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Digimon Survive: vale a pena?

Emocionante e equilibrado, o game mistura propostas para entregar algo para todos os públicos, mas com ressalvas

por André Custodio
Digimon Survive: vale a pena?

Após três anos de espera e muitos adiamentos, Digimon Survive já está disponível para PS4. A nova experiência da franquia, agora apresentada sob perspectivas inéditas de personagens, contextos e sistemas, combina inúmeros elementos de gameplay em uma verdadeira salada de frutas, mas deixa pedaços pelo caminho a cada passo dado.

E quando se fala em “pedaço” deixado, é um pedaço mesmo, não apenas um fragmento. Isso porque os saltos de identidade desenvolvidos pela HYDE são muito grandes. Não entendeu? Bom, constantemente o game muda sua dificuldade, atmosfera, estilo e até mesmo detalhes visuais, como um adolescente ainda incerto sobre o que quer.

E talvez essa falta de vontade, a falta de um conceito próprio, seja o maior pecado de um game muito promissor, relativamente divertido e cheio de referências. Pois é um problema que, cedo ou tarde, passa a impactar diversas outras questões no game, incluindo o desejo de continuar atento à história e a decisão de ir saltando diálogos e cenas.

imagem de digimon survive
Fonte: André Custodio

Muitas críticas e poucos pontos positivos? Não mesmo. No jogo, as vantagens são muito especiais principalmente para os fãs da franquia. E vale a pena mencionar: Digimon Survive é o título “mais Digimon” já lançado em toda a história da série nos games.

Os digiescolhidos estão de volta ao mundo “digital”

Em 2020, uma série de eventos toma conta de uma cidade no Japão. Deslizamentos aparecem nos jornais e preocupam os moradores, especialmente após os primeiros relatos de desaparecimento. Curiosos, um grupo de jovens decide investigar por conta própria e tentar fazer algo para resgatar amigos de sua escola supostamente afetados pelas tragédias.

Após conversarem com pessoas mais experientes, Takuma Momozuka e seus amigos são levados até um misterioso santuário, onde lendas mais antigas relacionam o local sagrado com a existência dos “Kemonogami“, seres que eram adorados e realizavam sacrifícios de crianças para não invadir realidades paralelas.

imagem de digimon survive
Fonte: André Custodio

Assustados com a ideia, mas curiosos, os adolescentes deixam seu acampamento de Estudos Históricos quando são repentinamente absorvidos por um portal. Agora, transportados para uma realidade diferente, eles devem encontrar o caminho de volta para casa, ao mesmo tempo que tornam-se predestinados para exterminar uma grande ameaça existente no reino.

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Fonte: André Custodio

Felizmente, Takuma, Aoi, Minoru, Ryou, Saki, Shuuji, Kaito e Miu terão ao seu lado companheiros inestimáveis e decididos a protegê-los. Agumon, Labramon, Falcomon e Floramon são apenas alguns nomes lembrados pela HYDE, ao lado de muitos outros em estágios de novato e de evoluções absurdas, reveladas em pontos-chave da campanha.

Diálogos, diálogos e diálogos… mas temos uma história

Digimon Survive revoluciona a franquia de jogos em todos os aspectos, mas tem o modelo narrativo como maior destaque. Assim como nas séries Steins;Gate, Psycho-Pass e Danganronpa, o game é quase inteiramente composto por um sistema de visual novel, que se combina com mecânicas de RPG e dinâmicas de batalha em RTS.

Porém, os momentos de intercalação dos sistemas são desproporcionais. Em uma balança grosseira, podemos pesar o visual novel como cerca de 80% do gameplay, enquanto o gerenciamento de RPG fica com uns 5% e o combate tático manteria os 15% restantes. O resultado disso claramente é um certo estranhamento, principalmente por conta dos fãs mais antigos.

imagem de digimon survive
Fonte: André Custodio

Por vezes, o jogo se torna muito cansativo, especialmente quando a história se aproveita dos momentos de “Ação Livre” e exploração. Nessas horas, os jogadores devem saltar entre salas de “dungeons” para investigar e conversar com outros amigos da equipe. Porém, muito tempo acaba sendo gasto com superficialidades para se obter itens, Karma e Afinidade.

