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World Rally Championship 6: Vale a Pena?

por Hugo Bastos
World Rally Championship 6: Vale a Pena?

Tal qual sua contraparte do mundo real, World Rally Championship 6 veio para tentar conquistar a liderança, após uma “temporada” passada mediana, com WRC 5. Contudo, erros pontuais, uma dificuldade exageradamente elevada, e problemas técnicos acabaram por fazer o jogo “derrapar” já na largada. A desenvolvedora precisará trabalhar, se quiser recuperar posições ao longo do período.

3 - Selo de Prata

Para os amantes desse esporte, a sigla WRC já soa familiar. Mas para aqueles que não tem familiaridade com o assunto, vamos conhecer do que se trata. a World Rally Championship é, por assim dizer,  a Formula 1 dessa modalidade. Trata-se do campeonato mundial de rally, organizado pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), dividido em 13 eventos de três dias cada (14, na temporada 2016).

Sendo o jogo com a licença oficial, WRC 6 traz os pilotos, carros e campeonatos da Temporada 2016. As provas geralmente não são diretamente contra outros pilotos, mas contra o relógio, em diversos tipos de terreno (cascalho, lama, neve e asfalto), e em horários distintos do dia.

E sendo o game que retrata “a classe-mestre das provas de rally”, WRC 6 não poderia fazer feio. Graficamente, o jogo é aquilo que promete desde o início: é lindo de se ver, e mais belo ainda de se jogar. O trabalho que foi realizado na parte sonora também é primoroso, e digno de elogios. No entanto, outros aspectos do game deixaram a desejar, o que fez com que o jogo não conquiste o pole position dos jogos de corrida.

Então, aperte os cintos, preste atenção no seu copiloto, e prepare-se para percorrer curvas sinuosas com nossa análise!

Uma espiada embaixo do capô

O jogo possui muitas opções, o que pode deixar um iniciante confuso. Mas estas podem ser aglutinadas em apenas três áreas:

  • Solo – Onde estão as provas individuais, o modo carreira, corrida rápida e treinamento;
  • Multiplayer – Onde o jogador poderá disputar corridas com outros jogadores online ou offline;
  • Desafios Semanais – Divididos em duas provas, que mudam semanalmente, onde os competidores podem disputar entre si para ver quem é o melhor naquela semana, com a possibilidade de modificações nas corridas (como correr sem ajuda do copiloto, por exemplo)
Apesar de parecer confuso no início, os menus estão bem organizados.
Apesar de parecer confuso no início, os menus estão bem organizados.

Além destas, a Leaderboards mostra os melhores tempos mundiais. Em Options, o jogador poderá adequar o game às suas preferências. E, finalmente, em Extras, ele poderá conferir suas estatísticas de jogo, entre outras. Como dito acima, apesar de parecer confuso, esta organização permite ao jogador saber exatamente onde ir.

Sobre os modos, é necessário elogiar o (muito) bem-vindo modo multiplayer local. Em uma época onde as desenvolvedoras se esqueceram que os jogadores tem familiares que também jogam, essa inclusão foi uma surpresa deveras agradável. A única reclamação fica por conta da limitação de jogadores. Poderiam ser 4. Contudo, apenas 2 podem disputar uma corrida por vez.

Um fato que já pode ser notado de antemão: o jogo não é localizado para o nosso idioma. Isso não seria um problema, visto se tratar de um jogo de corrida. Mas as coisas ficam mais sérias dentro da pista. Um assunto a ser abordado posteriormente.

Largada para a jogabilidade

A mecânica do jogo é simples: o jogador deve cumprir, no menor espaço de tempo possível, um determinado percurso. Penalidades são aplicadas se o carro sair da pista, capotar ou atingir algum espectador. Ao final, ganha quem fizer o menor tempo. Simples no falar, mas complicado no executar.

Além de ser o jogo oficial, WRC 6 é um jogo de simulação. Dessa forma, diversas variáveis precisam ser observadas, como a configuração inicial do carro, tipo de pneus, tipo de pista… Além disso, existe a possibilidade de se configurar cada parte do carro de forma individual, o que pode gerar uma vantagem, ou trazer problemas, dependendo da configuração.

