Review

Born of Bread: vale a pena?

Carismático e com belos visuais, Born of Bread sacrifica elementos cruciais para apostar alto em uma personalidade "fofinha"

por André Custodio
Born of Bread: vale a pena?

A ficção costuma trazer heróis improváveis de tempos em tempos. Enquanto todos os outros guerreiros estão ocupados, outros podem surgir de forma surpreendente. Mas se algum deles nascesse do pão, será que a humanidade confiaria?

Born of Bread revela que os personagens capazes de mudar o curso do planeta podem vir de qualquer lugar — incluindo de um forno. A aventura mágica do pequeno Loaf esbanja carisma e chama a atenção por uma série de reviravoltas, mas fica distante de ser uma jornada de heroísmo memorável.

Infelizmente, parece que o golem de pão não nasceu para ser eternizado…

Alguma alma corajosa precisa salvar o reino

Enquanto explorava uma tumba antiga, um grupo de arqueólogos desperta um terrível mal. Liderados por Jester, os demônios partem para uma nova realidade à procura de misteriosos cristais solares, até descobrirem que um dos artefatos estaria no castelo real.

No local, o padeiro Papa Baker é instruído pela rainha a preparar um verdadeiro banquete. No processo, ele joga os ingredientes no forno na tentativa de produzir a massa mais saborosa de todas. Até que algo dá muito errado — ou seria certo? — e Loaf, um pão mágico, nasce das altas temperaturas.

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Fonte: André Custodio

Encantado com o pequeno golem, Papa Baker decide adotá-lo como filho. Porém, sua primeira provação estava a acontecer: Jester e seus irmãos atacam o castelo. Loaf, a única resistência, pega uma frigideira e enfrenta os demônios, mas acaba derrotado e enviado para uma floresta distante.

Agora, cabe ao herói reunir um grupo de amigos para salvar o reino, investigando a história dos cristais solares e entendendo como os vilões pretendem reunir as peças para concluir um ritual maligno.

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Fonte: André Custodio

Born of Bread é um game relaxante, com uma história que exige pouco processamento e apresentada de forma muito simples. Dessa forma, os jogadores podem aguardar algumas reviravoltas, mas nada capaz de sair de uma “zona de conforto” ou de desenvolver bem algumas subtramas.

Tanto Loaf quanto os membros da equipe são pouco interessantes. Suas histórias são rapidamente mostradas e se perdem na grande quantidade de informações espalhada pelo mundo, que se divide em cinco mapas principais e dotados de particularidades.

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Fonte: André Custodio

Ao longo da aventura, Born of Bread terá florestas, tumbas, cidades, esgotos, minas e praias. E aqui vale a pena mencionar um ponto positivo: os cenários conversam bem com a narrativa. Além disso, eles são bem interligados e, mesmo com grandes mudanças climáticas, conseguem convencer.

O grande destaque do game fica por conta dos visuais. O estilo tipo Paper Mario é muito agradável, e as expressões faciais, modelos de personagens, movimentações de NPCs, monstros e outros elementos chamam a atenção a cada missão concluída.

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Fonte: André Custodio

O título também traz muitas missões secundárias, eventos em tempo real, minigames e conteúdos que ocupam os jogadores durante a campanha principal. Infelizmente, a forma como são atualizadas no menu principal não são nem um pouco intuitivas.

Por não ser localizado em PT-BR, Born of Bread pode facilmente fazer os fãs se perderem. Muitos diálogos, gírias, expressões adaptadas e outras linhas de fala se tornam de difícil compreensão para o público brasileiro. É muito difícil avançar nas missões se não entender o mínimo de idioma estrangeiro.

Uma aventura sem muita essência

Born of Bread se “vende” como um RPG de aventura, contendo muitos elementos de exploração e combate baseado em turnos. As lutas funcionam bem e tem controles adaptados, com cada arma e habilidade especial sendo baseada em quick-time events para causar o máximo de dano.

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Fonte: André Custodio

Além disso, o game possui um sistema de streaming interno. Cada luta é “transmitida” para um público, que aumenta quanto maior for o nível da equipe. Os espectadores também oferecem drops, caso seus pedidos — usar item, usar especial, defender e outras ações — sejam atendidos.

