Kings League: você compraria um jogo de futebol 7?
Fenômeno absoluto no Brasil. Kings League traz formato ideal para os jogos de videogame
Nos últimos meses, o Brasil foi tomado por uma febre que mistura futebol, entretenimento e a energia das plataformas digitais: a Kings League. Esse torneio de futebol 7 (ou fut7), criado pelo ex-zagueiro espanhol Gerard Piqué, chegou ao país com força total, conquistando uma legião apaixonada de fãs.
Mas falando em videogames, será que um jogo baseado na Kings League poderia desbancar gigantes como EA Sports FC e eFootball, especialmente considerando a popularidade morna do modo Volta da EA e a ausência de formatos mais compactos da modalidade?
O que é a Kings League?
Para quem ainda não está familiarizado, a Kings League é muito mais do que um simples campeonato de fut7. É uma revolução no jeito de consumir futebol, pensada para atrair a geração conectada, que vive entre lives no Twitch, vídeos no TikTok e interações em tempo real.
As partidas têm 40 minutos, divididos em dois tempos de 20, e começam com apenas um jogador de linha e um goleiro em cada lado. A cada minuto, novos atletas entram em campo até atingir o formato completo de sete contra sete.
Mas o que torna tudo mais eletrizante são as regras “fora da curva”: gols valem dobro nos dois minutos finais, há “cartas secretas” que podem mudar o rumo do jogo (como expulsões temporárias ou pênaltis automáticos) e até os presidentes dos times — muitas vezes streamers ou celebridades — podem entrar em campo para cobrar penalidades.
É como se o futebol tradicional tivesse sido remixado com elementos de videogame, criando um espetáculo dinâmico e imprevisível.
A liga nasceu em 2022 na Espanha, idealizada por Piqué em parceria com o streamer Ibai Llanos, com a missão de oferecer uma alternativa ao futebol de 90 minutos, que, para muitos jovens, pode parecer longo e, às vezes, monótono.
Desde então, expandiu-se para países como México, França, Itália e, mais recentemente, o Brasil, onde a Kings League Brazil estreou em março de 2025, com uma temporada que já está dando o que falar.
A explosão de popularidade no Brasil
O Brasil, conhecido como o país do futebol, abraçou a Kings League com um entusiasmo que poucos poderiam prever. Em poucos meses, o torneio se tornou um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, especialmente entre o público jovem, que vê na liga uma mistura perfeita de esporte e entretenimento.
A final da Kings World Cup Nations 2025, disputada no início de janeiro e vencida pela seleção brasileira liderada pelo streamer Gaules, foi um marco: mais de 75 milhões de visualizações foram registradas em plataformas como YouTube, Twitch e TikTok, com o Brasil sendo um dos principais motores desse sucesso global.
A presença de nomes como Neymar Jr., presidente do Fúria FC, e Kaká, embaixador da liga no país, ajudou a catapultar o evento para o mainstream.
A Kings League Brazil, que começou no dia 29 de março em Guarulhos (SP), só reforçou essa onda. Com 10 times comandados por figuras como Ludmilla, Gaules, Nyvi Estephan, Jon Vlogs e o craque do fut7 Kelvin Oliveira, a liga trouxe uma proposta que anda em conjunto com a cultura brasileira: futebol rápido, carismático e cheio de personalidade.
Não é à toa que as transmissões ao vivo, feitas em canais como CazéTV, MadHouse TV e perfis dos próprios presidentes, têm atraído dezenas de milhares de espectadores simultâneos por jogo. O Brasil, com sua paixão inata pelo esporte e um mercado digital crescente, parece ser o terreno perfeito para a Kings League florescer.
Um verdadeiro fenômeno online
Se os números impressionam no campo, nas plataformas digitais eles são ainda mais avassaladores. A Kings League já acumula mais de 13 milhões de seguidores em seus perfis oficiais globais, mas é no Brasil que o engajamento tem se destacado.
A vitória brasileira na Kings World Cup Nations gerou mais de 40 milhões de espectadores únicos em todo o mundo, com picos de audiência impulsionados por streamers como Gaules e Allan “O Estagiário”.
Só no TikTok, clipes de jogadas, gols e momentos virais — como Gaules convertendo um “Pênalti do Presidente” contra a Coreia do Sul — já ultrapassaram 82 milhões de visualizações desde janeiro.
No cenário local, a Kings League Brazil tem mantido a chama acesa. As três primeiras rodadas da temporada, transmitidas ao vivo, alcançaram médias de 450 mil espectadores simultâneos por partida, números que rivalizam com jogos de campeonatos tradicionais em plataformas digitais.
