Bound: Vale a Pena?
Buscando reproduzir o mesmo sucesso obtido com Journey, a Sony, através da Santa Monica Studios, acaba de lançar Bound, um jogo indie semelhante ao título de 2012, mas que conta com características próprias.
Será que a nova aposta consegue se destacar frente a tantos jogos lançados recentemente?
Uma metafórica jornada
O enredo de Bound é fundamentalmente interpretativo e confuso. No game, assumimos o controle de uma mulher grávida, onde visitamos nossas memórias de infância. Na viagem, a mulher, agora uma jovem bailarina, deve enfrentar um terrível monstro que atormenta o mundo dos sonhos.
Entretanto, a narrativa não explica muito sobre os acontecimentos – o que é o monstro? será meu pai? minha mãe? O que eu devo fazer?
Neste sentido, o controle é transferido para os jogadores que devem seguir por um caminho linear em busca de respostas.
Ao final de cada capítulo, a cena volta para mulher e aí é possível escolher os níveis seguintes. Todo gameplay segue este ritmo, alternando entre transições para o mundo dos sonhos e o suposto mundo real. Entre um e outro, é possível explorar algumas cenas que ajudam no entendimento do enredo.
A explicação desconexa pode afugentar muitos e difere do propósito de Jouney. Enquanto no premiado game nós seguimos por uma busca espiritual sem muitas transições, tudo de forma fluída, em Bound existem interpostos que podem quebrar o ritmo da jogatina.
Além disso, a trama da bailarina exige uma boa dose de “esforço” para compreensão.
Se ela dança, eu danço
No comando da dançadeira, o jogo mostra seu brilho. Os movimentos da moça são graciosos, belos e plásticos. Com variações simples de botões, é possível encenar coreografias, andar ou correr com gracejo e saltar entre as plataformas.
O gameplay não oferece ameaças consistentes. Ao longo da jornada, estranhas “coisas” podem tentar atrapalhar o progresso, mas basta dançar para espantar os inimigos.
A plasticidade dos movimentos impressiona. A Plastic Studios fez um excelente trabalho de captura de coreografias. A dança é suave, delicada e bela. Basta pressionar o gatilho e fazer algumas combinações aleatórias para que a bailarina execute sua dança.
Mas, a beleza tem seu custo.
Bound é um jogo de plataforma, onde a personagem deve saltar entre lugares muitas vezes estreitos. O único porém é que o “pulo” também é feito de maneira coreográfica, fazendo com que, muitas vezes, não seja um pouso exato, provocando quedas desnecessárias e reinício da partida.
Embalando a jogatina, a sonoridade merece destaque pela qualidade. As composições combinam perfeitamente com a ambientação, repassando o clima ideal para o progresso, criando sensações de solidão e energia, quando necessário.
Somado a isso, o visual desponta com relevância. A direção de arte é belíssima, com cores vivas, ambientes procedurais que surgem aos pés da heroína são instigantes, criando uma pequena sensação de que tudo pode desmoronar a qualquer segundo.
Linearmente fácil
Se no aspecto técnico o game não comete erros preponderantes e chega a oferecer uma grande trilha sonora, beleza em movimentos e um visual bonito, ele executa isso de forma simplista.
Mesmo que ele se enquadre naqueles jogos destinados a jogadores que apreciem uma experiência mais contemplativa, não existe um desafio que motive.
Basta seguir em frente…saltar entre plataformas e dançar para afugentar as ameaças. A obscuridade do enredo pode até ser uma motivação de evolução, mas o fator replay é altamente comprometido. Não há motivos para retornar ao game e ele é bastante curto, cerca de 3h.
Vale?
Bound surge com uma proposta diferente da imensa maioria dos jogos atuais, mais focados em ação ou em intensas partidas multiplayer. Ao contrário disso, o título tenta oferecer algo diferente e até inusitado.
Seus pontos positivos, já mencionados, pesam na balança de decisão, entretanto em seu desfavor os negativos somam muitos pontos.
O enredo confuso não crie aquela expectativa de interpretação íntima, característica de jogos neste estilo. A história se perde nela mesma. Seria mais atrativo explicar melhor o enredo, deixando alguns pontos em aberto para diversas conclusões à implementação obscura e sem conexão.
E por fim, a falta de um desafio que motive o retorno. Ao concluir o game, os motivos para um re-play são poucos.
*O jogo foi cedido pela PlayStation para avaliação