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Lies of P: vale a pena?

Belo e muito inspirado, Lies of P é igualmente satisfatório e desafiador

por André Custodio
Lies of P: vale a pena?

Lies of P é uma experiência soulslike que faria até Pinóquio corar de vergonha. O estúdio prometeu que seria uma jornada acessível para todos, mas parece que Gepeto pegou a rédea errada e nos entregou algo tão simples que até um boneco de madeira poderia dominar, sem trazer absolutamente nada de novo ao subgênero de RPG.

Sem dúvida, um dos lançamentos mais “narigudos” de 2023, e todas as nossas expectativas foram “esticadas” ao limite… e não no bom sentido.

Nossa recomendação é que você fique… bem perto deste jogo, pois tudo o que foi dito até aqui é mais uma das mentiras de Pinóquio. Lies of P vai conquistar sua atenção e te levar ao limite. Da emoção, da frustração, da raiva. E da satisfação depois de passar por tudo isso. Afinal, é exatamente assim que a gente fica depois de terminar um jogaço como esse.

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Fonte: André Custodio

Já jogou Dark Souls? E Bloodborne? Sekiro, talvez? Bom, se a resposta foi sim para uma ou mais dessas três propriedades, Lies of P vai mudar completamente o conceito que você tem do que seria uma aventura genuinamente opressora. Afinal, como diria o Grilo Falante, a vida é uma dor terrível.

Algo de terrível aconteceu em Krat

Cidade conhecida por suas inovações tecnológicas, Krat vivenciava seu auge. Estruturas vitorianas vibrantes, paisagens de tirar o fôlego e pedestres sorridentes nas ruas era só o que se via. Infelizmente, a alegria durou pouco, com a manifestação de uma energia conhecida como Ergo.

Inesperadamente, o elemento tomou conta das ruas. Títeres criados por marceneiros se rebelaram não só contra seus donos, mas contra toda espécie viva. Além disso, uma misteriosa doença afetou a população, transformando os poucos sobreviventes em pedra.

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Fonte: André Custodio

Invocado por uma misteriosa voz, um boneco desperta e precisa encontrar seu tutor para entender como salvar as ruínas da cidade. Ergo ganha força, mas um herói inesperado se alia a um grilo falante para combater qualquer ameaça que coloca em risco seus conhecidos.

Lies of P é um verdadeiro destaque narrativo. Assim como seus games irmãos — os soulslike —, ele traz uma história contada através de documentos, interações com NPCs, cenários, poucas cenas em CGI e batalhas contra chefes.

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Fonte: André Custodio

Esses detalhes são apresentados com uma profundidade absurda — e quando digo profundidade, não se trata apenas de riqueza em conteúdos, mas de sensações. Os diálogos com NPCs são belíssimos, assim como os documentos em texto são mostrados com serenidade e emoção.

A escolha da Round 8 Studio claramente tem a intenção de se manter fiel não apenas ao gênero de jogo, mas ao universo do conto de fadas. E olha, que universo sombrio, hein? Se Pinóquio encontrasse os Irmãos Grimm, resultaria exatamente em Lies of P.

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Fonte: André Custodio

O game é brutal e pesado em cada um dos seus detalhes. As construções vitorianas transmitem solidão e desgraça, enquanto o único refúgio, o Hotel Krat, parece ser o Paraíso na Terra. As histórias principais e secundárias também são muito bem conectadas e super interessantes.

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Fonte: André Custodio

A jornada do herói

Para combater títeres, aberrações e nomes de seu passado, Pinóquio se equipa das mais variadas armas. O gameplay garante liberdade para que os jogadores decidam como será a jornada do herói: através da motricidade (força), da técnica (equilíbrio) ou do avanço (efeitos).

Enquanto os trajes são puramente cosméticos, as armas trazem combinações absurdas. Cada lâmina pode ser mesclada a um punho específico, que é o responsável por determinar a escala dos atributos e por ajustar peso, vulnerabilidades e dinâmica dos ataques/defesa.

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Fonte: André Custodio

Enquanto isso, as armas em Lies of P se concentram no dano causado e na redução do ataque de inimigos durante o bloqueio. Desde espadas curtas até lanças gigantescas, Pinóquio consegue portar qualquer tipo de equipamento. Basta que o seu inventário permita.

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Fonte: André Custodio

Assim como outros jogos do gênero, Lies of P inclui limite de peso (relacionado ao atributo Capacidade), itens arremessáveis, “imbuimento” de armas (ácido, fogo e choque), consumíveis, pedras de upgrade de armas e muito mais.

E é aqui que as mecânicas originais começam a surgir: uma árvore que dá frutas de ouro um cubo que se equipa com pedras para fortalecer o Espectro ou o protagonista e as duas melhores adições no game: o Braço Legionário e o P-Organ.

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Fonte: André Custodio

O segredo é testar

Durante a campanha, os jogadores deverão testar armas e atributos. Os níveis de Ergo — almas, para quem é mais familiarizado — podem ser resetados no Capítulo 7 da história, permitindo que se busque novas formas de se obter sucesso.

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Fonte: André Custodio

Além disso, a mecânica de P-Organ adiciona habilidades passivas no Pinóquio. Através do Quartzo, o herói pode melhorar o dano de Ataque Letal, aumentar o número de Células Vitais, ganhar mais Ergo de inimigos mortos, melhorar o número de itens gerenciáveis e muito mais.

