The Game Awards: entenda a cerimônia do GOTY
Preparado para reclamar e comemorar? Este artigo ajuda!
O mês de dezembro se tornou símbolo de outro evento além do Natal para a galera que curte videogame. Desde 2014 que jogadores do mundo assistem ansiosos ao The Game Awards para descobrir qual vai ser o famoso GOTY – o Game of the Year – ou “jogo do ano”, pra quem prefere o vernáculo.
Depois de tantos anos de apresentações, tantas discussões, polêmicas e acusações de “prêmios vendidos”, quanto você realmente sabe sobre o The Game Awards? Neste artigo será contada uma breve história do evento e de seu criador Geoff Keighley. Também vamos explicar como funciona a seleção de nomeados e premiados, para você se preparar para reclamar com mais conhecimento!
Uma breve história do The Game Awards
Como mencionado anteriormente, o The Game Awards foi criado pelo seu apresentador, Geoff Keighley, conhecido jornalista canadense de games que trabalha com mídia e entretenimento desde antes mesmo de se tornar adulto. Não por coincidência, Keighley começou sua carreira justamente com um evento de jogos.
Quando tinha apenas 14 anos, em 1994, Keighley participava da equipe que escrevia os textos para nomeações e premiações do Cybermania 94: The Ultimate Gamer Awards, o primeiro evento do tipo que chegou a ser televisionado.
O jornalista passou por outros parecidos depois, inclusive muito tempo no G4, da Spike TV. Nenhuma dessas premiações chegava perto da ambição que o TGA tem hoje em dia, mas ajudaram Keighley a fazer seu nome e cultivar a experiência necessária para criar o evento de seus sonhos.
Foi em 2014 que tivemos a primeira edição do The Game Awards. De lá pra cá, o evento só cresceu – tivemos categorias e critérios mudando, participações aumentando e hoje em dia a premiação já é comparada com o “Oscar dos jogos” ou o “Super Bowl” dos games. E a ambição de Keighley é ver o evento continuar a ficar cada vez maior.
“Tem sido realmente uma linha reta pra mim. (…) As pessoas levam o evento muito a sério e eu aprecio isso de verdade. A credibilidade é algo que é importante para este show e para seu público.”
Neste ano o evento chega à sua 9ª edição e, ao longo desse tempo todo, uma categoria sempre permaneceu: o “Jogo do Ano”. Trata-se do prêmio máximo do The Game Awards, o melhor jogo lançado no período. Também é conhecido como GOTY, sua sigla em inglês para Game Of The Year. É interessante recapitular os nomeados e vencedores de cada edição (vencedor em negrito):
GOTY 2014
- Dragon Age Inquisition
- Bayonetta 2
- Dark Souls 2
- Hearthstone: Heroes of Warcraft
- Middle-Earth: Shadows of Mordor
GOTY 2015
- The Witcher 3
- Bloodborne
- Fallout 4
- Metal Gear Solid 5: The Phantom Pain
- Super Mario Maker
GOTY 2016
- Overwatch
- Inside
- Doom
- Uncharted 4: A Thief’s End
- Titanfall 2
GOTY 2017
- The Legend of Zelda: Breath of the Wild
- Horizon Zero Dawn
- Persona 5
- PlayerUnknown’s BAttlegrounds
- Super Mario Odyssey
GOTY 2018
- God of War
- Celeste
- Assassin’s Creed Odyssey
- Marvel’s Spider-Man
- Monster Hunter: World
- Red Dead Redemption 2
GOTY 2019
- Sekiro: Shadows Die Twice
- Control
- Death Stranding
- Super Samsh Bros. Ultimate
- Resident Evil 2 (remake)
- The Outer Worlds
GOTY 2020
- The Last of Us 2
- Animal Crossing: New Horizons
- Doom Eternal
- Final Fantasy VII Remake
- Hades
- Ghost of Tsushima
GOTY 2021
- It Takes Two
- Deathloop
- Metroid Dread
- Psychonauts 2
- Ratchet & Clank: Rift Apart
- Resident Evil Village
Os critérios de nomeação e premiação
Certamente muitos dos leitores têm várias opiniões a respeito dos vencedores de cada ano, se é merecido ou não e assim por diante. Mas, antes de correr para os comentários para explicar quem deveria ter ganhado ou não em cada ano, é interessante entender como são escolhidos os jogos nomeados e premiados a cada ano no The Game Awards.