As configurações mais avançadas podem fazer a diferença no final.
As configurações mais avançadas podem fazer a diferença no final.

Dessa forma, o jogo visa agradar aos velhos fãs da franquia, e “tentar” despreocupar os que estão experimentando o jogo agora.

Nas corridas, os jogadores não acostumados a este tipo de jogo notarão algumas diferenças. Não existe um mapa do percurso. Ele é mostrado na tela de pausa, mas não durante o gameplay. As indicações de direção serão dadas pelo seu copiloto. E, como já dito acima, não haverão outros corredores na pista.

Falando nas pistas, estas são baseadas nas localidades onde acontecem as provas reais. As corridas podem acontecer em momento específicos do dia ou da noite, e o clima pode ser alterado conforme a vontade do jogador (ou a condição da pista, no modo Carreira). E essa mudança climática e de tempo interfere sobremaneira no desempenho do carro, e do piloto.

Houve um cuidado primoroso da desenvolvedora com esse aspecto do game. Há lógica na seleção “pista x clima”. Você não poderá correr na neve em uma pista no México, por exemplo. Além disso, a paisagem deixa transparecer realmente o clima do lugar. Locais secos possuem uma vegetação mais rasteira.

O carro também se comporta bem. Os controles são responsivos, e não se observou o infame input lag. Sendo um jogo de rally, é importante que haja a sensação de manobrabilidade do carro, e o jogo consegue transmiti-la.

O realismo também está em voga em WRC 6. Nos níveis de dificuldade mais elevados, caso o jogador danifique demais partes do veículo (o que pode ser verificado na parte direita da tela), o desempenho do carro cai drasticamente durante a corrida. Se muitas partes foram deveras danificada, o carro não poderá continuar correndo, e a corrida acaba.

Não é só velocidade que o jogador precisa ter durante as provas...
Não é só velocidade que o jogador precisa ter durante as provas…

A beleza do audiovisual

Sobre o realismo, esta talvez seja a parte pela qual o jogo mais se destaque. Os gráficos, no que toca aos veículos e pistas, beiram a perfeição. O que se nota é que houve, de fato, uma atenção quase maternal nesse aspecto do game, de forma que os vídeos mostrados até a data de lançamento fizeram jus ao produto final.

O nível de detalhes dos veículos é absurdo. Repare que até mesmo a suspensão é detalhada nesse screenshot...
O nível de detalhes dos veículos é absurdo. Repare que até mesmo a suspensão é detalhada nesse screenshot…

Os efeitos de luz e sombra proporcionados pelas variações do clima merecem destaque. A medida que a corrida avança, eles realçam não somente a paisagem ao redor do carro, mas também quaisquer danos que ele tenha sofrido, e a sujeira que nele se acumulou. Passar por baixo das árvores é literalmente como dirigir no mundo real, tamanha a beleza retratada.

Os danos nos carros não são apenas estéticos. Bata de frente com uma árvore e seu capô ficará amassado. Raspe lateralmente em uma defensa e sua lateral ficará toda arranhada. Seus faróis se quebram e os vidros para-brisa racham. Com uma configuração de acessórios correta, o jogador se sentirá como se estivesse mesmo correndo a WRC real.

A sua falta de habilidade é perturbadora...
A sua falta de habilidade é perturbadora…

E esses danos se refletem no desempenho do seu carro. A dirigibilidade ficará comprometida. Pneus estouram, barras de direção se quebram, enfim. Muita expectativa se criou durante a fase de desenvolvimento, pois é comum que jogos sejam lançados com uma qualidade gráfica muito aquém daquela que foi mostrada nos meses que precederam seu lançamento. Isso não aconteceu com WRC 6.

As pistas proporcionam um show a parte. Cada uma com sua particularidade, é glorioso ver os efeitos provocados pela passagem dos carros nas pistas. A poeira que se levanta, a água sendo espirrada para os lados, os rastros de lama. O carro vai sofrendo os efeitos do terreno ao longo da corrida, e isso é fantástico de se observar.

A parte sonora também merece destaque. Muito embora os jogos de simulação atuais não possuam uma trilha sonora musical, esta não viria a interferir tanto em WRC 6. Primeiro, porque poderia atrapalhar as instruções do copiloto. Segundo, porque é gratificante escutar o derrapar dos pneus no cascalho, enquanto o carro tangencia aquela curva acentuada.

