The Division: vale a pena?
Nova York e Black Friday: a combinação dos sonhos virou pesadelo. A cidade foi atacada por um vírus letal, e o caos só será resolvido com a sua ajuda. Entre para o desafiador e viciante mundo de The Division.
O que dizer desse The Division que mal chegou e já considero pacas?
Brincadeiras à parte, um dos jogos mais aguardados deste ano está entre nós, e o Meu PS4 fez uma maratona durante as madugadas para preparar uma análise digna do que pode ser um novo marco na história da Ubisoft e desta geração de consoles. Em gênero, temática e claro, jogabilidade. Afinal, é um Shooter/MMO com tema que não foge tanto da realidade, tem uma das cidades mais famosas do mundo como cenário e é ideal para o jogo cooperativo.
Ainda é cedo para fazer grandes prognósticos, pois The Division vai receber quatro grandes DLCs durante o ano, e 2016 ainda reserva games de alto nível, como Uncharted 4, Hitman e, quem sabe, até um Watch Dogs 2, como dizem os rumores. Mas a impressão que o novo blockbuster da Ubisoft deixa, após as primeiras horas de jogo, é de que, lá no final do ano, ele ainda será assunto, afinal já é um dos melhores jogos da “linha” Tom Clancy’s.
Confira abaixo nossa análise de The Division:
Quando a sociedade cai, nós nos erguemos
Quem não quer ir para Nova York na Black Friday fazer umas comprinhas? Bom, depois de jogar The Division, vai ter muita gente em dúvida. Um vírus plantado em notas de dinheiro fez com que uma pandemia de varíola atacasse os Estados Unidos nesta data. Em apenas cinco dias, o governo entrou em colapso. Parou de fornecer serviços básicos, como acesso à água e comida, e o país virou “terra de ninguém”, dominado por bandidos.
A sociedade caiu, e está na hora de alguém se erguer para recuperá-la. E, para retomar as rédeas da situação, o governo criou um grupo táctico de agentes. É a The Division, uma grande força-tarefa que reúne os especialistas no campo de batalha, além de profissionais de áreas importantes: medicina, segurança e tecnologia, para erguer uma Base de Operações em Nova York e acabar com os baderneiros.
É neste time que o jogador entra, buscando chegar a uma solução para a crise na Big Apple. Ele deve desenvolver a sua base, conquistar novos armamentos e equipamentos para lutar e encontrar outros agentes no meio do caminho para ajudar-lhe não só a derrotar quem está praticando crimes, como também a salvar o cidadão de bem que não foi infectado.
Os inimigos são divididos em quatro grupos: Rikers, ex-detentos em Rikers Island, Rioters, jovens delinquentes da cidade, Cleaners, um grupo de ex-trabalhadores da área da limpeza e que acredita no uso do fogo para acabar com a infecção, e The Last Man Batallion, que seria o equivalente a The Division, mas “do mal”, um grupo repleto de agentes assassinos.
VI-CI-AN-TE
The Division começa com missões de tutorial no Brooklyn, até que o jogador consiga ter as noções básicas e desbloqueie Manhattan, onde a ação acontece de verdade. Há uma enorme variedade de missões, além de um mapa gigantesco para explorar. E, nestas primeiras horas de jogo, a vontade foi de não parar mais.
Mesmo ele tendo as primeiras missões iguais às disponibilizadas nas versões beta, The Division impressionou bastante. O nível de desafio é grande nas missões principais. As sidequests costumam ser simples, mas tudo também depende do seu level. Se você estiver um pouco mais fraco do que os rivais, pode suar um pouquinho para concluir. O que impressiona positivamente é a inteligência artificial dos inimigos.
Você não consegue simplesmente passar por um deles, correr, se esconder e ele não te ver mais. Ou então atirar, voltar para seu cover e achar que ele não sabe onde você está. Até no começo do jogo, em níveis mais baixos, os inimigos são bem inteligentes. Tanto na hora de atacar como para defender. Eles também usam pilastras e caixas para se esconder dos seus tiros, sabem a hora certa de ir para cima e atuam bastante em grupo.
