BioMutant: vale a pena?
BioMutant possui um bom sistema de combate e uma história interessante, mas comete certos deslizes
Se há um consenso é que o ser humano, de diversas maneiras, afeta negativamente o meio ambiente. Mudanças climáticas, agravamento do efeito estufa e poluição são apenas algumas das consequências da ação do homem. Com esse cenário, o estado do mundo pode se agravar ainda mais, se ele não fizer nada a respeito. E se a mãe-natureza mostrasse suas garras e lutasse? É com esse pensamento que a Experiment 101 criou BioMutant, o seu novo RPG.
A proposta do game é imaginar como seria o mundo sem a raça humana, em um período onde ela está extinta. Restaram apenas seres antropomórficos, que guerreiam entre si para decidir novamente o destino da Terra. Um plot bem interessante, mas que ainda escorrega em alguns pontos, como na conexão dos jogadores com os personagens relevantes para a história.
Luz ou escuridão?
O começo, meio e fim de BioMutant são ligados a uma grande escolha: por qual caminho o protagonista (sem nome definido) percorrerá: a luz ou a escuridão. Logo no início do gameplay, o jogador se vê em uma encruzilhada, onde dois seres (um brilhante e um maligno) surgem e tentam convencê-lo a segui-los. A sua opção aqui é importante, pois impacta o andamento da narrativa: os NPCs podem te ver como a pessoa que salvará o mundo ou como aquele que trará um fim a tudo.
Apesar da importância da seleção entre luz e trevas no começo, o jogo te dá a opção de mudar seu alinhamento conforme a narrativa se desenvolve. Além disso, também indica quais são as melhores ações para você tomar, seja o seu personagem um mocinho ou um encrenqueiro. Por exemplo, os NPCs vão sugerir que você se alie a tribo que quer unir as demais (luz) ou à outra que pretende conquistá-las através da opressão (escuridão). Chegamos aí, ao plot principal do título.
A “Árvore da Vida” sustenta o planeta através de suas raízes, o problema é que elas estão sendo destruídas por monstros chamados “Devoradores”. O povo dos Míriades (luz) têm esperança de derrotar esses seres, mas para isso, precisam unir as outras cinco tribos e partirem ao combate. Já os Jagni (escuridão) querem conquistar as nações restantes e deixar os Devoradores consumirem a árvore para o ciclo da vida se “reiniciar”.
A partir daí, é com o jogador: se for seguir um código de honra, a melhor opção é se aliar aos Míriades. Se preferir a opressão, o jeito é ir com os Jagni. Lembrando: essa escolha afeta o final da história.
Apesar de a narrativa ser interessante e conduzir o player a questionar a sua própria moralidade, ela perde a força por conta da forma como é contada. Um narrador descreve todas as cenas que se passam no game, incluindo os diálogos dos personagens. As conversas ocorrem em um dialeto dos antropomorfos — lembrando as vozes do filme “Alvin e os Esquilos” — para então, o narrador traduzir todas as falas.
Graças a essa opção da Experiment 101, o jogador não se sente conectado com nenhum dos personagens secundários — na verdade, é provável que ele vá pular qualquer diálogo in-game com o botão “X”. Pior ainda: o narrador é quem vira o “personagem principal” da trama.
Corte, atire e suba de nível!
O forte de BioMutant, definitivamente, está no seu gameplay, uma “mistura de Ratchet & Clank, Devil May Cry e Batman Arkham”, de acordo com os desenvolvedores. E isto é bem perceptível.
Antes de entrar na jogatina, no entanto, o jogador precisa criar o seu antropomorfo. É nesse trecho onde ele pode passar um bom tempo customizando seu personagem, pois as opções são as mais variadas possíveis: há como variar a aparência física para o protagonista se sobressair em um dos seus atributos (força, vitalidade, carisma, inteligência ou agilidade). Ainda dá para escolher as cores dos pelos dele, a sua raça e o tipo de arma que carregará (espadas de duas mãos, espadas duplas, etc.).
