The Order: 1886: Vale a pena?
The Order: 1886 chegou ao PlayStation 4 carregando o fardo de ser um dos principais exclusivos de 2015. O título foi desenvolvido pela Ready at Dawn em parceria com a Santa Mônica Studios e desde sua primeira aparição gerou enormes expectativas pelas ambiciosas promessas. Será que o estúdio atingiu os objetivos? O game realmente vale a pena? Isso você confere agora em nossa análise.
Desde o princípio, a Ready at Dawn fez questão de ressaltar que o game seria uma experiência cinematográfica, inovadora e fortemente ligada a um enredo rico em detalhes. A partir disso, o desenvolvimento da obra foi norteado por esses princípios e isto pode ser observado já pelo formato da tela. O game tenta se aproximar das películas de cinema inserindo bordas superiores e inferiores e, no início da jogatina, isso parece um pouco estranho, mas os olhos rapidamente se acostumam à novidade.
Diálogos, longas cut-scenes e um visual estupendo também servem como amostra para reforçar que o estúdio foi fiel a seus princípios.
Acredito que você, caro leitor, abriu esta análise com um pouco de receio e certamente influênciado pelas pesadas críticas que o título recebeu ao longo das últimas semanas. Se esse for o caso, pedimos que você abra as portas de sua mente e venha conosco abordar e avaliar com um pouco mais de frieza a obra.
Enredo
Prefácio
Durante os séculos XVII e XVIII, alguns humanos começaram a sofrer um tipo de mutação. Muitos foram, de alguma maneira, atingidos por este surto e com isso iniciou-se uma guerra entre as pessoas saudáveis e os modificados – chamados de mestiços.
Os humanos eram liderados por ninguém menos que o Rei Arthur em companhia dos cavaleiros da Távola Redonda. Arthur por muito tempo se viu em desvantagem de força, apesar da superioridade numérica. A guerra estava sendo perdida quando o Rei encontrou um misterioso líquido que continha poderes regenerativos. Chamado de Blackwater, o elixir possibilitou que a Ordem equilibrasse os combates e conquistasse algumas vitórias.
A era Vitoriana
O game se passa no mesmo período da Revolução Industrial (Séc. XIX), no entanto os avanços econômicos e tecnológicos de The Order: 1886 são muito diferentes da história que conhecemos. Máquinas voadoras, tecnologias futuristas, comunicação sem fios e diversos outros recursos estarão fortemente presentes no título.
As engenhocas e equipamentos são de responsabilidade de Nikola Tesla, um importante inventor da época. Tesla, a princípio, contribui cientifica e tecnologicamente com seus conhecimentos em engenharia, mas com o desenrolar da trama o personagem recebe um papel de destaque.
O título explora uma Londres alternativa, muito ao estilo Steampunk. Um mundo composto de máquinas, robôs e muita ficção científica. Filmes e animes como: Van Helsing, A Liga Extraordinária e Full Metal Alchemist já exploraram essa temática.
Neste ambiente, a Ordem, uma entidade militar de elite diretamente descendente dos cavaleiros de Arthur, ainda combate os mestiços. Contudo, os cavaleiros devem cuidar de outros assuntos também complexos.
O game coloca o jogador no papel de Sir Gallahad, um dos mais respeitados cavaleiros da Ordem. Gallahad é acompanhado por Sir Percival, Lady Igraine e o Marquês de Lafayette. Todos eles são pessoas que tentam zelar pela soberania e integridade do Reino, entretanto uma revolução ameaça dissolver a sociedade e uma guerra civil deve ser evitada a qualquer a custo. Além disso, os mutantes são uma ameaça constante.
A narrativa se mostra como uma premissa muito interessante e é neste ponto que o game apresenta sua maior controvérsia. Durante o gameplay, vários são os momentos onde o jogador assiste a vários minutos de cut-scenes, quicktime events, diálogos tediosos, vagos e pouco explicativos. Existem capítulos inteiros onde nada acontece, forçando o player a somente assistir sem nenhuma ação ou interação. Este tipo de abordagem é muito frustrante àqueles que esperavam uma experiência um pouco mais interativa.
Apesar da história nos colocar em um ambiente extremamente interessante, a Ready at Down cuidou para que o jogador, na maior parte do jogo, fosse um mero expectador. O sistema de exploração também contribui de forma significativa para o sentimento de impotência do jogador. Os cenários, apesar de belos, não têm muitas possibilidades de exploração. As opções se resumem apenas a analisar fotos e coletar arquivos de áudio, nada além disso.
The Order: 1886 é um game 100% linear. Não possui caminhos alternativos, escolhas e a tomada de decisões está longe dos domínios do jogador. Como exposto, a trama se desenrola de forma lenta, quase arrastada, o que contribui para afastar os mais sedentos por ação.
Visual
The Order: 1886 se destaca em seu visual. Cenários, personagens, armas, ambientes etc são incrivelmente detalhados. Podemos afirmar, sem medo de errar, que se trata de um dos jogos mais bonitos de todos os tempos.
