Abragames: “sonhamos que o Brasil vire um dos 5 maiores produtores de jogos no mundo”
Rodrigo Terra, presidente da Abragames, concedeu entrevista ao MeuPS e falou sobre o crescimento da indústria no nosso país
Durante o BIG Festival 2023, a Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Games (Abragames) montou um estande para discutir políticas públicas envolvendo videogames. Não só isso, mas reuniu formulários para a 2ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games, bem como debateu tendências sobre o desenvolvimento de jogos no Brasil.
Com isso, o MeuPS teve a oportunidade de entrevistar Rodrigo Terra, presidente da entidade. Comentando sobre o crescimento do Brasil no setor de games, ele relembra a história da indústria por aqui e parece se orgulhar do caminho percorrido. Um exemplo a ser citado é a Aquiris, de Horizon Chase Turbo, recentemente adquirida pela Epic Games — e se transformando na Epic Games Brasil.
Estúdios brasileiros existem por aqui desde o final dos anos 80, mas o mercado começa a se organizar há 15 anos. A gente tem uma indústria muito jovem e nesses 15 anos… o BIG é realizado há 11, como grande palco para o desenvolvedor indie, mostrando o crescimento da indústria no nosso país. A Abragames já tem quase 20 anos de existência, mas nos últimos 11, temos uma parceria contínua com a ApexBrasil, com o programa de exportação Brazil Games. Por que eu digo isso? Porque são elementos-chave para esses movimentos… da Epic Games Brasil (ex-Aquiris) que cresceu ao longo desses anos — por méritos completamente deles — nessa construção de ecossistema que a própria Abragames, o Brazil Games, a Apex, o BIG e os outros eventos locais [ajudaram].
Nos últimos 15 anos, a gente sai de um mercado, onde o gamer brasileiro tinha até um preconceito com os jogos daqui, para um onde os devs começam a crescer de qualidade: novas mecânicas e gêneros foram criados, além de uma nova diversidade narrativa, que explora o aspecto multicultural brasileiro. Hoje, esses estúdios que eram pequenos há 15 anos, já têm um porte médio ou grande e conseguem negociar com grandes publishers.
Na 1ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games, a Abragames revelou que entre 2018 e 2022, o nosso país passou de 375 estúdios ativos para 1.009 — um aumento de 169%. Com tamanho crescimento, Terra sonha em um futuro próspero para o setor por aqui. Segundo ele, o sonho é tornar o Brasil um “dos cinco maiores produtores de jogos do mundo”.
Nosso grande sonho é que o Brasil se torne um dos cinco maiores produtores de jogos do mundo. Se vai ser AAA ou indie, não dá pra saber ainda. O que se provou nos últimos 15 anos é que o Brasil tem uma vocação natural pro jogo indie. A gente ainda não tem um game AAA nascido e criado aqui e com um caminhão de marketing. Mas o nosso país tem uma vocação muito grande pro jogo de menor escopo, que não precisa ser necessariamente de baixo orçamento, mas foca em características de títulos indie — investe tudo em mecânica e gasta menos em estética, por exemplo.
Inovação é a palavra-chave para Rodrigo Terra, quando o assunto é a expansão do mercado brasileiro de games. Isso é o que chamará a atenção de grandes publishers, que já vêm voltando seus olhares para jogos independentes — a Sony, por exemplo, criou a iniciativa PlayStation Indies em 2020, chefiada por Shuhei Yoshida. Na opinião dele, se o Brasil fizer com jogos, o que a Coreia do Sul faz com suas mídias, o futuro é promissor.
O mercado indie é flexível pra ousar e inventar coisas novas. Muito provavelmente, você não verá uma grande franquia medieval fazendo um jogo como Vampire Survivors. Estúdios [pequenos] de três, cinco, 15 pessoas podem estar trabalhando em algo que ninguém nunca viu. As publishers estão parando de cortar a criatividade dos devs indies… um exemplo é Sony, com a divisão PlayStation Indies, que é chefiada por gente de peso, como o Shuhei Yoshida. Isso abre o leque da PS Store, que dá espaço para o jogo criativo. A Nintendo também vem se abrindo cada vez mais pra esse mercado indie.
Essas editoras, essas lojas querem receber esses jogos, porque o consumidor no mundo não quer só mais AAA, ele quer histórias novas, visões novas sobre o tema. Pega os filmes e séries [de TV] coreanas que fazem sucesso na Netflix, como exemplo. Eles trazem uma nova perspectiva de drama, ficção científica… de gêneros que eles mesmo vêm misturando. O k-pop também faz isso na música. São coisas fora de Hollywood, dos EUA. Portanto, está na hora do Brasil fazer o mesmo movimento, mas nos games, para o mundo enxergar um novo tipo de sci-fi, de jogo de plataforma, de ação-aventura.
Durante o BIG Festival, o dev Chance Glasco mostrou um teaser de Martial Arts Tycoon: Brazil, um jogo de gerenciamento que ocorre no Rio de Janeiro. Apesar de ser feito por um norte-americano, o título apresentará muito da cultura brasileira. Para Terra, a visão clichê que muitos devs internacionais têm do nosso país pode mudar — evitando episódios como o de Assassin’s Creed III, por exemplo.
Tenho certeza que [a visão de devs internacionais sobre o Brasil] vai mudar. Com o crescimento da divulgação da cultura brasileira no mundo, eles verão que não somos só samba, carnaval e favela. Faz parte da nossa cultura, mas não são só essas coisas, temos algo muito vasto. O Brasil pode ter uma posição muito importante como definidor de políticas e mostrar isso através de jogos pode mostrar ao mercado internacional que eles precisam vir pra cá pra aprenderem mais sobre a gente, sem que hajam clichês.
Participe da Pesquisa Nacional da Indústria dos Games da Abragames
No BIG Festival 2023, a Abragames reuniu estúdios brasileiros, que puderam preencher um formulário para participar da 2ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games (via QR Code). Pois bem, ainda é possível participar pelo site da instituição — acesse através deste link. O prazo é 15 de julho.