Review

Like a Dragon: Infinite Wealth: vale a pena?

Sequência da aventura de Ichiban, Like a Dragon: Infinite Wealth melhora o que já era ótimo; veja o review

por Thiago Barros
Like a Dragon: Infinite Wealth: vale a pena?

Você sabia que a palavra Yakuza vem de Ya-Ku-Za, representando a sequência numérica 8-9-3, que é considerada a pior mão possível em um jogo de cartas tradicional do Japão? Pois bem, o Ryu Ga Gotoku Studio transformou isso num royal flush – a maior mão do pôquer.

Like a Dragon: Infinite Wealth, primeiro jogo (não spin-off) da franquia sem o nome da máfia japonesa, marca definitivamente a expansão de algo que era tradicional apenas no oriente para as terras ocidentais. Com as características que nos fazem amar muitos produtos de entretenimento da Terra do Sol Nascente, sejam em enredo, storytelling ou gameplay, atreladas aos cenários paradisíacos do Havaí e uma infinidade de “jogos dentro do jogo”, ele tem tudo para encantar “gregos e troianos”.

Uma experiência longa, divertida e, principalmente, viciante. Para quem gosta o estilo de RPG, aprecia um combate por turnos repleto de estratégias e possibilidades e se amarra em explorar por horas e horas para descobrir segredos, novas missões e como upar seu personagem, é um prato cheio. De comida japonesa, com um toque ocidental.

Sabe aquele sushi com cream cheese? Tipo isso. Ou então, como diria a clássica música de Beto Jamaica e Compadre Washington: Hula-Hula de lá… Ichiban no Havaí!

O malandro mais responsa de Kamurocho

E já que é assim, por que não dizer que Ichiban Kasuga é a versão japonesa do Bené de Cidade de Deus? Um daqueles bandidos da ficção que são tão gente boa que fazem com que você torça por eles. Não tem jeito. O carisma construído em Yakuza: Like a Dragon faz com que revê-lo – junto com seus grandes companheiros – traga realmente uma sensação de felicidade. Dá para cravar aqui que ele já se tornou um dos melhores protagonistas dos games.

Três homens caminhando com céu nublado no fundo em Like a Dragon: Infinite Wealth
Ichiban e amigos! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

E o enredo de Infinite Wealth se aproveita disso de forma bastante eficiente. O foco do arco do personagem é descobrir mais sobre o seu passado, e uma parte importante disso, claro, está no Havaí. Pela primeira vez, a série Yakuza, agora Like a Dragon, sai do Japão. Uma justa brisa fresca para uma franquia que busca se popularizar no Ocidente.

Nada mais justo, então, do que colocar o paradisíaco arquipélago norte-americano em destaque.

Com uma ambientação incrível, trazendo hotéis, praias, restaurantes e muito mais, a recriação do local é incrível e dá um contraponto bem interessante para aquele aspecto de metrópole cosmopolita de Tóquio. Seja pelos cenários, seja pelos desafios encontrados ou até mesmo pelos personagens envolvidos nesta parte da história.

Homem de camisa florida observa prédio no Havaí em Like a Dragon: Infinite Wealth
É o Ichiban no Havaí… (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

História essa que tem muitas nuances e reviravoltas – algumas delas até um pouco desnecessárias, mas nada que tire o brilho do jogo. Tanto que o trailer para resumir o enredo tem mais de dez minutos. Em suma, Ichiban vai para o Havaí tentar encontrar a sua mãe, mas lá depara-se com várias pessoas tentando fazer o mesmo. Sua missão é entender o que tudo isso significa e, claro, achá-la.

Nesta caminhada, ele encontrará novos personagens, enfrentará situações bem complexas e precisará usar bastante seu combate contra membros da yakuza e de gangues locais:

Inclusive, vale muito a pena conferir, no canal da SEGA no YouTube, os vídeos sobre cada pessoa que tem relevância na trama. São boas introduções para o que se desenrola nesta aventura. Todos são muito bem trabalhados, têm suas características e personalidades próprias, além das skills, e tornam os combates incríveis, assim como as conversas in-game, bastante agradáveis.

E, sim, Like a Dragon: Infinite Wealth tem legendas em português do Brasil. Muito boas, por sinal. Usando gírias atuais, como “ir de arrasta pra cima”, e com nomes sensacionais para os NPCs que a mente de Ichiban transforma em inimigos cada vez mais criativos nas batalhas.