Para começar, como seria o esperado, acontece a seleção dos indicados, dos candidatos aos prêmios de cada categoria. Segundo o site oficial do TGA, mais de 100 publicações globais participam desse processo, envolvendo sites, revistas e “influenciadores”.
Quais jogos podem ser selecionados? Sempre são games lançados até meados de novembro, o dia específico varia um pouco. Para a edição de 2022 do The Game Awards, são elegíveis games disponibilizados para o público até 18 de novembro.
Os veículos escolhem cinco jogos para cada categoria do evento. A escolha é livre e são apenas cinco títulos por veículo, por categoria. Essa escolha é feita confidencialmente e os games de cada bloco não são colocados num ranking específico.
O pessoal da organização, então, recolhe os cinco jogos mais mencionados em cada categoria para nomeá-los como os indicados ao prêmio. Em caso de empates, podemos ter mais de cinco por categoria – como aconteceu com o GOTY deste ano e do ano passado, com seis indicados.
Além desse processo, atualmente temos também “júris especializados”, para selecionar games de categorias mais específicas. É o que acontece com os prêmios para eSports, acessibilidade e, começando nesta edição, melhor adaptação.
Depois de determinados os cinco (ou mais) indicados por categoria, o mesmo júri recebe de volta quais foram os escolhidos finais e votam em um vencedor por prêmio. Pronto, resolvido.
“EPA!” – exclamarão os leitores atentos – “Mas e o voto do público hein?” Pois é, o The Game Awards permite que o público escolha seu jogo preferido em cada categoria para levar os prêmios. A votação pode ser feita pelo site oficial ou pelo servidor do evento no Discord. O pessoal na China também pode votar usando o Bilibili. Mas saiba que o voto de todo o público tem o peso de 10% na decisão final do vencedor.
Isso significa dizer que, num cálculo chucro e aproximado, se todos os espectadores votarem de maneira unânime em Stray, por exemplo, vai bastar que apenas um pouco mais de dez veículos ao redor do mundo vote em outro game pro escolhido da galera já não ter chances de ganhar. Isso se nenhum outro veículo votar em Stray também, é claro.
Esse é um cenário absurdo, obviamente. É impossível de se imaginar um game em qualquer categoria não recebendo voto algum de nenhum dos veículos participantes. É apenas um jeito de destacar como o voto do público pouquíssimo impacta na escolha dos premiados em cada categoria. Então pense nisso antes de dizer que foi por culpa dos “fãs descontrolados” que seu jogo preferido não levou o GOTY ou qualquer outro prêmio.
Vale ressaltar: essa é a regra para as categorias padrão do The Game Awards. Existe um prêmio específico que é inteiramente decidido pelo voto do povo, o Player’s Voice Award.
Nem só de GOTY vive o TGA
Não poderíamos escrever todo um artigo sobre o The Game Awards e simplesmente ignorar a grande quantidade de coisas que aparecem no evento que não são os prêmios. Estou falando dos trailers e shows, que estão se tornando partes cada vez maiores de cada apresentação.
Pois é, a cada ano que passa o TGA cresce não só em seu alcance, mas em sua duração também. Isso porque, além da grande quantidade de categorias de jogos a serem premiados, o evento é recheado de novos trailers de jogos e apresentações de música das mais variadas.
Os trailers muitas vezes vêm acompanhados dos dizeres “world premiere”, indicando que é a primeira vez que aquele vídeo será mostrado – por mais que muitas vezes seja difícil identificar quais são as novidades. Mas não podemos subestimar o tipo de estreia que aparece no Game Awards. É sempre bom lembrar que o palco do evento foi escolhido para grandes revelações, como a primeira aparição do Xbox Series X e a revelação de Alan Wake 2 no ano passado. Aliás, em 2021 também foi mostrado um trailer oficial para um novo jogo da Mulher Maravilha, que parece que todo mundo esqueceu.