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Fonte: André Custodio

Loaf pode coletar modificadores ao redor do mundo, destravar novos poderes e adquirir armas poderosas através da exploração e da conclusão de missões. Infelizmente, o sistema de progressão não é bom. Realmente a recompensa por evoluir é quase nula.

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Fonte: André Custodio

Aumentar de nível garante mais HP, mais WP (mana) e mais RP (para usar movimentos especiais). Porém, não há como aumentar os atributos de dano base ou de defesa de forma orgânica. Dessa forma, fica a sensação de que algo não progride.

Com todos esses problemas, Born of Bread é mais uma aventura que um RPG. Salvo um sistema de personalização — tintura de roupas — e a aquisição de armas, os outros recursos são pouco eficientes, tornando a experiência como um todo bastante entediante.

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Fonte: André Custodio

Sérios problemas de intuitividade

Sugerido como um RPG, Born of Bread sofre com problemas de intuitividade que prejudicam consideravelmente seu conceito. Na party, apenas dois personagens podem ser controlados. E além deles terem movesets distintos na luta, eles também podem explorar o mundo semiaberto de forma única.

Por exemplo, Lint é capaz de escavar pequenos montes de terra e encontrar tesouros. Enquanto Yagi, o artista marcial, identifica plataformas invisíveis e as conjura no plano real.

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Fonte: André Custodio

Aqui, vemos uma falha grave. Como o mundo é repleto de segredos, atalhos e passagens secretas, é necessário trocar constantemente os personagens. Isso só é possível através do menu de pausa — e mesmo lá não é nem um pouco simples.

Born of Bread possui menus extremamente confusos. Informações sobre a acessibilidade não são destacadas para os jogadores, e é comum descobrir alguma função apenas horas após o gameplay e de forma totalmente aleatória. Por razões óbvias, a não-localização em PT-BR também prejudica.

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Fonte: André Custodio

A aventura também inclui um sistema de cartas ineficaz, um recurso de moedas in-game que pode ser completamente dispensado e uma grande ausência de dificuldade. Como não há seleção, o game se torna bastante fácil, especialmente se upar apenas a quantidade de WP.

Por falar em problemas, vale a pena mencionar algumas outras falhas gerais. A visão do game é fixa e os analógicos não ajudam durante o espaçamento da câmera. Assim, se você deixar o dano ambiental ativo, terá uma experiência extremamente frustrante envolvendo o level design.

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Fonte: André Custodio

Born of Bread também traz falhas de áudio — mutando alguns sons do ambiente —, no rastreamento de troféus e na IA da equipe fora do combate. Algumas questões pontuais de FPS podem ser reparadas, mas nada que impacte de forma significativa.

Born of Bread: vale a pena?

Born of Bread é uma aventura visualmente agradável e carismática, que certamente poderia satisfazer o público menos exigente. Apesar disso, o título tropeça em aspectos técnicos, especialmente em relação ao level design, e se mantém como um projeto pouco recompensador.

Além disso, jogadores do Brasil devem se incomodar bastante com a ausência de localização em PT-BR. Isso porque o título possui muitos diálogos, escolhas e missões principais e paralelas muitas vezes pouco claras. Dessa forma, é recomendado comprar o game apenas em uma promoção.

Na PS Store, Born of Bread custa R$ 159,90, e mesmo as dezenas de horas de conteúdos não justificam desembolsar esse valor. Vale lembrar que o game é promissor, mas ainda precisa de muito para chegar ao patamar de um indie memorável.

O título está disponível para PS5, Xbox Series, Nintendo Switch e PC.

Veredito

Born of Bread
Born of Bread

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Dear Villagers

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
65 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Bela arte visual de cenários e de personagens
  • Sistemas de combate simplificados
  • Mundo grande e com muitos segredos
Desvantagens
  • Problemas de level design
  • Falhas técnicas no áudio e na IA da party
  • Ausência de localização em PTBR pode ser muito prejudicial
  • História pouco profunda e sem graça
  • Menus extremamente confusos
  • Troca de personagens pouco intuitiva
  • Sistema de progressão muito fraco
André Custodio
André Custodio
Redator
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Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.