Street Fighter 30th Anniversary Collection: Vale a Pena?
Coleção de Street Fighter acerta na nostalgia, mas erra em detalhes técnicos.
Street Fighter 30th Anniversary Collection, finalmente, chegou às lojas, quase 15 anos após a última edição comemorativa, ainda no PlayStation 2, uma nova oportunidade para os mais velhinhos relembrarem seus primeiros contatos com os fighting games, ou para os mais novos conhecerem como se deu um momento ímpar no mundo dos games.
Fazer parte dessa coleção, todas as versões originais dos arcades dos seguintes jogos: Street Fighter, Street Fighter II, Street Fighter II: Champion Edition, Street Fighter II: Hyper Fighting, Super Street Fighter II, Super Street Fighter II: Turbo, Street Fighter Alpha, Street Fighter Alpha 2, Street Fighter Alpha 3, Street Fighter III, Street Fighter III: 2nd Impact, e Street Fighter III: 3rd Strike.
Debaixo dos caracóis, dos seus cabelos…
Particularmente, tenho um carinho bem grande pela série. Lembro-me com detalhes do primeiro contato com franquia: fliperama aglomerado de pessoas em frente a uma máquina em específico. Certamente, alguma novidade enfeitiçante acabara de chegar. Ao me aproximar, notei que o garoto agitava ferozmente o controle enquanto pressionava botões desenfreadamente.
Foi só na minha vez que fui compreender o porque de tanto entusiasmo. Na tela, um sujeito de branco distribuia socos e pontapés diferentes níveis de força, soltava uma bola de fogo pelas mãos e dava um uppercut, que quase alcançava o topo da tela.
Por falar em botões, nunca tinha visto, até então, um jogo com seis botões de comando. Sem dúvida, quem estava por trás deste jogo de luta, não tinha receio de inovar e queria sair da zona de conforto, algo que é constantemente presenciando. Alguém tem dúvida de que valeu a pena?
E o eSports estava nascendo…
Apesar de toda inovação, a jogabilidade do Street Fighter era bastante travada, razão pela qual seria impensável imaginar uma possível continuação. Mas o inesperado aconteceu: Street Fighter 2: World Warrior chegou com melhorias substanciais, oferecendo um fator replay quase intangível.
Desta vez, os jogadores não praticavam em busca da maior pontuação como antes, e sim, para dominar todas as técnicas de seu lutador favorito, e vencer todos os seus adversários, que começaram a se desafiar, ao longo de todo o dia, em todos os arcades do mundo.
E assim, o embrião para o eSports começava a se fecundar e hoje, mais de 20 anos depois, tem tomado a proporção que todos nós conhecemos, crescendo cada vez mais, ocupando arenas de futebol, lotando salas de cinema com transmissão ao vivo e movendo cifras milionárias.
Coleções sempre nos deixam com um pé atrás
Compilados não costumam ser vistos com bons olhos pelos jogadores, e são nomeados, muitas vezes, como meros caça-níquéis. De fato, não é algo bacana, simplesmente juntar um monte de jogos antigos e vender num preço cheio.
Sendo assim, o que Street Fighter 30th Anniversary Collection traz de valor agregado para justificar sua aquisição?
Arcade com uma pitada dos consoles
A primeira novidade, é o bem vindo Versus Mode presente nos 12 jogos. Nele, é possível trocar de lutador a cada nova partida, em vez de trocar somente em caso de derrota. Pode-se, também, escolher qual será o cenário de cada batalha.
É uma pena que o Versus Mode não permita batalhas contra CPU, seria muito bom para aqueles momentos que não se tem um amigo em casa para trocar umas pancadas. Ou seja, single-player apenas com o modo arcade, não tem outro jeito.
Para os jogadores iniciantes na franquia, ou para quem está um pouco esquecido, agora é possível pausar a luta a qualquer momento e ver a lista de comandos de cada lutador. E outra novidade importante é que, para cada um dos doze jogos, é possível salvar o progresso, a qualquer momento, e continuar de onde parou.
Falando nisso, há um bug no jogo: ao sair da pausa da partida ou continuá-la após recuperar uma partida salva, os controles simplesmente não respondem por uma fração de segundos.
Treinar é preciso
Finalmente, será possível treinar com seu lutador favorito, antes de partir para uma luta real. Porém, em apenas quatro dos doze jogos: Street Fighter II: Hyper Fighting, Super Street Fighter II: Turbo, Street Fighter Alpha 3 e Street Fighter III: 3rd Strike, que são justamente as que possuem opção de multiplayer online.
