, do volume do nevoeiro que ocupa cada área e da qualidade das partículas. E o mais legal é que o jogo sempre indica qual o impacto que cada opção vai ter no consumo de CPU, GPU e VRAM, além de oferecer uma prévia do impacto visual que as escolhas vão trazer.

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Como se isso não fosse suficiente, Returnal também aplica as mudanças feitas em tempo real, sem que seja preciso reiniciar a ação para notar seus efeitos. Para completar, o game tem uma ferramenta de benchmark interno bem completa, que vai indicar questões como a taxa média de quadros por segundo, a quantidade de recursos de CPU e GPU que são utilizados e até mesmo quais áreas dos testes exigiram mais de cada componente.

Algumas pulgas atrás da orelha

Caso ficar gastando tempo em cada configuração individual não seja sua praia e a intenção for só iniciar o game e jogar, tenho boas notícias: a análise feita automaticamente pelo jogo funciona muito bem em recomendar o nível de qualidade que mais vai render um desempenho próximo dos 60 FPS. Com o hardware usado para esta análise, o jogo recomendou a qualidade Épica para jogar em 1440p, o que rendeu sempre uma taxa de quadros que varia entre 62 e 70 FPS, dependendo da situação.

Nesse sentido, o setup utilizado foi uma exceção ao que normalmente é encontrado entre os jogadores brasileiros, tendendo para o lado high-end:

  • CPU: Intel Core i9-9900K
  • GPU: NVIDIA RTX 3080 EVGA FTW3
  • Memória RAM: 32 GB 3200 MHz
  • Placa-mãe: Gigabyte Z390 Aorus Ultra
  • Armazenamento: SSD NVMe WD Black SN750 1TB

Ao mudar as configurações para outras combinações pré-definidas, deu para notar que Returnal é um game que escala bem e não perde tanta qualidade visual de um nível de configuração para outro. Nas configurações baixas, por exemplo, obtive um desempenho que ultrapassava facilmente os 110 FPS, e, a cada mudança de preset, esse valor acabava diminuindo de 10 a 20 FPS quanto mais detalhes eram adicionados.

Enquanto testes em uma única máquina não são suficientes para dar um veredito final sobre o título no quesito desempenho, a impressão que fica é que ele está muito bem otimizado. O jogo é bastante dependente de recursos de GPU, e a placa que você tem instalada vai ser o maior fator definidor do tipo de qualidade gráfica que você vai encontrar: o game não tem medo de usar bem os recursos do hardware disponível, e se um teto de desempenho não é definido, se prepare para ver sua placa operando sempre tem 98% ou 100% de sua capacidade.

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As “pulgas na orelha” citadas no subtítulo se referem a algumas configurações específicas destinadas a aumentar o desempenho de Returnal. Além de poder usar o DLSS da NVIDIA, o jogador também tem à disposição o FSR da AMD, um sistema de resolução dinâmica nativo e algumas opções de upscaler exclusivas ao jogo.

No entanto, durante os testes realizados, ficou a impressão de que muitas dessas opções ainda não estão funcionando exatamente como o desejado. Ao ativar o DLSS, seja no modo Qualidade, Performance ou Equilibrado, o impacto no consumo de recursos de GPU acabou sendo mínimo entre os diferentes níveis, e a tecnologia parece servir mais como uma substituta à opção nativa de antialiasing.

O mesmo aconteceu com FSR, que teve como principal diferença trazer um impacto visual mais notável entre seus diferentes tipos de qualidade. No que diz respeito às demais opções disponíveis, o hardware usado parece não ter “ajudado muito”. Como o game não encontrava engasgos, não foi possível perceber com clareza os momentos em que as opções sentiam que precisavam entrar em ação para garantir uma taxa de quadros adequada.

Ray Tracing: o grande vilão

Outro ponto que chamou atenção é o fato de que a versão PC de Returnal estreia um novo sistema de reflexos por Ray Tracing, que complementa o sistema de sombras visto na versão do PlayStation 5. Em ambos os tipos de uso da tecnologia que são oferecidos, o game traz três níveis de qualidade que podem ser configurados de forma individual — mais uma prova da boa atenção que a Climax Studios deu para o port.

Do ponto de vista do desempenho, as sombras só pesaram notavelmente quando o nível de qualidade mais alto foi definido. Os impactos são mais notáveis quando os reflexos por Ray Tracing são ligados, embora suas consequências variem dependendo do lugar visitado. No entanto, o uso do recurso simplesmente não é recomendado (mesmo na configuração baixa) caso seu hardware já esteja sofrendo para rodar bem o game sem ele ativado.

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Embora a máquina usada conseguido manter bem os 60 FPS com as duas configurações no máximo — mesmo quando o game em rodava em resolução nativa, o que foi surpreendente —, foi melhor jogar sem o recurso durante os testes realizados. Isso porque bastava que eles estivessem ativados para o jogo começasse a sofrer com pequenos stutters toda vez que eu entrava em uma nova sala.

