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Kingdom Hearts 3: vale a pena?

Novo capítulo da épica saga da Square Enix com a Disney, enfim, está entre nós! Após tantos anos, valeu a pena esperar?

por Thiago Barros
Kingdom Hearts 3: vale a pena?

O mundo era bem diferente quando Kingdom Hearts 3 foi anunciado. A data exata foi 11 de junho de 2013, na E3 daquele ano. 

O PlayStation 4 nem tinha sido lançado. O Homem de Ferro 3 era O filme da Marvel. Let It Go e Frozen eram só trailers. O Papa Bento XVI havia renunciado. O Brasil estava às vésperas da Copa das Confederações e em meio a protestos que não eram “só por R$ 0,20”. O Harlem Shake era o meme do momento.

Meu PS4, meus amigos, estava prestes a nascer, em 15 de junho.

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Desde então, muita coisa rolou. Hoje sonhamos com o PS5, já vimos todos os heróis da Marvel se juntarem, qualquer criança sabe Let It Go do início ao fim e o meme da hora é Piscininha, Amor. Mas uma coisa não mudou. Pelo menos, não até o dia 29 de janeiro: a ansiedade por Kingdom Hearts 3.

Foram muitas promessasadiamentosremasterstrailersdemonstrações… Até que, enfim, o jogo está entre nós. A conclusão para a épica saga de Sora, Donald, Pateta e companhia chegou. Tão aguardada desde 2005, com Kingdom Hearts 2, nos consoles tradicionais, ou 2012, com Dream Drop Distance, no 3DS. E agora: valeu a espera?

É você a luz

As introduções de Kingdom Hearts 3 (sim, são várias) são uma aula de bom gosto. Das cenas escolhidas à trilha sonora, elas fazem com que a hype para o início do jogo fique ainda maior. Você vai relembrar grandes momentos e, rapidamente, compreender o seu ponto de partida exato para a nova aventura.

O resumo da história é simples: após diversos acontecimentos nos outros jogos, Sora, Donald e Pateta têm que derrotar Xehanort, em um duelo entre Luz e Trevas. É claro, existe todo um desenrolar do enredo e de cada personagem envolvido, porém a ideia básica ainda é esse duelo épico entre Bem e Mal.

Para quem nunca jogou Kingdom Hearts ou até aqueles que jogaram, mas já faz tanto tempo que não lembram de alguns detalhes, vale a pena conferir a série de vídeos que a Square Enix colocou no jogo como “Memórias”. Além de vários flashbacks in-game, é possível ver esses pequenos vídeos da “História Até Agora”.

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São seis, no total, contando, bem resumidamente, sobre a Guerra das Keyblades, Sora, Xehanort, as Princesas de Coração Puro, a Organização XIII e por aí vai. É importante ter, pelo menos, uma noção básica de todo esse plot. Até porque muita coisa da história vai se desenrolando baseada em fatos de games anteriores.

O jogo coloca você logo após os eventos de Dream Drop Distance, sabendo que Sora precisa recuperar seus poderes e encontrar mais aliados antes da Batalha Final. Tudo começa com um prólogo que envolve alguns antigos conhecidos de Sora e companhia: Hades, Hércules, Malévola. É o Kingdom Hearts 2.9.

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Sora descobre que a chave de tudo é seu coração e vai tentar recuperar seus poderes, além de trazer Roxas de volta à vida. Paralelamente, Riku e Mickey vão atrás de Aqua. Assim começa a jornada, que passa por diversos mundos antes da conclusão épica da saga – sobre a qual, obviamente, não iremos dar spoilers.

Até porque não precisa muito, né? Todo mundo sabe que Sora vai viajar por mundos diversos, de filmes como Frozen, Enrolados, Piratas do Caribe e Operação Big Hero, para buscar novos poderes, encontrar os outros Guardiões da Luz e preparar-se para enfrentar Xehanort e a Organização XIII em uma “nova Guerra Keyblade”.

