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Gylt: vale a pena?

Fofo e assustador, jogo toca em temas maduros e mescla bem as mecânicas de gameplay

por Jean Azevedo
Gylt: vale a pena?

Gylt, antes exclusivo de Google Stadia que poderia ficar sem ver a luz do dia após o encerramento do console, foi disponibilizado em outras plataformas. E é bom agradecer à Tequila Works por ter tocado o projeto e não engavetá-lo, pois é uma experiência fofa, assustadora e necessária.

Tivemos a chance de testar o game no PS5 e esperávamos um jogo fofo com uma história no estilo Pixar, mas julgar o livro pela capa foi uma decisão erradíssima! Fomos surpreendidos com abordagens de temáticas maduras e muita imersão no gameplay.

A história de Gylt

No controle de Sally, a missão principal do jogo é encontrar Emily, sua prima desaparecida há semanas. Bem no início da jogatina, somos apresentados à angústia da protagonista colando cartazes por todos os cantos da cidade de Bethelwood. Ela foi a única da família a não desistir da procura da garota.

GYLT Sally
(Fonte: Jean Azevedo/MeuPS)

No entanto, em uma das tardes onde partiu pedalando nos arredores dos bosques, a protagonista é cercada por um bando de estudantes que praticam bullying com ela na escola. Fugindo do grupo, Sally acaba sofrendo um acidente e entra em um teleférico para retornar para casa em segurança.

Quando ela chega perto de sua residência, repara que o município teve suas ruas todas destruídas em questão de segundos. Nenhuma pessoa caminhava pelas calçadas e a escuridão dominava Bethelwood.

Ela avista Emily presa dentro de sua escola, mas o lugar não está tão normal como costumava ser. Nos pátios e salas, diversos monstros apareceram vagando, e eles atacam Sally caso ela dê mole.

É uma narrativa bem madura. Como o tempo de campanha fica entre 6-7 horas, o jogo não dá muitas voltas para apresentar uma conclusão. Os medos de Sally, o motivo de ela ter encontrado a cidade daquele jeito e a razão por trás dos aparecimentos dos monstros ficam bem amarrados na conclusão.

No geral, a narrativa é um dos pontos fortes do jogo. Gylt é emocionante, divertido e tenso na medida certa. E no meio disso tudo, a Tequila Works fez um bom trabalho ao exibir como o ambiente escolar pode afetar a mente de uma criança.

Logo no início, Sally sofre bullying em sua escola. O que parecia ser apenas uma desculpa adicionada por acaso na história para ela se perder na floresta, virou algo muito maior e de grande peso quando ela volta para a cidade e encontra tudo fora do lugar.

Conforme explora escola e seus arredores, o jogador descobre mais sobre o passado da protagonista. Seus problemas na família e a relação conturbada de seus pais refletiram de alguma forma no seu dia a dia, e na escola, a garota também não tinha paz.

Representações de alunos sendo maltratados pelos corredores, mensagens de ódio pichadas na parede e outros sinais deixados pelos criadores mostraram como isso mexeu com a infância da garota.

GYLT
(Fonte: Jean Azevedo/MeuPS)

Tudo isso é apresentado com naturalidade, mas é preciso um pouco de atenção aos detalhes para captar os sinais nos ambientes, nos diários e nas falas da garota. Esse é um daqueles jogos que passam uma mensagem importante sobre valorização dos laços e como o bullying pode bagunçar a mente das pessoas.

GYLT
(Fonte: Jean Azevedo/MeuPS)

Infelizmente, muitas dessas partes da narrativa ficam atreladas a itens e outros elementos do gameplay, não sendo mostrados como parte central da história de Gylt. Isso é um grande erro por parte dos desenvolvedores, pois muita gente pode deixar essas partes passarem.

Stealth, exploração e muitos puzzles

A jogabilidade de Gylt se adapta ao longo dos eventos, no entanto, três elementos têm bastante destaque: o gameplay em momentos onde Sally precisa ser sorrateira, as áreas com foco na exploração e os quebra-cabeças espalhados pela escola e seus arredores, onde passamos bastante parte do tempo.

As mecânicas de Stealth são muito utilizadas para a criança se esconder dos bullies — é assim que ela chama os monstros. Se ocultando atrás de caixas e outros objetos, é possível sair do campo de visão das criaturas, facilitando a movimentação pelos locais sem correr muito perigo.

Dá para persuadir os monstros ao erro usando a lanterna, ferramenta útil para se movimentar pela escola em salas mais escuras, pois eles perseguem a luz e deixam brechas para a menina seguir em frente pelos corredores. Interações com outros objetos também ajudam nessas horas.

A exploração é parte importantíssima da proposta de Gylt. Sally precisa procurar por Emily dentro da escola, onde ela frequenta em sua rotina normal e sabe quais salas já foram visitadas ou não. Do lado de fora do recinto, há outras áreas exploráveis e muito bem detalhadas, como lojas, casas e até fliperamas.

