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Endless Dungeon: vale a pena?

Aventura roguelite da SEGA é uma mistura que funciona surpreendentemente bem, mas falha em execução e equilíbrio

por André Custodio
Endless Dungeon: vale a pena?

Caso você dissesse para alguém que está planejando criar um jogo de estratégia com elementos de atirador duplo, defesa de torre, roguelite e RPG, alguém acreditaria? Bom, a Amplitude tomou a frente e lançou, neste mês, Endless Dungeon para consoles, provando ser capaz de fazer mágica com conceitos.

Infelizmente, um grande acerto não anula um erro. E a aventura sci-fi publicada pela SEGA certamente não ficou imune de trazer vários problemas — alguns, inclusive, capazes de diminuir bastante a diversão de quem busca uma aventura equilibrada.

Em um futuro distante, heróis ficam presos no infinito…

Regularmente, heróis viajam pelo cosmos em busca de recompensas e da glória. Infelizmente, uma anomalia criada por um misterioso grupo intitulado de “Endless” aparece no espaço sideral para frustrar os planos dos viajantes.

Com isso, os poucos sobreviventes que têm suas naves destruídas devem explorar um complexo de estruturas antigas a fim de encontrar uma saída. Basicamente, a tarefa é fácil: desça até o último andar e encontre o Reator. Mas o sistema foi criado para destruir completamente os ciclos.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Para a infelicidade dos guerreiros, apenas um robô de cristal é capaz de ativar o núcleo. Dessa forma, garantir a segurança dos heróis não é apenas o único objetivo, como também evitar que a máquina móvel sofra danos e seja permanentemente destruída.

Em Endless Dungeons, os jogadores embarcam em uma experiência roguelite, onde é preciso sentir na pele toda a aventura vivenciada pelos exploradores. Cada campanha é única e oferece um rearranjo completo de cena, trazendo novas oportunidades que podem facilitar ou dificultar o caminho.

O game também inclui um sistema definitivo de loop, onde a morte nunca é o fim do caminho. Cada encerramento do ciclo leva os sobreviventes para um Salão, onde é preciso interagir com NPCs, converter recursos obtidos em vantagens e melhorar os atributos dos equipamentos.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Vale lembrar que quase tudo é perdido: upgrades, torres adquiridas, armas equipadas e mais. Apenas os créditos acumulados e blocos de atualização são levados para o Salão. Com a run zerada, será necessário recomeçar desde o ponto de partida.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Proposta simples, mas com um caminho tortuoso

Nos consoles, Endless Dungeon é facilmente uma das experiências mais desafiadoras do ano. Apesar de combinar bem os elementos de atirador duplo, defesa de torre e RPG, ele não alivia em absolutamente nada no fornecimento de informações.

Antes de mais nada, vale a pena explicar como o game funciona: em cada run, os jogadores precisam atravessar portas até encontrar a rota de saída (onde o robô será encaixado). Além de coletarem armas, melhorias e recursos de gerenciamento, é necessário construir torres repletas de opções de modificadores.

O sistema de defesa de torre é simples de compreender e é o grande destaque estratégico. Porém, a colocação dos equipamentos deve ser feita com atenção, pois da mesma forma que eles podem facilitar muito uma run, atrapalham completamente se mal posicionados.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

E isso é uma dor de cabeça constante no game. São muitos detalhes para se preocupar. Controlar recursos que “compram” as torres, entender as vulnerabilidades de inimigos para explorar fraquezas, saber administrar o “dinheiro” e conhecer as melhores rotas para guiar o robô.

Com o tempo, é possível ter a sensação de “estou fazendo isso certo”. Apesar disso, a aleatoriedade não contribui e uma campanha pode garantir recursos ineficazes, rotas com muitas zonas cegas ou de aparecimento de inimigos, diferentes pontos de interesse… Endless Dungeon é um jogo cansativo.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Fora que, de minutos em minutos, as hordas de inimigos são liberadas. Monstros vêm de todas as direções, especialmente se as salas estão bastante exploradas. Na teoria, funciona como um jogo de tabuleiro “dungeon crawler”, mas, na prática, tudo parece ser intenso demais. Ou impossível.

Além do que, o sistema de progressão é muito demorado. Basicamente, é possível afirmar que não há progressão, pois quase todo bônus vem com um ônus. Quer gastar um ponto para obter mais 20% de HP? Bom, caso gaste, você perderá 15% de velocidade de movimento.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Fora que Endless Dungeon é feito para até três jogadores. No começo, apenas dois espaços de personagens são desbloqueados, e é necessário umas boas horas para obter um terceiro slot para ganhar um pouco — apenas um pouco — de equilíbrio.

A todo instante, o game transmite uma espécie de desbalanceamento. Nada no game parece ser justo. As runs são muito longas e sem pontos de checagem, enquanto as batalhas contra chefe são simplesmente caóticas. Isso funciona até certo ponto, mas frustra quando não há evolução.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Endless Dungeon não escapa de outras falhas incômodas. A interface fica bastante poluída em alguns momentos e atrapalha o gameplay devido às letras minúsculas. Como são muitos textos, é necessário jogar perto do monitor/TV ou se aproximar e se afastar constantemente.