A partir daí, é hora de explorar o mundo de BioMutant. O gamer vai se deparar com diversos inimigos pelo mapa, que derrubarão itens e concederão experiência, caso derrotados — mecânica típica de um RPG.
As batalhas variam com base no estilo de jogo de cada pessoa: alguns preferirão atirar com armas de longo alcance (olá, Ratchet!), enquanto outros partirão para o combate corpo a corpo. Neste último, aliás, dá para investir em duelos de espada ou de mãos vazias — para os lutadores de Kung Fu de plantão. A dinâmica que isso traz para os confrontos é excelente e permite a realização de combos com trocas de armas: cortando e atirando.
Mas calma, não para por aí. Enquanto exploram o mundo, os gamers encontram santuários, onde o protagonista meditará e obterá pontos “Psiônicos”, que podem ser gastos em super poderes. Há ainda como encontrar pontos de “Mutação”, que também servem para comprar habilidades e para aprimorar resistências ambientais — determinados ambientes do mapa são prejudiciais para o seu personagem e ele precisa se adaptar ao entrar neles. Esses poderes são mais um complemento para os combos citados acima.
Se as lutas divertem, o mesmo não se pode dizer das missões, que são bastante repetitivas. Enquanto guerreia com tribos, por exemplo, o jogador precisa tomar os Postos Avançados delas, para então, desafiar os seus respectivos Shifus (líderes) para um combate (ou convencê-los a se renderem na lábia). O ciclo se repete para as outras tribos do game.
Gráficos são bonitos, mas resolução decepciona no PS5
BioMutant foi desenvolvido pela Experiment 101, um estúdio que, segundo a publisher THQ Nordic, possui apenas 20 funcionários. Logicamente, isso limita o potencial gráfico do game, que já apresenta visuais muito bonitos — especialmente por se tratar de um jogo de PlayStation 4.
Por outro lado, quem quiser desfrutar da experiência no PS5 (via retrocompatibilidade) terá de se contentar com uma resolução de apenas 1080p — o 4K até se estica de forma dinâmica. É uma pena, pois outros títulos de geração passada já contêm opções aprimoradas.
Enquanto isso, quem gosta de experiências fluidas, não precisa se preocupar. O título roda a 60 FPS, ou seja, permite ao jogador atirar com mais precisão. Algumas quedas ocorrem, mas nada que prejudique o andamento do gameplay.
BioMutant: vale a pena?
O novo RPG da Experiment 101 não é nenhum divisor de águas no gênero. Não espere um game épico como The Witcher 3: Wild Hunt, mas também não pense que ele não irá te divertir. As missões podem ser repetitivas, mas o combate traz diversidade com armas de longo e curto alcance.
O jogo também se encontra localizado em PT-BR, com menus e diálogos totalmente legendados para a nossa língua. Portanto, caso se preocupe em não entender a história porque não fala inglês, esse é um fator a se desconsiderar.
Também é válido mencionar que o jogador pode demorar cerca de 10 a 15 horas para terminar a campanha principal, dependendo do nível de dificuldade selecionado (fácil, médio ou difícil). As missões secundárias adicionam um bom tempo a este montante.
BioMutant se encontra em pré-venda na PlayStation Store por R$ 299,90, um preço salgado para quem está juntando uma graninha para investir em games como Horizon Forbidden West ou Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão. Mas se este não for seu caso, por que não pensar na possibilidade? No fim das contas, esta decisão acaba sendo uma renúncia. Decidir entre um em detrimento de outro.
Veredito
Vantagens
- Gráficos bonitos
- História interessante
- Gameplay com muita diversidade
- Ótimo sistema de customização
Desvantagens
- Narrador é o "principal personagem" do game
- Ausência de 4K nativo no PS5
- Missões repetitivas
- História principal relativamente curta