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Tudo que você precisa — e não precisa — saber para jogar online

Você já se conecta pelo cabo e busca o menor ping para jogar. Será que isso basta?

por João Gabriel Nogueira
Tudo que você precisa — e não precisa — saber para jogar online

Entre jogos completamente gratuitos ou modos expandidos em games pagos, jogar online certamente é uma das principais forças motrizes da indústria dos games atualmente. Podendo ser seu principal jeito de jogar ou apenas algumas tentativas ocasionais, quase todo gamer experimenta o multiplayer online.

Mas você sabe quais fatores realmente impactam na sua experiência de jogar pela internet? O que você pode fazer para melhorar a estabilidade e velocidade da sua conexão para jogar no multiplayer? Vamos explicar as principais respostas para essas perguntas neste artigo.

O que é necessário para jogar online?

Vamos começar com algo que pode parecer óbvio para muitos jogadores, mas que ainda tem muita gente que não sabe todos os fatores envolvidos – o que impacta na sua jogatina conectado?

Para jogar online você precisa, obviamente, se conectar à internet. No caso do PS5 você pode fazer isso pelo Wi-Fi ou diretamente pelo cabo, enquanto no caso de computadores varia – alguns contam com placa para conexão sem fio enquanto outros exigem o cabo.

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O PlayStation 5 aceita internet por cabo ou wi-fi.

Com seu console ou computador conectado, você acessa o multiplayer do jogo que pretende jogar, o que pode funcionar de diferentes maneiras. Jogos grandes costumam ter servidores próprios, enquanto jogos pequenos muitas vezes “alugam” de outros. Existem também casos em que o jogo faz uma conexão peer-to-peer (P2P) em que as máquinas se conectam diretamente entre si. Cada caso será explicado em detalhe mais adiante, então não se preocupe.

Para este trecho, o mais interessante a entender é que, quando você joga online, esses são os fatores envolvidos, desde o provedor até seu controle:

  1. Internet contratada – inclui velocidade e estabilidade da conexão, além da qualidade dos equipamentos
  2. Conexão entre roteador e console ou PC – se for pelo Wi-Fi vai impactar a distância, localização e qualidade do roteador, se for pelo cabo vai impactar a qualidade do cabo
  3. Qualidade do modem do seu console ou PC
  4. Estabilidade dos servidores da PSN (no caso do PlayStation) e dos servidores do jogo em si
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Roteador é uma das principais peças da infraestrutura.

Como podemos ver, existem muitas variáveis que podem impactar na sua jogatina online e, infelizmente, nem todas elas podem ser controladas pelas suas ações pessoais. Para dar um sentido prático a este artigo, vamos focar especialmente nas partes em que você pode fazer alguma coisa para melhorar ou corrigir sua experiência de jogar pela internet.

Internet e seus equipamentos

O primeiro impulso da maioria dos jogadores quando as partidas online engasgam é querer aumentar a velocidade de seu plano de internet contratado. É evidente que a velocidade da sua conexão é um fator importante para jogar online com qualidade, mas está longe de ser o único. Na verdade, a partir de uma determinada quantidade de megabits por segundo, pouco vai adiantar tentar contratar mais ainda se as coisas não estiverem funcionando bem.

Fabricantes de consoles recomendam, em geral, uma conexão com taxas de download médias que fiquem em um mínimo de 3 mbps, um número pequeno para a maioria dos planos de banda larga atuais. Levando-se em conta que a maioria das residências não tem apenas uma pessoa usando a internet, existe um consenso médio que aponta uma taxa mínima entre 20 e 25 mbps como o ideal para jogar com tranquilidade.

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Isso significa que, se a sua conexão promete velocidades até maiores do que essas e você está enfrentando problemas, eles devem vir de outros fatores, não da velocidade.

A estabilidade geral da conexão é tão importante quanto sua rapidez. Ou seja, os pacotes de dados sendo enviados e recebidos pelo seu console ou PC não podem ficar sendo perdidos ou sofrendo atrasos, que isso acaba com a jogatina. São muitas as propriedades que podem afetar os famosos ping e latência, começando pela qualidade do serviço do seu provedor de internet e dos equipamentos.

