Dragon’s Dogma 2: vale a pena?
Novo jogo da Capcom é um dos melhores RPGs dos últimos tempos e promete muitas horas de diversão e exploração
Dragão, ladrão, roubou meu coração! Se você é fã de LeBron James, astro da NBA, provavelmente já ouviu parte da frase que abre este review — cortesia de Rômulo Mendonça. Pois ela basicamente define Dragon’s Dogma 2: de fato, um dragão toma o seu coração e, agora, seu personagem tem o destino de derrotar este ser terrível para recuperá-lo. Interpretando-a de outra forma, o game ganha mesmo os corações de quem aprecia um bom RPG de mundo aberto.
O novo título da Capcom foge do padrão do gênero. Não há apenas um mapa gigante, com dezenas de atividades que se tornam repetitivas eventualmente. Na verdade, ele abraça os exploradores: de forma parecida com Elden Ring, não existem marcadores no mapa, portanto, cada passo rumo ao desconhecido traz um sentimento de descoberta extremamente recompensador.
Dito isso, Dragon’s Dogma 2 não está livre de problemas — especialmente técnicos. Alguns jogadores podem se frustrar com quedas constantes no FPS, por exemplo. Mas, para saber mais, faça que nem o Nascen: mergulhe e explore esta análise para descobrir tudo o que a Capcom oferece nesta jornada.
Dragon’s Dogma 2 ou Game of Thrones?
A história de Dragon’s Dogma 2 não é lá revolucionária, mas é interessante. O game tem exatamente a mesma premissa de Dragon’s Dogma (2012): o jogador controla um personagem (criado em uma ferramenta de edição) que teve o coração roubado por um dragão e precisa derrotá-lo no futuro para recuperá-lo e salvar o mundo.
Ao contrário do primeiro jogo, onde a aventura para matar o dragão é o principal (e único) objetivo, a narrativa sequência caminha para um lado político. A principal lei da cidade de Vernworth, no reino de Vermund, é que seu rei precisa ser o Nascen (ou Arisen) e, embora você seja o verdadeiro, muitos outros já falsamente clamaram o posto.
Por conta disso, um Nascen falso senta no trono de Vernworth, como um fantoche controlado por detrás das cortinas pela antiga rainha regente, que, na teoria, aguardava o retorno do Nascen. Sua tarefa, então, é reunir aliados para acabar com essa falcatrua e tomar sua coroa por direito.
Mas engana-se quem pensa que para por aí. A história de Dragon’s Dogma 2 se divide entre dois países: a já citada Vermund e Battahl. A primeira nação é habitada, em sua maioria, por humanos. A segunda é dominada pelos leoterians, uma raça com traços felinos que despreza a presença de humanos e Peões por lá.
Vermund e Battahl têm um interesse em comum: a queda do poderoso dragão. Mesmo rivais, as nações decidem unir forças, apenas se o monstro tentar atacá-los — mesmo em meio à tantas diferenças políticas e sociais. Claro, tais diferenças acabam sendo determinantes para o desenrolar da narrativa, dominada por interesses dos governantes.
Com esse “quê” de Game of Thrones, Dragon’s Dogma 2 evolui em comparação ao seu antecessor. Seus plots são interessantes, não se resumem apenas à morte de um dragão e acrescentam um tempero gostoso ao game.
Por outro lado, não espere grandes surpresas ou coisas revolucionárias na narrativa. Fãs da série de sucesso da HBO (ou de outras produções com foco na política, tais como The Last Kingdom ou The White Queen) logo preveem certos momentos-chave sem dificuldades.
Por fim, vale mencionar que não há necessidade alguma de jogar o primeiro game para entender o segundo. Claro, é interessante ter desfrutado da jornada para melhor compreensão desse universo da Capcom, mas os Nascen do jogo original e da sequência são diferentes, acabando com qualquer obrigatoriedade de passar horas e horas no título de 2012.
Gameplay de Dragon’s Dogma 2 é imponente como um dragão
Dragon’s Dogma 2 é sobre gameplay. Aqui, a produção dirigida por Hideaki Itsuno brilha, com uma grande variedade de sistemas, que tornam a franquia única desde o primeiro jogo.
Para começo de conversa, Dragon’s Dogma 2 parece um jogo “vivo”. Com um mapa gigantesco, onde o jogador se locomove a pé, ele descobre eventos dinâmicos conforme avança. Simplesmente do nada, algum NPC pode pará-lo na estrada para pedir um favor. Ou ainda, em meio às suas viagens, um grupo de goblins pode te cercar, para então, durante a luta, monstros gigantes (grifos, ciclopes, etc.) se juntarem ao caos e transformar aquilo numa briga generalizada.
O RPG da Capcom tem outro elemento bastante interessante, que lembra títulos como Elden Ring ou The Legend of Zelda: Breath of the Wild: a ausência de marcadores no mapa. Isso significa que, na maioria das vezes, cabe a você investigar e descobrir aonde ir. Conversar com NPCs, procurar itens em construções ou ler textos é primordial para entender qual rumo tomar.
Se por um lado, este elemento traz sensações de descobertas e até garante mais horas de gameplay, às vezes, pode irritar quem procura fechar o jogo com rapidez. De qualquer forma, é necessário entender que a natureza de Dragon’s Dogma 2 é justamente essa: explorar tudo ao seu redor.