Para um jogo que apela tanto para as reações rápidas, isso é mortal: qualquer pequena “congeladinha” é suficiente para tirar o jogador do ritmo e fazê-lo morrer para uma criatura. Como Returnal já é um game muito bonito sem o Ray Tracing, senti que valia a pena abrir mão dessa “cereja no sundae” de seus visuais para me livrar dos problemas de desempenho que estava notando.

Nesse caso, vale prestar atenção a algo muito importante: o game com um código de acesso antecipado fornecido pela PlayStation que não leva em consideração nenhuma possível atualização de lançamento. Além disso, essas impressões são baseadas no driver 528.49 da NVIDIA e, no momento em que você estiver lendo isso, provavelmente a empresa terá lançado uma atualização Game Ready voltada a otimizar o desempenho do jogo.

DualSense ou mouse e teclado?

Em todos os seus aspectos principais, Returnal no PC é uma experiência praticamente igual ao que os jogadores vão encontrar no PlayStation 5, com algumas pequenas vantagens. Entre elas está o fato de que o game chegou ao computador com todas as atualizações que recebeu nos últimos anos, incluindo a Torre de Sísifo e a possibilidade de suspender uma partida em andamento.

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O jogo também pode ficar um pouco mais bonito (se você tiver o hardware para isso) e oferece um novo sistema de controle baseado em mouse e teclado. Nesse sentido, sinto que o game é a melhor adaptação já feita entre uma experiência pensada inicialmente para ser jogada usando o gamepad do PlayStation 5.

Muito disso se deve ao fato de que Returnal é um jogo que não usa tantos botões assim e tem como foco principal o tiro. Nesse sentido, não há como negar: o uso de mouse e teclado traz claras vantagens de precisão, permitindo mirar muito mais facilmente em inimigos quando você está em movimento ou quando eles estão em níveis de altura diferentes.

Em compensação, a combinação perde o sistema háptico do DualSense que, especialmente neste jogo, faz muita diferença. Embora seja possível jogar com qualquer gamepad compatível com o do PC (inclusive o do Xbox), depois que conectei o acessório da Sony não quis progredir no game com nenhum outro tipo de controle.

No entanto, não é possível dizer necessariamente que há uma “solução definitiva” ou “jeito certo” de jogar Returnal no computador. Minha preferência acabou sendo pelos recursos únicos do acessório do PlayStation 5, mas, caso a única opção fosse outro gamepad ou mouse e teclado, não teria nada do que reclamar — em outras palavras, o jogo funciona bem independentemente do meio de controle usado  (e dá para remapear todas as funções de mouse e teclado facilmente nas configurações, o que sempre é um bônus).

Returnal no PC: vale a pena?

Returnal no PC se mostra um jogo tão divertido e essencial para os fãs de boas experiências de ação quanto foi em sua estreia no PlayStation 5. O game certamente não traz os requisitos de entrada mais baixos da atualidade, mas, se você conseguir atendê-los, ele entrega exatamente o tipo de desempenho que promete.

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Caso você já tenha jogado no console da Sony, não há tantos motivos assim para fazer o upgrade: a experiência pode ficar um pouco mais bonita, mas é essencialmente a mesma em matéria de conteúdos e desempenho. No entanto, quem prefere jogar no computador sentirá que valeu à pena esperar por um port de boa qualidade e que usa bem o hardware que você tem disponível.

Conforme observado, nem tudo é perfeito e houveram alguns comportamentos meio estranhos no funcionamento do Ray Tracing e de tecnologias como o DLSS durante os testes antecipados. No entanto, esses são bugs que têm grandes chances de já terem sido corrigidos no momento em que você está lendo esta review.

Talvez a única grande ressalva ao jogo no momento seja seu preço de R$ 249,00, que não é exatamente igual ao de outros grandes lançamentos, mas poderia ser menor dada a idade um tanto avançada do game. Não se engane:  Returnal tem qualidade suficiente para valer esse investimento, mas, caso as contas estejam apertadas ou você tenha outras prioridades, pode ser uma boa ideia esperar um pouquinho para adquirir o game em alguma promoção.

Veredito

Returnal
Returnal

Sistema: PC

Desenvolvedor: Climax Studios

Jogadores: 1

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88 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Muitas opções de configuração para adaptar o jogo a seu hardware
  • Uma boa adaptação para controles por mouse e teclado
  • Desempenho consistente em todos os cenários
  • Abertura dos PCs pode resultar nos lançamentos de mods com novos desafios
Desvantagens
  • Requisitos mínimos não são exatamente muito baixos
  • Alguns problemas de stuttering quando o Ray Tracing é ligado
  • Tecnologias de upscale estavam funcionando de forma estranha
Felipe Gugelmin
Felipe Gugelmin
Jornalista
Publicações: 19
Jogando agora: Final Fantasy VII Rebirth
Dedicado à PC Master Race desde 2012, ainda dedica um espaço quentinho no coração ao PlayStation e a qualquer console portátil.