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Review bombing: o que é, como reconhecer e… Tem jeito de impedir?

Até onde a “enxurrada” de análises negativas do público impacta em um game?

por João Gabriel Nogueira
Review bombing: o que é, como reconhecer e… Tem jeito de impedir?

Jogadores que acompanham de perto o lançamento de novos jogos já devem ter se deparado com o infame “review bombing” – a prática em que diversas pessoas enchem um determinado game de análises negativas de uma só vez.

Esse tipo de acontecimento raramente está relacionado ao jogo em si, muitas vezes acontecendo por práticas da produtora alheias à experiência de jogar. Até onde, então, bombardear um game de análises negativas impacta em seu desempenho no mercado? Como perceber quando isso está acontecendo? E será que tem algum jeito de impedir? Esses são os questionamentos em que vou focar no artigo da vez.

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O que é o bombardeio de reviews

O bombardeio de reviews – meio que a tradução direta de review bombing – se refere à prática de encher um game de análises negativas nas plataformas que permitem as avaliações de usuários. Os sites mais conhecidos onde isso acontece são o Metacritic e a Steam.

A Steam é a maior loja digital de games para o PC no mundo há anos, e suas páginas de jogos contam com um sistema de recomendação dos usuários. Os jogadores não dão notas aos games, dizendo apenas se recomendam ou não o título. Com base no número de recomendações positivas ou negativas a Steam classifica o game com uma escala que vai do extremamente negativo ao extremamente positivo.

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Já o Metacritic é um site mais universalmente usado por agregar diferentes plataformas. A iniciativa do portal é reunir diversas reviews nos mais variados sites e mídia especializada a fim de oferecer uma nota média para o jogo. Além das notas dos profissionais, o Metacritic tem uma nota média do público também, que fica separada.

Diferente da Steam, no Metacritic os usuários dão uma nota mesmo ao jogo, influenciando numa média aritmética final obtida das notas do público.

Quando um jogo desagrada por quaisquer motivos – que vamos debater no próximo trecho do artigo – muitos usuários vão a uma dessas plataformas deixar uma review negativa e colocar uma nota 0, a fim de baixar a média geral do game. Quando um número suficiente de pessoas resolve fazer isso, a média realmente é impactada e a isso chamamos de review bombing.

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É interessante notar que essa prática raramente acontece através de uma organização ou planejamento, apesar de ser um esforço conjunto. Alguma atitude da produtora ou algum problema no jogo fica infame por algum motivo e várias pessoas resolvem reclamar. Quando outros jogadores percebem o movimento, aderem a ele e o review bombing naturalmente acontece.

Por que acontece?

O review bombing pode acontecer por inúmeros motivos, e vou fazer meu melhor neste artigo para não entrar num julgamento de méritos. Fica a critério de cada um decidir até onde são válidas as reivindicações de jogadores que decidem tomar atitudes práticas em seus protestos.

Um dos primeiros casos registrados do uso do termo review bombing para os games foi numa polêmica envolvendo o jogo Spore, em 2008. O icônico site Ars Technica descreveu como bombardeio as reviews negativas que jogadores foram registrar na Amazon contra o jogo.

O principal ponto de reclamação contra Spore foi uma política de DRM um tanto quanto questionável que a EA implementou para o jogo no lançamento. O site cita um dos comentários negativos que fizeram parte do review bombing para explicar o problema:

“Antes de mais nada, o jogo incorpora um sistema de DRM draconiano que exige que você ative pela internet, e o limita a um grande total de 3 ativações. Se você alcançar esse limite, você terá que contatar a EA para conseguir uma ativação extra. Isso não é tão simples quanto parece, já que quando você chega neste ponto a EA vai imaginar que você, o cliente pagante, é um ladrão pirateiro sujo. Você terá que provar que comprou o jogo, oferecer motivos para ter alcançado o limite…”

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A mesma produtora se envolveu em outro caso famoso de review bombing. Quatro anos depois, em 2012, era lançado Mass Effect 3, com um final que foi exaustivamente discutido pela sua… Qualidade. Os primeiros jogadores a concluírem o game foram em massa à internet para expressar suas… Decepções.

