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The Chant: vale a pena?

Obrigatório para fãs de survival horror, The Chant é tudo (e um pouco mais) que a indústria precisava

por André Custodio
The Chant: vale a pena?

Com os futuros retornos de Alan Wake, Silent Hill, Dead Space, Alone in the Dark e Resident Evil, é possível afirmar: o survival horror está muito bem representado. Porém, nós sabemos que em coração de fã sempre tem espaço para mais um, especialmente se for competente e cumprir com a proposta do gênero. E esse título pode ser The Chant.

Desenvolvido pela Prime Matter, o game é uma experiência de ação e terror em terceira pessoa baseada nas tramas de seitas. Inspirado em conceitos de Lovecraft e nas técnicas cinematográficas de Gaspar Noé, o título se destaca pela personalidade e por conceitos originais — tudo sem deixar de ser bastante familiar para a comunidade.

A história do cântico

A trama de The Chant intercala entre duas épocas distintas: a década de 1970 e os tempos atuais. No passado, um líder de culto criou o conceito de Ciência Prismática para idolatrar uma entidade que supostamente seria capaz de extrair os sentimentos negativos das pessoas. Na tentativa de ressuscitar o conceito conhecido como “Penumbra”, algo deu errado.

Por décadas, o ritual de invocação permaneceu adormecido, mas a seita continuava em atividade em uma floresta remota dos EUA. Quando Jess Briars decidiu viajar à Glory Island para superar um trauma de sua infância, tudo indicava que ela era a peça restante para a conclusão de um evento desejado pela mente-guia, Tyler Anton.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Durante a execução do cântico, todos os membros se reuniram em um círculo e iniciaram o ritual. Porém, em um momento de desespero, Kim Mallari, amiga de Jess, sofre com alucinações. Ao fugir da tenda e interromper o evento, ela causa uma união entre o mundo real e o cosmos, abrindo portais para outra realidade e infestando a ilha com pesadelos.

Inspirado no horror cósmico, The Chant traz referências de filmes como “O Culto” (2017) e “A Seita” (2015) para apresentar sua principal proposta. Além de ser mostrado em uma estética chamativa e com elementos transcendentais, o game chama a atenção por seus efeitos psicotrópicos, simbologia das cores e deformidade física constante.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Cada personagem tem sua história e motivações. E apesar de haver algumas cenas fundamentadas em clichês, as atuações não devem ser desconsideradas. Traumas, rancores, arrependimentos e problemas comuns para a sociedade são extraídos de forma fiel e convincente, especialmente quando há situações de desespero onde é preciso seguir em frente.

Gameplay reciclado, mas funcional

The Chant possui um excelente plano de fundo e uma história atraente e instigante, mas é no gameplay que fica seu grande destaque. Fãs de The Evil Within e Shadows of the Damned ficarão deslumbrados com a movimentação precisa, com os comandos funcionais e com o nível de dificuldade acessível, tanto durante a exploração quanto no combate.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

O game oferece rodas de ferramentas, criação de recursos, ações livres de esquiva e corrida por meio de ativação. Além disso, saltos, aberturas de portas, viagem rápida (muito interessante, aliás) e mecânicas alternativas ocorrem através do botão “X” e se limitam a áreas restritas, como casas, janelas abertas, troncos caídos e aberturas.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

A experiência da Prime Matter não introduz uma personagem frágil e, devido a seu contexto, nada soa como antirrealista. Durante a campanha, Jess é afetada pela Penumbra e desenvolve dons espirituais. Essa mecânica traz variação para o combate e deve ser utilizada de forma estratégica, pois cada ativação consome o medidor de Espírito.

Diferentemente de seus “primos”, digamos assim, The Chant tem o combate melee por essência. Ferramentas de exorcismo podem ser fabricadas após a coleta de recursos específicos, mas sem haver exagero nesses itens. Isso quer dizer que os fãs não precisam se preocupar em acumular muitas informações.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Por fim, Jess também consegue criar “gadgets” que se provam super úteis nas batalhas: sal, explosivo e ácido. Essas funções têm utilização dupla no game e podem ser deixadas no chão como armadilhas táticas ou arremessadas em criaturas para atrasar seus movimentos ou investidas. E, realmente, é tudo muito intuitivo.

Quanto trama e mecânicas se relacionam

Em The Chant, o gameplay está diretamente relacionado com a história. Após entrar na seita, Jess desenvolve habilidades de Corpo, Mente e Espírito e pode fortalecê-las não apenas por meio de uma árvore de atributos, mas também em ações.

menu de the chant
Fonte: André Custodio

Escapar de zonas ocupadas pela Penumbra, derrotar inimigos em combate e escolher diálogos específicos durante a interação com os NPCs favorece as melhorias da protagonista no aspecto desejado pelo jogador. Além disso, o game oferece uma mecânica interessante de Meditação, onde é possível sacrificar o medidor de Espírito para fortalecer a Mente.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Basicamente, como funcionam esses três segmentos? Mente controla a sanidade de Jess. Quanto mais tempo ela passa na Penumbra ou é afetada por invasões cerebrais dos inimigos, mais é reduzido do medidor de Mente. Caso o contador chegue a zero, ela entra em estado de insanidade e medo e deve fugir dos perigos, a fim de restabelecer sua coragem.