Memórias de um Dragão

Especialmente, é claro, o retorno do lendário Dragão de Dojima. Kiryu-san está de volta em toda a sua glória. Ou melhor, quase isso. Mais coroa, enfrentando um câncer e vendo esta “missão” como a última da sua vida, o eterno protagonista da série Yakuza divide os holofotes com Ichiban.

Uma parte da história se dá no Havaí, outra no Japão mesmo – o local onde, mesmo sumido por muito tempo, ele ainda é (e sempre será) uma lenda.

Homem andando no Japão em Like a Dragon: Infinite Wealth
O Dragão de Dojima! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

O arco de Kiryu é uma grande ode ao personagem. Ciente desta condição de saúde, ele quer se dedicar a impedir o plano de Masataka Ebina à frente do Clã Seiryu. O que acontece aqui é que, depois de Ichiban conseguir a dissolução da máfia japonesa no jogo anterior, os ex-yakuza estão com dificuldades de voltarem para a vida normal. Encontrar empregos não é fácil, por exemplo.

Kasuga até tenta ajudar, porém, no fim das contas, é uma família tradicional que consegue fazer isso de certa forma, mas com objetivos nada bacanas.

Não daremos spoilers das principais motivações de cada personagem, apenas dizer que o principal objetivo de Kiryu é não permitir que estas metas sejam alcançadas. E para isso, ele, assim como Ichiban, conta com um grupo de amigos – alguns até improváveis, outros em retornos épicos para algumas cenas especiais.

As histórias acabam se completando e criando um grande macro de Like a Dragon: Infinite Wealth, que é concluído após 14 capítulos.

Homens conversam com prédios ao fundo em Like a Dragon: Infinite Wealth
Que homens! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Dentro desta grande quest principal, há várias sidequests e sub-histórias, como já é comum na franquia. Mas a de Kiryu é especial. Ele tem uma lista de afazeres que deseja fechar antes de morrer, e isso vai gerando momentos incríveis. Reencontros com personagens antigos, fotos em locais marcantes que desencadeiam memórias…

É uma ode a tudo o que ele representa para a franquia. Parece um rito de passagem, sabe? Como foi Marvel’s Spider-Man 2, por exemplo, onde Peter ajuda Miles e se despede em direção ao pôr do sol.

Outro ponto bacana de falar é como o jogo toca em diversos pontos, sem nenhum tipo de forçação ou algo assim, mas trazendo assuntos importantes para a mesa de discussão: influenciadores e fake news, exploração ambiental, resíduos nucleares, reciclagem, relacionamentos amorosos, ressocialização de ex-presidiários, a relação entre a política e as organizações criminosas, fanatismo religioso, e por aí vai.

Quem é esse Sujimon?

O gameplay segue a fórmula que deu certo no jogo anterior. Like a Dragon: Infinite Wealth é um RPG daqueles, com diferentes classes para os personagens, várias opções para se personalizar equipamentos e armas, progressão de habilidades e por aí vai.

Os combates são por turnos, com várias opções de ataques que vão surgindo conforme os níveis vão aumentando, itens e uma linha de assistência de NPCs com bônus específicos, como curar seu HP ou causar muito dano ao adversário, por exemplo.

Homem de camisa florida andando na praia em Like a Dragon: Infinite Wealth
Praiou! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

O grind, porém, não é fácil. Especialmente quando vai se aproximando o final do jogo. Durante boa parte do game, mesmo nas Boss Fights, que merecem elogios por serem bem criativas e desafiadoras, é possível bater de frente até com um ou dois níveis abaixo dos inimigos. Mas na reta definitiva mesmo, amigo, esquece.

É melhor se dedicar bastante, fazer algumas missões secundárias ou só ficar de rolé pelas ruas batendo em uns inimigos para farmar XP e ficar mais forte. Aliás, também é muito importante estar sempre equipado com itens de cura e de dano e observar as fraquezas de cada adversário para montar as melhores builds.

Seja com Ichiban, Kiryu ou um dos personagens de apoio, é possível customizar muita coisa. De acordo com a sua ocupação, suas skills são diferentes, por exemplo. E aí cabe ao jogador combinar times que possam oferecer de tudo um pouco, por exemplo, ou então encher a equipe de dano elétrico porque um determinado Boss é fraco contra ele.

Homens comemoram vitória e posam pra foto em Like a Dragon: Infinite Wealth
Seja um Mestre Sujimon! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Sim, Like a Dragon: Infinite Wealth é um RPG bem robusto. É divertido, tem o carisma de Kasuga, várias possibilidades, mas na sua essência, ainda é um RPG. Dedique-se!