Não são raras as vezes onde ficamos simplesmente contemplando o espetáculo visual. Os personagens principais são muito fiéis aos seres humanos reais. A Ready at Dawn realmente produziu um verdadeiro jogo de nova geração.
The Order:1886 é aquele jogo que você coloca como exibição em sua casa para impressionar as pessoas e mostrar a elas o quanto os vídeo games evoluíram nos últimos anos.
Outro aspecto importante é qualidade técnica do título. Não existe delay de renderização, sendo que é praticamente impossível diferenciar uma cena de computação gráfica com um gameplay. Além disso, o game é perfeito do ponto de vista técnico. Não encontramos bugs, nem personagens atravessando paredes, falhas, ou queda na taxa de quadros por segundo. Em uma geração marcada por problemas, a Ready at Dawn mostrou que é possível criar um jogo sem os gigantescos pacotes de correções.
Jogabilidade
The Order é um jogo de tiro em terceira pessoa simples. Os comandos respondem de forma excelente e sem transtornos. A curva de aprendizado é bastante curta e não exige muitas habilidades do jogador. O sistema de cobertura também é eficiente e atende bem as necessidades.
Durante o gameplay é possível andar, andar em um passo mais acelerado e correr. Entretanto, o jogador não tem total controle sobre suas ações. Em determinados momentos só é possível andar, o que torna o passar do tempo bastante lento. Além disso, Gallahad também pode se pendurar, realizar saltos mas, assim como dito anteriormente, esses movimentos só estão disponíveis em partes específicas, onde o jogo obriga o jogador a realizá-los.
Outro ponto de destaque são os quicktime events. Eles são partes constantes do jogo e fazem parte da experiência do enredo. Em determinados momentos o jogador deve apertar um botão, seja para finalizar um inimigo, completar uma ação ou para prosseguir adiante. Não existe nenhum problema técnico nesses momentos, todavia eles são muitos repetitivos e acabam por quebrar o clima do jogo.
Seguindo neste sentido, podemos dizer que o gameplay às vezes pode ser “esticado” mas, em alguns casos, o jogador não tem a sensação de “jogar” o game de fato.
Até as esperadas batalhas contras os lobisomens são inteiramente moldadas em “aperte um botão na hora certa”. Este fato acabou por ser o grande desapontamento da obra, uma vez que o próprio estúdio havia ressaltado que os combates com estes “seres” seriam impressionante.
Apesar do ritmo mais cadenciado, em certas partes o game se mostra bastante intenso com muitos tiroteios, explosões e inimigos. São esses momentos que mostram o verdadeiro potencial do título. Mesmo que a variação de inimigos seja quase nula, é possível se divertir e experimentar uma boa variação de armas.
Som
Outro capricho da Ready at Dawn é a parte sonora do game. Durante a jogatina as músicas se fazem presente de forma magistral. Em partes mais aceleradas, a orquestra trata de propiciar todo um clima de tensão. Já nas partes mais tranquilas os passos e o caminhar dos personagens são ecoados pelos cenários criando a sensação de “exploração”.
A versão nacional do título é totalmente dublada para o PT-BR. De uma forma geral, o trabalho foi bem executado e as vozes combinam com os personagens. Contudo, a localização não sai ilesa de problemas. Em alguns momentos as vozes ficam totalmente dessincronizadas com as cenas mostradas na tela. Além disso, por vezes a tradução não faz muito sentido com aquilo que é visto na versão em inglês. Estes problemas não chegam a atrapalhar, mas podem irritar os mais exigentes.
Considerações Finais
Ao contrário do foi ventilado em alguns locais, The Order: 1886 não pode ser finalizado em menos de 5 horas. O tempo total de gameplay varia entre 7h a 9h de duração, mas no final das contas, o tempo de jogo não foi o grande problema do título. Podemos afirmar que a maneira como as ações se desenrolaram são os fatores que contribuíram para que o game fosse recebido de forma negativa pelo críticos. Todavia, devemos novamente refletir sobre a proposta inicial do estúdio.
Desde o início, a Ready at Dawn deixou claro que o game seria uma obra com viés cinematográfico e isso de fato foi cumprido. O game apresenta um enredo forte, carregado de cut-scenes e cheio de mistérios, mas esta escolha tem um custo: Após o fim do gameplay o jogador não encontra nenhum motivo para voltar a experimentar o título, uma vez que a exploração é limitada, não existe multiplayer e o enredo é linear. Fica aquele gostinho de quero mais.
The Order: 1886 certamente será transformado em uma franquia e esse foi apenas o primeiro capítulo. Espera-se que a Ready at Dawn concentre esforços em criar um gameplay mais imersivo, dinâmico e variado. Qualidade técnica já foi provada: o estúdio tem de sobra; resta trabalhar melhor em outras áreas.