É difícil encontrar um brasileiro que não tenha uma experiência ruim com algum provedor de internet para contar. Existe toda uma questão de manutenção de postes, cabos e roteador que impactam na qualidade da conexão que o usuário final não tem como controlar. Você pode apenas ficar atento aos comentários sobre os provedores na sua região e tentar escolher o que tiver menos reclamações.

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A parte da região é importante salientar. Existe uma grande variação na qualidade dos serviços prestados por cada provedor dependendo da região onde você se encontra. Uma marca que antes era ruim pode acabar sendo a melhor opção ao mudar de cidade. É sempre recomendável pesquisar o desempenho de cada provedor no local, não ficando preso a nomes e marcas.

Depois de escolhida a internet, a parte que você mais pode controlar é a conexão entre seu console e PC com o roteador. A maioria das pessoas já sabe que o cabo é preferível ao Wi-Fi, mas isso não quer dizer que seja impossível jogar com qualidade pela conexão sem fio. Então vale se aprofundar nessa parte.

Conexão com fio vs. Wi-Fi

A principal vantagem da conexão pelo cabo sobre o Wi-Fi pode ser resumida em uma palavra: estabilidade.

Atualmente temos tecnologias bastante avançadas de conexão sem fio e, com um roteador caro e uma internet de qualidade, você pode jogar de forma tranquila online sem a necessidade de cabos (para a jogatina atual, é recomendado se conectar pela rede de 5GHz). Mas a transmissão do sinal pelo ar sempre estará suscetível a mais imprevistos do que a conexão pelo cabo, isso é inevitável.

Desde o movimento de pessoas ou animais pela casa até a interferência de outros sinais, existem muitos imprevistos que podem oscilar o seu sinal de maneiras que talvez nem seriam perceptíveis normalmente, mas que podem causar um impacto chato na jogatina.

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Esse costuma ser o principal motivo para a conexão via cabo ainda ser a mais recomendável para jogar online, fora o fato já mencionado – garantir uma conexão realmente boa sem fio exige equipamentos mais caros.

E é aqui que cabe uma dica se você ainda está enfrentando problemas para jogar online, mesmo tendo certeza que sua internet é boa e sem usar o Wi-Fi. Você já se certificou de que está usando um cabo ethernet de qualidade?

Conforme as gerações de consoles avançam, os games ficam cada vez mais exigentes de sua conexão e é por isso que o modem presente no seu videogame também evolui. Só que não dá para aproveitar a performance máxima disponível no hardware de internet do seu PS5 se você ainda está usando o bom e velho cabinho guerreiro que você comprou para o PS3 em 2006.

Colocando assim pode soar óbvio, mas é muito fácil de esquecer que a tecnologia de cabos também avança. Tem gente que não lembra nem do HDMI, imagine do cabo ethernet.

Para jogar online no PS5 é recomendado um cabo ethernet do tipo Cat5e, no mínimo. Sites especializados, no geral, recomendam um Cat6a para garantir uma performance ótima, não apenas na jogatina, mas também para os apps de streaming de filmes e séries no console.

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Cabos CAT6A oferecem melhores resultados.

Resumindo, então, este trecho do artigo. Depois de garantir um provedor de internet confiável, você vai precisar se certificar de estar usando um cabo atualizado para conexão com fio – que é a mais recomendável – ou um roteador de alta performance para minimizar suas dores de cabeça para jogar pelo Wi-Fi.

Importante: é evidente que, na maioria dos casos, um roteador será necessário para jogar conectado tanto pelo cabo como pelo Wi-Fi. A diferença é que roteadores padrão são capazes de entregar melhor performance e estabilidade na conexão com fio, enquanto essas garantias costumam sair mais caras pela conexão Wi-Fi.