Em alguns momentos, é normal o jogador acabar se desesperando um pouco com isso, e eis o único problema que encontramos na jogabilidade de The Division: em diversos casos, você acaba ficando “travado” entre caixas quando tenta pular ou dar o rolamento para o lado e/ou para trás. Nestas horas, se um inimigo te pegar, já era. Os movimentos são parecidos com os de Uncharted, porém sem a mesma qualidade/eficiência em dados momentos.
No restante das ações, tudo tranquilo. A corrida está levemente mais rápida, o uso de armas é super bem feito (inclusive na hora de sacá-las, as animações são legais porque você vê o agente, de fato, pegando a arma da cintura ou da mochila), a exploração de ambientes é feita de maneira correta, a abertura de baús contendo loot também não apresenta problema, enfim, é uma jogabilidade quase perfeita.
Os menus são bastante simples de usar, as missões e suas recompensas são fáceis de se compreender, o mapa é excelente e tem até um guia que fica na tela para ajudar o usuário a não se perder no caminho. O longo tempo de desenvolvimento e as fases de testes deram à Ubisoft tudo o que ela precisava para não cometer erros no gameplay de The Division, o que era um ponto fundamental, ainda mais depois dos problemas na série Assassin’s Creed.
Faltaram só os botões de pular e de agachar. E quem sabe a possibilidade de usar algum tipo de meio de transporte para se locomover evitar a fadiga de caminhar na gigantesca cidade de Nova York do game? Se bem que isso é fácil de resolver após as primeiras caminhadas, já que há pontos de “viagem rápida” em todos os principais “bairros” do mapa, facilitando as transições entre locais mais distantes.
Vale destacar que o jogo é todo em português: menus, legendas, nomes do personagens e, claro, o áudio. A dublagem é bem satisfatória, e a experiência para os brasileiros fica muito favorecida com esta atenção especial que a Ubisoft, e outras grandes empresas do gênero, vêm dando para o público do nosso país. The Division é mais um jogo em PT-BR de verdade, sem improvisos ou falhas clamorosas. Parabéns aos envolvidos.
MMO ou Shooter?
Quando se fala em MMO, muita gente só pensa em jogos mais voltados para temáticas de magia, com elementos de RPG mais tradicionais. Porém, The Division, mesmo com todo seu jeitão de shooter, assim como Destiny, da Bungie, deve ser considerado, sim, um MMO. Ele, aliás, tem um estilo de role-playing game maior do que o esperado.
A evolução básica do personagem, pegando equipamentos e armas melhores a cada desafio, além de usar materiais encontrados para criar novos itens, é o maior exemplo do estilo. Em um Uncharted ou Hitman, por exemplo, que são basicamente jogos de aventura e de tiro em terceira pessoa, isso não acontece.
Além disso, The Division se passa em um mundo totalmente aberto, semelhante ao de Watch Dogs ou de Assassin’s Creed, por exemplo. Inclusive, tem espaços em que agentes de todo o mundo podem se encontrar, nos Esconderijos. E o jogo é totalmente cooperativo, e bem divertido de jogar assim, quando você se junta aos amigos para cumprir as missões.
The Division possui uma árvore de skills para o jogador, tem um quartel-general em que é preciso ir cumprindo missões e coletando pontos para desbloquear novas habilidades, enfim, todas as características básicas de um MMO. E é por isso que ele é tão viciante: porque você está sempre em busca de mais conteúdo para melhorar o seu personagem.
Seja para ter uma nova arma, mais poderosa, para os desafios nas missões, para comprar aquele equipamento exótico na Zona Cega, ou simplesmente para encontrar as roupas que mais façam o seu estilo. Aliás, vale elogiar esta enorme variedade de opções de vestimentas que o jogo traz para os players.
“Mas não vai ser repetitivo?”
Todo MMO é um pouco repetitivo. Afinal, por mais que haja variedade de missões, a grande maioria tem dinâmicas bem parecidas. Em The Division, por exemplo, há missões de fazer a proteção de suprimentos, resgatar reféns, impedir vendas de armas, etc. Porém, cada tipo de objetivo deste é repetido em várias ocasiões, mudando somente o local do mapa.
