Days Gone Remastered: vale a pena?
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Days Gone Remastered: vale a pena?

Days Gone Remastered melhora iluminação, fluidez, texturas e traz recursos do DualSense, mas surge mais como aceno aos fãs do que decisão pensada

por Daniel dos Reis

Eu sou, sem medo de dizer para quem quer que seja, um fã declarado de Days Gone. Um daqueles que atravessou o mapa de ponta a ponta, limpou cada acampamento, perseguiu cada caçada e eliminou cada uma das hordas espalhadas pelo mundo. Foram mais de 100 horas de gameplay no jogo original. E não foi por obrigação, foi por amor.

Amor por aquele mundo sujo, decadente, cruel e, ao mesmo tempo, estranhamente bonito. Amor por Deacon St. John, um personagem que carrega nas costas não só a sua jaqueta surrada de motoqueiro, mas também toneladas de traumas, cicatrizes e esperança em um mundo que não dá trégua.

Por isso, quando Days Gone Remastered foi anunciado, recebi a notícia com misto de ansiedade e desconfiança. Parte de mim vibrou. Parte de mim só conseguia pensar: “Sério? É isso? Um remaster?”.

A pergunta que fica é simples: esse remaster faz sentido? E tecnicamente, o que ele entrega?

Iluminação e ambientação: o maior salto

O avanço mais relevante está, sem dúvida, na iluminação.

O jogo original tinha um problema sério: noites estranhamente claras. Isso quebrava um pouco a imersão. Em vez de gerar tensão, criava uma sensação quase confortável em um mundo que deveria ser opressor.

No remaster, isso muda drasticamente. As noites são densas, escuras e perigosas, obrigando o jogador a repensar deslocamentos e combates. A luz da moto e da lanterna agora têm função real, não são meros efeitos visuais.

Isso é fruto da adoção de uma técnica de iluminação que simula de forma mais realista como a luz se espalha e rebate nos ambientes. Antes, o jogo usava uma iluminação muito mais simples, com menos profundidade, principalmente em interiores e florestas.

Days Gone Remastered Noite

O céu também foi retrabalhado com dispersão atmosférica espectral em bandas. Na prática, isso significa que a forma como a luz atravessa partículas do ar, nuvens e nevoeiros ficou muito mais realista. As cores mudam dependendo das condições climáticas e do horário. Aquele tom azul frio em dias nublados ou o pôr do sol dourado agora são visivelmente mais naturais.

As sombras estão com o dobro de resolução, o que reduz bastante o efeito serrilhado nas bordas dos objetos. Porém, aqui existe um pequeno efeito colateral: certos objetos, como grades, acabam projetando sombras que parecem mais densas ou mais nítidas do que o natural. É uma consequência técnica da priorização de nitidez sobre suavidade.

A modelagem dos personagens e cenários permanece inalterada. Nenhum asset foi recriado. Isso significa que a geometria, os detalhes tridimensionais e a densidade de polígonos são exatamente os mesmos de 2019.

Porém, as texturas estão com resolução mais alta. Isso é possível graças à melhora no streaming de texturas, que agora aproveita melhor a memória RAM e o SSD do PS5. O resultado são superfícies mais limpas, menos borradas e mais detalhadas, especialmente em objetos próximos.

Days Gone Remastered Personagens

As reflexões foram aprimoradas. Esse recurso gera reflexos com base no que está visível na tela. Funciona bem na maior parte do tempo, mas gera bugs, como reflexos sumindo se saírem do campo de visão da câmera, além de alguns problemas em poças d’água, que às vezes refletem objetos de forma imprecisa.

Uma pequena adição estética, mas bem-vinda, é a inclusão de uma lanterna física no modelo do personagem, que antes não existia, apesar da função já estar no gameplay.

Resolução e performance: o ponto crítico

Aqui mora uma das decisões mais esquisitas do remaster.

No PS5 padrão, o modo performance roda em 1440p nativo a 60fps, enquanto o modo qualidade entrega 4K nativo a 30fps.

O problema é que a versão de PS4 rodando via retrocompatibilidade no PS5 usava checkerboard 4K a 60fps, uma técnica que gera uma imagem um pouquinho mais nítida, mesmo que com alguns artefatos.

Resultado: o remaster no PS5 base parece perder em nitidez no modo performance em relação à retrocompatibilidade do PS4. É um retrocesso na clareza da imagem, mesmo que os ganhos em iluminação e estabilidade de framerate compensem parcialmente.

Days Gone Remastered Mundo Aberto

No PS5 Pro, a situação melhora. O modo performance sobe para 1800p, o modo aprimorado usa 1584p com PSSR (o upscaling baseado em inteligência artificial da Sony), e o modo qualidade roda em 2880p (5K) com downscaled para 4K.

PSSR entrega resultados decentes. A imagem fica mais limpa que o 1440p, mas ainda levemente suave em movimento, especialmente em vegetação e objetos distantes.

