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Deathloop: vale a pena?

Jogo de tiro da Bethesda tem proposta interessante, mas patina em pontos importantes

por Thiago Barros
Deathloop: vale a pena?

Desde que Deathloop foi anunciado, criou-se uma expectativa de uma experiência única vinda das mãos da Arkane Studios (criadora de Dishonored e Prey). Agora, na véspera do jogo ser lançado ao público e após muitas horas explorando Blackreef e traçando diversas estratégias para “quebrar o ciclo” (e as vezes para mantê-lo), é possível afirmar que foi exatamente isso o que aconteceu.

O FPS exclusivo para PlayStation 5 nos consoles, realmente, é diferenciado. Desde o bom uso do DualSense, com gatilhos adaptáveis, resposta tátil e alto-falantes, até a prerrogativa em si. Ele não é perfeito, mas traz algo de novo – mesmo que a ideia dos “ciclos sem fim” lembre um pouco o que vimos em Returnal.

Em suma, Deathloop é uma aposta válida, que vai agradar alguns e nem tanto a outros. Não será uma unanimidade, mas tem um papel importante na geração. Trazer algo novo nem sempre é fácil, ainda mais com a responsabilidade de estar inserido nesse primeiro ano do PS5 no mercado.

Mas há pontos claros em que poderia haver melhorias. A história, por exemplo, demora até ficar interessante. A exploração, com toda a liberdade, pode acabar sendo um tiro no pé. E o modo multiplayer, que lembra as invasões hackers de Watch Dogs 2, é divertido por um período de tempo, depois enjoa. Assim como repetir o mesmo ciclo várias e várias vezes também pode ser.

Um ciclo sem fim que nos guiará

Aliás, qual é a chance de dois exclusivos de PlayStation 5 terem a mesma premissa em suas histórias, com tão pouco tempo entre eles? Pois é. Depois de Returnal, agora Deathloop propõe “ciclos sem fim” como o ponto de partida.

Ciclos começam aqui, nessa ilha, em Deathloop (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
Ciclos começam aqui, nessa ilha, em Deathloop (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Preso sempre no mesmo dia na ilha de Blackreef, o protagonista precisa derrotar oito inimigos, os Visionários, em um dia – que é dividido em quatro etapas: manhã, meio-dia, tarde e noite. Em cada uma, é possível ir um cenário para achar pistas/enfrentar os “chefões”.

Portanto, é preciso que alguns deles estejam juntos para derrotá-los a tempo. Sua missão é encontrar informações que indiquem quando e onde isso vai acontecer. Por exemplo: digamos que você vá a uma região de um chefe, à noite, e descubra que, de manhã, ele se encontrará com outro. Pronto, só ir lá no dia seguinte e acabar com os dois!

Hora de começar tudo de novo... (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
Hora de começar tudo de novo… (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Mas, claro, nem tudo é tão simples. É preciso combinar que todos eles possam ser alvejados dentro das mesmas “24 horas”. É simples de entender, mas complexo de executar. Essa é a grande graça do jogo: Deathloop nada mais é do que um puzzle gigante.

Cada Visionário pode gerar um grande número de pistas, e quanto mais você for atrás delas, mais vai se divertir – e mais vai conseguir juntar as peças para o “ciclo perfeito”. A história vai evoluindo ao longo do tempo, e como diz o ditado: “informação é poder”. Leia os colecionáveis, busque pistas além do óbvio, ouça os diálogos dos NPCs e você vai chegar aos pormenores dessa aventura.

À dor e emoção, pela fé e o amor

Uma proposta ousada e inovadora. Mesmo que a liberdade  que se tem como Colt seja uma “mentira” em certo ponto, porque ainda é preciso seguir um certo roteiro para zerar o jogo. Afinal, se ele é um grande puzzle, as peças têm que se encaixar sempre. Mas a forma como o “quebra-cabeças” será montado é o jogador que define.

Gameplay e ambientação agradam em Deathloop (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
Gameplay e ambientação agradam em Deathloop (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Ele escolhe o que explorar, quando fazê-lo e como abordar cada situação. O que também pode ser uma faca de dois-gumes, porque sair correndo resolve em várias das ocasiões – mas você pode perder pistas extras interessantes. Sem falar que a IA dos inimigos não é das mais avançadas – e eles só dão trabalho quando estão em bando.

Mesmo assim, essa variedade de possibilidades merece elogios. O ritmo do jogo depende de cada um. Dar tiro e quebrar tudo ou se esgueirar de forma sorrateira? Sim. Rushar ou explorar os mínimos detalhes? Exatamente. Tudo com um leque de armas e habilidades especiais, liberadas quando se derrota algum Visionário, impressionante.

Sorrateiro ou baderneiro? Sim! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
Sorrateiro ou baderneiro? Sim! (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

E com uma funcionalidade legal: a infusão, usar materiais coletados para guardar alguns itens com você, pensando no próximo ciclo. Por exemplo: Egor, o Visionário que fica no Complexo à noite, fica invisível. Recurso útil, né? Então mate-o logo, para infundir e garantir esse poder para os ciclos seguintes.