Se para você isso é chato, não compre The Division. Ou compre, faça as missões principais, e passe para a frente. Novamente cabe a comparação com Destiny, que hoje parece viver o seu momento mais difícil quanto à presença de jogadores após esta repetição exaustiva de conteúdo. Ao que tudo indica, porém, a Ubisoft não cairá no mesmo erro da Bungie.
Afinal, a empresa já anunciou o planejamento das DLCs para The Division, e promete que o futuro do jogo terá muitas melhorias e novidades. Em abril, por exemplo, chega a primeira raid do game. Uma atividade cooperativa com nível de dificuldade altíssimo. Em maio, outra raid e mais desafios multiplayer na Zona Cega. Tudo isso de graça.
Depois chegarão as expansões pagas, no segundo semestre, com a promessa de aumentar ainda mais o mapa do jogo. Além disso, durante as próximas semanas, novidades como um sistema de troca de loot, missões diárias/semanais, além de eventos na Zona Cega deverão ser lançados. A expectativa é boa, e só nos resta aguardar.
A Zona Cega
Um dos pontos que faz com que The Division possa ser ainda mais divertido e imprevisível é a Zona Cega. Uma área onde há combates PvP e PvE. Basicamente, é uma grande arena, que fica no meio de Manhattan e tem divisões por níveis. Os personagens de level mais alto só poderão jogar com outras pessoas de nível alto. No PvE, porém, não há restrições, só não é nada recomendável ir com um agente level 10 a uma área level 20, pois ele irá morrer.
Na Zona Cega, você pode ser “da paz”, encontrar outros agentes e derrotar os inimigos que são controlados “pela máquina” para ganhar XP e loot, ou então virar “Rogue“, um assassino que ataca os outros agentes para roubar os itens deles. Tudo isso pode ser feito em grupo ou sozinho, em um “esquadrão” com os amigos ou então encontrando pessoas aleatórias dentro do próprio servidor. É bem legal.
O mais interessante da Zona Cega é o clima de nunca saber o que vai acontecer. É claro, há localidades já famosas, em que todo mundo sabe que há vários NPCs e boas chances de loot para ganhar. Mas e se depois de limpar os inimigos, na hora de ir para a zona de extração, o ponto do mapa onde é preciso aguardar um helicóptero chegar para salvar o seu loot, chegar um grupo de “rogues” e te matar?
Ao contrário do que aconteceu na versão beta, neste jogo final, não é recomendado ir à Zona Cega com level menor do que 10, pelo menos. Afinal, os NPCs mais fracos costumam ter um nível de pelo menos 11, mas com o sangue roxo, o que já torna as batalhas mais difíceis que o normal. Mas assim que você tiver um equipamento legal e um nível a partir do 10, vá sim. Aventure-se, porque vale a pena.
Não somente pela diversão, como também pelos equipamentos que você pode ganhar. Não só no loot recebido ao derrotar inimigos, como também ganhando XP e dinheiro para fazer as compras com os vendedores da Zona Cega. Há vendedores com materiais diferentes, a maior parte deles lendário, em cada entrada desta grande área de batalha. Vale conferir tudo e calcular certinho o que você precisa. Seus equips podem ficar bem fortes graças à ZC.
New York, New York
“Mas Meu PS4, e os gráficos”? Ah, deixamos o melhor para o final. Da E3 de 2013 para a E3 de 2014, para a E3 de 2015, sim, muita coisa mudou. O resultado visual de The Division não ficou como o prometido pela Ubisoft, que garantiu aos jogadores que não haveria um downgrade gráfico desta vez. Houve. Mas isso não quer dizer que os gráficos do jogo sejam ruins. Pelo contrário. Especialmente na ambientação de Nova York.
Conforme relatado na análise da versão beta, a cidade está super bem retratada no game. A pessoa que conhece Nova York vai reconhecer diversos pontos importantes no jogo. Como o Rockfeller Center vandalizado na Zona Cega, a Times Square com seus tradicionais outdoors apagados (e os poucos ligados falando sobre a Quarentena), o ginásio Madison Square Garden como palco da primeira missão e muito mais.