Falando nessas áreas é bom esclarecer: não dá para considerar Gylt um título de mundo aberto, mas há pequenas e grandes áreas isoladas por Bethelwood. Muitas delas estão conectadas ao redor da escola, mas nem todas são acessadas linearmente ao longo da campanha.

Por fim, os puzzles são montados de forma inteligente. Com um pouco de intuição é possível passar por eles sem grandes dificuldades. Basta prestar atenção no ambiente, seguir as pistas e a solução é encontrada. 

Casando esses três principais pilares da jogabilidade, Gylt envolve o jogador na proposta. Sally demonstra bastante maturidade e conhecimento para entender seus movimentos, por isso, a junção dessas mecânicas deixa a narrativa muito bem apresentável e a história se desenrola de forma bem linear e natural.

Por outro lado, em certos momentos a jogabilidade fica repetitiva demais. O ciclo de entrar em uma sala, ficar trancado, procurar outra saída acontece em sequência e é perceptível. Talvez esse tenha sido outro grande deslize de Gylt.

A duração da campanha é curta e para o desenrolar da história é um ponto positivo, contudo, essas situações ocorrendo mais de uma vez na parte dos puzzles e da exploração incomodam. Não atrasam na desenvoltura da narrativa, mas podiam evitar.

Localização em PT-BR não está das melhores

A Tequila trouxe o idioma PT-BR apenas para os menus e legendas de Gylt, contudo, a tradução ficou bastante confusa e mesclada. Em alguns momentos, fica claro que aconteceu um reaproveitamento dos diálogos no português de Portugal. Em outras situações, até frases em espanhol são mostradas.

Faltou um pouco de cuidado para entregar esse conteúdo — muito legal por sinal — ao povo brasileiro. Isso prejudica na imersão e não podemos assumir que todos têm um conhecimento aprofundado no inglês para interpretar certas frases.

Gylt equilibra gameplay e narrativa muito bem

Gylt passa uma mensagem séria, sim, mas o gameplay evolui conforme Sally ganha mais coragem e isso reflete muito bem em como ela lida com a aparição de mais criaturas.

Mais mecânicas que valorizam o confronto contra os bullies são desbloqueadas e elas vêm logo após a personagem fazer outras descobertas sobre o que aconteceu com a escola.

Como dito no início da análise, isso é um contraste enorme com a expectativa inicial gerada em torno de um estilo mais cartunesco. Os desenhos são fofos, porém, tudo em torno da protagonista tem um tom meio sombrio.

A Tequila faz os jogadores ficarem tensos durante a exploração e usa a música e os monstros para elaborar tudo.

GYLT
(Fonte: Jean Azevedo/MeuPS)

Não basta a apreensão de estar cercada por um perigo desconhecido, as vibrações emitidas pelo DualSense simulando o coração acelerado da garota e os alertas de perseguição vêm acompanhados de efeitos sonoros breves, mas pesados e capazes de retratar o medo sentido pela menina. 

Sendo assim, palmas para o estúdio. Não chega a ser um jogo de terror, mas transmite emoções semelhantes, tem alguns sustos e a evolução do enredo é muito interessante.

Desempenho no PS5

Quedas na taxa de quadros e crashes repentinos não fizeram parte da nossa jornada por Gylt. O título não tem opções para escolher modos de 30 FPS ou 60 FPS, mas o desempenho não deixa a desejar.

O feedback tátil do DualSense é bem utilizado para simular os batimentos cardíacos de Sally, por exemplo. Resumindo, não explora o potencial do console, mas por ser um jogo multiplataforma que também saiu para PS4, isso não é preocupante.

Gylt: vale a pena?

Acreditamos que esses problemas na localização podem ser resolvidos com um patch simples. Mesmo sendo repetitivo em determinadas momentos, Gylt é uma experiência divertida, fofa e, ao mesmo tempo, assustadora.

Além disso, o preço na PS Store de R$ 99,50 é justo para o que é entregue, mas o investimento fica por sua conta. Com um tempo de jogatina de mais de 6h — semelhante ao de Tchia, Stray e outros títulos menores — dá para curtir bastante a aventura com Sally.

Veredito

Gylt
Gylt

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Tequila Works

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
75 Ranking geral de 100
Vantagens
  • A história é bem legal e prende até o final
  • A imersão é um fator positivo
  • Campanha curta e muita imersão na jogatina
  • Abordagem da temática de bullying é interessante
  • Ritmo de evolução do gameplay agrada
Desvantagens
  • Localização para PT-BR nas falas não está boa
  • Apresentação de alguns pontos da narrativa poderiam ser mais claros
  • Um pouco repetitivo
Jean Azevedo
Jean Azevedo
Redator
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Talvez eu goste mais de Marvel's Spider-Man do que deveria.