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Terra-Média: Sombras da Guerra: vale a pena?

O precioso da aventura

por Raphael Batista
Terra-Média: Sombras da Guerra: vale a pena?

Quando lançado em 2014, Terra-Média: Sombras de Mordor chegou aos consoles de forma despretensiosa. Sem muito barulho e até desacreditado devido ao retrospecto ruim de jogos baseados no universo de Tolkien. Livre do hype, o título surpreendeu positivamente e entregou um produto de aventura/RPG de qualidade. Jogabilidade, enredo, o Sistema Nêmesis, tudo se encaixava harmoniosamente.

Três anos se passaram e então a continuação foi lançada. Em outro cenário, Terra-Média: Sombras da Guerra agora era rodeado de expectativas. Os jogadores e outros profissionais da indústria, esperavam, no mínimo, o mesmo primor do primeiro título. Não somente isso, era preciso aperfeiçoar-se e justificar uma sequência. Seria um verdadeiro teste para a Monolith Productions.

Sombras da Guerra é uma evolução apaixonante e instigante de Sombras de Mordor. É um dos melhores títulos de aventura de 2017 pelo excelente conjunto. E a análise completa você confere a seguir.

Digno de Óscar

O enredo de Sombras da Guerra continua com a mesma pegada: uma narrativa que antecede os eventos de O Hobbit e o Senhor dos Anéis, mas é a sequência direta do primeiro jogo. Os acontecimentos são tão convincentes que aparentam ser escritos pelas próprias mãos habilidosas do britânico Tolkien.

Talion e Celebrimbor são, novamente, os protagonistas. No entanto, ao contrário da aventura antecessora, eles estão rodeados de personagens coadjuvantes importantes para o desenrolar da história. Destaque para Laracna, que entrega uma personalidade cativante e aborrecedora, digna de tornar-se uma antagonista amada pelos jogadores. Um contraste que agrega valor nas interações entre o nosso herói.

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Laracna. Bela e provocante. Uma coadjuvante que rouba a cena. Fonte: captura de tela.

E é possível caracterizar o enredo, bem como o título em geral, como uma apresentação positiva de contrastes. Ao mesmo tempo que somos instigados a objetivar nosso foco na luta contra Sauron, queremos salvar os combatentes de Gondor. Enquanto que Laracna nos prova, queremos descobrir sobre sua história. São contrastes que provocam uma experiência ímpar.

Tal sensação é potencializada pela relação entre Talion e Celebrimbor. Antes, unidos exclusivamente para derrotar o grande inimigo controlador do Um Anel. Agora, em meio ao caos das Minas Ithil (posteriormente, Minas Morgul), há uma quebra na harmonia de seu relacionamento devido aos sentimentos de Talion pelos humanos. O elfo é objetivo e racional. O humano, sentimental e heroico. O jogador sente-se em uma gangorra psicológica, ansioso pelos passos seguintes.

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Minas Ithil (Morgul) em seu soberano caos. Fonte: captura de tela.

Evoluído

Uma das maiores preocupações de todos era a possibilidade de Sombras de Guerra ser apenas um título reciclado. Uma produção semelhante ao seu antecessor, com apenas novas adições na trama. Para a felicidade de todos, o game é muito mais do que uma repaginada, é uma evolução. As mecânicas foram melhoradas; o Sistema Nêmesis, aperfeiçoado; a jogabilidade, mais brutal. É realmente um novo jogo.

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Sombras da Guerra é ainda mais brutal que seu antecessor. Uma diversão frenética. Fonte: captura de tela.

A evolução é evidente logo no primeiro contato. O jogador sente que Talion e Celebrimbor estão ainda mais poderosos, resultado do relacionamento improvável entre o humano e o elfo. O protagonista é ainda mais ágil, mais forte. Os combates estão mais fluidos. As habilidades mais incisivas. A movimentação mais dinâmica.

Os comandos ainda são melhorados com a árvore de habilidades extensa que ramifica em diversos poderes os quais favorecem garantias únicas e especiais. São aptidões que dão novos rumos ao curso do jogo, expandindo possibilidades para outros métodos. Promove uma dinamicidade surpreendente, com ataques inéditos e poderes especiais.

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Não somente com uma extensa árvore de habilidades, mas com a possibilidade de trocar de equipamentos, armas e conjuntos especiais. Fonte: captura de tela.

A exploração tornou-se, igualmente, melhor. Mesmo com alguns problemas de comandos não precisos no momento de escaladas, Talion consegue subir, pendurar-se, montar, pular, ultrapassar praticamente todos os obstáculos em qualquer revelo. Não há limites para a descoberta do mapa em sua totalidade. O jogador sente a liberdade, viva e frenética.

Mapa que também foi modificado, expandido. Se antes, Mordor já possuía uma grande região aberta. Agora, o jogador poderá viajar por regiões específicas (e conhecidas) e explorar áreas ainda maiores com diversas sidequests. É possível vivenciar momentos em vida de Celebrimbor e utilizar-se do poder do Um Anel quando em seu domínio. Além dos eventos online de vingança e atividades contra inimigos em específico.

E por fim, nota-se um salto visual/gráfico. O jogo não esbanja um visual ensoberbo como Final Fantasy XV, por exemplo, mas o level-design de Sombras da Guerra é invejador. Com gráficos melhorados, polidos e belos, toda a Mordor é representada de maneira fidedigna e imponente. Sem exigir muito do PS4, mas entregando gráficos incríveis.

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O modo fotografia permite ainda apreciar a beleza mórbida de Gondor. Fonte: captura de tela.

Harmonizando com toda a paisagem, a trilha sonora é um ótimo exemplo de melhorias. A composição encaixa-se perfeitamente nos momentos de combate, na convocação de personagens, nas cutscenes. Algo que, antes foi supérfluo, agora, tomou uma proporção maior e de qualidade.