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Fonte: André Custodio

Nesse caso, a história força os jogadores a investirem ainda mais em conversas, pois as três mecânicas fundamentais do gameplay são baseadas nas respostas dadas aos amigos. Porém, os momentos de “fuga” são raros e, na grande maioria das vezes, manter contato com outros personagens é o suficiente para conhecer mais sobre a mitologia dos digimon.

Karma e Afinidade: é assim que se evolui

Os elementos de Karma e Afinidade são as principais funcionalidades utilizadas pelo sistema para evoluir digimon. Infelizmente eles são pouco explorados pelo game e podem ser de difícil entendimento, tanto por não haver um tutorial prático sobre suas consequências na campanha quanto por não manterem qualquer tipo de padrão durante as escolhas.

Para jogadores mais hardcores e que buscam seu próprio estilo de jogatina, isso é até vantajoso. Em uma primeira run, esses segredos serem ofuscados pelo sistema de visual novel realmente favorecem uma campanha mais imprevisível. Isso é essencial principalmente até a Parte 7 do game, devido a ausência de dificuldade, mesmo no nível “Hard”.

imagem de digimon survive
Fonte: André Custodio

O Karma é acionado a partir de escolhas individuais, em conjunto com outro personagem ou em equipe. Ele está vinculado a três opções de diálogo, onde o da direita é o “Harmônico”, o de cima é o “Cólera” e o da esquerda é o “Moral”. Essas decisões determinarão não apenas um dos três finais do jogo, mas também o nível de amizade com os digimon, já que cada uma delas pode facilitar ou dificultar o recrutamento de criaturas durante as batalhas.

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Fonte: André Custodio

“Harmônico” favorece evoluções e recrutamento de digimons “Data”, caracterizados pelo alto nível de suporte nas lutas. “Cólera” permite amizade e crescimento de monstros do tipo “Virus”, com alto poder de ataque e propriedades “Tanque”. Por fim, o “Moral” está relacionado a seres do tipo “Vaccine”, onde os integrantes são balanceados.

Já a Afinidade é diferente. Ela é um medidor de amizade com outros membros da equipe de digiescolhidos. Quanto maior o nível do “coração”, mais os digimon de cada personagem evoluirão. Por exemplo, para atingir o nível “Mega” com cada uma das criaturas, é preciso ter uma Afinidade de no mínimo 70 pontos com seus donos.

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Fonte: André Custodio

Esses sistemas são constantemente explorados e determinam todas as consequências da campanha. Ter companheiros com altas evoluções facilita bastante as lutas e permite o acesso a novos tipos de criaturas. Como a dificuldade do jogo vai de 8 para 80 após a Parte 7 — com um confronto épico, inclusive — tirar umas horas para melhorar Karma e Afinidade é essencial.

O RPG existe? E o tático?

Respondendo a primeira pergunta: sim, o RPG existe. A progressão em Digimon Survive realmente passa a sensação de melhoria. Ao fim das batalhas, todos os digimons — vivos ou mortos — ganham experiência e aprimoram HP, SP (medidor de poder especial), defesa, resistência e mais.

Além disso, os itens e acessórios têm papel fundamental no game. Itens podem ser usados uma única vez nas batalhas para recuperar vida, curar efeitos adversos e mais, enquanto há outros recursos especiais que impulsionam permanentemente alguns atributos das criaturas. Enquanto isso, há como aproveitar acessórios no menu principal, que contribuem com novos poderes.

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Fonte: André Custodio

A party é formada por até seis digimon e vale a pena entender como eles se ajudam em batalha. No game, é importante sempre manter a equipe unida, pois alguns membros fornecem recuperação contínua de HP e SP para quem estiver perto. Além disso, existem ataques combinados que causam danos colossais caso haja um cerco contra o inimigo.