Também é interessante destacar que existem os chamados “roteadores gamer”. Muitos desses produtos fazem a promessa de serem capazes de detectar quando um dispositivo está pedindo mais banda para jogatina e, então, dar prioridade a ele – algo bastante útil numa residência com muitos dispositivos conectados à mesma internet. Como todo produto que leva “gamer” no nome, esses roteadores costumam ser bem mais caros, então recomendamos buscar com cuidado análises especializadas para garantir que o produto entrega o que promete antes de comprar.

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Com tudo devidamente configurado, ainda tem um aspecto que vai impactar na experiência da sua jogatina online: os famosos servidores.

A hora do “vamos ver”

Depois de toda a parte técnica e física de ajeitar sua internet para jogar online, ainda existe um fator que vai impactar muito na sua experiência: a questão dos famosos servidores.

Quando você joga online é feita toda uma comunicação entre o seu console ou PC, e diferentes servidores – que variam dependendo do game que você está jogando e onde.

Jogando no PS5, por exemplo, estarão envolvidos os servidores do PlayStation, gerenciados pela Sony. Jogar no PC fica mais variado porque depende da plataforma que a pessoa está usando, mas a esmagadora maioria dos jogadores usa a Steam, gerenciada pela Valve.

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Não é só isso, no entanto. Esses servidores se comunicam com o próprio game que você está tentando jogar, que podem ser de dois tipos, colocando de maneira bem simplificada.

Um jogo pode ter servidores próprios ou pode usar tecnologia peer-to-peer (P2P), em que os consoles ou computadores agem como cliente e servidor simultaneamente, conectando-se diretamente entre si. Em termos gerais, quase toda pessoa que joga online vai dizer que é melhor o game ter servidores próprios do que usar o P2P para o multiplayer, mas aqui ainda cabe um aprofundamento.

O uso de servidores é o ideal na maioria dos casos porque, teoricamente, temos a garantia de que a produtora do jogo vai buscar a experiência ideal para seus jogadores. Centralizando o host das jogatinas online, a empresa garante não apenas a disponibilidade 24 horas do serviço, mas também uma organização bem melhor do recolhimento de dados, que pode ajudar na rápida implementação de patches para balanceamento, correção de bugs e outras melhorias no geral. 

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Ter um servidor “loca” ajuda – e muito – na qualidade das partidas.

O P2P sai bem mais barato para as produtoras, porque elas precisam fazer apenas um “meio de campo” para conectar os jogadores que vão jogar uma partida. Depois de organizados e conectados, o desempenho depende unicamente da comunicação entre os computadores e consoles envolvidos. 

Fica nítido pela descrição o tipo de problema que isso pode dar. Quando um dos jogadores enfrenta problemas em sua conexão, pode impactar na experiência de todos, já que a hospedagem está sendo compartilhada. For Honor famosamente enfrentou muitos problemas de conexão e pareamento com seu início no P2P – tanto que depois a Ubisoft migrou para servidores dedicados.

Isso não quer dizer que servidores contratados ou estabelecidos por uma produtora sejam isentos de problemas, nem que o P2P não tenha suas vantagens.

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Um mau gerenciamento de servidores pode causar problemas que impedem todos de jogarem, independentemente do desempenho da sua internet. Não são raros os casos em que uma produtora subestima a quantidade de servidores necessária para um determinado lançamento, atrapalhando a jogatina de todos.

Um P2P sem problemas de conexão pode entregar experiências favoráveis para partidas rápidas com poucos jogadores. Além disso, os defensores do formato ressaltam que ele é melhor para a longevidade de certos games, uma vez que a produtora não precisa sustentar servidores caros para seus jogadores poderem jogar online. Como o jogo depende que apenas dois ou mais jogadores se conectem entre si para rodar online, ele continua funcionando. Ou seja, enquanto Babylon’s Fall vai se tornar injogável em fevereiro de 2023 – com menos de um ano de idade – você teoricamente ainda poderia jogar Army of Two com um amigo, se assim o desejasse.

É importante ressaltar, no entanto, que muitos games P2P ainda precisam de servidores contratados pela produtora para organizar as partidas, o conhecido “matchmaking”. Ou seja, mesmo para jogos que adotam o formato, ainda é possível que eles fiquem inacessíveis se a empresa por trás deles decidir encerrar o suporte.