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Agora, no final das contas, a jornada de Sora chega ao seu ponto mais importante. Especialmente porque o herói, que sempre foi um pouco “inseguro” e tanto precisou de ajuda dos outros ao longo dos jogos da série, agora se afirmou como grande responsável por todos os Guardiões da Luz.

Não é Mickey. Não é Terra. Não é Riku. É Sora. É tudo sobre o coração dele. Sempre foi. E a forma como isso é explorado nos momentos finais do jogo é muito bacana. O “pré-Batalha Final” e o desfecho são incríveis, tanto em gameplay como em enredo. A narrativa, as batalhas, as novidades, os flashbacks.

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Quando tudo acaba se encaixando e encerrando, com chave de ouro, uma das histórias mais legais (apesar de complexa) dos games nos últimos anos. E, quando os créditos sobem, temos a certeza de que viajar por todos esses mundos, ao longo de tanto tempo, foi uma experiência incrível. Valeu a pena esperar, e é impossível não se emocionar.

Só que, de repente, tudo muda de figura. Um epílogo misterioso e um final secreto que deixa mais dúvidas do que respostas fazem com que o jogador fique bem confuso e já pensando no que vem por aí com a franquia. Já havia sido confirmado que ela não iria acabar, mas os acontecimentos desses finais de Kingdom Hearts 3 são intrigantes.

Você quer brincar na neve?

São justamente os mundos que fazem Kingdom Hearts 3 ser tão fantástico. A história é legal (apesar de extremamente confusa e com 532498 personagens) e te prende, mas certamente não seria nem metade do sucesso que é sem os personagens e os cenários das histórias icônicas da Disney.

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É claro que ver Twilight Town toda bonita com os gráficos da atual geração é bacana, mas o que dizer de ir até Arendelle encontrar Elsa, Anna e Olaf? Ou encontrar com o Capitão Jack Sparrow em praias de areia branquinha? Entrar na Caixa de Brinquedos com Buzz, Woody e companhia? Cozinhar com o Ratatouille?

Se isso já era divertido no PlayStation 2, imagina no PlayStation 4, ou no PS4 Pro, com gráficos incríveis, de um momento de auge da geração. O jogador se sente em um filme da Disney. O visual é arrebatador, tanto nas cutscenes quanto no gameplay. É um salto absurdo em relação ao que já vimos até hoje na série Kingdom Hearts.

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As recriações de algumas das cenas icônicas dos filmes são impressionantes. Rapunzel quase caindo do barco ao “ver, enfim, a luz brilhar”. Elsa correndo e pisando na neve ao cantar “Let It Go”. Até Piratas do Caribe é retratado de forma espetacular. Graficamente, Kingdom Hearts 3 está no nível dos melhores jogos do PlayStation 4. Fácil.

Por falar em “Let It Go”, as canções mais famosas dos filmes estão todas lá, e a trilha sonora de Kingdom Hearts 3 não deixa em nada a desejar ao resto da série: é muito boa. Andar na Caixa de Brinquedos ao som de “Amigo, Estou Aqui”, por exemplo, é espetacular.
E tudo isso acontece seguindo o enredo. Não é à toa que você vai à Monstrópolis, por exemplo. A Organização XIII quer usar os gritos e a energia negativa que se capturava quando a empresa de Mike, Sulley e companhia ainda assustava crianças ao invés de fazê-las rirem. Ou levar os “corações divididos” de Elsa e Buzz para as trevas.

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As apresentações de cada mundo e cada personagem também merecem elogios. Toda a narrativa é bem construidinha, os diálogos são interessantes (e bem humorados), as interações naturais e a tradução delas para o gameplay é ótima. Quando você conhece bem as histórias da Disney retratadas no game, então, tudo fica perfeito.

O único ponto que não agrada tanto é o excesso de loadings. São muitas cutscenes, o que até atrapalha um pouquinho o ritmo da jogabilidade, mas é algo característico da saga. Só que isso também gera muitas telas de carregamento, e o jogador pode acabar se frustrando em dados momentos. 