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Fonte: André Custodio

Outra novidade fica por conta do sistema de captura. Essa mecânica é similar às dos jogos de Pokémon, mas é realizada a partir de uma conversa em Batalhas Livres ou encontros aleatórios. Para fazer amigos, basta responder três perguntas corretamente após selecionar a opção de “Falar”. Caso você acerte, há uma chance — em porcentagem — do inimigo aceitar ser seu amigo.

Porém, em relação ao sistema tático, Digimon Survive decepciona. Não espere nem de longe algo do mesmo QI de XCOM, por exemplo. No jogo da Bandai Namco, as batalhas não exigem muita inteligência e basta ir para cima dos adversários com tudo; sem estratégia nem nada. Você levará pouco dano, mas mesmo assim vencerá com facilidade.

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Fonte: André Custodio

Infelizmente, essa falta de carinho com o sistema é prejudicial, pois o confronto é a hora onde os jogadores desafogam do cansaço oferecido pelos diálogos em visual novel. Cada digimon tem seu próprio estilo — combate à distância ou corpo a corpo —, propriedades, mobilidade e mais, mas tanto a limitação no número de criaturas (pouco menos de 120) quanto a ausência de um gameplay mais robusto prejudicam a experiência geral.

Carisma nativo da série

Digimon Survive é um game bastante carismático e atrativo por seus elementos técnicos e de design. Apesar da história ser uma trama sombria e, muitas vezes, até mesmo de terror, o game possui seus elementos chamativos de produção, como a personalidade volátil e agradável dos personagens, uma qualidade artística excelente e cenas muito emocionantes.

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Fonte: André Custodio

Na campanha, é possível observar como os heróis mudam de acordo com as circunstâncias. A partir disso, é preciso interagir com eles levando em conta a nova situação. Apoiar no momento certo, brigar, ficar em silêncio, tomar decisões de liderança e até mesmo assumir o medo; tudo pode favorecer o Karma e alterar as dinâmicas de equipe.

Além disso, a produção de arte e técnica em geral é bastante agradável. O game conta com uma trilha sonora excelente, design dos personagens e das criaturas muito bem feito — tanto no combate quanto nas cenas de animação — e uma dublagem impecável. Digimon Survive também está 100% legendado em português, incluindo menus e outros sistemas.

Digimon Survive: vale a pena?

Digimon Survive é uma contradição no mundo dos games. Fãs da série gostarão do game, especialmente com seus conceitos maduros (terror e suspense), mas o modelo cansativo do visual novel pode prejudicar a experiência.

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Fonte: André Custodio

Seu gameplay baseado em batalhas táticas decepciona entusiastas do gênero, porém ele é facilmente resolvido após umas boas horas de jogatina. Dessa forma, vale a pena se você estiver buscando uma revitalizada na série, tanto em relação aos clichês tradicionais da animação quanto em relação aos RPGs massivos de exploração.

Na PS Store, o game pode ser comprado por R$ 299 — um valor alto por um título relativamente simples e sem grandes novidades. Porém, com duração de quase 40h em uma primeira campanha (e mais de 100 para platinadores), a aposta da Bandai Namco tem de tudo para ser vista e revista.

Veredito

Digimon Survive
Digimon Survive

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: HYDE

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
70 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Produção de arte chamativa
  • História profunda e com grandes reviravoltas
  • Personagens muito carismáticos
  • Mecânicas variadas dos digimon
  • Sistema de progressão e evolução estimulante
  • Decisões impactam a todo instante
Desvantagens
  • Sistema de combate tático muito simplista
  • Limitação decepcionante na quantidade de digimon
  • Ausência de identidade conceitual
  • Ritmo lento e cansativo
André Custodio
André Custodio
Redator
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Jogando agora: Diablo IV, Sprawl, Trombone
Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.