Enquanto isso, o Braço Legionário é a verdadeira mão na roda. Combinar o equipamento com as armas torna as lutas bem mais dinâmicas, pois o braço pode virar um lança-chamas, gerar escudo, atirar projéteis, plantar minas, causar uma explosão de choque, entre outros efeitos.

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Fonte: André Custodio

Para combater os inimigos, Pinóquio precisa estar constantemente se adaptando. Vale a pena observar o moveset de cada criatura para entender se uma arma mais pesada ou uma mais lenta é efetiva. Felizmente, Lies of P oferece as condições ideais, com Krat se tornando um belo e cruel playground.

E apesar da grande variedade de builds, o game traz sistemas de fácil compreensão. Já na primeira vez em que o jogador é apresentado ao mundo, todas as mecânicas são bem explicadas e já garantem acesso da forma como bem entender.

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Batalhas contra chefes são épicas, mas muito punitivas

Duvido, com “d” maiúsculo, que alguém passe de todos os chefes de primeira. Os grandes inimigos de Lies of P são épicos, muito bem apresentados e cheios de profundidade narrativa, mas também extremamente desafiadores e com dezenas de ataques únicos.

Alguns deles causam dano massivo caso Pinóquio não defenda no tempo certo. Uma outra opção seria esquivar, mas o jogo prepara, do início ao fim, uma campanha voltada para dominar a mecânica de aparo de golpes.

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Fonte: André Custodio

Aqui, Lies of P se assemelha a Sekiro: Shadows Die Twice. Os inimigos são muito velozes e não dão tempo para respirar. É necessário tentar várias vezes — e, como havia dito, testar equipamentos e builds — para sobreviver. Felizmente, fãs do gênero já estão acostumados.

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Fonte: André Custodio

Infelizmente, não tem muito para onde correr: o título traz uma sensação constante de desequilíbrio. A morte persegue Pinóquio a todo instante. Mesmo criaturas mais frágeis podem “meter o loco” se o protagonista não estiver 100% concentrado. Disclaimer: e a esquiva não é tão ruim assim.

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Fonte: André Custodio

Lies of P também inclui um sistema de progressão muito bem realizado. O game meio que entrega quando você está realmente pronto para uma batalha de grandes proporções. Mas não se esqueça: a Irmandade da Lebre Negra, Romeo e Laxasia serão MUITO complicados.

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Fonte: André Custodio

Tudo isso, quando impulsionado por uma trilha sonora simplesmente espetacular, cria uma sensação viciante. Relato pessoal: assim como ocorreu em Bloodborne, por exemplo, eu não queria parar de jogar, mesmo que morresse mais de 50 vezes para um mesmo chefe (verídico).

Problemas técnicos do jogo são pequenos, mas existem

Muitos jogadores ignorarão os problemas técnicos em Lies of P, mas não dá para deixar de lado em uma análise. No game, há pequenos bugs de iluminação e as telas de carregamento durante a viagem rápida demoram alguns segundos.

Nesse aspecto, o grande problema fica com a câmera. Recorrente em soulslike, esse comando muitas vezes trava em momentos críticos da batalha, especialmente se Pinóquio acaba preso em locais estreitos ou pela própria dimensão do inimigo.

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Fonte: André Custodio

Por fim, os consoles de nova geração trazem um modo de qualidade (4K e 30 FPS) e outro de desempenho (60 FPS). Ambos estão muito bem otimizados e, durante as mais de 51h gastas para finalizar, não enfrentei qualquer tipo de crash ou queda na taxa de quadros.

Lies of P: vale a pena?

Lies of P é literalmente tudo que os fãs de Bloodborne mais aguardavam. Gameplay rápido e cadenciado, mundo gótico com atmosfera opressora, chefes inesquecíveis e uma sensação de soulslike do início ao fim.

Alguns problemas de equilíbrio serão frustrantes, mas acredite: você vencerá cada um deles. Além disso, as poucas falhas técnicas não tiram o brilho de um jogo que tem de tudo para se tornar referência no subgênero.

Agora, fica o alerta: Lies of P NÃO é feito para qualquer um. É extremamente desafiador e pode trazer frustração até mesmo para veteranos nos títulos semelhantes, sendo apenas recomendadíssimo para quem gosta de RPG de ação e tem paciência para se aprofundar.

Disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series e PC, Lies of P pode ser adquirido exclusivamente em formato digital. Na PS Store, o game custa R$ 299,90 em sua versão base. Tendo em vista o custo-benefício, é um valor dentro da média atual.

O título do estúdio sul-coreano Round 8 é mais uma agradável surpresa de 2023 e certamente surpreenderá muita gente. Se começá-lo, não desista.

Veredito

Lies of P
Lies of P

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Round 8 Studio

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
87 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Familiar, mas com muitos conteúdos originais
  • Muito bem otimizado no PlayStation 5
  • Grande variedade de builds
  • Sistemas de fácil compreensão
  • Batalhas contra chefes grandiosas e épicas
  • Design artístico dos cenários belíssimo
  • Missões principais e secundárias muito bem conectadas
  • Narrativa espetacular
  • Trilha sonora completamente fora de série
  • Armas estilosas e com opções de montagem
  • Sistema de progressão bem realizado
  • Final arrepiante e promissor
Desvantagens
  • Tempos de carregamento poderiam ser melhores
  • Sensação constante de desequilíbrio e de gameplay injusto
  • Bugs de iluminação
  • Problemas pontuais com a câmera
André Custodio
André Custodio
Redator
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Jogando agora: Diablo IV, Sprawl, Trombone
Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.