Fazer o planejamento e adequar todas as possibilidades dos ciclos à realidade do seu estilo de jogo é a grande emoção de Deathloop. Pois, além de ver as dicas e buscar os inimigos, você tem uma série de possibilidades na customização do seu personagem: itens que dão boost nas suas capacidades, armas (e boosts para elas), as habilidades em si…

Você pode jogar como Julianna em Deathloop (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
Você pode jogar como Julianna em Deathloop (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Mas Deathloop não é só sobre Colt, mas também sobre Julianna. Ela aparece, logo de cara, como responsável por manter o ciclo e vilã da história. Entretanto, após as missões iniciais, é possível controlá-la, ativando o recurso online do jogo.

O gameplay é simples: invadir alguém que está controlando Colt (e isso pode acontecer também ao contrário, na sua sessão como Colt, caso você habilite essa opção – que também pode ser filtrada para “apenas amigos”) e matá-lo. Fica um jogo de gato e rato no meio da missão. Divertido? Sim, mas não tanto tempo.

Até encontrar o nosso caminho

E isso se repete ao longo do jogo. Deathloop não “pega na veia”, mas agrada.

O que você quer fazer com o ciclo? (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
O que você quer fazer com o ciclo? (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Ele tem uma proposta bacana, conduzida por uma narrativa simples e com toques de bom humor, mas não consegue “prender”. A história, apesar da investigação e das pistas, não empolga até o final, o modo multiplayer só diverte nas primeiras vezes e a falta de uma dificuldade ajustável pode fazê-lo ser fácil demais.

Algo que também incomodou – e aconteceu com as duas pessoas que receberam códigos no MeuPS – foi a quantidade de crashes. Ele travou em vários momentos com coisas simples, como o DualSense descarregar, ao apertar o botão de pause ou colocar o console em modo repouso.

Proposta de Deathloop é legal, mas jogo tem falhas (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
Proposta de Deathloop é legal, mas jogo tem falhas (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Em qualquer jogo, isso já seria chato, mas em um game como Deathloop, é uma baita ducha de água fria. Pode desanimar de vez, ainda mais se for em uma parte crucial. Aconteceu, por exemplo, de encostar no botão Options sem querer, no meio de um combate daqueles mais intensos, e o jogo não voltar. Ficar só com os menus de pause funcionando.

Além disso, o fato de que “todo dia ele faz tudo sempre igual” (ou quase isso) pode dar aquela sensação de fadiga e acabar se tornando repetitivo demais em um dado momento. Ainda mais se você demorar para ter aquele insight definitivo. Para terminar o game, de um modo não tão rushado, serão mais de 20 horas. Fazendo (praticamente) as mesmas coisas.

Deathloop: vale a pena?

Visualmente, o jogo vai agradar quem curte uma pegada mais estilo cartoon e anos 60, passando longe de ser algo realista ou que faça os olhos saltarem com o poder do PlayStation 5. Por outro lado, é importante destacar a localização completa e perfeitinha para o português do Brasil, seja nos menus, seja na dublagem. O trabalho de áudio do jogo, de modo geral, é impecável.

No fim das contas, Deathloop vale a pena, mas com ressalvas (Foto: Reprodução/Thiago Barros)
No fim das contas, Deathloop vale a pena, mas com ressalvas (Foto: Reprodução/Thiago Barros)

Assim como a ambientação. Cada local da ilha é bem trabalhado, com suas características próprias, e o estilo de cada um dos vilões tem também suas particularidades. Sem falar nas mensagens que vão aparecendo na tela durante o jogo. Uma solução criativa para a forma como a história é contada – assim como as cutscenes em formato de HQ.

É um jogo, digamos, “diferente”. Se vale a pena comprar, depende muito do seu estilo. Para quem gosta dessa pegada de investigação e queria um FPS mais solto, sem tanto realismo, que lembre um pouco Overwatch no estilo visual (com gameplay PvE e não PvP), dá pra dar uma chance. Comprar a ideia e valorizar a Arkane por sair do lugar comum com Deathloop.

Agora, se você está com dinheiro contado e curte mais aqueles jogos super aclamados, com os melhores gráficos possíveis, jogabilidade intensa, multiplayer frenético e coisas do tipo… É melhor pensar com mais calma, acompanhar gameplay e ler outras opiniões – cada cabeça é uma sentença.

Afinal, experiência com Deathloop é curiosa. Ao mesmo tempo que ele surpreende e inova, também deixa um gostinho de que poderia ser melhor. As mecânicas de gameplay são legais, a ambientação também, e a proposta é muito interessante.

* Colaborou Raphael Batista

Veredito

Deathloop
Deathloop

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Arkane Studios

Jogadores: 1-2

Comprar com Desconto
84 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Variedade de armas e "magias" é interessante
  • Ambientação da ilha, com cenários diferentes, agrada
  • Localização completa para o português do Brasil
  • Mecânicas de jogabilidade merecem elogios
Desvantagens
  • Liberdade é uma "faca de dois gumes" e "mentirosa"
  • História não prende o jogador até quase o seu final
  • Modo multiplayer parece bacana, mas é sem graça
Thiago Barros
Thiago Barros
Editor-Chefe
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Jogando agora: Silent Hill 2
Jornalista, teve PS1, pulou o 2, voltou no 3 e agora tem o 4, o 5 e até o PSVR. Acha God of War III o melhor jogo da história do PlayStation.