Heidelberg 1693: vale a pena?
Experiência 2D de terror e plataforma, título satisfaz com sua simplicidade e aspectos técnicos perturbadores
Se Blasphemous tivesse um filho, com certeza seria Heidelberg 1693. Game de plataforma em pixel-art e rolagem lateral criado pela Andrade Games (mas portado para consoles pela Red Art Games), o título reúne elementos de clássicos do gênero e os mistura com o terror gráfico, resultando em uma obra capaz de perturbar até mesmo os mais calejados.
Longe do nosso tempo, o jogo resgata momentos verídicos da história europeia e os transforma em pesadelos para chocar a partir da violência. Se é metáfora ou não… se há referências aos filmes trash ou não… Bom, podemos nunca descobrir por meio dos desenvolvedores, mas a resposta está bem clara e não engana nem os mais céticos.
Heidelberg 1693: uma jornada ao inferno
A cidade alemã de Heidelberg se transforma em um parque de diversões para criaturas monstruosas, e vários seres malditos tomam conta das ruas. Enforcamentos, mutilações, decapitações… Tais eventos viram a própria paisagem do vilarejo e enlouquecem os sobreviventes que ainda buscam confrontar as hordas.
Sob o comando de um desesperado rei Luís XIV, um de seus icônicos mosqueteiros parte da França para a região, apenas para descobrir que os rumores não eram falsos. Sozinho em uma guerra sem qualquer esperança de vitória, ele deve passar por todo tipo de destruição para evitar um caos ainda maior.
Heidelberg 1693 é um “Hotel Inferno” dos videogames. O título consiste em um showcase apavorante onde cada elemento técnico incomoda. Essa ideia, além de ser super funcional, destaca a imersão em uma experiência relativamente simples, onde é preciso apenas sair de ponto A e chegar em ponto B.
Com uma trilha sonora de rasgar os tímpanos e uma mixagem de som de quem parece saber muito sobre pesadelos, o título é capaz de gerar indigestões. Além da brutalidade por si só, tudo na cidade amaldiçoada parece errado e absolutamente há uma sensação forte de perda de controle. Mas não há como desistir dessa peça teatral perturbadora.
Inspirações para o design dos vários tipos de monstros vão desde o horror cósmico de Lovecraft até o terror de efeitos práticos de Cronenberg. A arte de fundo, com pessoas sendo torturadas e jorrando rios de sangue, resgata o show visual e avermelhado dos “Giallo” italianos, combinando esse conceito com os de animes ultraviolentos da década de 1980. Se você pensou em “Devilman”, acertou.
No game, um dos destaques vai para a forma que a história é contada. Ela faz referência aos filmes mudos e ocorre por meio de animações em papeis de parede dinâmicos. Para cada cena há uma interrupção e, posteriormente, um salto para um trecho de fala. Isso pode ser lento e tirar o ritmo do jogo, mas não chega a incomodar verdadeiramente.
Gameplay: onde jaz o problema
A intenção era falar bastante de Heidelberg 1693, porém não há muito o que comentar quando partimos para a jogabilidade. Basicamente, o game exige uma caminhada de A para B — em linha reta e do início ao fim da fase —, com raras ocasiões de backtracking após coletar chaves de portas trancadas.
O mosqueteiro é bastante limitado, sendo capaz apenas de saltar, realizar um salto duplo com ataque (automático) e atacar com uma rapieira de esgrimista. Como ocorre em Castlevania, também é possível coletar sub-weapons (machados, escudos, bombas e mais), mas elas não possuem muita eficácia.
Dito isso, se não fosse a mecânica de tiro de mosquete, com carregamento de munição e mira por meio do analógico, a jogabilidade seria pouquíssimo atrativa. E se aliado à ausência de qualquer evolução de personagem — atributos e habilidades —, essa questão pode fazer os fãs enjoarem rapidamente.
Níveis de dificuldade superiores podem ser desbloqueados após a conclusão do game, mas não são tão “cabulosos” quanto o normal. Além disso, dependendo de algumas escolhas de caminhos realizadas durante a campanha, é possível desbloquear finais alternativos. Esse, de fato, seria o fator replay, mas a um alto custo.
Felizmente, jogadores menos casuais podem derrotar o game em até 1h30h. Esse tempo de rushar ainda assim é bem relativo, já que inclui mortes, retornos, busca por recursos limitados e uma exploração adicional já estão inseridas nos 90 minutos.
Enquanto isso, as batalhas contra chefes realmente são estratégicas e podem ser consideradas o magnum opus do projeto. Cada vilão final das 20 fases tem um design muito particular, bem como habilidades que requerem agilidade e timing para escapar. Apesar disso, as lutas acabam rapidamente.
Heidelberg 1693: vale a pena?
Heidelberg 1693 é um game de terror e ação em plataforma que com certeza agradará fãs dos “castlevania”, “contravania” e metroidvania. Assim como Blashphemous, ele possui uma pegada bem pesada que chama a atenção pela originalidade, especialmente quando se repara os detalhes gráficos.
A estranheza e os incômodos são contextuais, então não dá para destacar como efeitos adversos. Porém, quando partimos para o gameplay, chega-se a um ponto crucial onde as limitações e ausência de conteúdos impactam significativamente a experiência geral. Isso atrapalhará quem procura evolução e sistemas mais aprofundados.
Heidelberg 1693 será lançado em 18 de novembro para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series e Nintendo Switch. O título já pode ser adicionado na Lista de Desejos da PS Store.
Veredito
Heidelberg 1693
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Red Art Games
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Desafios acessíveis
- Objetividade da campanha
- Atmosfera perturbadora funcional
- Estilo artístico único e bem detalhado
Desvantagens
- Ausência de conteúdos
- Evolução do personagem é nula
- Informações desnecessárias na tela
- Gameplay pouco atrativo e limitado