Subestimado, Prototype 2 merecia muito mais atenção do que recebeu
Ofuscado por grandes jogos, Prototype 2 também sofreu com um pouco de azar
Em um mercado dominado por franquias de peso, Prototype 2, lançado em 2012 pela Radical Entertainment e publicado pela Activision, passou despercebido por muitos jogadores.
Apesar de sua proposta ousada e mecânicas inovadoras, o jogo não alcançou o sucesso comercial ou crítico que sua qualidade justificava, mas acabou caindo naquele seleto grupo de pérolas cult do PlayStation 3.
Um contexto desfavorável
Prototype 2 chegou às lojas em um momento competitivo para jogos de mundo aberto. Lançado em abril de 2012, enfrentou concorrência direta de títulos como Mass Effect 3 e a expectativa por GTA V.
Além disso, o primeiro Prototype (2009) já havia dividido opiniões devido a problemas técnicos e uma narrativa considerada fraca, o que gerou certo ceticismo em relação à sequência. Apesar disso, a Radical Entertainment trabalhou para corrigir falhas do antecessor.
Ainda assim, Prototype 2 não conseguiu se destacar no radar de muitos jogadores, permanecendo ofuscado por gigantes da indústria e por uma campanha de marketing tímida.
A percepção de que o jogo era “mais do mesmo” também contribuiu para isso. No entanto, essa visão ignora as melhorias significativas em relação ao primeiro título e os elementos que tornaram o jogo uma experiência única no gênero de ação em mundo aberto.
Mundo aberto com nova perspectiva
Diferentemente de outros jogos de mundo aberto que priorizam exploração ou narrativas complexas, Prototype 2 aposta na liberdade total de destruição e no poder desenfreado do protagonista, James Heller.
A cidade de Nova York, agora chamada New York Zero, é dividida em zonas que refletem o caos de uma infecção viral. Esse cenário pós-apocalíptico, com áreas devastadas e outras sob controle militar, cria uma ambientação envolvente e bastante única como experiência.
As mecânicas de deslocamento são um dos maiores trunfos do jogo. Heller pode correr verticalmente por prédios, planar pelo ar e realizar saltos impressionantes, o que torna a aventura fluida e intuitiva.
Comparado a outros jogos da época, como Assassin’s Creed III, o sistema de movimentação de Prototype 2 é mais dinâmico, permitindo que o jogador se sinta um super-humano e transforme e cidade em um verdadeiro playground urbano.
O combate é outro ponto alto. Heller, infectado pelo vírus Blacklight, possui poderes mutantes que vão desde garras afiadas até tentáculos devastadores. Há também a possibilidade de alternar entre habilidades, como o Whipfist e o Blade.
Mas diferentemente do primeiro jogo, que pecava pela repetitividade nos combos, Prototype 2 oferece maior diversidade de ataques e upgrades, garantindo personalização do estilo de jogo e adaptação como resposta.
Além disso, o sistema de stealth com o poder de shapeshifting permite que Heller assuma a aparência de inimigos para se infiltrar em bases militares ou manipular situações.
Essa mecânica, embora subutilizada por alguns jogadores, incentiva abordagens criativas, algo raro em jogos de ação da época. Tendo isso em mente, é possível afirmar que combinação de combate brutal e furtividade faz de Prototype 2 um título versátil.
Uma narrativa que não é qualquer coisa
Embora a história de Prototype 2 não seja seu principal atrativo, ela não merece as críticas severas que recebeu. O jogo troca o protagonista do primeiro título, Alex Mercer, por James Heller, um sargento movido por vingança após perder a família para o vírus.
A decisão de transformar Mercer, o herói do primeiro jogo, em vilão foi ousada e surpreendeu os fãs, sendo encarada com certa desconfiança em especial pelo personagem original ter obtido um certo destaque.
A narrativa, centrada em temas de perda, traição e moralidade ambígua, é contada de forma direta, com cutscenes bem dirigidas e dublagem competente. Embora não alcance a complexidade de jogos como The Witcher, a história cumpre seu papel de contextualizar as ações do jogador.
Enquanto isso, as missões secundárias, ignoradas por muitos críticos na época, exploram o universo do vírus Blacklight com eficiência, mesmo diante de um jogo com foco linear em sua narrativa.
Em termos técnicos, Prototype 2 trouxe avanços notáveis em comparação com o primeiro jogo. Os gráficos foram aprimorados, com texturas mais detalhadas e uma Nova York mais viva.
A trilha sonora, composta por Scott Morgan, complementa a ação com faixas intensas e muito bem enquadradas. Além disso, o jogo rodava de forma estável em consoles da época (PS3 e Xbox 360), corrigindo boa parte dos problemas de desempenho do antecessor.
A inteligência artificial, embora não revolucionária, era funcional, com inimigos que reagiam de forma convincente às ações do jogador. Já as batalhas contra chefes levavam isso ao extremo, principalmente se encaradas no modo Hard, por exemplo.
Por que Prototype 2 merecia mais atenção?
O principal motivo pelo qual Prototype 2 foi subestimado está na falta de contexto para apreciá-lo. Em uma era dominada por narrativas cinematográficas e jogos com orçamentos astronômicos, a proposta do game foi mal interpretada como simplicidade.
No entanto, é exatamente essa abordagem direta que torna o jogo especial. Ele não tenta ser algo que não é, entregando uma experiência de ação pura, com liberdade criativa e mecânicas que poucos jogos da época ousaram explorar.
Além disso, o jogo sofreu com a falta de suporte pós-lançamento. Enquanto franquias como Assassin’s Creed recebiam expansões robustas, Prototype 2 teve DLCs limitados e não conseguiu manter uma comunidade ativa.
A falência da Radical Entertainment pouco após o lançamento também selou o destino da franquia, privando-a de uma possível sequência que poderia ter refinado ainda mais suas ideias.
Prototype 2 é um exemplo clássico de um jogo que, apesar de suas qualidades, foi vítima das circunstâncias. Suas mecânicas fluidas, combate versátil e ambientação imersiva o colocam como um dos títulos mais criativos do gênero de ação em mundo aberto.
Ele merecia mais atenção não apenas por suas conquistas técnicas, mas por oferecer uma experiência que priorizava a diversão sem amarras, algo cada vez mais raro em um mercado saturado de fórmulas previsíveis.
Para os fãs de ação e mundos abertos, revisitar Prototype 2 é uma oportunidade de redescobrir um jogo que, mesmo uma década depois, continua divertido e único. Talvez seja hora de dar a James Heller e sua Nova York devastada o carinho que eles sempre mereceram.