O combate é o principal diamante do game. O jogador pode escolher entre várias vocações (classes, de modo popular) para o seu personagem. As quatro iniciais são “Ladrão”, “Combatente”, “Arqueiro” e “Mago”, sendo que outras seis são desbloqueáveis. Cada uma possui características que enriquecem as estatísticas do seu herói e concedem habilidades únicas para se utilizar nas batalhas.
O Ladrão, por exemplo, é ágil e causa bastante dano, porém, é facilmente abatido. O Combatente se destaca no corpo a corpo e pode proteger aliados com seu escudo. O Mago usa feitiços de cura, lança buffs e ataca com um cajado. Já o Arqueiro se posiciona à distância e se destaca ao acertar flechas em inimigos voadores.
É válido citar: o jogador pode trocar de vocação a qualquer momento ao encontrar uma guilda. Isso traz mais dinâmica e permite que haja uma oportunidade para o player entender qual estilo lhe convém.
Peões de xadrez?
As vocações não se resumem apenas ao seu personagem. Dragon’s Dogma 2 continua utilizando o sistema de Peões (ou Pawns), que, a grosso modo, são companions do Nascen em suas aventuras. Eles também possuem suas próprias classes, para tornar seu grupo do jeitinho que você quiser.
Falando nos Peões, o player tem a companhia de até três deles. O primeiro é o seu Peão Principal, criado pelo próprio jogador e que evolui de nível com você. Quanto aos outros dois, é necessário contratá-los usando uma moeda chamada CF, ao entrar em fendas. Estes dois últimos são criações de outros jogadores ou da própria Capcom e não upam de level, sendo praticamente obrigatório dispensá-los após certo tempo, para contratar novos.
Essa é outra mecânica que adiciona dinamismo ao gameplay. O jogador constantemente precisa de novos Pawns, sendo possível ter um time com três vocações diferentes ou com apenas uma delas — embora, o recomendável seja contar com uma equipe variável.
Seus Peões te acompanham pelo mapa e seus comandos são elementos-chave em meio à ação. Através dos direcionais do DualSense, o player pode pedir socorro, fazendo um Mago vir lhe curar, ou mandar eles esperarem, para adotarem uma postura defensiva em combate. Os comandos também são úteis durante a exploração, com seus companions sugerindo idas até locais onde existem tesouros ou dando dicas de progressão na campanha.
Nem tudo são mil maravilhas, no entanto. Embora o sistema seja único no mundo dos RPGs, seus Pawns possuem uma IA que não é das mais espertas. Ela melhorou bastante em relação ao primeiro game, mas ainda toma decisões questionáveis. Existem ocasiões onde seus guerreiros são isolados por inimigos e acabam ficando inconscientes por isso. Se o player não revivê-los, eles somem do seu mundo — com exceção do Peão Principal, que retorna quando você encontra uma fenda.
Os problemas de Dragon’s Dogma 2
A experiência de Dragon’s Dogma 2 é rica, porém, não está livre de problemas — especialmente na parte técnica. O jogo, em teoria, deveria rodar por volta de 30 FPS, mas, em diversos momentos, há quedas de desempenho, especialmente dentro de cidades ou ao encarar monstros gigantes. Essa falta de otimização pode atrapalhar o combate e até te levar a mortes frustrantes.
O combate também conta com outro problema: a câmera. Como o jogo não possui um sistema de lock-on (apenas certas classes têm acesso a ele), o jogador precisa virar a câmera constantemente com o R3, para tentar evitar ataques de pontos cegos, especialmente em lutas contra grupos de inimigos que lhe cercam.
Por fim, a Capcom introduziu um sistema de microtransações completamente absurdo. A viagem rápida já é bastante limitada em Dragon’s Dogma 2, mas, para “contornar” isso, o usuário pode comprar Pedras-barca, recurso usado para retornar aos poucos Cristalportos do mapa. Ainda há outros itens à venda na PS Store, que permitem a mudança da aparência do seu herói, por exemplo. Se tratando de um RPG single-player, que investe tanto em exploração, não havia a menor necessidade disso.
Dragon’s Dogma 2: vale a pena?
A franquia Dragon’s Dogma é única. Não existem RPGs de mundo aberto muito parecidos com ela no mercado — não espere encontrar algo tradicional, como um The Witcher 3. E só por este fator, já vale a pena considerar o investimento.
Dragon’s Dogma 2 possui gráficos bons, um sistema de criação de personagem extremamente completo (teve gente recriando até o Lula e o Bolsonaro por lá) e um gameplay muitíssimo divertido. Seus poucos problemas não apagam a experiência, que merece ser exaltada.
Claro, os entusiastas dos 60 FPS não vão gostar da ausência de fluidez no combate. Se isto for um fator-chave para você, talvez o melhor seja deixar o jogo de lado. Caso contrário, não pense duas vezes e vá recuperar o seu coração, Nascen!
Veredito
Vantagens
- Exploração vasta e divertida
- Grande variedade de classes
- Sistema de personalização de personagem robusto
- Combate incrivelmente divertido
- Sistema de Peões é único
- História bem construída à la Game of Thrones
Desvantagens
- Desempenho engasgado em vários momentos
- Câmera pode atrapalhar durante o combate
- Microtransações predatórias