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Grow Up: Vale a Pena?

por Hugo Bastos
Grow Up: Vale a Pena?

Uma agradável surpresa. Esta é a maneira mais simples de definir Grow Up, jogo desenvolvido pela Ubisoft Reflections e lançado pela Ubisoft em agosto de 2016. Sequência do elogiado (mas cheio de pontos negativos) Grow Home, o game expande as idéias do jogo original. Traz um verdadeiro mundo aberto, vivo e colorido, com muitas opções a serem exploradas, garantindo algumas boa horas de diversão.

Os pontos positivos foram melhorados. Grande parte dos pontos negativos, corrigidos. E, muito embora ainda se verifiquem alguns percalços no que tange à jogabilidade e execução das idéias, Grow Up é a prova viva que um jogo pode “amadurecer”.

O jogador controla B.U.D. (acrônimo para B.otanical U.tility D.roid) que, tendo cumprido o objetivo do primeiro jogo (recolher as sementes estelares para gerar oxigênio em seu planeta natal), está em uma jornada espacial. A nave M.O.M. acaba por se chocar contra uma lua, que orbita um pequeno planeta e sua tarefa é recuperar as partes que se espalharam pelo planeta (e sua lua), para poder prosseguir viagem.

Com esse enredo, o jogador é apresentado a um dos jogos mais descompromissadamente divertidos de 2016.

Jogabilidade evoluída

Já ao iniciar o game, verifica-se um ponto extremamente positivo: o jogo está totalmente localizado para nosso idioma. Tendo em vista a proposta do game, voltado para o público mais jovem, este é um recurso que não estava presente no anterior e faz uma diferença substancial, especialmente para uma empresa padrão Triplo-A como a Ubisoft.

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Assim como no mundo real, a água não faz bem aos robôs. Mantenha-se longe dela.

Grow Home tinha uma jogabilidade estranha. O esquema de controles era apresentado a medida que se jogava e, ainda assim, soava confuso e maçante, de forma que, até que o jogador se acostumasse com a jogabilidade, havia um caminho pavimentado com frustração. Este foi um ponto que não mudou em Grow Up, mas foi aperfeiçoado.

Os movimentos estão mais fluídos. Escalar, correr, planar, voar, a execução destas ações agora é mais precisa. B.U.D. pousa onde o jogador deseja, escala como o jogador deseja e até mesmo executa saltos com perfeição, se assim for feito. Não há input lag (quando há um atraso entre o acionar do comando no controle e sua animação na tela). Mas mesmo com estas melhorias, alguns pontos negativos ainda persistem.

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O jogador não precisa mais depender da fauna/flora do jogo para executar determinadas ações no jogo. B.U.D. consegue fazer por si só…

A câmera é um problema quando em espaços apertados. Ela não se posiciona como deveria, o que ocasiona alguns momentos de irritação. Tal situação ocorre com mais frequência durante a escalada do pequeno robô, quando este precisa atravessar paredões horizontais e tem que se pendurar neles. E não obstante à melhora significativa dos controles e comandos, vez ou outra o personagem se comportará de forma errática.

Uma outra adição muito bem vinda foi o salvamento automático. Acostumados a sair de seus jogos diretamente, tendo em vista que este atributo é básico em quase todos os jogos atualmente, alguns minutos (ou até mesmo horas, como aconteceu com esse reviwer) se perderiam. Agora, a cada nova descoberta, o progresso do jogador é salvo, garantindo assim a integridade da aventura em casos fortuitos, ou de força maior.

A inclusão de novas habilidades, desbloqueadas ao se completar desafios, encontrar cápsulas de habilidade no mundo, ou coletando cristais foram uma adição mais que bem vinda. Em vez de necessitar utilizar-se da fauna e flora locais, B.U.D agora pode executar diversos novos movimentos (como transformar-se em bola e usar um ataque neste modo, ao melhor estilo Morphing Ball de Metroid), bem como movimentos do jogo anterior, reimaginados neste. Tudo isso acaba tornando o gameplay mais dinâmico e agradável. A sensação de repetição dá lugar a uma miríade de novas possibilidades.

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B.U.D. agora pode desbloquear diferentes habilidades ao completar desafios, encontrar pods de habilidade e coletar cristais.

Interessante notar que cada nova habilidade realmente tem seu lugar no jogo. Não foram adicionadas apenas como mera alegoria. Ao contrário, por mais que certos desafios e missões sejam possíveis sem estas, tudo fica mais divertido quando o jogador faz uso de todo potencial do pequeno robô botânico.

Design inteligente

Como dito anteriormente, cada nova habilidade, cada upgrade desbloqueado, tem sua razão de ser. E isso se traduz de forma enfática no layout de Grow Up.

O cenário do primeiro jogo era bastante limitado. Por mais que houvesse certa liberdade na exploração, esta era basicamente vertical. O jogador alimentava a Planta Estrelar com rochas de energia e alcançava patamares mais altos. Mas estes consistiam apenas em versões diferentes da ilha inicial. O que já não acontece nessa sequência.