Com a internet cada vez mais presente na vida das pessoas, o marketing dos games foi ficando também cada vez mais constante, assim como a divulgação de informações que desagradam – seja por meios oficiais ou por vazamentos. Assim, começaram a aparecer os review bombing em jogos antes mesmo de seus lançamentos.

Um motivo que ficou bem comum pra isso, especialmente em 2019, foi com a política agressiva de Tim Sweeney de garantir lançamentos exclusivos para a Epic Games Store no PC. Borderlands 3 foi um dos primeiros casos, mas Metro: Exodus é um exemplo até mais infame, porque o jogo chegou a aparecer na Steam em pré-venda antes de se tornar um exclusivo Epic. O pessoal que comprou na plataforma da Valve foi reembolsado, obviamente, mas isso não mudou a revolta com a troca repentina de política.

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Um exemplo interessante de review bombing que teve a ver mais com o jogo, não com as políticas de sua produtora, foi com The Last of Us 2. O vazamento do enredo do jogo causou a ira de milhares de fãs, que apelaram para uma enxurrada de análises negativas assim que foi possível registrá-las. Além disso, também teve muita gente preconceituosa surfando nessa onda para aproveitar e colocar o jogo ainda mais pra baixo.

E é evidente que jogos sendo lançados em péssimo estado de otimização ou qualidade técnica também sempre evocam muitas reviews negativas. Fica um pouco discutível chamar de review bombing nesses casos, no entanto, porque é um aspecto que impacta diretamente na jogabilidade e pode ser considerado apenas as análises sinceras de quem tentou jogar e não conseguiu. Um exemplo que chama muito a atenção neste caso é o da trilogia de remasters do GTA.

Abusando do sistema de notas

Devido à maneira que o review bombing funciona, fica um tanto evidente que é necessário abusar do sistema de notas de usuários de uma plataforma para que se possa chamar a atenção para o alvo das reclamações em um determinado jogo.

E as notas não podem ser apenas “levemente baixas”. Com o grande número de jogadores que deixa suas opiniões nesses sites e plataformas, interessados em fazer um verdadeiro bombardeio precisam dar notas entre 0 e 1. Apenas um influxo de notas tão baixas assim consegue realmente impactar na média de um jogo e mostrar que tem algo acontecendo.

A questão é justamente essa. O review bombing geralmente é feito para aparecer, não para ficar escondido. As pessoas que o praticam, em sua maioria, querem que outros jogadores percebam que aconteceu, que fiquem curiosos pelo motivo da média das notas de usuários de um game estar tão baixa e fiquem sabendo os motivos de tantas reclamações.

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Via de regra é assim que acontece, mas tudo na vida tem exceções. Existe um certo tipo de review bombing que é menos transparente a respeito de suas intenções, mas que não quer deixar de reclamar. 

É o caso do já citado review bombing de TLOUS 2, por exemplo. Enquanto muita gente reclamava dos rumos da história, vários jogadores aproveitaram o barulho para xingar o game por motivos muito menos válidos.

Um exemplo mais recente e possivelmente mais descarado foi com o DLC de Horizon Forbidden West, chamado Burning Shores. No momento em que escrevo este artigo, o conteúdo extra do jogo se encontra com uma média de 82 entre as reviews profissionais no Metacritic e de 4,3* entre os usuários. E e só clicar nessas análises para encontrar diversas variações de “não sou homofóbico, maaas…”

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É interessante perceber que essa média aumentou desde o lançamento do game. Em dado momento, o pessoal da Forbes chegou a registrar um 2,7 entre as notas de usuários, e isso traz outro aspecto interessante do debate sobre review bombing – o “anti-bombardeio”.

Quando o review bombing acontece por motivos muito mais polêmicos do que problemas descarados no jogo, não é incomum acontecer um bombardeio contrário, de usuários correndo para dar notas 10 ao conteúdo para tentar melhorar a situação de suas médias.

Isso parece ter acontecido em Burning Shores, e talvez possamos citar como exemplo também o “controverso” (não é controverso) terceiro episódio da série de The Last of Us pela HBO. É disparado o episódio com mais avaliações no IMDb, tendo o dobro do número do segundo episódio mais avaliado. Várias delas são notas mínimas, e outras tantas notas máximas.