Gameplay frenético que realmente pode viciar

Um ponto que chama a atenção em Endless Dungeon é a gunplay. As mecânicas de tiro funcionam muito bem e se destacam pela precisão e pelo impacto. É muito bom controlar os personagens enquanto se abate uma horda com dezenas de inimigos de todos os tamanhos.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Obviamente, esse sistema seria muito melhor se o game não fosse travado a 30 FPS. Mesmo no PlayStation 5, a performance não ultrapassa essa meta — muito pelo contrário, ela cai notadamente quando há muitos tiros, monstros e acionamentos de torres na tela.

Agora, a grande variedade de estratégias para a defesa de base e a grande quantidade de armas com efeitos e propostas distintas merecem elogios. É muito satisfatório montar a estrutura correta para a rota do robô de cristal.

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Fonte: André Custodio

Enquanto isso, coletar armas com nível de raridade superior (até o nível Endless) é gratificante. Elas realmente fazem muito a diferença e funcionam de acordo com o que se deseja. Lança-foguetes, por exemplo, detona com facilidade grandes grupos, enquanto uma arma elétrica espalha raios por inimigos.

Outras mecânicas de gameplay também contribuem para uma experiência dinâmica e desafiadora. Salas escuras e travadas para a construção de torres, apagões repentinos, modificadores de sala (com debuffs brutais para os personagens) e muitos outros eventos se escondem no planeta dos loops.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Além disso, o game da Amplitude Studios possui uma trilha sonora fenomenal inspirada nas óperas espaciais. O Salão é convidativo e seguro como uma Majula (Dark Souls 2), enquanto os setores dos andares possuem músicas tensas que contrastam como a calmaria temporária.

Endless Dungeon é uma experiência voltada para o cooperativo

Não há como fugir dessa assertiva: Endless Dungeon foi feito para se jogar com amigos. Antes de iniciar uma equipe com três jogadores, é preciso o host destravar o terceiro slot de personagem. Após isso, basta convidar colegas para entrar na sessão.

Essa exigência não é um contraponto à inteligência artificial do game. Jogar solo é realmente funcional e os personagens controlados por bots ajudam muito. Eles trocam de armas quando necessário, mudam a direção do tiro rapidamente e se ajustam imediatamente às situações de combate.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

Porém, as instruções do single-player são muito rasas. Através de um toque, é possível convocar os parceiros da equipe ou pedir para ficarem parados em uma sala específica. Mas nada supera a ação de se comunicar com um companheiro controlado por um amigo e respeitar sua autonomia.

Fora que o sistema cooperativo realmente é bastante estável. Não há lags, travamentos ou qualquer tipo de atraso nas ações in-game. Endless Dungeon também obriga os jogadores a tomarem decisões rápidas e estratégicas, e infelizmente a IA não é capaz de atender a todos esses requisitos.

Endless Dungeon: vale a pena?

A aventura publicada pela SEGA tem muitos pontos positivos, mas está um pouco distante de ser um game recomendado. Cheio de informações, extremamente desbalanceado e com uma progressão imperfeita, o título certamente fará muitos jogadores droparem nas primeiras horas.

Essas questões seriam resolvidas com um patch, mas não é possível determinar até que ponto ele poderá atrapalhar uma experiência roguelite com tantos elementos estratégicos. Dessa forma, o título ainda não se encontra no cenário e pode demorar bastante para se achar como um projeto sólido.

Endless Dungeon
Fonte: André Custodio

De qualquer forma, Endless Dungeon diverte se jogado com moderação e sem compromisso de platina, de finalizar rápido ou de evoluir. A lore coletada nas fases expande uma história interessante, a arte visual é bem agradável e o gunplay é bastante funcional. Mas eles não são tudo.

Na PS Store, o título pode ser adquirido por R$ 149,50 em versões de PS4 e de PS5. Vale a pena esperar baixar esse valor, caso você queira tirar suas próprias conclusões.

Veredito

Endless Dungeon
Endless Dungeon

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Amplitude

Jogadores: 1-3

Comprar com Desconto
60 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Grande variedade de estratégias disponíveis
  • Mecânicas e atirador duplo, de defesa de torre e de roguelite conversam bem
  • Trilha sonora excelente
  • Cooperativo bastante estável e funcional
  • IA dos personagens controlados pela máquina bem efetiva
  • Arte visual em 2D bem realizada
  • Sensação de tiroteio satisfatória e viciante
Desvantagens
  • Desbalanceado no modo single-player
  • Interface com letras minúsculas e zero acessibilidade
  • Gameplay automático e sem muito propósito
  • Progressão demorada e frustrante
  • Instabilidades de performance mesmo com a única opção de 30 FPS
  • Quantidade absurda de informações de gameplay
André Custodio
André Custodio
Redator
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Jogando agora: Madison VR
Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.