Review

Split Fiction: vale a pena?

Josef Fares está de volta com mais um projeto digno do prêmio mais importante dos videogames: Split Fiction é "absolute videogames".

por Thiago Barros
Split Fiction: vale a pena?

É difícil recorrer ao lendário “Fuck the Oscars” de Josef Fares quando se é brasileiro em 2025, logo depois da primeira estatueta da Academia da história do nosso país, né? Tudo bem que quase não dá para falar do diretor da Hazelight Games sem lembrar desse momento – é tipo Casimiro sem “Meteu essa?” ou Marinho sem “Sabia não”.

Ao mesmo tempo, é pouco reduzir um artista tão genial a uma única frase – que virou mais meme do que coisa séria. Que tal relembrar do que ele fez que foi realmente “Absolute cinema” – ou melhor, “Absolute videogame”. Em 2021, ele deixou de ser “o doidão que xingou Hollywood” para a consagração com o equivalente ao Oscar dos jogos eletrônicos com It Takes Two.

E já que estamos falando da sétima arte aqui, uma icônica frase que saiu dos quadrinhos e foi eternizada na telonas, a ponto de até virar clichê, cabe bem aqui: “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Agora, com seu mais novo projeto, Split Fiction, todo mundo espera alguma coisa do carismático sueco-libanês de ascendência assíria.

Mas pode ficar tranquilo: Josef Fares ainda está aqui. E, enquanto ele estiver, a indústria dos games está em boas mãos.

Nós vamos sorrir sim, sorriam!

Inclusive, Split Fiction pode ser visto justamente como uma ode a tudo o que foi construído nesta tão importante área do entretenimento. Primeiro, ao formato que Fares transformou em seu. Brothers em 2013, A Way Out em 2018, It Takes Two em 2021, Split Fiction em 2025. Um currículo de respeito e, mais do que isso, com a sua assinatura.

Split Fiction

Parece que, a cada game, ele vai refinando a jogabilidade icônica e cooperativa que é sua marca registrada e criando ainda mais possibilidades que fazem com que um único jogo seja como uma coletânea de vários outros. E, em Split Fiction, temos uma premissa perfeita para isso: como diz o seu nome, é uma “ficção dividida”.

Mio e Zoe são escritoras contrastantes – uma escreve ficção científica e a outra escreve fantasia – e elas ficam presas em suas próprias histórias depois de serem conectadas a uma máquina projetada para transformar suas ideias em algo além disso. Sem spoilers, mas elas vão tendo não só que “enfrentar” os enredos uma da outra como também descobrem mais sobre suas “vidas reais”.

Tudo bem que com um roteiro levemente clichê e previsível, mas ainda bacana para gerar uma reflexão. Um tom de emoção na medida certa. Resumidamente, as protagonistas têm imaginações bem férteis em relação a possíveis enredos para livros que gostariam de escrever, e é por estes universos que navegamos durante as cerca de 12-14 horas da aventura, com uma história principal e missões secundárias que lembram outros jogos.

Split Fiction

Crash Bandicoot, Horizon, God of War, 1080 Snowboarding, Prince of Persia, Ratchet & Clank, Final Fantasy, Quake e muito mais. Josef Fares já havia declarado que isso aconteceria e é ainda mais impressionante quando vemos tanta coisa acontecer. No mesmo jogo, tem plataforma, tem tela dividida, tem tela unificada, tem tiro, tem boss fight, tem exploração, tem puzzle, tem câmera fixa, tem câmera móvel…

Certas referências podem bater para você, outras não. Algumas, você pode interpretar como de um jogo, e elas poderiam até ser para outros. Mas, independente disso, os sentimentos estão ali. Sejam eles de nostalgia ou de surpresa com as inovações dos desenvolvedores da Hazelight.

Porque Split Fiction tem um enredo emotivo por trás de tudo isso, mas é principalmente um jogo para te fazer sorrir, sim. Sorriam, se divirtam e aproveitem. É “absolute videogame” no seu estado puro. Mecânicas bem diferentes, e algumas até desafiadoras (bem mais do que It Takes Two, por exemplo), várias opções de jogabilidade, mundos super bem construídos… É um baita trabalho.

Split Fiction

Especialmente porque cada personagem também têm seus atributos próprios. Há uma fase, por exemplo, em que elas controlam dragões – um deles voa e o outro escala. Um cospe ácido e o outro tem força para derrubar os obstáculos. Então, é preciso combinar os poderes e pensar muito bem nas estratégias para abordar cada desafio e quebra-cabeça que aparece na sua frente. E o nível do pinball? E o nível do pinball!