O evento também conta com espetáculos de música cada vez mais ambiciosos, envolvendo orquestras e grandes nomes não só do mundo dos games, mas do meio do entretenimento em geral. Isso converge com a ambição de Keighley e sua visão de um futuro onde toda mídia se mistura, e todas caminham para a interatividade:
Existe essa convergência incrível de jogos, streaming e televisão. Você começa a ver todas essas coisas convergindo, e é empolgante para o The Game Awards. Nós reconhecemos a interatividade em todas as formas e formatos. Eu acredito que todo entretenimento vai se tornar interativo em algum nível.
Essa convergência de mídias buscada por Keighley se mostra na aproximação recente do evento com o cinema também. No ano passado tivemos não somente um novo trailer para o filme do Sonic – que ainda é um filme de jogo – mas também a participação de Carrie-Anne Moss e Keanu Reeves para promover o Matrix Awakens.
O The Game Awards de 2022 já confirmou as participações de Hozier e Bear McCreary para uma apresentação da trilha de God of War Ragnarok e Naoki Yoshida, produtor musical de Final Fantasy XVI, para uma performance no palco também. Com o evento introduzindo pela primeira vez a categoria de “melhor adaptação”, podemos esperar facilmente algo relacionado a filmes e a cinema. Quem sabe alguma novidade sobre a animação do Mario, já que tivemos um novo trailer recentemente?
As polêmicas
Todo ano o resultado das premiações gera alguma controvérsia, principalmente do GOTY. A vitória de Overwatch sobre Uncharted 4 em 2016 e de God of War sobre Red Dead Redemption 2 em 2018 são alguns dos exemplos mais comentados nas redes sociais.
A importância que se dá a este título específico, no entanto, muitas vezes ofusca questionamentos mais concretos que há muito tempo são feitos sobre o The Game Awards e seu organizador.
A verdade é que não é possível realizar um evento com o porte e ambição do Game Awards sem o investimento de uma lista considerável de patrocinadores. E o peso que cada um desses investidores tem na forma que o evento é realizado e nas decisões que são tomadas é algo a se questionar, certamente.
Não ajuda o fato que Keighley também é conhecido pela galera das antigas como o “Dorito Pope”. Ainda em seus tempos mais ativos como jornalista de games, o dono do Game Awards foi protagonista de um meme que dominava a internet em 2012, onde ele aparecia numa entrevista rodeado de Doritos e Mountain Dew.
O relacionamento de jornalistas de games com marcas e patrocinadores é algo complicado, que daria um artigo à parte. Para este texto, vale ressaltar que é necessário para os criadores de conteúdo se aproximarem das fontes de onde sai esse conteúdo – mas ao mesmo tempo algum distanciamento é igualmente necessário para não se perder a credibilidade.
Quando o organizador e apresentador do The Game Awards simplesmente aceitou aparecer como um dos muitos personagens de Death Stranding, de Hideo Kojima, a amizade de longa data de Keighley com o desenvolvedor japonês foi colocada na mira dos críticos.
O divisivo game de entregas e conexões do Kojima foi indicado para um total de nove categorias no TGA de 2019, incluindo o almejado GOTY. Dessas, Death Stranding emplacou três prêmios, o de “melhor direção” entre eles, algo que homenageia diretamente o próprio Kojima.
As críticas não foram poucas. Participando de um dos famosos AMA (“pergunte-me qualquer coisa”) no Reddit, Keighley fala dessa balança delicada entre se aproximar de criadores e manter sua credibilidade. Ele diz que sua promessa é sempre ter transparência e comenta “estar aberto” à possibilidade de não voltar a aparecer em jogos.