O “mundo aberto” do jogo realmente faz juz à sua definição de “mundo”. O jogador explora um planetóide, com seu próprio ecossistema. Assim como a nossa Terra, o pequeno astro possui locais frios, desertos, florestas, cada qual com sua flora e fauna específicas. E os locais estão vivos. Não apenas povoados com algum punhado de plantas e animais vertebrados como no primeiro, mas insetos, árvores gigantescas e uma biodiversidade de encher os olhos.

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Visão aérea do planetóide, onde é possível ver as ilhas voadoras e os diversos biomas presentes

Mas a exploração vertical não foi deixada de lado. Pelo contrário, agora o jogador deverá usar estratégias para alcançar lugares mais altos. Existe mais de uma variedade de Planta Estrelar, cada qual variando conforme o ecossistema local e, diferente do primeiro, estas alcançam alturas distintas e nem todas estão acessíveis logo de início. Adicionalmente, existe um número substancialmente maior de ilhas flutuantes, que escondem segredos e desafios. Uma atividade obrigatória aos jogadores mais “hardcore”.

O mundo foi elaborado para proporcionar ao jogador vontade de executar as diversas missões disponíveis. A inclusão de desafios e missões paralelas não foi feita apenas para aumentar a vida útil do jogo (como percebe-se em diversos títulos que utiliza-se de artifícios semelhantes). Os desafios são na medida certa. Os colecionáveis estão bem escondidos, até B.U.D. utilizar as ferramentas certas. Enfim, é seguro dizer que o ponto mais forte do jogo é o seu mundo, e tudo o que há nele.

Audiovisual

Os gráficos do jogo são peculiares. Eles possuem um estilo poligonal, em que os objetos assumem formas geométricas específicas e isso dá um aspecto divertido ao game. As animações dos personagens e elementos do cenário (plantas, animais) são geradas por meio de animação procedural, uma técnica que tem por objetivo dar mais realismo ao que acontece, tornando os acontecimentos mais “naturais”.

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Os cenários do jogo se apresentam vivos, com fauna e flora se comportando de maneira independente.

E isso é executado da forma como deveria ser. Mas é quando o jogador observa o mundo ao longe que a beleza das formas se converte em gráficos belíssimos. As formas poligonais ganham contornos e o planetóide se apresenta vívido. Até mesmo o ciclo dia/noite se torna agradável aos olhos.

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Os cenários ganham mais beleza quando admirados a distância…

A trilha sonora cumpre seu papel, não sendo, no entanto, um diferencial, como em Journey. Ela quebra a monotonia do jogo (como visto no anterior), mas não é algo sublime, ou memorável. O mesmo pode ser dito dos efeitos sonoros: nada prodigioso, apenas o necessário e suficiente para dar um sopro de vida ao planetóide. Os sons robóticos de B.U.D. e P.O.D., por vezes, são irritantes, especialmente depois de certo tempo de jogo.

Tropeços

Como já dito anteriormente, o jogo é uma agradável surpresa, mas ainda assim não está livre dos seus pontos negativos.

Existem bugs que comprometem a jogabilidade. Por exemplo, B.U.D. tende a morrer sem qualquer explicação, atrapalhando sobremaneira a exploração. E isso ocorre com mais frequência que se espera.

A adição de uma ferramenta de salvamento automático é deveras elogiável. Mas ainda assim, quando o jogador morre, ele volta ao último Tele-Roteador que acessou, que por vezes pode até mesmo estar do outro lado do planetóide. Um ponto de restauração mais próximo, mesmo que tal elemento fosse adicionado como habilidade, minimizaria o sentimento de frustração e raiva que tais circunstâncias proporcionam.

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Determinados cenários se mostram um desafio não condizente com o resto do game.

Sendo um game com apelo maior ao público infanto-juvenil, Grow Up peca em ter controles precisos, mas confusos. São muitos comandos diferentes para ações diferentes. Uma simplificação destes seria a melhor saída.

Além disso, a física do jogo é estranha. Objetos não tem o peso que deveriam ter e não se comportam como deveriam. B.U.D. pode escalar uma parede segurando uma rocha, mas não um inseto. Ele pode cair de uma altura imensa em forma de bola e simplesmente quicar no chão, mas morre se cair de peito aberto. Certos eventos não possuem a coerência devida. Essa é uma situação do jogo anterior que não foi corrigida neste.

Por fim…

Grow Home não é um jogo bom. Seu visual é belo, e sua proposta, “divertida”, mas seus pontos negativos surpassam suas qualidades. Grow Up reverteu esse quadro e apresentou-se como uma prazerosa redenção.

Mesmo não estando livre de defeitos, o game se mostra competente e eficaz naquilo que se propõe a fazer. Na medida perfeita para aproveitar algumas horas de diversão, sozinho (a) ou com os filhos.

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Os troféus do jogo geralmente vem sem muito esforço, como este, que requer apenas visitar todos os ecossistemas.

Complementando, seus troféus não são difíceis de se conquistar. Muito embora não tenha um troféu de platina (o que pode afastar os caçadores mais ávidos), a curta campanha, aliada com a diversão proporcionada, possibilita mais um registro de 100% no gabinete virtual de troféus sem grande esforço.

Vale a pena dar uma chance a esse jogo!

2 - Selo de Ouro

*O jogo foi cedido pela Ubisoft para avaliação

Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.