Só que, obviamente, ele vai muito além do que os protagonistas precisam fazer. O conteúdo extra é um diferencial impressionante. A variedade do que você pode fazer é surreal.

Começando pelos Sujimon – sim, uma referência a Pokémon. Agora, depois das batalhas contra alguns inimigos, o jogador pode “capturá-los” e formar um time para disputar a Liga Sujimon. É uma experiência completamente diferente (e louca) dentro do jogo. Quase um game dentro do game.

Pessoas com faixas e placas de boas-vindas a resort em Like a Dragon: Infinite Wealth
Um jogo dentro do jogo que vale muito conferir! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

O mesmo acontece com a Ilha Dondoko. Um minigame (bem extenso até) em que Ichiban ajuda uma bela ilha no Havaí a se reerguer e montar um resort cinco estrelas. E olha aqui, pode confiar: é viciante e muito divertido. Tem um combate mais tradicional contra inimigos que tentam atrapalhar (sem ser em turnos), tem um sistema de coletar itens para montar estruturas, tem a casa do próprio Ichiban… E você pode até usar os Sujimon para te ajudar em algumas tarefas.

Outras divertidas atividades do jogo incluem o já tradicional karaokê, partidas de pôquer, dardos, clubes de strip, gravação de filme, passeios turísticos, atuação como garçom, esportes aquáticos, coleta de lixo, arcade com jogos clássicos da SEGA, um app de relacionamento estilo Tinder, delivery de comida à lá Crazy Taxi e até incríveis avaliações de conhecimentos gerais…

Mapa de Like a Dragon: Infinite Wealth
Um dos mapas de Like a Dragon: Infinite Wealth (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Uma enxurrada de conteúdo, já que os enormes mapas, tanto do Havaí quanto do Japão, lhe oferecerão uma infinidade de possibilidades.

Like a Dragon: Infinite Wealth: vale a pena?

Para a avaliação e composição do review, foram exatas 71 horas de jogo. E poderiam (ou poderão, depois desta publicação), ser muito mais. Afinal, os créditos subiram e a história principal acabou, mas ainda tem bastante coisa para fazer em termos de sidequests, mini-games e tudo mais.

Inclusive, vale até uma nota rápida do autor aqui: minha filha, de 2 anos, vê o Kasuga agora e fala “Ichiban”.

Depois disso tudo, é impossível dizer que Infinite Wealth não vale a pena. Mas, claro, é preciso lembrar que o jogo custa R$ 349,90 em sua versão básica na PlayStation Store, e pode chegar a R$ 549,50 na mais completa. Só que, se o preço é caro, pelo menos trata-se de um game que vai te entreter por muitas e muitas horas se você curtir o estilo.

Like a Dragon: Infinite Wealth: vale a pena?
Ichiban, obrigado por mais uma baita jornada! (Foto: Divulgação/SEGA)

Não há dúvidas de que o novo Like a Dragon é um upgrade significativo em relação ao seu antecessor, que já era muito bom. Ambientação incrível, tanto no Japão quanto na sua ousada ida para o Havaí, gameplay característico, diversas atividades para realizar e uma fórmula que agrada, diverte e vicia.

O trailer das reações de quem testou o jogo em uma feira ou outra onde ele estava disponível mostra bem o que ele causa.

ありがとう、龍が如くスタジオ (Obrigado, Ryu Ga Gotoku). Foi uma jornada e tanto!

Veredito

Like a Dragon: Infinite Wealth
Like a Dragon: Infinite Wealth

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Ryu Ga Gotoku Studio / SEGA

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
90 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Infinitas possibilidades de "jogos dentro do jogo"
  • Legendas PT-BR são muito bem feitas
  • Combate em turnos é bem estratégico
  • Variedade de personagens e de inimigos
  • Ambientação é bastante impressionante
  • Dois protagonistas são carismáticos e empolgantes
Desvantagens
  • História dá muitas voltas "sem necessidade"
  • Grind pode ser bem intenso na reta final do jogo
Thiago Barros
Thiago Barros
Editor-Chefe
Publicações: 4.233
Jogando agora: Avatar: Frontiers of Pandora
Jornalista, teve PS1, pulou o 2, voltou no 3 e agora tem o 4, o 5 e até o PSVR. Acha God of War III o melhor jogo da história do PlayStation.