Assassin’s Creed Mirage: vale a pena?
Um prato cheio para os fãs do começo desta saga, que completou 15 anos e tornou-se um marco dos games
Miragem. Substantivo Feminino. Efeito óptico que ocorre nas horas mais quentes, especialmente nos desertos, produzido pela reflexão da luz solar. Ele cria uma imagem semelhante a um lago azul, onde por vezes se refletem imagens. Vindo de se mirer, em francês, que significa “mirar-se, ver refletido”. Termo perfeito para dar o nome ao novo Assassin’s Creed Mirage.
Pode-se dizer que os primeiros jogos da série se veem refletidos em Mirage, que mira justamente no passado para dar à franquia um futuro ainda mais glorioso. Linear, stealth, protagonista carismático, história bem desenvolvida. Sem falar em uma ambientação impecável, trilha sonora de arrepiar e localização completinha. É o pacote completo para um fã da série – apesar de, claro, também ter pequenos defeitos.
Assassin’s Creed Mirage será lançado nesta quinta-feira (5) para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series e PC. Garanta sua mídia física em pré-venda através deste link e confira abaixo a nossa análise completa sobre o título. É hora de ficar pra lá de Bagdá!
بغداد
A origem do nome Bagdá (بغداد em árabe) é incerta. Mas uma das teorias mais compartilhadas por aí é de que a palavra vem da junção de termos que são do persa médio, “Bag”, que significa “deus”, e “dād”, ou “dado”. Ou seja, algo como “dado por Deus”, “presente de Deus”. Baɣdād no persa moderno.
E é exatamente isso o que uma das mais famosas cidades árabes do planeta significa para a série Assassin’s Creed. A adaptação da grande capital do Califado Abássida é estonteante. Seja nas áreas principais, seja nos arredores desérticos, tudo te convida a explorar e dá um ar impressionante de como deveria ser a vida naquela época.
A cidade é viva, imersiva e interativa. Entre os destaques, estão o novo sistema de furto (attenzione pickpocket), que permite que você use suas mãos leves para afanar algumas recompensas. Os tokens de favores também são bem legais – moedas especiais ganhas em objetivos, furtos e coisas do tipo, que podem ser usadas para comprar serviços especiais ou subornar personagens importantes.
Sem falar no novo sistema de notoriedade, no melhor estilo GTA. Agora, são espalhados pôsteres com sua cara pela cidade, e os NPCs (obrigado pelo milho!) podem te denunciar pros guardas. São três níveis, e no terceiro, meu amigo, a coisa fica realmente feita, com os guardas de elite correndo atrás de você.
Mas nada que um bom e velho parkour não resolva, não é mesmo?
Falando nisso, o jogo se passa no ano 861, nove séculos depois de Origins, e uma década antes de Valhalla – ou seja, na Era dos Ocultos – como era conhecida a Irmandade muito antes dos Assassinos. E, claro, o protagonista é Basim Ibn Ishaq, o Mestre Assassino (e também alguma coisinha a mais do que isso, que os jogadores do último título sabem).
Se nas terras nórdicas você o conheceu já como uma figura mitológica, aqui é a hora de entender como ele se tornou tudo isso. Mirage é, essencialmente, uma jornada pelo crescimento de Basim, desde um jovem ladrão até o primeiro salto de fé e a adoção da lâmina oculta. Destaque-se aqui o prólogo, que é um montanha-russa de emoções, e o final, que vai te deixar até meio bobo.
Ele é uma lenda por um motivo. E esta é a hora de explorar, conhecer esse passado, e passar pela iniciação no credo. Com tudo o que ela envolve. Obviamente, esta é uma análise sem spoilers, então não vamos entrar muito nos detalhes, mas vale destacar que a construção é super bem feita, apesar de sentirmos falta de um pouco mais de background sobre os Ocultos.
As motivações do personagem são claras e a forma como ele se desenvolve é justa – apesar de também achar que valeria ter só algumas horinhas a mais de treinamento, de fato, com ele bem iniciante. Porém, pouco se mostra sobre o grupo no qual ele entra. Poderia haver referências a Bayek e a história do Egito de Origins.
Por outro lado, os acenos ao futuro estão bem claros. Como o encontro com um certo garoto…
ٱلسَّلَامُ عَلَيْكُمْ
Você, provavelmente, já ouviu a saudação mais comum do idioma árabe: ٱلسَّلَامُ عَلَيْكُمْ (Salaam Aleikum), que significa “Que a paz esteja contigo”. E, de certa forma, dá para entender que os Ocultos tentam atuar para preservar a paz. Não somente em Bagdá com Basim.