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*É importante levar em conta que o Metacritic faz uma média de 0 a 100 para notas de profissionais e de 0 a 10 para as notas de usuários. Então a comparação aqui não seria de 82 vs. 4,3, mas sim de 82 vs. 43 ou 8,2 vs. 4,3.

O impacto é real?

É muito difícil observar algum impacto real do review bombing nas vendas de grandes jogos com máquinas poderosas de marketing. No artigo sobre vazamentos, por exemplo, cheguei a comentar como The Last of Us 2 foi um sucesso de vendas desde o lançamento, mesmo com todo o escarcéu que aconteceu por causa das informações sobre sua trama.

Borderlands 3 também não teve problemas para somar milhões de unidades vendidas. E neste caso é interessante destacar que o motivo do ódio dos fãs que resultou num review bombing foi o fato do game ficar de fora da maior loja digital de jogos para PC no mundo. Mesmo com uma loja a menos e muitas reclamações, o jogo fez sucesso.

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Mas não é todo título que conta com um nome consagrado e/ou investimentos milionários em propaganda para se promover. Jogos menores podem sentir o impacto do review bombing, principalmente na Steam.

As análises de usuários são uma das métricas que a Valve usa para decidir o que vai aparecer na concorrida página inicial de sua loja. Atualmente a loja conta com mecanismos para tentar detectar e impedir o review bombing (que serão explicados a seguir), mas se não funcionar o game pode ser prejudicado aparecendo menos.

Para jogos independentes ou de menor investimento – naquele misterioso segmento duplo A ou triplo B – precisam muito do incentivo dos jogadores, então eles são especialmente “sensíveis” ao review bombing.

Soluções possíveis para o review bombing

Conforme mencionado, o review bombing não é difícil de ser percebido – assim, também não é difícil de ser impedido. A grande questão aqui não é se dá para resolver, mas qual seria a melhor maneira de fazer isso.

As análises de usuários são uma importante ferramenta não só para os consumidores terem uma noção melhor do que esperar de um jogo, mas também para protestar contra práticas abusivas de empresas que muitas vezes não são questionadas em reviews profissionais. O review bombing pode ser uma maneira útil e direta dos consumidores reclamarem de problemas reais dos jogos, sejam técnicos ou gerais de qualidade – como no caso de Jedi Survivor.

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O problema é que essa mesmíssima ferramenta pode ser mal usada, apenas para promover discursos de ódio e intolerância contra jogos feitos com capricho e qualidade.

A Steam tem um sistema de detectar reviews de usuários que considera “fora do tema” (off-topic) e separa para depois excluir. É uma maneira de prevenir o review bombing, mas que sacrifica críticas válidas também, apenas por não serem diretamente referentes ao jogo – segundo avaliação da Valve. 

A plataforma também separa as médias de análises entre recentes e em toda a longevidade do game, o que é muito para ver se melhorias e consertos feitos depois do lançamento estão sendo bem recebidos pelo público.

O Metacritic, por sua vez, não vai muito longe para impedir a prática. Ele apenas exige um período de tempo depois do lançamento do jogo, para tentar garantir que as pessoas jogaram antes de avaliar, e tem um pouco de moderação.

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E “moderação”, infelizmente, é a chave. A única solução realmente possível para o review bombing é ter uma equipe de moderação dedicada a avaliar as análises de usuários antes delas entrarem na plataforma. Fazendo certas exigências nos comentários fica fácil perceber se a pessoa jogou ou não e se a crítica sendo feita é válida ou não. E fica mais fácil ainda perceber discursos de ódio e intolerância.

Digo “infelizmente” porque a moderação humana é o que as grandes empresas menos querem fazer, em qualquer situação. Sai sempre mais caro contratar humanos do que usar robôs ou simplesmente ignorar o problema.

Então é pouquíssimo provável que veremos o review bombing mudar em relação à forma que acontece atualmente. O jeito é ficar atento aos seus sinais e, como uma vez já disse, não transformar notas na métrica mais importante da avaliação de um jogo.