Ping, latência e lag

Não podemos encerrar este artigo sem antes fazer um rápido glossário das três palavras que mais se escuta quando falamos da jogatina pela internet.

Como mencionado anteriormente, a velocidade é somente um dos fatores que determinam a qualidade da sua conexão para jogar. Depois de garantido um mínimo indicado, o mais importante é cuidar da estabilidade geral da internet, principalmente da famosa latência.

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Em termos gerais, a latência se refere ao tempo de comunicação da sua internet – ou seja, o tempo que leva na transferência de dados, tanto os enviados como os recebidos.

Para uma jogabilidade fluida, é necessário que a latência seja mínima. O jogador não pode executar uma ação e depois ficar esperando que ela apareça na tela, ou ter que esperar o mesmo das pessoas que estão jogando com ele. É claro que alguma latência sempre existe, mas quando acontece nas frações de segundo é imperceptível e permite jogar de maneira tranquila.

Quando essa latência começa a ser percebida e atrapalhar o jogo é o momento que muitos jogadores chamam de lag, que é literalmente atraso em inglês. Esse atraso nos comandos atrapalha de inúmeras maneiras a jogatina, podendo inclusive dar vantagens injustas a alguns dos jogadores.

Isso acontece porque, para compensar o lag, o jogo pode atualizar a posição do personagem de maneira atrasada, fazendo parecer que ele se teletransportou na sua tela. Existem até jogadores que tentam se aproveitar disso para se darem bem nos jogos, por mais que o lag possa ser imprevisível em muitos casos.

Ou seja, os jogadores que buscam uma experiência justa e tranquila quando querem jogar online evitam o lag a todo custo e, para isso, precisam buscar servidores e partidas com a mínima latência. Como fazer isso? Através do famoso ping.

O ping é uma ferramenta bem mais antiga do que a jogatina online, porque exerce uma importante função de medir a latência em qualquer operação online. Foi criado por Mike Muuss em 1983 e seu nome vem de Ping-Pong* mesmo, por causa da maneira que funciona. Mais tarde foi criado um acrônimo para o ping: Packet Internet Groper – localizador de pacotes na internet.

O ping mede o tempo que leva para uma pequena quantidade de dados ir e voltar do seu computador ou console para um receptor. Daí o nome, seu sistema faz “ping” e o receptor faz “pong”. Quanto menor o tempo que isso leva para acontecer, mais estável e responsiva é a conexão.

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É por isso que jogos online mostram usam o ping para mostrar aos jogadores a melhor opção de servidor para se conectar ou de jogadores para parear uma partida. Em diversos casos você pode até mexer nas configurações para determinar valores máximos de ping aceitáveis ou uma “qualidade mínima” de conexão – que é só uma maneira mais acessível de se medir o ping.

Precisa tudo isso?

Evidente que você não precisa saber tudo sobre jogar online para entrar no multiplayer de um jogo. A maioria dos jogadores, ainda mais atualmente, apenas se conectam e saem jogando seu game preferido online. No caso do PlayStation é necessário pagar a PS Plus, no PC nem isso.

Este artigo busca informar quem tem curiosidade sobre o assunto e, possivelmente, ajudar quem já enfrenta problemas. Se você não é um dos “abençoados” que nunca tiveram dor de cabeça para jogar online, está aqui a grande lista de fatores envolvidos que podem estar atrapalhando o seu lazer.

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Certifique-se da qualidade do seu provedor e de seus equipamentos, garanta um cabo ethernet atualizado e busque sempre o menor ping. Mesmo fazendo tudo isso, tem jogos que simplesmente usam servidores terríveis, e aí sempre cabe uma pesquisa na internet para ver se outros jogadores estão enfrentando os mesmos problemas que você.

Ainda assim, existem regiões em que a internet realmente ainda não é confiável, principalmente em países como o Brasil. Para quem mora nessas localidades, se serve de consolo, ao menos não vemos mais as grandes produtoras fazendo pouco caso do single-player como acontecia duas gerações atrás – e quando acontece, a cobrança vem na hora.