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Meu Jogo da Semana: The Last of Us Remastered

No "Meu Jogo da Semana" revisitamos The Last of Us Remastered e contamos nossa experiência

por Daniel dos Reis
Meu Jogo da Semana: The Last of Us Remastered

Já estava nos meus planos revisitar The Last of Us Remastered. A ideia era bastante simples: me preparar para o lançamento de Part II. Mas o mundo resolveu dar um cavalo de pau e o plano havia sido adiado por tempo indeterminado. E, mais uma vez, com um Duplo Twist Carpado, ele voltou com força total. Loucura, né?

Ao longo destas últimas semanas, vi meus amigos escreverem sobre o que estavam jogando e chegou a minha vez de lançar letrinhas na tela e falar da minha experiência gamer. Já vimos aqui: Destiny 2, Final Fantasy VII Remake, Trials of Mana e The Crew 2.

The Last of Us foi o primeiro jogo que eu realmente escrevi uma análise, lá em 2013, e uma das experiências mais profundas que já experimentei. Como Ellie diz, “tem seus defeitos”, mas está no meu top 3 da vida. Por três motivos: despedidas, histórias e sutilezas.

Mas antes fica o alerta da Patrulha dos Spoilers. No texto você vai encontrar revelações de The Last of Us Remastered (2014). Porém, fique tranquilo: nenhuma revelação antecipada de The Last of Us Part II.

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First Things First

Já percebeu que no game estamos sempre nos despedindo de alguém? Ao longo de toda narrativa, a história nos conduz progressivamente para deixarmos uma pessoa pelo caminho – e Callus, o cavalo com o pior nome do mundo. E nenhuma delas é fácil de digerir.

Com um tapa na cara, acompanhamos a impactante morte de Sarah, filha de Joel. Cruelmente, a Naughty Dog nos coloca para jogarmos com ela logo no começo, só para criarmos aquele vínculo emocional. E você sabe que algo ruim vai acontecer: ritmo, música e cenários esfregam na nossa cara.

Mais adiante, Tess. A parceira de Joel é durona, mas não o suficiente para sobreviver a uma mordida. Ela não morre exatamente em razão da infeção, mas seu destino estava selado de qualquer forma. Logo em seguida vem Bill. Ele não chega a falecer – até onde sabemos. Mas o deixamos após uma intensa fuga e fica somente como um reflexo no retrovisor. O que aconteceu com Bill a propósito?

Após uma emboscada, conhecemos os irmão Henry e Sam. O fim dessa história é terrível. Sam é infectado por um corredor e Henry se vê obrigado a atirar no irmão, cometendo também suicídio logo em seguida. O roteiro é exatamente o mesmo: conhecemos a dupla, sabemos um pouco da sua história, criamos expectativas e somos surpreendidos por um fim.

The Last of Us
Estamos sempre deixando alguém pelo caminho em The Last of Us.

Um pouquinho pra frente reencontramos o irmão de Joel. Desta vez não há um ponto final. Ainda assim, ficamos tristes em deixar o irmãozinho para trás. Já sabemos que ele estará em Part II. Por enquanto, Tommy segue firme em nossas boas lembranças.

Por fim, nos despedimos de Ellie. Sim, deixamos ela no caminho.

Isso acontece naquele emblemático momento onde a garotinha consegue se desvencilhar de David e liquidar com o sádico. Naquela cena, toda a inocência da adolescente se vai. Daquele ponto em diante, é outra Ellie, em transição para vida adulta.

A mudança é evidenciada através da icônica cena das girafas. No game, o animal é um símbolo de passagem, uma referência de que a vida continua, mesmo com um mundo devastado, ainda que “tenha seus defeitos”, como Ellie diz.

The Last of Us
Ellie na cena das girafas.

PS: já notou que tem girafas para todo lado em The Last of Us? No quarto de Sarah, na região de Bill, em algumas lojas de brinquedos, em fotografias, na escolinha improvisada dos esgotos… e até em uma listagem de cinema com o nome Giraffic Park.

A História

O plot de The Last of Us quase todos nós sabemos e não há muito o que discutir. Mas o que chama mais atenção são as sub-histórias contadas em cartas ao longo do jogo. Elas são incríveis!

Vasculhando casas você descobre como as pessoas lidaram com o surto de várias maneiras. Alguns tentaram fugir, outros preferiram ficar, alguns abreviaram suas próprias vidas, etc.

Como não se perguntar: o que aconteceu com os jovens da universidade abandonados à própria sorte? E o cachorrinho que garotinha abandonou? Como o par de Bill foi infectado? São várias perguntas. Mas uma sub-trama em particular é bem imersiva e trágica.

The Last of Us
As coisas não deram muito certo para o grupo de Ish.

Nos esgotos, descobrimos que Ish, um pescador, tentou estabelecer uma espécie de comunidade de sobreviventes. E ele conseguiu por um bom tempo! Tinha até escola, uma rede de captação de água, alimentação e moradia. Infelizmente, algum infeliz deixou a porta do abrigo aberta e… Bem, você já imagina o que aconteceu.

Essas histórias contadas em papéis são cativantes e agregam profundidade no storytelling.

A Doçura das Sutilezas

Você não verá Joel mandar um “eu te amo” para Ellie em nenhum momento. Mas ele mostra sua ternura de outra maneira, mais sutil.

No começo da jornada, o relacionamento com Ellie é mais superficial. “Ela é só uma carga Joel”, brada Tess. Mas acaba não sendo, afinal de conta. E isso vai mudando sutilmente na história.

Começa com um “faça os tiros valerem a pena” e termina com uma missão de resgate. Você vê como Joel se importa com suas palavras. No gameplay, mais adiante, quando encontra um quadrinho, o quarentão solta “É o gibi da Ellie!”. O tom de voz denuncia sua satisfação em deixar a garotinha feliz com uma nova história.

The Last of Us
Faça os tiros valerem a pena.

E se antes, quando Ellie precisava fazer algo, ele sequer respondia ao “tome cuidado”, mais para o fim ele devolve um “você também”. E a mesma cena das girafas marca a mudança completa de comportamento quando ele promete ensiná-la a tocar violão, sem que ela pedisse.

São três elementos do jogo que eu considerado sua base essencial, seu alicerce. E claro, estou empolgado para experimentar o segundo. Também fica um pedido bem especial: se você sabe dos vazamentos, peço carinhosamente que não compartilhe nada nos comentários. Vamos – tentar – preservar as experiências dos outros, né?