A estratégia de usar o YouTube e o Twitch como “emissoras oficiais” permite uma interação direta com o público, algo que a TV convencional não consegue replicar. “O stream te aproxima do público em tempo real. Você sente o que eles querem na hora”, disse Gaules em entrevista recente, destacando como essa conexão instantânea é um dos segredos do sucesso.
Nomes importantes no torneio
A Kings League não seria o que é sem suas estrelas. No Brasil, a lista de participantes é um verdadeiro desfile de personalidades que misturam esporte e cultura pop.
Neymar Jr., que comanda o Fúria FC ao lado de Cris Guedes, é uma das grandes atrações, trazendo sua aura de ídolo global. “Meu filho conhece mais jogadores da Kings League do que do futebol profissional”, brincou o atacante durante o draft, sinalizando o apelo da liga entre as novas gerações.
Kelvin Oliveira, eleito o melhor jogador de fut7 do mundo e artilheiro do mundial, é outra peça-chave, representando o G3X de Gaules e recusando até uma proposta do futebol profissional do Santos para se dedicar à modalidade.
Além deles, há Ludmilla, que preside o FC Real Elite com O Estagiário, e Nyvi Estephan, uma das vozes mais conhecidas do universo gamer, à frente de outro time. Jon Vlogs, Coringa e DJ Mario também entram na dança, trazendo suas audiências fiéis do YouTube e da Twitch.
No cenário internacional, nomes como Iker Casillas, Sergio Agüero e James Rodríguez já marcaram presença em outras edições, enquanto a Kings World Cup Nations contou com ex-jogadores e influenciadores de mais de 30 países. Essa fusão de talentos é o que dá à Kings League seu sabor único.
Um jogo da Kings League conseguiria competir com EA FC e eFootball?
Agora, vamos ao ponto central: você compraria um jogo de futebol inspirado na Kings League? Para responder, é preciso olhar para os gigantes do mercado.
EA Sports FC 25, lançado em setembro de 2024, continua sendo o rei dos simuladores de futebol, com gráficos realistas, licenças oficiais e modos como Ultimate Team. Já eFootball, da Konami, aposta na gratuidade e em atualizações constantes, mas ainda luta para recuperar o prestígio da era PES.
Ambos, porém, focam no futebol tradicional de 11 contra 11, com tentativas tímidas de explorar formatos alternativos — como o modo Volta da EA, que prometia um futebol de rua vibrante, mas nunca decolou como esperado.
O Volta, introduzido em FIFA 20 e mantido no EA FC, tinha tudo para ser um concorrente direto de um hipotético jogo da Kings League: partidas rápidas, campos menores e um tom mais descontraído. No entanto, a falta de inovação nas mecânicas e a ausência de uma narrativa forte fizeram o modo perder fôlego, relegado a um canto do menu enquanto o Ultimate Team domina as atenções.
A Kings League, por outro lado, oferece um conceito pronto para o mundo dos games: regras gamificadas, personalidades carismáticas e um formato que já parece um videogame na vida real. Imagine um jogo onde você pode escalar Neymar como presidente, usar cartas para virar o placar e disputar partidas de 40 minutos cheias de reviravoltas — seria uma experiência fresca e viciante.
Contra EA FC 25 e eFootball, um jogo da Kings League teria desafios. A falta de licenças de grandes clubes e ligas poderia limitar seu apelo inicial, e a concorrência com os gráficos de ponta da EA seria algo a se questionar. Mas o sucesso do EA FC Rush — um novo modo de 5 contra 5 inspirado, em parte, pela própria Kings League — mostra que há espaço para formatos alternativos.
Um game da Kings League poderia apostar na acessibilidade (talvez como free-to-play, como eFootball), na integração com streamers e em microtransações baseadas em customização de times e cartas, atraindo um público jovem que já consome a liga online.
Por que comprar (ou não)?
A resposta depende do que você busca em um jogo de futebol. Se você ama simulações realistas e a emoção de recriar finais de Champions League, EA FC 25 ainda é imbatível. Se prefere algo gratuito e em evolução, eFootball pode ser suficiente.
Mas se a ideia de um futebol caótico, com regras malucas e a energia de uma live do Gaules te anima, um jogo da Kings League seria uma compra certeira. Ele não substituiria os gigantes, mas poderia conquistar um nicho próprio, como fez Rocket League ao misturar carros e bola.
No fim, a Kings League já provou que o fut7 tem um potencial imenso — no campo e, quem sabe, nas telas. Com sua popularidade explodindo no Brasil e o mundo digital ao seu favor, talvez não seja só uma questão de “você compraria?”, mas de “quando isso vai acontecer?”.
Por enquanto, seguimos acompanhando as jogadas geniais de Kelvin e as provocações de Neymar, sonhando com o dia em que poderemos segurar o controle e gritar “gol dobrado” no conforto de casa.