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Só de introdução, por exemplo, são umas três até você, de fato, controlar alguma coisa – e logo depois tem ainda mais vídeos. O final também é assim, mas aí é até um pouco mais compreensível, porque combina o encerramento da aventura com o epílogo e um final secreto, caso você fotografe os Lucky Emblems.

Não me entendam mal: as cenas são lindas e, muitas delas, cruciais para compreensão do enredo. Porém, a forma como elas aparecem é meio abrupta de vez em quando, e a experiência acaba frustrada. Por vezes, você está acabando uma batalha, correndo em algum lugar e, do nada, tela branca, tela preta, loading e cutscene.

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GOTY do ano passado, God of War já mostrou que isso não é preciso. São projetos bem diferentes, mas aquela imersão deveria se tornar o padrão para novos títulos AAA. Não precisa ser totalmente sem cortes, mas evitá-los ao máximo para deixar o ritmo, tanto da narrativa quanto do gameplay, mais homogêneo.

Outro ponto negativo é a ausência de localização para o português – mesmo com alguns protestos da comunidade. Só há áudio, menus e legendas em inglês. Em 2019, um jogo desse tamanho ignorar nosso mercado dessa maneira é triste. Ainda mais que a própria Square Enix localizou Tomb Raider e Just Cause, por exemplo.

Amigo, estou aqui

A jogabilidade de Kingdom Hearts 3 impressiona. O que já havia deixado uma excelente primeira impressão nos testes na E3 se tornou ainda melhor na versão completa. Tantas atividades para fazer, ótimos controles, combates emocionantes, minigames divertidos… Talvez a história e o final dividam opiniões, mas o gameplay será unanimidade: é ótimo.

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Os combates com os minions mais fracos podem ser até um pouco repetitivos, mas as mecânicas são muito legais. Especialmente se você aproveitar as várias Keyblades do jogo, além das magias especiais e dos combos com Pateta, Donald e os personagens que vão aparecendo em cada mundo.

Os golpes especiais que lembram atrações dos parques da Disney, então, são incríveis. Dá para reconhecer inspirações em rides famosas, como Splash Mountain e Toy Story Mania, além do Barco de Pirata que é igualzinho ao assento da atração do Peter Pan e da montanha-russa que lembra a Thunder Mountain Railroad.

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Sem dúvidas, as batalhas são uma parte extremamente satisfatória de Kingdom Hearts 3, elevando o nível demonstrado na série até então e trazendo-o de forma perfeita para “o mundo atual”. As lutas com os chefões, então, são memoráveis. Desde os titãs que derrotamos no prólogo até a Batalha Final.

Ela, aliás, é exaustiva. Xehonart é um boss extremamente complicado de derrotar, ainda mais porque a batalha contra ele é dividida em várias fases – uma delas, inclusive, rola dentro d’água. Cansa, mas o sentimento recompensador ao final de tanto suor acaba valendo a pena.

A variedade de keyblades e mágicas faz com que as lutas fiquem ainda mais divertidas. Dá pra você, na mesma luta, alternar entre três armas, além de usar golpes especiais com auxílio de vários personagens famosos, como Ralph (Detona Ralph) e Simba (Rei Leão), tornando as batalhas não só emocionantes, como bem imersivas.

Em cada batalha, é preciso ter uma estratégia. Combinar ao máximo seus poderes com as habilidades de Donald e Pateta, ativar as magias, se curar, usar itens, alternar entre as suas keyblades… E como cada mundo também tem suas variações de inimigos, não fica tão chato assim encarar as ondas e Heartless e Nobodies. 

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Mas não é só isso. A movimentação de Sora está super fluida, os voos com a Gummi Ship estão mais divertidos, os joguinhos específicos (como o de cozinhar com o Chef Ratatouille) são ótimos e a tarefa de procurar símbolos do Rei Mickey espalhados no mundo todo é uma adição bem interessante – e desbloqueia um final secreto.