Tais características, exploração, combate, mapa, visual e trilha sonora de fato apresentam evolução em suas mecânicas. No entanto, é em um aspecto original da série que Sombras da Guerra deslumbra todo o esplendor: o Sistema Nêmesis.

O brilho

O Sistema Nêmesis é a autenticidade da franquia desenvolvida pela Monolith. A mecânica de combater orcs inimigos e resultar na ascendência de outros por causa de suas atitudes torna o jogo estratégico e original. O que já era bom no primeiro game, aperfeiçoou-se muito na sequência.

Não somente as vulnerabilidades dos inimigos são citadas no menu Nêmesis, mas as características de combate, as personalidades, os medos, os ataques e os recursos que utilizam. As possibilidades aumentaram e o jogador, agora, possui um briefing completo dos orcs antes de enfrentá-los. Claro, nada é de graça. É preciso arrancar informações privilegiadas de outros orcs.

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Uma vasta rede de informações sobre os orcs. A estratégia é ponto-chave de Sombras da Guerra. Fonte: captura de tela.

O Sistema tornou-se, ainda, mais dinâmico. Os capitães orcs possuem guarda-costas que são trocados caso o jogador prolongue a vida deles. Os guarda-costas lutam constantemente por posições superiores na hierarquia. E os chefes, são mortais, cruéis e vorazes. Cria-se, finalmente, um sentimento de enfrentar inimigos mais superiores e mais difíceis.

Um dos problemas de Sombras de Mordor foi criar um sentimento genérico sobre os orcs ‘mais poderosos’. Não existia um temor para enfrentar inimigos de uma patente maior. Porém, em Sombras da Guerra, o temor foi instaurado. Enfrentar os chefes ou capitães de alto escalão proporcionam temor ao jogador devido às suas poucas vulnerabilidades e à facilidade deles convocarem outros inimigos para ajudá-los.

Como se não bastasse, todo o ambiente contribui para o caos. Feras já conhecidas, como Graugs, estão ainda mais amedrontadores. E, desta vez, os inéditos Orog-hai e Dracos. Sim, senhoras e senhores, Dracos! Não são dragões. Os Dracos são menores e mais fracos. Contudo, a diversão continua a mesma. O caos acontece quando a fera voa pelo ambiente lançando fogo pela boca, agarrando a todos. Uma sinfonia aos olhos.

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Caos e morte vem dos céus através dos Dracos. Fonte: captura de tela.

E, claro, não poderia fechar este tópico sem citar no incrível trabalho de personalização dos orcs e em seus diálogos. A Monolith percebeu que acertou no primeiro jogo, e, agora, apostou ainda mais nas falas dos monstros. Será comum o jogador gargalhar ao ouvir diálogos como: “Quantos humanos você consegue matar? Se eu acordar cedo, consigo matar uns 100.” Os orcs são carismáticos por serem seres trogloditas irracionáveis.

Nem tudo é perfeito

De fato, Terra-Média: Sombras da Guerra é um produto excelente. Talvez o leitor pensou, até este momento, “estamos diante de um jogo perfeito?” Categoricamente, não. O título passa por problemas, sim. Alguns que incomodaram durante o período da análise.

O principal deles trata-se de movimentos espasmódicos aleatórios em momentos de combate. Em outras palavras, a câmera movimenta-se para posições não favoráveis durante a batalha contra os orcs. Isso não é regra, porém aconteceu algumas vezes em locais mais restritos. Não chega a atrapalhar a experiência, mas prepare-se para levar dano de ataques que você não conseguirá enxergar.

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Se eu vi algo? Não. Ainda bem que terminou ao meu favor. Fonte: captura de tela.

Como já mencionado anteriormente, alguns comandos não estão precisos, como o de escalada. Talion, muitas vezes, irá subir ou pular para o lado que o jogador não deseja. É frustrante, mas não estressante. Até porque tudo é escalável, então é difícil acertar as localizações exatas.

E, por fim, uma questão estética. O mapa apresenta um visual um pouco confuso em suas cores, principalmente por elas se mesclarem com as cores das sidequests. Inúmeras vezes perdi a localização do encontro das atividades pois não as conseguia identificar. Uma falha simples, mas notável.

Problemas simples, não comprometedores. Contudo, são dificuldades relativamente básicas que não deveriam estar presentes.

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Existe certa dificuldade visual de encontrar os marcadores do mapa. Nada comprometedor, mas irritante. Fonte: captura de tela.

O precioso

Terra-Média: Sombras da Guerra é um precioso dos jogos de ação-aventura. A proposta não somente entregou o mínimo que todos esperavam, como superou as expectativas. Não conteve-se com as boas críticas do passado, como expandiu suas ambições para um título evoluído e aperfeiçoado.

Nesta nova aventura de Talion e Celebrimbor, os olhos dos jogadores brilham pela excelência na produção de uma história digna de Tolkien, uma jogabilidade aprimorada, um Sistema Nêmesis desafiador, beleza visual e trilha sonora que combinam. Uma obra-prima do gênero. A consolidação de uma franquia de sucesso!

Veredito

Terra-Média: Sombras da Guerra
Terra-Média: Sombras da Guerra

Sistema: PlayStation 4

Desenvolvedor: Monolith Productions

Jogadores: 1 Jogador

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90 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Gráficos impressionam
  • Trilha sonora de respeito
  • Narrativa interessante
  • Sistema Nêmesis
  • Dublagem PT-BR
Desvantagens
  • Alguns comandos não estão precisos
  • Câmera se posiciona em lugares ruins às vezes
Raphael Batista
Raphael Batista
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Jogando agora: Dragon Age: The Veilguard | LEGO Horizon Adventures
Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.