Sem falar nos elementos espalhados pelas ruas. São carros abandonados, corpos de pessoas nos tradicionais “sacos pretos”, animais e pessoas vagando, sacos de lixo acumulados, tudo o que você esperaria ver em uma cidade na situação pela qual NY passa em The Division. No geral, o trabalho é ótimo neste aspecto, e o mesmo acontece nas luzes, sombras, reflexos, e (nos muitos) efeitos de fumaça e fogo presentes no jogo.
As mudanças climáticas também merecem destaque no visual de The Divison. A qualquer hora, você pode estar caminhando no sol e, de repente, o tempo fechar e começar a garoar. Pouco tempo depois, a nevasca pode começar e sua visibilidade ser super reduzida. Tudo isso com um passar do tempo bem natural e com um trabalho gráfico detalhado e fiel ao que se vê no dia a dia de Nova York.
A única crítica fica por conta do detalhamento dos personagens. No gameplay em si, “passa batido”, mas nas cutscenes é possível ver que o desenvolvimento ficou aquém do esperado. O próprio Far Cry Primal, da mesma Ubisoft, tem gráficos muito mais bem trabalhados, com detalhes impressionantes, especialmente nos “closes”. Além disso, a possibilidade de criar o rosto do personagem no começo é bem limitada, com faces pré-definidas, uma pena.
Como nada é perfeito…
Além desta limitação decepcionante da personalização facial, dois problemas de gameplay incomodam um pouco. O primeiro é a questão do impacto corporal. Em muitos casos, quando você “bate” em algum outro agente, a intenção de fazer a mecânica ser igual a um movimento da vida real, atrapalha. Você esquiva e um tiro, por exemplo, mas dá o azar de ir a um lugar onde tem outra pessoa, aí bate nela e acaba ficando desorientado.
Este mesmo mecanismo vem sendo usado por alguns trolls para impedir que pessoas andem de um lugar para outro nas zonas de segurança. Caso dois ou três agentes fiquem parados na frente de uma porta, ninguém mais consegue sair. Segundo a Ubisoft, após reclamações diversas sobre o tema, basta apertar o botão de correr na direção deles por 3 segundos para “atravessá-los”. Mesmo assim, é algo incômodo.
Há ainda um glitch gráfico curioso. Em algumas ocasiões durante nosso gameplay, o menu quando foi aberto, deixou o fundo da tela totalmente cinza, e as imagens das armas ficavam todas pretas. Não houve problemas na funcionalidade dele. Foi possível fazer as ações de uma forma normal, e saindo do menu e voltando, o glitch foi corrigido. Porém, isso ocorreu mais de uma vez, e é uma falha “boba” para um jogo tão grande.
Alguns usuários também reclamaram de problemas com lag, inimigos não sofrendo dano, e outros morrendo e depois reaparecendo. Isso, porém, não ocorreu em nenhum momento dos testes para este review. Vale lembrar que falhas como essa podem estar ligadas também à conexão da Internet do usuário aos servidores de The Division, e não são necessariamente um problema do jogo.
A história principal do game é bem amarrada, mas fica aquela sensação de faltar um “tchan” durante o desenrolar dos fatos. Porém, isso é compreensível, tendo em vista que o jogo vai receber quatro expansões durante o ano que prometem ser fundamentais para o desenvolvimento do tema. É um pouco chato ficar nesta expectativa, mas já é algo que vem se tornando cada vez mais comum na indústria dos games atual.
Conclusão: O que você está esperando?
O primeiro trimestre de 2016 pode entrar para a história da Ubisoft. Após o belo trabalho em Far Cry Primal, a empresa tem seu blockbuster do ano, The Division, correspondendo muito bem à enorme expectativa que havia em torno dele. É daqueles games que têm o potencial para marcar a atual geração de consoles.
The Division é divertido, viciante, ótimo para jogar com os amigos, tem diversos desafios no modo história, no mundo aberto ou na Zona Cega, conta com uma enorme variedade de armas, equipamentos e habilidades, além de roupas para customizar o personagem… É uma experiência incrível.
Tem pequenas falhas, sim, como a personalização do rosto, que poderia ser muito melhor, e alguns glitches na hora de abrir o menu, ou o polêmico mecanismo de impacto corporal, que pode atrapalhar nos movimentos caso você “bata” em algum outro agente, e a história sem grandes emoções. Mas, no geral, é um jogo que todo fã de games deve experimentar.