Hoje sim, Fares!

Além de todas as possibilidades de gameplay, Split Fiction traz em sua essência outro elemento fundamental para a experiência gamer ser tão bem sucedida há tantos anos: a amizade. Despertar aquela felicidade única de jogar um grande jogo com um amigo é onde Josef Fares pega na veia.

1

Especialmente porque ele não precisa de duas cópias do jogo para duas pessoas jogarem. O Passe de Amigo, agora com crossplay, é um recurso incrível, que deu super certo em It Takes Two e certamente vai ajudar o título nessa chegada ao mercado. Valorizar o coop, local ou online, é fundamental, e parecia ter se perdido um pouco nos últimos anos.

Visualmente, o jogo não chega a impressionar, mas também não decepciona. Entrega exatamente o que se espera. O destaque fica para os universos, bem variados e desenhados, enquanto as personagens ficam em um nível mediano para o que a geração atual entrega. O trabalho de efeitos de som é bem interessante, assim como de acessibilidade e jogabilidade no geral.

É preciso citar também o que não agradou tanto: houve pequenos bugs em alguns momentos. Nada que atrapalhasse o progresso no geral, mas ainda assim, é chato ter que fechar o jogo e recomeçar por causa de uma falha técnica. Além disso, o Fator Replay não é dos mais altos. São ótimas horas de game, porém poucas se compararmos a outras opções do mercado.

2

Para os brasileiros, fica mais um ponto negativo: a ausência de dublagem. As legendas estão lá, mas o áudio é em inglês. A experiência não deixa de ser incrível por causa disso, porém, como dito anteriormente, não é como se esse fosse apenas um jogo indie do EA Originals vindo para um país onde não há um grande consumo de games, né?

Mas não dá para negar que, naquela hora de mostrar todos os seus talentos para quem pode ou não se interessar, tal qual no programa Vai Dar Namoro, a Hazelight usou todas as suas armas para conquistar pretendentes – quem já queria, ficará satisfeito e quem ainda não conhecia, certamente vai querer conhecer. Por isso, é hoje sim, Fares.

Split Fiction: vale a pena?

“Cada fase da sua aventura alterna entre os cenários de fantasia da Zoe e os mundos de ficção científica da Mio. Fuja de um Sol em supernova, encare um macaco numa batalha de dança, enfrente um gatinho malvado e pilote de tudo, desde bicicletas gravitacionais até um tubarão-de-areia. Cada mundo traz um novo visual incrível, novos estilos de jogo e novas mecânicas e habilidades para você dominar”.

Desculpa, gente, mas se essa descrição aqui, da página oficial de Split Fiction na PlayStation Store, já não é o suficiente para você se empolgar, eu não sei o que é. Agora, se as palavras deste humilde editor-chefe do MeuPS puderem ajudar, fica aqui a recomendação: Split Fiction vale, sim, a pena. Assim como todos os jogos anteriores de Josef Fares.

Split Fiction é Absolute Videogame

Diversão? Tem. Aventura? Tem. História? Tem. Gráficos? Tem. Não tem dublagem e, curiosamente, o preço da pré-venda digital, o que é meio curioso (e talvez preocupante?), mas fora isso, entrega tudo o que você poderia querer de uma experiência de videogame.

Teste por si só – e com um amigo – em 6 de março. Você não vai se arrepender!

Veredito

Split Fiction
Split Fiction

Sistema: PS5

Desenvolvedor: Hazelight Studios

Jogadores: 2

Comprar com Desconto
90 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Variedade de opções de gameplay é incrível
  • Mundos são bem construídos e diferenciados
  • Referências a grandes jogos aquecem o coração
  • Histórias de Mio e Zoe se complementam e emocionam
  • Níveis de dificuldade e diversão são os ideais
  • Sidequests deixam o jogo ainda mais impressionante
Desvantagens
  • Fator Replay não é muito alto
  • Falta de dublagem em português do Brasil
  • Visual não chega a impressionar
  • Pequenos bugs que não atrapalharam a progressão
Thiago Barros
Thiago Barros
Editor-Chefe
Publicações: 6.509
Jogando agora: Assassin's Creed Shadows
Jornalista, teve PS1, pulou o 2, voltou no 3 e agora tem o 4, o 5 e até o PSVR. Acha God of War III o melhor jogo da história do PlayStation.