E, claro, Kingdom Hearts 3 ainda é um RPG, então você tem muitos itens, boosters, equipamentos, magias… Tudo para comprar, vender, upar. Tanto para Sora quanto também para seus fieis escudeiros Pateta e Donald. Sem contar que você também controla Riku (com Mickey) em alguns momentos, deixando tudo bem dinâmico.

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O único ponto em que Kingdom Hearts 3 falha em termos de jogabilidade é no fator replay. Não dá nem para criticar tanto, porque é uma série que nunca teve isso como característica, mas é preciso citar que, provavelmente, depois de zerá-lo, será difícil você voltar a jogá-lo – a não ser que curta platinar games.

Talvez isso mude mais para a frente, com o lançamento de DLCs já confirmadas pelo criador da saga. Porém, por enquanto, é mais um jogo daqueles “zerou, acabou”. Isso pode influenciar algumas pessoas na hora de comprar o game pelo seu preço cheio – algo cada vez mais comum é “esperar uma promoção” para esse tipo de título.

A nota dez convém?

E agora, José? É difícil dizer que Kingdom Hearts 3 é um jogo obrigatório. Afinal, ele acaba sendo de nicho, mesmo que com uma legião grande de fãs, e também é uma sequência de um enredo que não é tão simples de pegar assim “do nada”. De qualquer forma, o último capítulo da saga de Sora e companhia merece sua atenção.

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Se você já jogou os outros games da saga (e gostou), provavelmente nem precisa ler análises e comprará de qualquer jeito. Esse é o público-alvo de KH 3. Mas dá para a Square Enix sonhar, sim, com uma popularização maior dele. Especialmente porque saíram muitos conteúdos resumindo a história recentemente em várias fontes.

Os personagens e mundos da Disney são atrativos, o gameplay é espetacular e todos os reviews até agora foram muito positivos. Por isso, é provável que pessoas que nem se interessavam pela série na época em que ela teve seu boom tenham algum tipo de curiosidade de experimentá-la agora. Já foram 5 milhões de unidades vendidas.

Se for o caso, certifique-se de ler, pelo menos um pouquinho, ou assistir alguns vídeos para pegar o core da saga. Afinal, apesar dos muitos detalhes e personagens, isso não é tão difícil assim. Quando se sentir seguro, então, compre Kingdom Hearts 3. São bem grandes as chances de você gostar.

É uma aventura com contornos épicos, gráficos espetaculares, jogabilidade refinada e narrativa bem afinada. É claro, o preço atual é bem alto, e é totalmente compreensível querer esperar uma promoção para pegá-lo. Afinal, Kingdom Hearts 3 custa R$ 249,90 na PlayStation Store brasileira e pode ser encontrado por R$ 229,90 em versão física
Infelizmente, esse é o preço de lançamentos hoje em dia – como Resident Evil 2, por exemplo. Não tem como fugir muito disso. Mas pode ter certeza de que ele vai valer muito o seu investimento e já desponta como um dos grandes favoritos ao prêmio de Game of the Year de 2019 – e um dos melhores jogos da geração.

Veredito

Kingdom Hearts 3
Kingdom Hearts 3

Sistema: PlayStation 4

Desenvolvedor: Square Enix

Jogadores: 1 jogador

Comprar com Desconto
90 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Gameplay espetacular
  • Ambientações perfeitas
  • Vídeos com “A História Até Agora”
  • Combates emocionantes e variados
  • Novas Keyblades
  • Trilha Sonora impressionante
Desvantagens
  • Excesso de loading atrapalha o ritmo do jogo
  • Ausência de localização em português
  • Pouco Fator Replay
Thiago Barros
Thiago Barros
Editor-Chefe
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Jogando agora: Silent Hill 2
Jornalista, teve PS1, pulou o 2, voltou no 3 e agora tem o 4, o 5 e até o PSVR. Acha God of War III o melhor jogo da história do PlayStation.