Na página oficial do The Game Awards é salientado que Keighley e os organizadores do evento não participam de qualquer forma na seleção dos jogos indicados em cada categoria da premiação, nem na votação dos vencedores.
The Game Awards 2022
Depois de tanto falar do TGA ao longo dos anos, nada mais justo do que fazer um trecho – ainda que breve – sobre a edição deste ano da premiação.
O The Game Awards 2022 acontece no dia 8 de dezembro, quinta-feira, e começa às 21h30 (horário de Brasília). Ele será transmitido ao vivo pelo YouTube e pela Twitch, entre outras plataformas.
Temos um total de 31 categorias, que podem ser vistas com seus indicados de maneira interativa no site oficial. Vale destacar aqui os indicados ao GOTY 2022, o jogo do ano:
- A Plague Tale Requiem
- Elden Ring
- God of War Ragnarök
- Horizon Forbidden West
- Stray
- Xenoblade Chronicles
Como mencionado no artigo, temos seis jogos em vez de cinco, indicando que dois deles empataram na votação. A organização do The Game Awards nunca divulga os números de votos que cada indicado teve, então não sabemos os jogos que empataram.
E fora o que já temos confirmado, cabe aqui um pouquinho de especulação sobre o que é possível ou que poderia acabar aparecendo durante a apresentação em termos de trailers para novos jogos.
Com o lançamento de Dead Space logo no início do ano que vem, não seria surpresa se o jogo fosse mostrado no evento. Starfield também é um forte candidato a novo trailer, já que o game chegou a ter seu lançamento previsto para o final deste ano e acabou sendo mandado para 2023.
Jogos “sumidos” também sempre são uma boa aposta, e a Warner Bros. tem uma lista. Além do já citado game da Mulher Maravilha que foi esquecido por muitos, faz tempo que não aparece nada sobre o Esquadrão Suicida da Rocksteady. E também está mais do que na hora de vermos um novo Injustice ou Mortal Kombat da NetherRealm. Aproveito este pequeno segmento para convidar a galera a dizer nos comentários os trailers que gostariam de ver durante o evento!
Para que serve um troféu?
Para concluir este artigo, fica um questionamento: para que serve vencer um prêmio no The Game Awards?
Ter o nome do seu jogo vinculado a um dos muitos prêmios do maior evento de games do ano é muito útil para o marketing, especialmente o cobiçado título de GOTY. Como mencionado no artigo sobre notas dos games, também temos os ávidos fanboys que adoram usar esse tipo de coisa como “argumento” para brigar na internet.
Essas brigas partem do pressuposto que o Game Awards está escolhendo os “melhores” jogos, que trata-se de uma competição, com vencedores e perdedores. Porém, como poderíamos comparar God of War com Stray, por exemplo? São games completamente diferentes não apenas em sua proposta, mas também em seus investimentos, desenvolvimento e até preço. A única coisa que têm em comum é serem jogos.
No meu entendimento, uma premiação não está ali para escolher um jogo em detrimento a outro, mas sim para fazer homenagens. E o meu melhor argumento para isso pode soar estranho para alguns de vocês, mas peço que acompanhem o raciocínio: reparem que nunca um jogo ganhou um prêmio. Repito, jogo nenhum ganha prêmio.
Assistam novamente a qualquer edição do The Game Awards e reparem na apresentação desta semana bem atentos. Vocês vão perceber que em momento algum vai aparecer um jogo subindo ao palco para receber o troféu conquistado.
Quem sobe lá e faz seu discurso são os desenvolvedores, diretores, roteiristas e designers que trazem ao mundo os games que tanto têm importância em nossas vidas. São as pessoas que trabalham duro por um número absurdo de horas para transformar suas imaginações em realidade, que jogamos largados de braguilha aberta no sofá.
São esses trabalhadores que, merecidamente, levantam o troféu lá na frente, vendo todo seu esforço sendo reconhecido e homenageado. Pessoalmente, acredito que deveríamos fazer um esforço maior para lembrar desses nomes do que aquele feito para guardar quem “ganhou ou perdeu” o GOTY.