O modo treino tem opções interessantes, como exibição de dano no adversário, definição de comportamento do oponente (não defender, defender apenas o primeiro ataque, pular, agachar, etc), se a barra de energia se esgota ou renova, entre outras. Um segundo jogador pode assumir o controle da CPU e treinar com o parceiro, sem preocupações com limite de tempo ou barra de energia.
Infelizmente, não é possível habilitar a CPU para assumir o controle do oponente, o que seria muito interessante também. Nas versões atuais da franquia (IV e V), além de terem esta funcionalidade, também pode-se mudar o nível de habilidade da CPU.
Som na caixa
Ponto positivo neste aspecto: todas as trilhas sonoras dos doze jogos estão disponíveis para escutar à vontade. Tudo que você ouviu, ao longo destes 30 anos, como as trilhas das telas de apresentação, das partidas, dos finais, está tudo lá.É nítida a evolução sonora, à medida que a Capcom que as versões faziam a estreia de versões mais poderosas de hardware.
Panela velha é que faz comida boa
Os fãs de Street Fighter ficarão felizes com tudo que está disponível no Museu: além das trilhas sonoras citadas, informações sobre cada personagem, curiosidades, muito material de rascunhos, não só de de lutadores que nunca viraram realidade, com versões anteriores de lutadores como Vega e Blanka, antes de chegarem ao formato que conhecemos.
A disposição de todas as informações ficou muito bem organizada, com a navegação em ordem cronológica, começando em 1987, e terminando Street Fighter 30th Anniversary Collection, no dias atuais. Ao navegar pelos momentos de lançamento de cada um dos doze jogos da compilação, é possível ver informações sobre eles, apertando o quadrado.
Infelizmente, para Street Fighter IV e Street Fighter V, não há informações extras, o que é uma pena. Em contrapartida, tudo está disponível em Português do Brasil (com pequenos erros, mas tudo bem), o que mostra uma preocupação da Capcom neste sentido.
Vamos falar do modo online
Talvez o aspecto mais importante do Street Fighter 30th Anniversary Collection – descontando o fator nostalgia – é a possibilidade de se disputar partidas online, mas com a limitação de isto ser possível em apenas 4 dos 12 jogos.
Este recurso deveria estar disponível para todos os jogos. Não ficou bem claro qual o critério para a escolha destes títulos. Aqui no Brasil, por exemplo, existem centenas de fãs da Street Fighter 2 Champion Edition que certamente gostariam de relembrar os velhos tempos, e disputar partidas. Para quem não sabe, em países como China e Chile, até hoje ainda tem torneios da SF2CE.
Há quatro maneiras de jogar online. Na primeira, você pode jogar o modo Arcade contra a CPU e aguardar alguém “colocar a ficha” e te desafiar, como nos velhos tempos do fliperama. Na segunda, pode-se jogar partidas aleatórias casuais sem valer pontos de ranking. Na terceira, é possível criar uma sala para até quatro pessoas (contando com você) ou entrar em uma sala já existente.
Na quarta e última maneira, você jogará, aleatoriamente, com jogadores aleatórios, e ganhará pontos a cada vitória. Cada um dos quatro possui seu próprio ranking, e quanto mais vitórias, mais pontos você ganhará e conquistará faixas de graduação.
Nem tudo são flores
Justamente o que deveria ser o diferencial é o responsável pelo aspecto mais negativo do jogo: mais de 90% das partidas disputadas, estavam com um lag terrível, praticamente quadro a quatro. O fato do jogo não permitir filtrar por conexão ou por localidade (continente, por exemplo), agravam ainda mais a situação.
Outra lacuna do modo online é não poder denunciar comportamento inadequado dos jogadores ou pelo menos, bloqueá-los para novas partidas. Não são poucos os jogadores que saem das partidas após à derrota, antes que os pontos sejam computados.
Conclusão
Street Fighter 30th Anniversary Collection tem tudo para ser a opção definitiva para os velhos e novos fãs da franquia. Mas, a inexistência de uma fase de BETA Online para testes do desempenho do multiplayer, está trazendo consequências negativas (e esperadas), após o lançamento do jogo, o que faz com que os R$ 170 cobrados atualmente, sejam considerados um valor caro para o que o produto está oferecendo.
O review foi feito em um PS4 normal com uma cópia do jogo cedida gratuitamente pela Capcom uma semana antes do lançamento.