Em uma realidade paralela não tão distante, Silent Hill 4 é o melhor da franquia
Inovador, original e cheio de simbolismos, Silent Hill 4 poderia facilmente ser o jogo mais completo da série
Marco no terror dos videogames, Silent Hill se tornou conhecido por sua atmosfera densa, monstros perturbadores e histórias que exploram a mente humana. Entre os fãs, Silent Hill 2 é quase sempre visto como o melhor por ter definido o gênero ao contar uma narrativa emocional muito bem desenvolvida.
Mas, em uma perspectiva diferente, Silent Hill 4: The Room merece mais reconhecimento. Não porque supera o segundo jogo em popularidade, mas porque inova de forma ousada, trazendo uma abordagem única e claustrofóbica que, apesar de subestimada, o destaca como um dos pontos altos da franquia.
Tema a sua própria casa
Lançado em 2004, Silent Hill 4: The Room foi criado pela Team Silent, responsável pelos três primeiros jogos da série. Diferente dos anteriores, que se passavam na cidade de Silent Hill, este começa em um lugar comum: o apartamento 302 de South Ashfield Heights.
O protagonista, Henry Townshend, é um homem qualquer que acorda preso em seu próprio apartamento, com a porta principal bloqueada por correntes e um estranho buraco na parede do banheiro como única saída.
O que começa como um mistério se transforma em uma jornada assustadora por mundos alternativos, repletos de criaturas e segredos ligados a um culto, assassinatos rituais e Walter Sullivan, um vilão que domina a trama.
A história gira em torno do isolamento. Henry não é um herói clássico, mas alguém comum enfrentando o desconhecido. Sua ligação com a cidade vem do passado sombrio do apartamento 302 e dos crimes de Walter, um assassino obcecado por rituais para “despertar” a Mãe, figura central no culto da série.
Henry explora cenários estranhos — como uma prisão aquática e um hospital decadente — e encontra personagens trágicos, como Eileen Galvin e Joseph Schreiber, enquanto desvenda o plano de Walter, conhecido como os “21 Sacramentos”.
A narrativa é complexa, cheia de simbolismo, e mantém o foco no terror psicológico, explorando temas como trauma e vulnerabilidade.
Por que Silent Hill 4 não é o favorito?
Para entender por que Silent Hill 4 é o melhor, é importante reconhecer por que ele não é o preferido dos fãs. Silent Hill 2, de 2001, é um clássico amado por sua história comovente sobre James Sunderland, que lida com luto e culpa.
O jogo conquistou os jogadores com personagens marcantes, como Maria e Pyramid Head, e uma trilha sonora inesquecível de Akira Yamaoka, bem como pela narrativa direta e emocional que o tornou um favorito quase unânime.
Já Silent Hill 4 dividiu opiniões. Muitos fãs acharam sua história confusa, a jogabilidade menos polida — com mais foco em combate — e a ausência da cidade de Silent Hill uma quebra de tradição. O jogo também sofreu com a pressão da Konami para atrair novos públicos, o que levou a mudanças que desanimaram alguns jogadores.
Mas é exatamente nessa coragem de arriscar que Silent Hill 4 encontra sua força, oferecendo uma experiência que, com o tempo, revela sua genialidade.
Um terror muito diferente
O que torna Silent Hill 4 interessante é sua ousadia em mudar a fórmula da série. Enquanto os jogos anteriores usavam a cidade de Silent Hill como um espaço amplo e opressivo, The Room faz do confinamento sua arma principal.
O apartamento 302 é mais que um cenário: é um elemento vivo que muda ao longo do jogo. No início, é um lugar seguro, mas aos poucos se torna assustador, com eventos sobrenaturais que invadem o espaço de Henry. Transformar o lar, algo familiar, em fonte de medo é uma ideia brilhante que aumenta a sensação de insegurança.
A estrutura do jogo também é nova. Em vez de uma aventura linear, Silent Hill 4 alterna entre o apartamento e mundos paralelos acessados pelo buraco na parede. Esses cenários — como um metrô labiríntico ou uma prisão submersa — são visualmente únicos e criam uma sensação de desorientação que combina com a narrativa.
O jogo ainda introduz uma mecânica de gerenciamento do apartamento, onde o jogador guarda itens e precisa protegê-lo de “assombrações” que aparecem com o tempo. Isso reforça a importância do apartamento e adiciona elementos de estratégia ao jogo.
O combate, embora criticado por ser menos fluido, é mais direto e intenso. Armas como canos ou pistolas têm peso, e inimigos como os “Ghosts”, que não morrem de verdade, mantêm a tensão constante. O jogador é forçado a decidir entre lutar ou fugir, o que torna cada encontro mais desesperador. Essas mudanças criam um terror mais imediato, diferente do suspense lento dos jogos anteriores.
O poder de uma narrativa e de um vilão
A história de Silent Hill 4 é um dos seus maiores trunfos. Embora menos emocional que Silent Hill 2, ela é mais ambiciosa, conectando vários personagens e momentos do passado.
Walter Sullivan, o vilão, é uma figura complexa: um assassino cruel, mas também uma vítima de abusos e abandono que o levaram a um caminho sombrio. Sua presença é constante, seja em memórias, visões ou encontros diretos, tornando-o um antagonista marcante.
A narrativa também brilha pelo simbolismo. O apartamento 302 reflete a mente de Henry, um espaço onde seus medos ganham forma. Os mundos paralelos representam traumas de outros personagens, conectando suas histórias ao culto de Silent Hill.
Essa profundidade, combinada com a trilha sonora de Akira Yamaoka, que mistura sons industriais e melodias melancólicas, cria uma experiência envolvente e perturbadora.
Por que Silent Hill 4 é bom?
Silent Hill 4: The Room não é o jogo mais amado da franquia, mas é o mais ousado. Ele troca a cidade enevoada por um apartamento claustrofóbico, transforma o lar em pesadelo e aposta em uma narrativa complexa que desafia o jogador.
Suas inovações — a estrutura alternada, o gerenciamento do apartamento, o combate intenso — mostram uma série disposta a se reinventar, mesmo correndo riscos. Por outro lado, Walter Sullivan é um vilão à altura dos melhores da franquia, e a história, com seu simbolismo e camadas, recompensa quem mergulha fundo.
Em uma realidade não tão distante, Silent Hill 4 é o melhor porque não tenta imitar Silent Hill 2. Ele cria algo novo, abraçando o desconforto e a experimentação. Para os fãs que valorizam originalidade e coragem, The Room é uma obra-prima que merece ser redescoberta e celebrada como o ponto mais alto de uma franquia lendária.