Corpo é o mais óbvio: esse atributo é que define os pontos de saúde de Jess. Enquanto isso, o Espírito permite o uso de habilidades especiais por meio dos primas, incluindo Stasis para deixar o tempo mais devagar, criação de espinhos de trevas e invocação de Sectários para infestar e danificar os monstros.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Além disso, é possível encontrar mais informações sobre o culto da Ciência Prismática por meio de arquivos, imagens e registros de vídeo espalhados por Glory Island. Dezenas de conteúdos oferecem entrevistas com o líder anterior da seita, bestiários com informações sobre as criaturas, textos com dicas de progressão em puzzles, chaves de inventário e mais.

menu de the chant
Fonte: André Custodio

Tudo isso contribui para que o gameplay valha a pena e não seja apenas conteúdo para “encher linguiça”. Quanto mais se descobre sobre a trama por meio de sistemas de jogo e da progressão, mais se compreende sobre as motivações e propósito de todo aquele horror.

Apresentação de cinema

The Chant é, de fato, uma experiência cinematográfica. O título chama a atenção por seus diversos aspectos narrativos, que felizmente são bem contados por meio de linhas de diálogo pontuais, sincronização labial e expressões faciais. Além disso, os meios técnicos, como trilha sonora, fotografia e iluminação são de encher os olhos.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

O game é uma obra nativa de terror e parte tanto para o psicológico quanto para a tensão de jumpscares. Durante a campanha, jogadores mais receosos devem levar bons sustos, especialmente após atravessarem momentos raros de uma leve calmaria. As batalhas também se destacam pela brutalidade e animações, com hitbox satisfatórias e sensação de peso.

Todo o contexto de The Chant é pontual, e claramente há como perceber que foi um projeto fabricado por entendedores do ramo audiovisual. No game, não há excessos: quebra-cabeças, mesmo inteligentes, não demandam muito tempo, enquanto o sistema de ir e vir da exploração é favorecido pelo level design objetivo e colaborativo do mapa.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Fãs de terror e survival horror podem aguardar bons momentos. Mesmo com o final anticlimático, o título oferece uma história redonda e sem pontas soltas — caso os arquivos sejam recuperados. Há, de fato, um roteiro comprometido com o raciocínio do espectador e uma jornada cheia de reviravoltas.

Um game que faz demais, mas ama pouco

Essa frase pode soar estranha, mas The Chant não amou o tanto quanto devia amar. Isso porque o game é, definitivamente, uma carta de amor aos fãs do gênero e das histórias de culto, mas sua limitação geracional é muito, mas muito mal justificada.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Tecnicamente falando, as paisagens e efeitos de partícula no game são primorosos; prepare-se para ficar horas somente apreciando os cenários montanhosos e desolados. Porém, uma falta de polimento no design dos personagens e o travamento do jogo a 30 FPS — sem grandes quedas reparadas — passa a impressão de algo aquém do seu tempo.

Podemos afirmar ser impossível alguém experimentar o título e não imaginá-lo no PS4, por exemplo. The Chant não faz o “estilo” da nova geração de consoles em relação à resolução e performance.

gameplay de the chant
Fonte: André Custodio

Outra questão é o fator replay praticamente zero. Após terminar o primeiro gameplay, a única coisa que resta é tentar novamente em uma dificuldade alternativa e padrão — apenas fácil, médio e difícil. Não há conteúdos desbloqueados após o fim da campanha, modos desafiadores para speedrunners, galerias de informações no menu… Nada.

The Chant: vale a pena?

The Chant é um dos melhores jogos de terror do ano e tem um grande potencial para se tornar franquia. É um projeto super recomendado para fãs do gênero que buscam uma campanha desafiadora e visualmente satisfatória. E caso você esteja procurando um projeto com preço mais acessível, o título custa apenas R$ 199 na PS Store.

O título da Prime Matter é obrigatório para quem busca alternativas no survival horror “over-the-shoulder” e se destaca pelas suas inúmeras mecânicas originais. Imperdível, o game sabe explorar temas desafiadores com primor e impacta o coração dos mais sensíveis, apesar de suas limitações gráficas.

Veredito

The Chant
The Chant

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Prime Matter

Jogadores: 1

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83 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Mecânicas de jogo muito funcionais
  • Gameplay sem excesso de informações
  • Dificuldade adaptativa com várias possibilidades de abordagem
  • Personagens muito interessantes em uma história coesa
  • Survival horror despretensioso e com muito potencial
  • Design artístico original e muito bem produzido
Desvantagens
  • Gráficos não são de nova geração
  • Final anticlimático
  • Ausência de conteúdos e de fator replay
André Custodio
André Custodio
Redator
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Jogando agora: Metro Awakening, Diablo IV
Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.