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5 anos de The Last of Us 2: Abby ou Ellie? Qual lado estava certo?

Um dos grandes dilemas que assola quem gostou de The Last of Us 2 é toda a moral que gira em torno da escolha das protagonistas

por Jean Azevedo
5 anos de The Last of Us 2: Abby ou Ellie? Qual lado estava certo?

Quando The Last of Us 2 chegou ao PS4 em 2020, ele dividiu não só opiniões, mas corações. As jornadas brutais de Ellie e Abby se transformaram em uma das histórias mais impactantes da última década. Mas afinal, qual das personagens estava certa?

O que torna essa discussão tão rica é a ausência de respostas simples. O jogo coloca os jogadores diante de decisões morais complicadas, costuradas por traumas, perdas e desejos de justiça. É impossível não tomar partido — e é justamente aí que o jogo nos desafia.

The Last of Us 2 e as “escolhas difíceis”

A decisão que moldou tudo

O ponto de partida para o conflito em The Last of Us 2 está no desfecho do primeiro jogo. Joel impede os Vaga-Lumes de criarem uma possível cura para a pandemia provocada pelo fungo cordyceps e salva Ellie, escolhendo o amor de pai em vez da salvação da humanidade.

O que aconteceu com Joel em The Last of Us Part II? O antes e depois do personagem

Lembra da famosa conversa na varanda que acontece nos momentos finais do game? Guarde essa fala de Joel para prosseguir com a leitura:

Se Deus me desse uma segunda chance naquele momento… Eu teria feito tudo igual. 

Os momentos mais bonitos de The Last of Us 2

Todos os Vaga-Lumes foram eliminados. Consequências? Nada disso, Joel não pensou nisso naquele momento. Quem perdeu Sarah no início da pandemia, não estaria pronto para perder o mundo de novo, mesmo que ele tenha sido apresentado na forma de outra pessoa, que, apesar de não possuir seu sangue nas veias, tem importância parecida.

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Esse gesto muda o mundo das duas personagens. Para Ellie, a verdade vem tarde e cria um abismo entre ela e Joel. Para Abby, o pai morto naquele hospital se torna o motivo central da sua sede de vingança. Quando Abby mata Joel, não é apenas um assassinato: é a reação a uma escolha que já destruiu muitas vidas.

Abby: trauma, guerra e redenção

Abby é apresentada como antagonista, mas logo ganha profundidade. Ela não é apenas a assassina de Joel — é uma soldada marcada pela perda, moldada por anos de ódio e treinamento militar. Sua dor é legítima. Sua busca por justiça tem as mesmas raízes que a de Ellie. Joel matou a única pessoa que ela tinha nesse mundo.

Abby (The Last of Us Part 2)

A Naughty Dog também brinca com a mente do jogador. Chegamos ao teatro e ao invés de nos defendermos como Ellie… precisamos atacar a garota que moveu tudo. Logo ali você já fica confuso, e então, conhece de maneira mais íntima tudo o que aconteceu.

The Last of Us 2 para PC - Luta entre Ellie e Abby em The Last of Us Part II

Ao assumir o controle de Abby por horas, o jogador é forçado a confrontar a humanidade da personagem. Ela tem amigos, relações, memórias e um senso de dever. Vemos suas falhas, mas também seu crescimento, especialmente ao tentar proteger Lev e se afastar do ciclo de violência.

Ainda mais após a invasão da WLF na ilha dos Serafitas. Ver Lev perder Yara, protegê-lo, e em seguida confrontar Isaac mostra que ela não se resume à personagem que deu um fim a Joel. Lev a confronta dizendo: “aqueles putos eram a sua gente”. Abby escolhe seu lado:

VOCÊ é a minha gente!

The Last Of Us Part II Almost Had A Lot More Senseless Death

Abby é, ao mesmo tempo, o reflexo de Ellie e o resultado do mundo deixado por Joel.

Ellie: entre o amor e a destruição

Deixamos ela por último, mas você sabe que ela não é a menos importante no meio disso tudo. O desejo da Ellie adolescente? Morrer e salvar a humanidade. Isso não foi realizado. Joel impediu (a salvou).

Aí vem outro dilema, que pode não fazer muito sentido se você não se colocar no lugar da garota.

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Você foi salva, não era para ser grata? Você está viva contra a sua vontade, não deveria se revoltar?

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E o medo de ficar sozinha que nos gerou aquela bela conversa no outono do primeiro jogo? Sua companhia nesse mundo infectado se foi. Ellie está quebrada!

Ellie parte em uma cruzada movida por dor e desejo de vingança. Mas The Last of Us 2 mostra como essa busca consome sua identidade. A garota que tocava violão e citava filmes se transforma em alguém disposta a sacrificar tudo, inclusive o que ama, por uma resolução que nunca chega.

Mesmo ao lado de Dina e com uma vida possível pela frente, Ellie sente não poder seguir em frente. Ela precisa de respostas que só o confronto com Abby parece oferecer. Quando finalmente tem Abby em suas mãos, ela recua. Não mata. E é nesse momento que compreende o que Joel quis dizer ao afirmar que faria tudo de novo.

Vingança ou perdão?

O jogo não defende um lado. Mostra o que acontece quando não paramos para perdoar. A violência é uma espiral que arrasta tudo e todos. Abby perde quase tudo. Ellie também. Ao final, as duas estão vazias, carregando mais cicatrizes do que resoluções. Se nos permite, vamos voltar à fatídica conversa na varanda, mais uma vez:

Sei. Só que… acho que eu nunca vou conseguir te desculpar. Mas tô… tô disposta a tentar.

O que acontece com Joel em The Last of Us: Parte 2 Remastered? | Voxel

A conversa final entre Joel e Ellie revela a vontade dela de tentar perdoá-lo. Não por ele — mas por ela mesma. E talvez seja isso que a impede de matar Abby. O ciclo, enfim, se quebra. O jogo não responde, mas aponta caminhos.

The Last of Us

No final, quem estava certa em The Last of Us 2?

The Last of Us 2 continua atual porque nos obriga a pensar. Qual é o limite entre justiça e vingança? Até onde vai a culpa? Como viver com decisões que ferem quem amamos? Ellie e Abby representam extremos que se tocam, se opõem e se completam.

Cinco anos depois, a pergunta segue viva. Não para dividir, mas para provocar. Abby ou Ellie? Nenhuma resposta será definitiva — e talvez seja justamente por isso que seguimos falando desse jogo.

E para você, quem estava certa? Deixe sua opinião e continue essa conversa com a gente.