A criação da Irmandade em terras egípcias é para combater a Ordem dos Anciões, precursora dos Templários, e trabalhar “nas sombras” para proteger a liberdade da população. Isso é destacado nas missões de Bayek em Origins e agora em Mirage, que conta com um rumo bastante linear em seu desenvolvimento.
O personagem começa meio perdido no prólogo, até que encontra um propósito e se torna “estagiário” dos Ocultos, depois vira “jovem aprendiz” e aí tem uma série de desafios para, enfim, “assinar a carteira”. Só que ele vai tão bem nas tarefas que, no fim das contas, já sabemos que ele se torna “chefe”.
Brincadeiras à parte, a progressão é clara e dividida em três arcos principais, que podem ser cumpridos em qualquer ordem – além de, obviamente, algumas sidequests e contratos. Tudo gerenciado por meio de uma mesa de investigação no seu menu. Algo que lembra o gameplay de Far Cry, o que levanta uma pequena preocupação.
A solução é bacana, especialmente por deixar o jogo um pouco mais focado no que realmente importa (é possível terminar a história principal em cerca de 20 horas, algo inimaginável nos últimos títulos da saga), porém também liga um sinal de alerta sobre acabar se transformando em uma bola de segurança. Uma fórmula fácil de replicar para dar saída em vários títulos da saga, sabe?
O que não tira o brilho da narrativa e de como ela incorpora bem o gameplay. Recentemente, em entrevista à Game Informer, Stephane Boudon, responsável pela parte criativa de Mirage, falou sobre o desafio de ter Basim como protagonista. Um dos destaques foi: ele é o Mestre Assassino, então isso precisa ser notado na jogabilidade.
Por isso, não espere combates frenéticos. Não tente sair com peito de aço para encarar todo mundo. Esse não é esse tipo de jogo. Dá pra fazer isso? Dá. Mas não é fácil. Nem muito inteligente. Mirage é um jogo onde as mecânicas de stealth são valorizadas – inclusive, para a galera que é fã de Hitman, dá para notar claramente algumas referências interessantes.
Usar o ambiente a seu favor, pegar disfarces, assassinar de forma sorrateira e silenciosa. Mirage é sobre isso. E te dá as ferramentas para atuar assim. Seja com a lâmina oculta de forma tradicional ou com bombas de fumaça, armadilhas e dados tranquilizantes. Use Enkidu, águia companheira do personagem, e o próprio sexto sentido de Basim, para traçar, planejar e executar tudo com perfeição.
E, apesar de não ser um RPG, ele ainda tem skill tree, diferentes equipamentos, colecionáveis espalhados pelo mundo e tudo mais.
Assassin’s Creed Mirage: vale a pena?
Assassin’s Creed Mirage é um prato cheio para os fãs do começo desta saga, que completou 15 anos e tornou-se um marco não somente na indústria dos games, como no mercado do entretenimento. Afastando os elementos de RPG dos últimos jogos e apostando em algo direto, divertido e desafiador em termos de gameplay, ele acerta ao propor, de fato, um título onde o protagonista é um Mestre Assassino.
Ou pelo menos, demonstra seus primeiros talentos que vão justificar este título no futuro.
Tudo com uma ambientação impecável, localização completa para o Brasil (e também vale ressaltar o áudio em árabe, que pode deixar seu jogo ainda mais imersivo), trilha sonora de arrepiar (ainda mais nos momentos de tensão), narrativa intrigante e as missões que realmente dão um senso de progresso e recompensa pela dedicação.
É perfeito? Não. Tem alguns dos bugs tradicionais de Assassin’s Creed, especialmente visuais, e jogar no modo de qualidade gráfica é bem inferior ao de performance, por exemplo. Além disso, a diminuição de horas foi boa, mas talvez tenha sido exagerada. Um pouquinho mais de história poderia ser interessante. Nos gráficos, talvez os NPCs pudessem também ter um carinho maior.
Mas, no fim das contas, são detalhes. Pequenos perto do que a obra consegue entregar: um jogo competente em todos os aspectos, fazendo jus ao nome Assassin’s Creed. Sem falar que o preço é mais em conta do que muitos lançamentos – custando R$ 239 na PlayStation Store e R$ 259 em versão física na Amazon.
Se já houve um tempo em que a Irmandade não estava tão em alta assim, eu nem me lembro mais. Que siga assim por muito e muito tempo. Trabalhando nas sombras para servir a luz.
إِنْ شَاءَ ٱللَّٰهُ,
Veredito
Vantagens
- Ambientação de Bagdá é espetacular
- Gameplay mais focado no stealth
- Background da história de Basim
- Localização completa muito bem feita
- Trilha sonora é realmente impressionante
Desvantagens
- História poderia ser um pouco mais longa
- "Novo formato" é bacana, mas liga alerta
- Bugs já "tradicionais" da série estão de volta