O trabalho sonoro do jogo é elogiável. O ronco dos motores é bem próximo do que se espera para um jogo de simulação. Os sons reproduzidos nas diversas ocorrências (batidas, quedas, etc) não deixam a desejar. Jogar com um fone de ouvido apropriado cria uma imersão poucas vezes vista.

Não houvesse mais nada a dizer, certamente o jogo receberia uma classificação mais alta, mesmo tendo um preço um tanto salgado. Contudo, em contraste a aspectos tão bem gerenciados, existem problemas que não podem ser relevados.

Derrapada nas últimas curvas

Como dito acima, WRC 6 não escapa de críticas, e estas se iniciarão pela que é considerada a mais grave.

1 – A Localização

Muito embora diversos jogadores aleguem que este não seja um fator determinante, para um game com uma jogabilidade como este, é essencial. Eis ô porque.

Como dito acima, o jogo não possui um mapa. Durante o percurso, o jogador apenas pode observar o traçado na tela de pausa. Dessa forma, todas as direções são dadas pelo copiloto. E uma vez que existem traçados com curvas muito próximas umas das outras, as instruções acabam sendo dadas com muita rapidez.

Isso confunde demais os jogadores menos familiarizados com o idioma. E apesar da possibilidade de se configurar a maneira e velocidade das instruções, não é possível desligar a opção do copiloto. Junte isto ao fato de que só existe uma voz padrão para ele, e muito facilmente o jogador estará apertando o botão mute.

Mas aí perceber-se-á que jogar em pistas noturnas sem o auxílio de um navegador poderá ser ainda pior. E o jogo se torna frustrante. Caso o problema em tela não tenha ficado claro, o vídeo abaixo, feito durante a análise do jogo, exemplifica fielmente o fato.

2 – O Copiloto

O problema do copiloto se torna ainda pior pelo fato de ele, constantemente, indicar direções erradas. Então, o jogador se verá dirigindo para dentro de lagos, saltando barrancos, caindo de abismos e saindo de estradas. E para cada saída de pista, existe uma penalidade pesada, que impacta diretamente o tempo final. Isso se torna especialmente constante em pistas noturnas ou enevoadas.

3 – O Design das Pistas

As pistas são outro sério problema. Muito embora os efeitos delas sejam primorosos, seu desenho foi feito de forma preguiçosa, como se para dificultar intencionalmente o jogo. Pequenos elementos se tornam barreiras intransponíveis. Buracos viram rampas, pedras lançam o carro ao ar e fazem girar, e tudo isso contribui para perdas consideráveis de tempo e danos às peças.

Por mais incrível que possa parecer, o carro capotou por causa deste pequeno arbusto...
Por mais incrível que possa parecer, o carro capotou por causa deste pequeno arbusto…

Soma-se isso ao fato de que certas coisas não fazem sentido. Por exemplo: uma batida frontal deixa marcas no carro, mas não na árvore, ou no arbusto. O carro pode arremessar certas barreiras, mas não passa por grades de proteção. E, por fim, em uma batida, seja ela a 50 km/h ou a 200 km/h, os efeitos da física sobre o carro são os mesmos: ele é jogado levemente para trás.

Não há coerência nessas horas, e toda sublimidade do trabalho gráfico fica comprometida por erros primários.

4 – Outros pequenos problemas

Além destes elencados, existem ainda outros problemas visualizados. Os menus estão separados por categorias, mas são confusos para quem joga pela primeira vez. Não há uma explicação sobre como funciona o jogo. Também não há um tutorial sobre como funcionam as mecânicas das corridas de rally, substancialmente diferentes das corridas tradicionais.

Um pequeno, mas interessante, ponto que se nota, são os espectadores. Aparentemente, eles são vivos e dinâmicos, e acompanham a corrida com fervor genuíno. Mas basta uma observada mais atenta para perceber que são apenas animações mecânicas, que olham para uma direção fixa, e sequer prestam atenção ao seu redor. Não fosse o sistema de penalização, seriam facilmente atropelados.