O ganho real está na fluidez. O jogo roda muito mais estável. Combates contra hordas, que no PS4 derrubavam o framerate agora mantêm 60fps na maior parte do tempo, com raríssimos drops.

Os tempos de carregamento também melhoraram. Saem os loadings de mais de 40 segundos e entram telas que raramente passam de 15 segundos.

Modos extras: bons acréscimos, mas nada revolucionário

O remaster traz alguns modos adicionais que ajudam a expandir a vida útil do jogo, mas sem reinventar a experiência base.

  • Morte Permanente: como o nome sugere, morreu, volta tudo. Um modo pensado para quem quer testar os próprios nervos e exige uma abordagem muito mais cuidadosa. Cada decisão importa, cada erro é fatal.
  • Speedrun: adapta a campanha para quem gosta de otimizar trajetos, encontrar atalhos e bater recordes. Funciona bem, especialmente para quem já conhece o mapa de olhos fechados.
  • Assalto de Hordas: o mais divertido e, honestamente, o mais relevante dos novos modos. Uma experiência arcade onde você enfrenta hordas em sequência, com desafios progressivos, modificadores de dificuldade e recompensas cosméticas. É direto ao ponto e captura a melhor parte do gameplay de Days Gone, que sempre foi o combate contra hordas.

Days Gone Remastered Hordas

O Photo Mode também foi aprimorado, com mais opções de iluminação, controle de profundidade, time of day, poses e ângulos. É aquele tipo de recurso que, se você curte, vai usar. Se não liga, vai passar batido.

Além dos modos extras, o remaster finalmente explora os recursos do DualSense, e aqui, sim, há ganhos na imersão. O feedback tátil replica a vibração da moto em diferentes terrenos, como lama, asfalto e cascalho. A resistência dos gatilhos varia conforme a arma utilizada, tornando cada disparo mais pesado ou leve, dependendo do calibre.

As frenagens da moto, a pressão do acelerador e até mesmo condições climáticas como chuva e tempestades são transmitidas pelas vibrações e ruídos no controle. A tempestade não acontece só na tela. Ela acontece nas suas mãos.

O áudio 3D complementa isso, posicionando com precisão os grunhidos dos Freakers, os uivos dos lobos ou o ronco distante de uma horda que você ainda nem avistou — mas já percebe que está vindo.

São incrementos que, embora não transformem o jogo, tornam a experiência sensorial muito mais envolvente.

Days Gone Remastered: vale a pena?

O problema não é Days Gone Remastered. Ele cumpre o que promete. É o jogo na sua melhor versão, tecnicamente superior, mais bonito, mais fluido e mais estável.

O problema é por que ele existe.

Essa remasterização é sintoma de uma Sony que, nos últimos anos, se perdeu nas próprias decisões. Uma empresa que preferiu apostar milhões em projetos de live service que fracassaram ou foram cancelados, em vez de investir em algo que os próprios fãs pediam há anos: Days Gone 2.

A ironia é cruel. Enquanto desperdiçaram recursos em tentativas falhas de capturar uma fatia do mercado multiplayer, deixaram de lado uma franquia que tinha base de fãs, boas vendas e espaço claro para crescimento.

O remaster parece mais um gesto simbólico. Uma forma de dizer “a gente não esqueceu de vocês”, quando, na prática, a decisão de esquecer já tinha sido tomada há muito tempo.

Se você nunca jogou Days Gone, este remaster é super recomendado. É o jogo no seu melhor estado, mais bonito, mais fluido e mais estável do que nunca.

Se você é fã, como eu, o upgrade é justo pelo preço cobrado. Mas fica a sensação amarga de que essa versão existe não porque a Sony acredita em Days Gone, mas porque ela não sabe exatamente no que acredita nesse momento.

No fim das contas, o maior perigo desse mundo não são as hordas de Freakers. São as próprias decisões corporativas.

Veredito

Days Gone Remastered
Days Gone Remastered

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Bend Studio

Jogadores: 1 Jogador

Comprar com Desconto
80 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Iluminação muito mais realista, especialmente à noite, aumentando a imersão
  • Texturas refinadas, sombras de maior resolução e melhor ambientação
  • Performance sólida a 60fps, mesmo contra hordas gigantes
  • Carregamentos bem mais rápidos graças ao SSD
  • Boa implementação dos recursos do DualSense, com feedback tátil e gatilhos adaptáveis
  • Modo Assalto de Hordas é divertido e o melhor dos extras
Desvantagens
  • Ausência de melhorias na IA
  • Preço da versão remasterizada completa poderia ser menor
Daniel dos Reis
Daniel dos Reis
CEO
Publicações: 7.469
Jogando agora: Forza Horizon 5
CEO do MeuPlayStation, apaixonado por games, empreendedorismo e tudo que envolve o universo PlayStation. Acredito na força da comunidade e na sorte de trabalhar todos os dias com aquilo que faz sentido.