8
Deveriam avisa-los que o carro já passou.
6 – Modo Online

A inclusão de um modo multiplayer local foi bastante elogiada. No entanto, o modo online não foi avaliado. Isso porque, em mais de uma semana, não foi possível se conectar a uma única partida. Ou seja: ou os servidores encontravam-se com problemas, ou ninguém está jogando corridas contra outros jogadores.

Desculpe, precisamos falar da dificuldade

Já há alguns anos, as produtoras tem tornado os jogos mais difíceis, com o intuito de atrair uma maior parcela de gamers, que sentem falta do desafio tirânico dos jogos antigos. O grande problema é quando esta dita dificuldade é implementada apenas para fazer o jogo parecer difícil, tornando-o quase injusto. WRC 6 cai nessa armadilha.

No modo Carreira, é ainda pior. Em cada etapa, o jogador precisa passar por três dias de provas. Cada dia tem um número de corridas variado. E, entre uma corrida e outra em um mesmo dia, o carro não pode ser reparado. Ou seja: qualquer dano de uma corrida será levado em consideração na outra.

Subir para outras classes requer melhores posições. Prepare-se para passar muita raiva...
Subir para outras classes requer melhores posições. Prepare-se para passar muita raiva…

Entre um dia e outro, a equipe pode fazer um número de reparos que não exceda 45 minutos. Qualquer tempo que ultrapasse a este será contado como penalidade para as próximas etapas. E independente dos danos do veículo, os reparos não podem exceder 60 minutos. O jogador ainda precisa se preocupar com os objetivos a serem completados, para avançar para a próxima etapa (se não os completar, deverá iniciar a etapa toda novamente).

Ou seja: some-se isso a todos os problemas acima descritos, e tem-se um dos jogos mais frustrantes de 2016. Os jogadores se verão constantemente reiniciando etapas simplesmente por não conseguirem cumprir os objetivos, e isto porque não conseguiram manter os carros inteiros.

Chegar entre os primeiros colocados exigirá perseverança e sorte. Fatalmente, ambas tendem a acabar antes que o jogador desista de qualquer jogo.

Uma lista para todos irritar…

Muito embora não se trate de uma questão tecnica, que venha a influenciar a avaliação final do game, a lista de troféus merece ser comentada.

Para os Trophy Hunters, WRC 6 representa um outro problema. Uma lista extremamente tediosa, longa e complicada. O jogo possui 95 conquistas (que podem ser vistas dentro de Extras), e estas conquistas incluem, também, os troféus do jogo. O problema é que um dos troféus, Legend, requer conseguir todas as conquistas.

E então entramos em uma seara desnecessária. A produtora demonstra aqui extrema desconsideração com os jogadores. Elabora uma lista ridiculamente difícil, com requisitos obtusos. Tarefas como “terminar 1000 provas” ou “ganhar 400 provas” mostram o quanto conquistar a platina deste jogo pode ser demorada. E estes nem são os piores desafios.

Uma lista nada inspiradora, para um jogo já cheio de problemas.
Uma lista nada inspiradora, para um jogo já cheio de problemas.

Dois deles chamam a atenção. Estes necessitam que o jogador complete TODAS as corridas do modo Solo na configuração de controle Simulation. Ou seja: ou o jogador aprende primeiro a jogar, e depois parte para essa conquista, demorando muito mais tempo que o necessário, ou inicia o jogo já nessa configuração, o que tornará a já elevada dificuldade do jogo quase intransponível.

Desligue o motor. A corrida acaba por hoje.

Esperava-se que, após WRC 5, a Kylotonn fosse entregar um jogo mais polido, bem feito, com uma melhor jogabilidade, e que agradasse mais. O que se viu foi o contrário.

De fato, World Rally Championship 6 é belíssimo. Seu trabalho sonoro é como música aos ouvidos. E não há o que reclamar do conteúdo: há muito debaixo do capo.

Mas isso, por si só, não sustenta um jogo que precisa de mais para manter sua base de jogadores fiel.

Os jogadores mais hardcore certamente aceitarão o desafio desse ano. Outros, meros mortais, provavelmente irão esperar até a próxima temporada, para que, com sorte e os ajustes certos, a série possa voltar a correr como no passado, e deixar a concorrência comendo poeira novamente.

Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.